COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Porandubas Políticas >
  4. Porandubas nº 499

Porandubas nº 499

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Atualizado às 08:11

Abro a coluna com a querida Paraíba.

Cancelo chuvas

A seca era medonha. A Paraíba em desespero, o governador aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, correu ao telégrafo : "Governador José Américo : chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante : Saudações, Feitosa". Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Feitosa correu de novo ao telégrafo : "Governador José Américo : cancelo chuvas. População continua aflita. Feitosa, prefeito".

Confiança melhora

O índice de confiança de consumidores e setores produtivos melhora, mas o ambiente econômico ainda está cheio de rombos. Na verdade, há uma expectativa positiva da sociedade em relação ao futuro, percepção se enxerga nas projeções que se fazem sobre crescimento positivo do PIB, em 2017, animação de investidores e realinhamento político entre o Executivo e o Legislativo, entre outros aspectos.

A pressa do PT

A cada dia, fica mais clara a posição do PT sobre o impeachment da presidente Dilma : quanto antes o Senado tomar a decisão, melhor. No início, o sentimento era o de que a protelação poderia ajudar a presidente. Com o tempo passando, constatou-se que o governo Temer sedimenta posições, abre uma grande articulação com o Congresso e a governabilidade se fortalece, tornando praticamente inviável a volta de Dilma. Daí a inferência que toma corpo : o PT precisa salvar uma parte de seu corpo. Como ? Subindo ao palanque.

Campanha se abre

Com a realização das convenções, as candidaturas são lançadas, abrindo a campanha de rua, de TV e rádio, nos meados de agosto. Logo, cada ente partidário precisa correr a campo, organizando palanques, mobilizando militância, contratando equipes de apoio, fechando as parcerias. O PT agora quer pressa. Lula já começou o seu périplo pelo Nordeste, a ser transformada, nos próximos tempos, como a Nova Terra Prometida para resgate de um partido alquebrado por bombardeios na esteira das operações do mensalão e da Lava Jato.

Poucas parcerias

O PT quer voltar às origens. Essa meta implica expurgar quadros, renovar lideranças, reacender o facho programático, aproximar-se dos movimentos sociais, enfim, resgatar algumas bandeiras do passado, entre as quais, a da ética. Não será um empreendimento fácil de construir. Para tanto, o PT deverá ter mais cuidado na formação de parcerias. Sabe que terá de reconstruir um diferencial. E isso demanda seleção de parceiros. Por isso, as parcerias a serem formadas deverão abrigar os grupamentos mais à esquerda, como PSOL, PDT e PC do B. Bastante previsível é o afastamento entre PMDB e PT.

PMDB e PT

Será possível o reencontro entre PT e PMDB ? Muito difícil. As circunstâncias afastaram os dois entes. Mas esse distanciamento, que deverá ocorrer até as margens de 2018, não significará um muro de Berlim entre os dois territórios. O presidente Michel Temer, permanecendo no governo, tentará convidar Luiz Inácio para um diálogo, onde o tema da governabilidade certamente será o centro. Ao PT também não interessa fechar todas as portas na relação com o governo e com os partidos. Sabe que terá de participar da vida legislativa, e essa situação vai exigir que ganhe posições de destaque em projetos e o comando de comissões nas casas congressuais.

Divórcio amigável

Sob essa leitura, pode-se inferir que o divórcio entre PT e partidos com os quais fez aliança, nesses 13 anos em que comandou o país, deverá ser amigável, não litigioso. Portanto, é viável se pensar em uma interlocução que permita ao PT se inserir nas estruturas legislativas, evitando isolamento e distanciamento do cotidiano parlamentar.

Compartilhamento

O partido deve ter aprendido bastante em sua passagem pelo Palácio do Planalto, sobretudo a lição de que, no Brasil, é impossível governar sozinho. O compartilhamento do exercício de poder se faz absolutamente necessário. Ora, o PT praticou essa ideia de maneira enviesada. Não entregava o pacote todo aos partidos. Sempre ficava com uma parte. Se cedia um Ministério, lá colocava seus quadros para monitorar os passos do ministro. Esse foi um dos erros do PT na administração do governo.

Grandeza

Augusto Franco, governador, cheio de si, desceu no Galeão, e foi logo respondendo à pergunta de uma atendente da Varig :

- O sr. é o dr. Augusto Franco, de Sergipe ?

- Não, minha filha, Sergipe é que é de Augusto Franco.

