Abro a coluna com o grande Padre Vieira
Um truque
O Padre Antônio Vieira, o célebre pregador, escritor, político e diplomata jesuíta, subindo certa vez ao púlpito, iniciou estranhamente o seu sermão exclamando :
- Maldito seja o Pai !... Maldito seja o Filho !... Maldito seja o Espírito Santo !...
E quando a assistência, horrorizada, pensava que o grande orador houvesse enlouquecido, ele tranquilamente prosseguiu :
- Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem com mais frequência nas profundezas do inferno.
Houve um suspiro de alívio no templo, mas com esse recurso, teve Vieira despertada e presa a atenção dos fiéis como poucas vezes, por outra via, houvera conseguido. (Narrado por Luis Costa em Leia Comigo)
O orgulho do país
Pinço, ainda nessa abertura, o clássico Os Direitos do Homem de Thomas Paine : "Quando alguém puder dizer em qualquer país do mundo : meus pobres são felizes, nem ignorância nem miséria se encontram entre eles ; minhas cadeias estão vazias de prisioneiros, minhas ruas de mendigos ; os idosos não passam necessidades, os impostos não são opressivos... quando estas coisas puderem ser ditas, então o país deve se orgulhar de sua Constituição e de seu governo".
PMDB joga mal
Ao escolher Marcelo Castro para ser o candidato do partido à presidência da Câmara, no mandato tampão que irá até fevereiro de 2017, o PMDB joga uma bola fora. Primeiro, porque racha a base do governo Temer ; segundo, porque escolhe um deputado que votou contra o impeachment, garantindo sua posição de ministro da Saúde de Dilma ; terceiro, porque o PMDB deveria ceder o lugar de presidente da Câmara a outros partidos, eis que já tem a presidência da República e a presidência do Senado.
Sinalização
A escolha do piauiense Marcelo Castro pode ser interpretada como uma expressão de insatisfação da bancada do PMDB em relação ao governo. Queixa-se de não ter assento na Esplanada dos Ministérios. Gostaria de se dizer presente com o comando de Pastas importantes. Urge lembrar que são peemedebistas : o deputado Leonardo Picciani, do PMDB do Rio, na Pasta do Esporte, os ministros Geddel Vieira Lima, da Secretaria do Governo (Articulação Política), e Eliseu Padilha, da Casa Civil, a par do secretário da Infraestrutura, Moreira Franco.
Lula combinou ?
Marcelo Castro combinou sua candidatura com Lula ? É possível. Se isso ocorreu, mais adiante cairá a ficha do PMDB. Entrar no jogo petista, nesse momento, é uma decisão que pode custar caro, pois significa um alinhamento contra o presidente da República, que também conserva o cargo de presidente (afastado) do partido. PMDB versus PMDB só faz bem ao PT. Que, a essa altura, está comemorando o feito.
Efeitos
Se Marcelo Castro ganhar, é possível que a banda oposicionista do PMDB - confinada aos 28 votos por ele obtidos - possa usar a força do presidente da Câmara para expandir seus espaços na administração. Se não ganhar, se alinhará às oposições ? Difícil. O poder central exerce muita atração. Se o Centrão ganhar a cadeira de presidente da Câmara tende a consolidar sua influência junto ao governo. As jogadas atrapalhadas do PMDB fazem parte da indefinição que toma conta do partido nesse momento de mudanças.
Epílogo
"Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto". (Jorge Luis Borges)
Presidente em 2017
A se confirmar a presidência efetiva da República nas mãos de Michel Temer, emergem cenários para 2017 sob esses traços : a) uma aliança entre partidos médios, consolidando o espaço do Centrão ; b) uma aliança entre o PMDB, PSDB e DEM, saindo o candidato à presidência da Câmara desses dois últimos partidos ; c) uma aliança entre PT, PSOL e PC do B, formando o arco ideológico da esquerda. Três blocos. O PMDB poderá continuar dividido em alas, uma delas se aproximando do bloco do Centrão, a outra com tendência a circular no centro-esquerda, junto ao PSDB.
Medidas realistas
Já a partir de setembro, com a decisão do Senado pelo impeachment da presidente Dilma, o governo Temer poderá apresentar um conjunto de medidas mais condizentes com as reais necessidades do país. Por mais que o presidente Michel Temer expresse a convicção de que está agindo como presidente efetivo, infere-se que algumas posições poderão ser corrigidas. Pois o olho político, nesse momento, está aberto para os posicionamentos e acolhimento das medidas por parte do Congresso.
