Porandubas nº 70
quinta-feira, 28 de setembro de 2006
Atualizado em 27 de setembro de 2006 16:22
SEGUNDO TURNO
Se a lógica não for derrubada pela insensatez, a campanha presidencial ganhará o caminho do segundo turno. Lula consegue se proteger no escudo do Bolsa-Família, que abriga um universo de 45 milhões de pessoas. Escândalos em série explodem a seu redor, consumindo na fogueira da corrupção seus mais próximos assessores e amigos. Nada disso parece inquietá-lo. Mas o efeito pedrinha no meio da lagoa fazendo marolas até as margens dará o recado. A questão é o tempo. Será que a indignação com o dossiêgate chegará nas classes C, D e E? A pesquisa Ibope de ontem flagra esta situação.
DEBATE NA GLOBO
A última tentativa de Geraldo Alckmin de consolidar a ida para o segundo turno será o debate na TV Globo, hoje à noite. Se Lula comparecer, será bombardeado. Se não comparecer, idem. Terá de avaliar a menor perda. Sem dúvida, o comparecimento é a melhor alternativa, na demonstração de que não está encolhido. A conferir.
O PAÍS DIVIDIDO
Seja qual for o resultado eleitoral, o próximo presidente - com maior probabilidade para Lula - comandará um país cindido. Entre o voto do pobre e o voto do eleitor de classe média, o fosso é enorme. O maior desafio do mandatário será unir as duas bandas do país.
DEBATES ESTADUAIS
Terça-feira, a TV Globo promoveu os debates nos Estados, reunindo candidatos a governador. Candidatos que estão em grande vantagem não compareceram. O balanço geral mostra que, entre perdas e ganhos, todos se igualaram. Não houve um grande vencedor nem um grande derrotado. E quem não compareceu também não perdeu.
TSE AGIRÁ COM MAIS RIGOR
Políticos que têm contas a pagar na Justiça costumam limpar a ficha após as eleições, principalmente, se são vitoriosos. Desta feita, o TSE não deixará por menos. Candidatos vitoriosos poderão até ser impugnados. A Justiça é lerda, mas a Justiça Eleitoral quer mostrar que cumprirá rigorosamente sua missão. Lula, inclusive, tem coisas a dizer à Justiça. A conferir.
AS BANDAS DA PF
A conversa corre: a PF está dividida em duas bandas. A banda tucana quer mostrar resultados apurados do dossiêgate antes do domingo. A banda petista está segurando a onda. Já se sabe de onde vieram os dólares e onde foram aportar. Nos próximos dias, a Financeira paulista que os recebeu apontará os beneficiados. A entrada foi legal, mas e a saída?
CRIMINALISTA NA JUSTIÇA
Que o ministro Márcio Thomaz Bastos é um dos mais respeitados advogados brasileiros, disso não há dúvida. O Brasil tem um corpo de advogados criminalistas da melhor estirpe. Perfis que honram a galeria da advocacia internacional. Urge também dizer que o ministro Márcio desenvolve programa importante, a partir do reequipamento da PF. Mas o ministro Paulo Brossard, ex-ministro da Justiça e ex-ministro do STF, com sua picardia, faz uma observação curiosa. Os ministros da Justiça são geralmente grandes constitucionalistas. O governo Lula decidiu colocar ali um criminalista. Sem maiores comentários.
ALIANÇAS PAULISTAS
Se alguém tinha dúvidas, elas desapareceram após o debate entre os candidatos a governador na Rede Globo. Serra e Apolinário mostraram unidade de pensamento no ataque a Mercadante. Já Orestes Quércia e Aloizio Mercadante fizeram coro contra José Serra. A surpresa ficou por conta de Quércia. Em vez de lutar pelo segundo lugar, tentando ultrapassar Mercadante, faz agora o papel de linha-auxiliar do candidato petista. Indicação do apoio à Lula.
OS NOVOS GOVERNADORES
O PMDB deverá eleger entre 9 e 10 governadores, o PSDB, entre 5 e 6 e o PFL, entre 4 e 5. A maior dúvida do PMDB é no RN, onde o candidato, senador Garibaldi Alves, está sendo apertado pela candidata do PSB, a governadora Vilma Faria. As maiores votações irão para os tucanos, que elegerão Serra, em São Paulo, e Aécio Neves, em Minas. Os dois colégios eleitorais somam 41 milhões de votos. O PT fará os governadores do Acre, Piauí e Sergipe. E disputa bem no RS.
E SE HOUVER SEGUNDO TURNO, HEIN?
Se houver segundo turno e se a dinheirama do dossiêgate for descoberta - nomes, quantias, confabulações etc. - o visível nervosismo do presidente Luiz Inácio subirá a montanha. E Geraldo, vale inferir, passará a ter fortes chances.
MAS E O POVO, HEIN?
Mas, como reagirá o povo ? Como reagirão os movimentos sociais que recebem recursos do governo ?
NA BOCA DA URNA
Há candidatos nos fundões do norte do país que preparam fortes esquemas de boca de urna. Um deles, senador da República, é especialista em irrigar as ruas com dinheiro. Mas os Tribunais Eleitorais e o Ministério Público estão de olho.
DUAS GRANDES VIRADAS
Dois candidatos deram uma virada no páreo. Em Tocantins, Marcelo Miranda, do PMDB, passou o velho Siqueira Campos. E em Alagoas, o tucano Teo Vilela passou João Lira, usineiro rico que estava folgado na dianteira. Em Pernambuco, com a derrocada do candidato Humberto Costa, petista e ex-ministro da Saúde, melhora bem a situação do candidato pefelista Mendonça Filho. Resta saber se o neto de Miguel Arraes, Eduardo Campos, do PSB, consegue avançar e jogar a campanha no segundo turno.
A CAMPANHA MAIS CÍVICA
Mesmo com a aparente distância do povão do processo político, esta campanha se apresenta como a mais cívica. Há um sentimento de que o voto de 1º de outubro será decisivo para colocar o país no rumo do futuro ou deixá-lo patinando na mesmice da velha política.
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