Divisão das bases

As eleições de outubro terão importância fundamental no redesenho do poder no país. Dos 5.568 municípios, entre 15% e 20% (835 e 1.113) deverão ser comandados por partidos de esquerda, a partir do PT, PDT, PC do B e PSOL. Pode-se calcular que essa mesma margem deverá ficar sob o comando de partidos médios e pequenos. A maior fatia (60% a 70%) deverá permanecer na órbita dos grandes partidos - PMDB, PSDB, PSD, DEM, PSB - que deverão rumar na direção de 2018 com uma base política bem arrumada. A conferir.

O PT e o nordeste

A região Nordeste, na concepção do PT, poderá ser o território que sediará o projeto inicial de sua redenção. Pelas condições da região - ainda dominada pelo império da velha política - Luiz Inácio, com sua voz rouca, se apresenta como um rolo compressor a destruir os resquícios das oligarquias e do coronelismo regional. O Nordeste agrupa 27% do eleitorado brasileiro. A maior parcela é das margens (classes D e E). Mas o PT abocanha, ainda, uma boa fatia das classes C e B, a primeira sob a lembrança dos pacotes assistencialistas ; a classe média reúne um barulhento grupo de professores das universidades Federais. Que usam uma tuba de ressonância para fazer loas ao partido.

Porém....

Há um porém nessa leitura. Se a locomotiva econômica entrar nos trilhos e puxar com força os vagões sociais, será difícil para Lula convocar as massas para correr ao seu alcance. Bolso garantindo a grana para a sobrevivência das margens tirará o ímpeto petista. Portanto, a hipótese de Luiz Inácio usar a região Nordeste para alavancar o PT vai depender da minha sempre lembrada equação : BO+BA+CO+CA - Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça recompensando o governante da ocasião.

Dilma no exterior

Se for definitivamente afastada, a presidente Dilma estaria pensando em passar uns tempos no exterior, Uruguai ou Chile. Não seria assediada pela mídia, teria mais tempo para realizar estudos e pensar sobre o futuro. Comenta-se que o PT não teria muito interesse em pavimentar o caminho da presidente no pós-impeachment.

Moldura econômica

Índice de confiança - O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da FGV subiu pelo terceiro mês consecutivo em julho, mais uma vez puxado mais pela melhora das expectativas do que pela percepção sobre a situação atual. O ICC aumentou 5,4 pontos, para 76,7 pontos. Em abril, o indicador tinha atingido o menor nível da série histórica. Na comparação com julho do ano passado, houve alta de 6,7 pontos, a segunda consecutiva neste tipo de confronto.

Consumo - Indicadores sugerem alguma melhora do consumo das famílias nos próximos meses.

Atividade econômica - Depois de nove semanas entre estabilidade e ascensão, a expectativa dos analistas para a atividade econômica brasileira voltou a cair, de acordo com o BC. A mediana das projeções para o PIB saiu de queda de 3,25% para recuo de 3,27%, após três semanas consecutivas em alta. Antes disso, as estimativas ficaram estáveis em uma semana e subiram nas demais.

Balança comercial - Balança comercial registrou superávit de US$ 852 milhões na quarta semana do mês, com melhora das exportações na comparação com junho.

Inflação - A estimativa da inflação para 2018 recuou de 4,6% para 4,5%, que é a meta.

Dívida pública - A dívida pública Federal subiu 2,77% no mês de junho. De acordo com o Tesouro Nacional, ela passou de R$ 2,878 trilhões para R$ 2,958 trilhões em relação ao mês anterior.

Inadimplência - A inadimplência das empresas aumentou 12,34% em junho em comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo dados do SPC e da CNDL.

Ociosidade I - A indústria brasileira do aço enfrenta cerca de 30% de ociosidade.

Ociosidade II - Montadoras e autopeças operam com 52% de ociosidade. Na indústria de caminhões, sobram 75% da capacidade. Desde 2011, a base de empregados diminuiu de 107 para 79 mil metalúrgicos. Hoje, 26 mil empregados da indústria automobilística participam de PPE ou "lay off" - o número equivale a mais de 23% de todo o efetivo do setor.

Ociosidade III - Capacidade ociosa também aumentou em construção e serviços. Em abril de 2013, quando os índices começaram a ser calculados, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) era de 88,4% nos serviços, pico da série. Até maio deste ano, recuou 6,2 pontos percentuais, para 82,2% nível mais baixo da pesquisa.

PEC dos gastos - Proposta de Emenda à Constituição que estabelece um teto dos gastos públicos poderá ser aprovada até o final de dezembro. Ministro Henrique Meirelles sinalizou que o rombo nas contas públicas de 2016 pode ser maior que o esperado.

