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Porandubas nº 500

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Atualizado em 2 de agosto de 2016 13:36

Abro a coluna com mais uma historinha das Minas Gerais.

No meio da praça, o professor baiano perguntou ao mineirinho :

- Diz aí um verbo !

Ele pensou, pensou, e mesmo indeciso, respondeu :

- Bicicreta.

- Não é bicicreta, mineiro tonto, é bicicleta. E bicicleta não é verbo !

O mestre continuou : "Quem é mineiro aqui ?" Mais um levantou o dedo. E para ele foi a pergunta :

- Diz você aí um verbo !

O segundo mineiro pensou, pensou, pensou e arriscou :

- Prástico.

- Como ? Prástico ? Que burrice. Ora, você quer dizer plástico ? E atente bem : plástico não é verbo.

Nesse momento, um terceiro mineiro não esperou a chamada e foi logo levantando o dedo e dizendo :

- Posso dizer o verbo, fessôr ? Pois lá vai : Hospedar. Hospedar.

- Muito bem ! Muito bem. Parabéns. Até que enfim vejo um mineiro inteligente. Agora, diga aí uma frase com o verbo que você escolheu.

Enchendo o peito, o mineiro, todo cheio de orgulho, tascou :

- Hospedar da bicicreta são de prástico.

(Enviado por Carla Elias)

Tiro pela culatra

Lula estava dividido entre recorrer à ONU, acusando perseguição a seu nome pelo juiz Sérgio Moro, ou deixar a coisa rolar e esperar pelos acontecimentos. Temia o acirramento corporativo das associações e juízes. Optou por ir à Comissão de Direitos Humanos da ONU. Queria alertar o mundo sobre a perseguição que Moro lhe faz. Acabou virando réu em processo de obstrução da Justiça, decisão tomada por um juiz Federal do DF. Ou seja, atirou no que viu - Moro - e ganhou o que não viu, ou seja, o ingresso no campo dos réus.

Efeitos deletérios

Os efeitos deletérios para Lula já se fazem sentir. A ONU respondeu que há cerca de 500 casos a examinar antes deste de Lula. Haja tempo. E vai verificar se todos os trâmites internos - relativos à defesa de Lula - foram seguidos no Brasil. Se 48 países tomaram conhecimento da situação - tornar o caso visível era a meta - o tiro pode sair pela culatra porque as condenações de Lula podem sair de uma esfera que não seja a de Curitiba. Aventa-se a hipótese de que Lula, com seu gesto, está aplainando o caminho para pedir asilo a algum país para evitar a prisão. A cada dia, surgem mais evidências do envolvimento de Luís Inácio com os escândalos que estão sendo apurados pela Lava Jato.

Preocupação

Este consultor lê que amigos de Lula estão preocupados com sua saúde : abatido, sem dormir o suficiente, voz sem força. E Lula sem ânimo é palanque sem vida. Trata-se de um palanqueiro e com eterna identidade de oposicionista.

Distância de Dilma

Lula e Dilma estão apenas esperando o desenlace do impeachment para cada qual tomar seu rumo. Sobre Dilma, a expectativa é a de que sofrerá um total isolamento por parte do PT e de seus líderes. Sobre Lula, a expectativa é a de que volte ao palanque de maneira rápida para melhorar o perfil eleitoral do PT no pleito de outubro, fator importante para a alavancagem de sua candidatura em 2018. Mas a hipótese de uma prisão, por decisão de 2ª instância, o tornaria inelegível pela condição de passagem para a área dos fichas-sujas.

Impeachment

A sensação que se apura nos mais diversos ambientes - sociais e políticos - é a de que só um milagre faria Dilma voltar a ter assento no Palácio do Planalto. Mas senadores petistas, a partir de Lindbergh Faria, continuam a manter a otimista versão de que crescem as possibilidades de derrubar o impeachment. Ora, apesar dos rombos gigantescos nas frentes da economia - déficit fiscal, desemprego de 11 milhões de pessoas, inflação alta - os sinais de melhoria aparecem em quase todas as frentes da produção. As multinacionais dão sinais de ânimo. Os investidores mostram interesse em voltar. Nessa esteira, é praticamente nula a viabilidade de Dilma voltar ao comando da Nação.

