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Porandubas nº 580

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Atualizado às 08:02

Abro a coluna com o famoso Severino Pé de Chumbo, de Campina Grande/PB.

Atravessando em diagonal

Severino Cabral foi prefeito de Campina Grande/PB, vice-governador, chefe político de muitos votos. E conhecido pelas tiradas engraçadas. Uma tarde, no Rio, andava pela avenida Rio Branco. Resolvendo passar para o outro lado, meteu-se na frente dos carros, fora do sinal. O guarda gritou:

- Cidadão, não pode ir por aí. É proibido atravessar em diagonal.

Severino Cabral voltou:

- Você não conhece roupa não, ignorante? Isto não é "diagonal". É "tropical maracanã".

Atravessou em diagonal e tropical.

Robôs como cabos eleitorais

Uma das novidades da campanha eleitoral deste ano são os cabos eleitorais da era tecnológica: os robôs. Vejam o que se apura: mais de 60% dos quase 410 mil seguidores no Twitter do senador Álvaro Dias, pré-candidato à presidência pelo Podemos, são, na verdade, perfis robôs, controlados automaticamente por terceiros. Não somente Dias está sendo seguido por robôs. Todos os candidatos têm seus exércitos tecnológicos. A análise foi feita pelo Instituto InternetLab, centro de pesquisas dedicado a temas do Direito e da tecnologia. Segundo a organização, há indícios de compra de seguidores para o candidato com o objetivo de inflar artificialmente sua reputação na rede.

Casa a casa

O eleitor está desconfiado. Arisco. Apático. Crítico. Daí o esforço que candidatos deverão fazer para sensibilizá-lo. Como? Não há tática melhor que a conversa direta, olho no olho, mão na mão. Por isso, um conselho pode ser dado. Fazer uma campanha porta a porta, casa a casa, mão na mão, olho no olho. Em tempos de descrédito e desprezo pela classe política, este será o caminho melhor.

DEM e PSB, noivas cobiçadas

O DEM, presidido por ACM Neto, é a noiva cobiçada. Por Ciro Gomes, do PDT, por Geraldo Alckmin, do PSDB, por Meirelles, do MDB e outros. O DEM se divide. Parte quer fazer aliança com Alckmin, parte com Ciro. O PSB também está sendo cobiçado. Até final deste mês, os casamentos deverão ocorrer. Tempo de mídia eleitoral - eis o cacife que esses partidos terão a dar.

Dilma em MG

A ex-presidente Dilma Rousseff lidera a corrida para o Senado em Minas Gerais. Mas há muitas dúvidas: o governador Fernando Pimentel aguentará o tiroteio? E se o senador Anastasia disparar na frente? Como Dilma explicará o desastre que foi seu governo?

Lula até o final

Confirma-se a ideia do PT de jogar Lula no embate eleitoral até meados de setembro, quando o TSE deve decidir sobre sua elegibilidade. E cresce a hipótese de que entre na chapa como candidato a vice o ex-ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, que entraria apenas como figurante. Porque o plano B, o perfil no lugar de Lula, ainda é Fernando Haddad.

Renovação

Este consultor acredita que a renovação nas Casas congressuais seja por volta de 40%. Na contramão do sentimento da sociedade, que desejaria fazer uma limpeza geral. Não há assim tantos perfis novos. E por falta de opção, o eleitor costuma votar nos mais próximos e conhecidos. Abaixo, uma tentativa de interpretar o que se passa na cachola do eleitor.

O eleitor, uma caixa-preta

O eleitor é uma caixa-preta. Difícil de saber o que se passa em sua cabeça. Pode mudar de um momento para outro. Pesquisas que aferem hoje seu posicionamento poderão flagrar outro estado de espírito daqui a um mês ou nas proximidades da eleição. Tentemos decifrar a caixinha de surpresas que o eleitor esconde, a começar com uma pergunta: Qual é o significado do voto? Quando um eleitor opta por um candidato, que fatores balizam sua decisão?

Componentes

Esta é uma das mais instigantes questões das campanhas eleitorais. A resposta abriga componentes relacionados ao conceito representado pelo candidato e ao ambiente social e econômico que cerca os eleitores. No primeiro caso, o eleitor leva em consideração valores como honestidade/seriedade; simplicidade; competência/preparo; capacidade de comunicação; entendimento dos problemas; arrogância/prepotência e simpatia. Sob outra abordagem, o voto quer significar protesto, um castigo aos atuais governantes e a candidatos identificados com eles, vontade de mudar ou mesmo aprovação às ideias dos perfis situacionistas.

Perfis para muitos gostos

Tenho sido indagado sobre os perfis preferenciais do eleitorado. Cada região tem suas preferências. Há, porém, alguns traços sobre os quais parece haver consenso:

- passado limpo, vida decente - candidatos que possam exibir sua trajetória sem ter vergonha de mostrar aspectos de sua vida;

- identificação com o Estado, com as regiões - candidatos que busquem vestir o manto das regiões, significando compromisso com as demandas das comunidades e as questões específicas dos municípios;

- despojamento, simplicidade - candidatos despojados, simples, descomplicados, sem as lantejoulas e salamaleques que costumam se fazer presentes no marketing exacerbado. Candidatos não afeitos ao 'dandismo' - mania de querer aparecer de maneira diferente.