Dívidas - O consumidor tem evitado dívidas. 48,2% dos carros novos vendidos no país no mês de junho foram pagos à vista.

Setor imobiliário - Após um ano de crise, o setor imobiliário começa a se recuperar, com alta de 24,7% no número de apartamentos em construção e de até 72% no de empreendimentos lançados no primeiro semestre.

Déficit - Além do déficit de Estados e municípios, o resultado fiscal deste ano pode ser pior do que se antecipava, uma vez que dados mostram que o resultado das empresas estatais aponta para déficit de pelo menos R$ 2 bilhões. O fraco desempenho das empresas do governo Federal já fez com que a meta fiscal de 2017 fosse definida com uma expectativa de déficit de R$ 3 bilhões.

Concessões - Para viabilizar leilões de concessão ainda neste ano, o governo convocou ministros das pastas ligadas à infraestrutura a apresentar até o fim do mês os projetos que podem vir a ser levados à iniciativa privada.

Etanol - Preço do etanol recua em 15 Estados e no DF.

Reforma trabalhista - José Pastore, o grande mestre do Trabalho, diz ser ilustrativo para o Brasil o modelo de reforma trabalhista aplicado pela França, que passou a permitir a negociação direta entre empregados e empregadores. "Quando o jogo não compensa, fica tudo debaixo da lei. Não há retirada ou revogação de nenhum direito", diz, afirmando que a CLT está repleta de regras rígidas, que são de difícil ou impossível aplicação universal.

Empresas aéreas - O presidente Michel Temer vetou o aumento da participação de capital estrangeiro nas empresas aéreas brasileiras, conforme acordo que havia celebrado com os senadores. Com isso, continuará vigorando no país o limite de 20% para essa participação.

Espaço eleitoral

Esta coluna fecha o espaço com pequena orientação para candidatos a prefeito e assessores.

O eleitor é fiel ?

Comecemos com uma pergunta : o eleitor brasileiro é fiel ? A resposta é não. Há grupamentos fiéis, particularmente entre estratos médios, formadores de opinião, segmentos engajados nos partidos, setores religiosos, imigrantes de sangue anglo-saxão e pequenos núcleos ideológicos. Os grandes contingentes são amorfos, alheios ao cotidiano político e capazes de mudar de posição, de acordo com as circunstâncias e as necessidades mais imediatas.

Infidelidade

A infidelidade do eleitor tem a ver com a incultura política que semeia florestas de desinteresse pelos espaços nacionais, incluindo os centros mais evoluídos. Basta lembrar que as mesmas grandes parcelas de eleitores da periferia de São Paulo que elegeram Jânio Quadros, também escolheram Luiza Erundina e ainda votaram em Paulo Maluf, nas campanhas em que se tornaram prefeitos da capital. Nas veias eleitorais, corre um sangue versátil, inseminado nos tempos da Colônia.

Como decide o eleitor

A decisão do eleitor é influenciada por dois elementos que parecem paradoxais. De um lado, um pessimismo galopante, que se faz presente nas locuções de que "o país não tem jeito, estamos todos perdidos, não vale a pena lutar por isso etc." De outro, um otimismo extravagante, que evidencia a superlativa dose emotiva da alma nacional. O pessimismo induz o eleitor a se afastar dos políticos, que, indistintamente, ganham a pecha de "ladrões e corruptos". Os perfis populistas e messiânicos acabam levando a melhor, ao sintonizarem a linguagem com a imprecação popular.

Bandido bom...

Não por acaso, o chavão "bandido bom é bandido morto, lugar de bandido é na cadeia", toca forte no coração das massas. Já o otimismo de nuances ufanistas marca o caráter nacional com os selos da displicência, da sensualidade, do ócio e da pachorra. Se o pessimismo é oposicionista, o otimismo tropical é situacionista, ou, em outras palavras, tende a reforçar o status quo. Infere-se, assim, que o desempenho do Brasil na Olimpíada poderia contribuir para candidatos governistas ao gerar catarse. Com suas vertentes de emoção, vibração, êxtase e felicidade, a catarse purga pecados acumulados. A consequência se faz presente na maior complacência dos eleitores ao analisarem os quadros de amargura e angústia que os afligem.

Mudando de posição

Se o eleitor gosta de mudar de posição, se navega tanto pela nau do pessimismo quanto pelo navio do otimismo, o que se deve aguardar é uma decisão que terá a influência das ondas oceânicas nas margens do pleito. Mar turbulento revirará o estômago e o passageiro pessimista irá para a oposição ; mar tranquilo levará o eleitor para a continuidade de uma travessia sem turbulências. O leitor que tire suas conclusões.