O clima lúdico

A Olimpíada deixará agosto menos amargo. Sabemos que decisões importantes serão tomadas neste mês, entre elas, a cassação do deputado Eduardo Cunha e o impeachment da presidente Dilma. Mas o mês terá como eixo central a realização dos Jogos Olímpicos, que ganharão total e ampla visibilidade midiática. Teremos uma superdose de matérias sobre a vasta planilha dos jogos. O fator político, portanto, ficará em segundo plano. E assim agosto será o mês da maior exibição estética esportiva do planeta.

Mônica e João

João Santana e a mulher Mônica ganham a liberdade, depois de pagarem fianças : a de Mônica (a diretora financeira) foi estipulada em R$ 28,7 milhões e a de João, em R$ 2,7 milhões. O advogado de ambos nega que farão delação premiada. O juiz Moro diz que já tomou os devidos depoimentos, não se justificando a continuidade da prisão. As ações penais, essas, sim, terão continuidade.

Velho marketing

O marketing das campanhas será outro depois dos tempos áureos de Santana e Duda Mendonça, dois ícones do marketing da espetacularização. Foram-se os tempos de milhões gastos com a exuberância de campanhas que privilegiavam mais a forma do que o conteúdo. Santana como Duda são dois craques. Mas os tempos de escassez sugerem pleitos mais modestos e, sobretudo, mais honestos perante o eleitor. Menos extravagantes e mistificadores.

Até 50 anos

As mudanças mais drásticas na Previdência valerão para quem tiver até 50 anos, tanto na iniciativa privada como no setor público. Acima desta faixa etária haverá um "pedágio" para quem quiser se aposentar, a chamada regra de transição, prevendo um período adicional de trabalho de 40% a 50% do tempo que falta para que se tenha direito ao benefício. Essas poderão ser as propostas do governo. A ideia é que a idade mínima para que o trabalhador exija a aposentadoria seja de 65 anos, no caso de homens, e de 62 para mulheres. Tudo está sendo planejado para que as mudanças atinjam funcionários de empresas privadas e também servidores públicos. "Talvez não unifiquemos o sistema, mas vamos unificar as regras", diz o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Temer não será candidato

O presidente em exercício Michel Temer garante que não será candidato em 2018. É mesmo para acreditar. Seu sonho é resgatar o caminho do desenvolvimento do país e abrir o conjunto de reformas modernizantes. Qualquer tentativa de inserir seu nome na planilha dos presidenciáveis de 2018 é mera deferência. Até porque quer chegar às margens do pleito, se ficar efetivamente no lugar de Dilma, na posição de juiz. Para influir de maneira positiva no processo e evitar aventureiros.

Nomes do amanhã

Quem seriam os perfis em condições de entrar no páreo eleitoral de 2018 ? Eis alguns : José Serra, Henrique Meirelles, Marina Silva, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Cristovam Buarque, Geraldo Alckmin, Eduardo Paes, Jair Bolsonaro, Paulo Hartung, Aécio Neves.

Os atores de 2018 em desfile

Serra - Experiente, preparado, se sair-se bem do papel de semeador da imagem do Brasil no mundo, terá condições de pleitear a candidatura por um partido que não o PSDB, onde dois nomes terão preferência ao dele - Aécio e Alckmin. Pode ser até pelo PMDB. Muito ambicioso, pode abrir arestas.

Meirelles - Tem um pé na política. Já foi deputado pelo PSDB de Goiás, tendo a maior votação : 183 mil votos. Renunciou para ser presidente do Banco Central no governo Lula. Ministro da Fazenda, está na linha de frente do governo Temer. Se for bem sucedido na tarefa de arrumar a economia, ganha cacife para ser candidato. Pelo PMDB ou até por outro partido. É o perfil que pode angariar mais força. Faltaria jogo de cintura na articulação política. Se resolver a equação BO+BA+CO+CA (Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça votando no candidato), terá o apoio das massas. Sob a hipótese de um governo Temer vitorioso, é o perfil com melhores condições.

Marina - Asséptica, exibindo ar de pureza e com discurso da ética, poderá vir a ser uma candidata dos centros urbanos mais avançados, dos setores intelectuais e dos jovens. Mas estaria lhe faltando estofo para levar a cabo a empreitada. Demonstra fragilidade. Conta com apoio de poucos e pequenos partidos. Sua Rede é tênue.

Lula - Sempre a principal referência do PT. Para tanto, precisa se livrar dos processos que pairam sobre seu nome e depurar o partido dos trabalhadores, buscando uma volta às origens. Faz marolas nas margens, mas a rejeição nas cidades do Sudeste chega ao clímax. Seu discurso está em declínio. E mesmo sua voz rouca não tem o empuxo dos velhos tempos.