Lula é o pré-candidato
O primeiro pré-candidato ao pleito presidencial de 2018 já está nas ruas. Quem ? Ora, Luiz Inácio. Começa a fazer seu périplo no Nordeste, onde recebe diplomas, esculhamba o novo governo em palanque e chega a provocar a Polícia Federal. Ao receber o título de cidadão juazeirense, ironizou : "vou levar lá para São Bernardo. Não sei se a PF vai fazer busca e apreensão e querer levar como prova. Mas acho que um diploma de Juazeiro vai impor respeito lá". Lula sabe fazer a mistificação das massas. E avisa que ele será mesmo o candidato do PT.
O que Dilma fará ?
Para quem não gosta da política, como a presidente Dilma, entrar na política partidária parece não ser seu sonho. E se derem para ela uma vaga no Senado pelo RS ? É a maneira de não se isolar. Pelo jeito, não se conformará com a identidade de ex-presidente da República. Um cargo na Câmara Alta, para onde costumam ir ex-presidentes e ex-governadores, cairia bem em seu perfil. Tudo vai depender do clima das ruas em 2018. Que, por sua vez, dependerá da situação da economia.
Arco ideológico
Este consultor acredita que o Brasil abre espaços para o fortalecimento de grupos à direita, expansão do Centrão, a ser ocupado por cerca de 10 partidos, e estreitamento da margem esquerda do arco ideológico. Esta, por sua vez, ganhará maior nitidez, eis que o PT tende a voltar às origens, encostando no PSOL. O Partido dos Trabalhadores encolherá. O espaço da social-democracia, que entra em frentes de centro-direita e centro-esquerda, também será expandido. E os partidos nebulosos, geleias partidárias, terão suas fronteiras bem mais limitadas.
Campanha paulistana
O prefeito Fernando Haddad, PT, tem ao seu lado a máquina da prefeitura. Milhares de funcionários trabalharão como cabos eleitorais. Vão lutar pela manutenção de suas posições. Haddad, ademais, tem se esforçado para limpar a lama petista de seu perfil. Por isso, ele tem condições de ir ao segundo turno. Celso Russomano, PRB, pode ter sua candidatura afastada por eventual condenação pelo STF. Marta Suplicy, PMDB, conta um bom recall (lembrança) junto ao eleitorado das margens. Mas tem alta rejeição (mais de 40%). Andrea Matarazzo, PSD, com poucos segundos de TV e rádio, tende a ser canibalizado. João Doria, do PSDB, terá o maior tempo de mídia eleitoral. E não tem o vírus da velha política. É sua primeira candidatura. Reúne boas condições para ser muito competitivo. Erundina, com seu discurso radical e quase sem mídia, não tem chances.
Análise
Este consultor faz uma análise da conjuntura política no programa Diálogo Nacional que será veiculado amanhã, às 23h, na TV Aberta (9 - NET ou 186 - TVA). A partir de quinta-feira no site do programa www.dialogonacional.com.br
Ribeirão Preto
O atuante deputado Duarte Nogueira manda para a coluna esta boa notícia. O ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella, garante que a expansão do aeroporto internacional de Ribeirão Preto está próxima de se tornar uma realidade. O Banco do Brasil, responsável pelo projeto, se compromete em entregar o anteprojeto no mês de agosto. Feito isso, o processo de licitação desse importante investimento poderá ser iniciado.
4 a 5 milhões de passageiros
Diz o deputado : "Deixamos todos os projetos sob nossa responsabilidade prontos. Esperemos que a nova gestão Federal cumpra o que o governo da presidente Dilma não teve a oportunidade de fazer : a expansão do aeroporto de Ribeirão Preto e o aumento do seu terminal de passageiros de seis mil para 30 mil metros quadrados. Assim, nos próximos anos ele atenderá de quatro a cinco milhões de passageiros, significando desenvolvimento, geração de empregos, renda e novas possibilidade de investimentos".
As razões do voto
O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história. Ali, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se constituiu eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele : "Três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral : um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea".
Atenção, candidatos
Eis alguns pontos para a eficácia do planejamento de marketing eleitoral :
1. É preciso saber ler corretamente o meio ambiente, os novos valores do eleitorado e as novas motivações de voto ;
2. Convém escolher um candidato com o perfil mais adequado ao novo cenário ambiental ;
3. É fundamental definir os segmentos-alvo do eleitorado ;
4. É importante selecionar fortes reforçadores de decisão de voto (esquemas da administração Federal, estadual e municipal, apoio de mídia, recursos financeiros, etc.) ;
5. Convém descentralizar a campanha com a finalidade de multiplicar os pontos de eco e agregar organizações intermediárias de apoio (associações, sindicatos, federações, etc.) ;
6. Sugere-se formar um programa de propostas simples, com um eixo central forte, dentro dos princípios : desejável pela população, factível e crível.