- respeito, decência, dignidade pessoal - candidatos de postura respeitosa para com os eleitores e identificados com uma vida pessoal e familiar digna;

- transparência, verdade - candidatos que não temam contar as coisas como elas são ou foram;

- objetividade, viabilidade de propostas, concisão, precisão - candidatos de expressão objetiva e concisa, capazes de fazer propostas viáveis e não mirabolantes. Precisos na maneira de abordar os assuntos.

Simpatia/empatia

Neste caso, os pesos da balança assumem o significado de satisfação e insatisfação; ou confiança e desconfiança. A questão seguinte é saber qual a ordem em que o eleitor coloca essas posições na cabeça e por onde começa o processo decisório. Não há uma ordem natural. O eleitor tanto pode começar a decidir por um valor representado pelo candidato - simpatia, preparo, capacidade de comunicação - como pelo cinturão social e econômico que o aperta: carestia, violência, desemprego, insatisfação com os serviços públicos precários, etc. Os dois tipos de fatores tendem a formar massas conceituais - boas e ruins - na cabeça do eleitor.

Impressões positivas e negativas

A exposição dos candidatos na mídia vai criando impressões no eleitorado. E as impressões serão mais positivas ou mais negativas, de acordo com a capacidade de o candidato formular ideias e apresentar respostas aprovadas ou desaprovadas pelo sistema de cognição dos eleitores. Se o candidato ajustar o discurso ao clima do momento, terá melhores condições de laçar (fisgar) o eleitor. E daí, qual a lógica para a priorização que o eleitor confere às ideias dos candidatos? Nesse ponto, cabe uma pontuação de natureza psicológica.

Instintos natos

As pessoas tendem a selecionar coisas (fatos, pensamentos, eventos, perfis) de acordo com os instintos natos de conservação do indivíduo e preservação da espécie. Quer dizer, o discurso mais impactante e atraente é o que dá garantias às pessoas de que elas estarão a salvo, tranquilas, com dinheiro no bolso, bem alimentadas. O discurso voltado ao estômago do eleitor, ao bolso, à saúde é prioritário. Tudo que diz respeito à melhoria das condições de vida desperta a atenção. Depois, as pessoas são atraídas por um discurso mais emotivo, relacionado à solidariedade, ao companheirismo, à vida familiar. (Este consultor não se cansa de repetir a equação que criou: BO+BA+CO+CA= Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça tende a votar em que propiciou o bem-estar).

Medo e insegurança

Esses apelos disparam os mecanismos de escolha. Se a insatisfação social for muito alta, os cidadãos tendem a se abrigar no guarda-chuva de candidatos da oposição. Se candidatos com forte tom mudancista provocarem medo, as pessoas recolhem-se na barreira da cautela, temendo que um candidato impetuoso vire a mesa abruptamente. Assim, mesmo com certa raiva de candidatos apoiados pela situação, os eleitores assumem a atitude dos três macaquinhos: tampam a boca, os ouvidos e olhos e acabam votando em candidatos situacionistas.

Convencimento

O maior desafio de um candidato de oposição, dentro dessa lógica, é o de convencer o eleitorado de que garantirá as conquistas dos seus antecessores, promovendo mudanças que melhorarão a vida das pessoas. Simples promessa não adiantará: é preciso comprovar tim-tim por tim-tim como executará as propostas. Por isso mesmo, quando o candidato agrega valores positivos, a capacidade de convencimento do eleitor será maior. Não se trata apenas de fazer marketing, mas de expressar caráter, personalidade, a história do candidato.

Coerência

Uma história amparada na coerência, na experiência, na lealdade, na coragem e determinação de cumprir compromissos. Proposta séria e factível transmitida por candidato desacreditado não colará. Os dois tipos de componentes que determinam as decisões do eleitor - as características pessoais dos candidatos e o quadro de dificuldades da vida cotidiana - caminham juntos, amalgamando o processo de escolha dos cidadãos.

Despertar os estímulos

O marketing político bem feito é aquele que procura juntar essas duas bandas, costurando os aspectos pessoais com os fatores conjunturais, conciliando posições, arrumando os discursos, analisando as demandas das populações, criando ênfases e alinhando as prioridades. O que o marketing faz, na verdade, é acentuar os estímulos para que o eleitor possa, a partir deles, tomar decisões. E os estímulos começam com a apresentação pessoal dos candidatos, a maneira de se expressar, de se vestir.

Comunicação clara

Os cenários aguçam ou atenuam a atenção. A fluidez de comunicação, a linguagem mais solta e coloquial cria um clima de intimidade com o eleitor. As propostas precisam ser objetivas, claras e consistentes. As influências sociais e até as características espaciais e temporais despertam ou aquecem as vontades. O eleitor é uma caixa-preta. E na eleição deste ano procurará se esconder mais que em campanhas anteriores. Está mais desconfiado e crítico. Não quer comprar gato por lebre. Aumentou sua taxa de racionalidade. Desvendar o quê e como pensa é o maior desafio dos candidatos.