Ciro - Metralhadora ambulante. Conhece bem a realidade brasileira, é um bom guerreiro em palanque e em debates, mas é boquirroto. Pode ser flagrado pela boca. Maltratando pessoas, grupos ou setores. Passa a imagem de inconfiável. Muda muito de partido. Mas é a aposta do PDT.

Cristovam - Senador de respeito, conhece muito bem a realidade educacional do país, tem um perfil de centro-esquerda, mas tem sido muito dúbio sobre os caminhos a trilhar. Gosta de aparecer em cima do muro. Ademais, seu território político, o DF, e seu partido, PPS, ainda são limitados. Faltaria a ele densidade partidária. Ou apoios de monta para agregar condições eleitorais.

Alckmin -Geraldo Alckmin é um político paciente e persistente. Quer ser o candidato tucano à presidência em 2018. Vai disputar com Aécio essa vaga. Se não conseguir, poderá ingressar no PSB e pleitear a candidatura por este partido. Deve receber alguma resistência do PSB nordestino, a partir de Pernambuco. Alckmin, se sair bem avaliado do governo de São Paulo, terá o apoio de grande contingente do maior eleitorado brasileiro. São Paulo tem cerca de 42 milhões de eleitores. Seu desafio : atenuar a careca muito paulista. Ou seja, administrar o excesso de marca paulista. E lutar para ganhar de Aécio o posto.

Paes - Eduardo Paes tem uma imagem jovial. Mas, nos últimos tempos, meteu-se em muita polêmica, a última envolvendo a Olimpíada. Que poderia ser sua vitrine e está mais parecendo um pesadelo. Paes também faz papel de papagaio de pirata, querendo aparecer nos palcos populares como os do esporte. Tem sido reconhecido como prefeito polêmico e perdido apoio político, inclusive no PMDB nacional. Sua ligação com o ex-governador Cabral seria muito explorada.

Bolsonaro - Perfil de extrema direita, com um discurso conservador, duro, polêmico. Como candidato, poderia alavancar seu partido, mas o voo é muito limitado. Empolgaria apenas grupos isolados na direita.

Hartung - Trata-se de perfil respeitado, administrador experiente, que governa mais uma vez o Espírito Santo. Um arrumador das contas do Estado, um gerente considerado exemplar. Mas não é conhecido fora do ambiente dos capixabas. Poderia ser um quadro em ascensão no PMDB, caso o partido decidisse escolher um dos seus quadros como candidato. Político com perfil asséptico.

Neves - Aécio Neves é o perfil mais recorrente do PSDB à presidência. Quase ganhou da Dilma. Portanto, tem condições para pleitear a candidatura. Seu problema : tem sido alvo constante das investigações levadas a cabo pela operação Lava Jato. Ou seja, seria abatido antes de 2018. Se conseguir se safar, continuará forte no páreo. Tem visibilidade e recall, jovial, o ex-governador sofre ainda pelo fato de seu desempenho no Senado ser aquém da expectativa.

Candidato não é sabonete

Diz a Bíblia : "nenhum homem, por maior esforço que faça, pode acrescentar um palmo à sua altura", e alterar o pequeno modelo que é o corpo humano. Mesmo usando a engenharia de artimanhas do marketing. Ora, candidato não é sabonete. Na eleição de outubro, o eleitor se prepara para desmascarar a ilusão, desvendar o artifício e reencontrar a realidade dos candidatos. Alguns até tentarão pôr sobre a cara a máscara da dor, que não é, necessariamente, a dor. Histriões aparecerão. Mas o país toma um banho de racionalidade.

A supremacia do discurso

O momento nacional sinaliza para a supremacia do discurso, para a força da razão. Não adiantará a cosmética de faces condoídas e pontuações enfáticas sobre nossa miséria. O eleitor brasileiro saberá medir versões, interpretações, verdades e boas intenções. Se a arte de mentir tem progredido muito no país, na corrente das águas sujas e das propinas, a capacidade de análise do eleitor tem aumentado, clareando as formas de percepção. Gato não mais será comprado como lebre. Se o príncipe não pode dispensar a astúcia da raposa e a força do leão, devendo trapacear e matar, de acordo com os preceitos do velho Maquiavel, o súdito não vai deixar ser pego por eles.