Porandubas nº 51
quarta-feira, 3 de maio de 2006
Atualizado em 2 de maio de 2006 19:23
UMA GREVE GAROTINHA
Que falta faz uma boa assessoria. A decisão estapafúrdia do pré-candidato do PMDB, Anthony Garotinho, de fazer uma greve de fome, por se sentir injustiçado pela imprensa, é de uma inocência garotinha. Como uma pessoa que postula a presidência da República toma atitude tão populista-desesperada-cômica ? Até o momento, o projeto Come Zero de Garotinho só provoca deboche. Imaginem só apelar para organismos internacionais para que controlem o noticiário da imprensa brasileira?
XEQUE-MATE
O gesto de Garotinho equivale a suicídio. Ele não verá atendido seus pleitos, terá de mostrar que as denúncias contra ele não têm fundamento, não terá o apoio da maioria do PMDB no endosso a seu desastrado gesto. Sairá ridicularizado da greve, com alguns gramas de peso a menos. Aliás, uma boa sugestão para os políticos mais encorpados. E, ainda por cima, verá o naufrágio de sua pré-candidatura. Ou seja, Garotinho deu um xeque-mate em Anthony, ele mesmo. Quão triste é ver um político submeter a própria família a cenas de angústia explícita. A inocência da filha chorando dá pena. E raiva contra comete tão grande desatino.
PMDB SEM CANDIDATO
Com o sepultamento da candidatura de Garotinho, o PMDB fica mais próximo da não candidatura à presidência da República. Itamar é apenas um adereço, não um projeto a ser levado a sério. Ele quer é ser candidato a senador por Minas, coisa que o PMDB mineiro, até o momento, não deseja. A reunião da Executiva do Partido, dia 13 de maio, dará o rumo. Tudo indica que a candidatura própria está indo para o beleléu. Mas haverá, ainda, uma convenção em junho. Onde tudo se decidirá.
O PT SEM ESCRÚPULOS
Que o PT perdeu a vergonha, é sabido. Agora, deixar para apurar os escândalos que feriram o partido de morte apenas depois do pleito, é a maior desfaçatez que já se viu nesses tempos de frouxidão moral. Não dá para acreditar. Um Encontro de petistas felizes, longe das denúncias e de mensalões, dando lições de moral e até falando em ética, é um escárnio. Pois Lula disse naquele encontro que ninguém tem condições de dar lições de ética ao PT. O presidente é um ícone de muitas coisas, inclusive do caradurismo.
"ALFININ" NO NORDESTE
Geraldo Alckmin, repetindo Fernando Henrique, corre ao Nordeste para tentar ser conhecido e diminuir a grande diferença de Lula, que obtém, hoje, cerca de 70% dos votos da região. Comeu buchada de bode e carne seca. O Nordeste tem 28% dos votos. Para ser mais entendido na região, Alckmin deveria esquecer o sobrenome e massificar o nome, Geraldo. Geraldo é bem nordestino. Em sua andança pela região - Campina Grande (PB), Crato e Juazeiro (CE) - ouvia-se um estranho "alfinin" na boca do povo. Pois bem, trata-se de uma corruptela de alfenim, que, como a rapadura, mais leve e branco, faz parte do cotidiano nordestino. "Geraldim Alfinin bem que poderia popularizar o complicado Alckmin na região".
35% EM FINAL DE AGOSTO
Se Geraldo Alckmin não conseguir atingir o patamar de 35% entre o meado e o final de agosto, será muito difícil emplacar um segundo turno. Para tanto, além de correr pelo território, o ex-governador paulista precisa urgente arrumar o discurso, falando coisas que batam direto no coração e na cabeça das pessoas. Precisa dominar as temáticas regionais/estaduais. Continua no chavão do "vamos chacoalhar as estruturas", que não diz nada. Voltou a repetir isso no Nordeste.
LULA ALHEIO
O fogo queima a pele e Lula não sente. O presidente faz de conta que não tem que ver com a crise. Usa cadeia nacional para dar o recado de 1o de maio. Faz um balanço do governo. Ou seja, faz campanha aberta. E os nossos juízes eleitorais vêem, mas só agem quando instados a julgar. Continua distante no patamar dos 40% de intenção de voto.
E AGORA, COMPANHEIRO ?
Pois é. O companheiro Lula queria ser o líder dos latino-americanos ou, pelo menos, da banda sul-americana. Mas Hugo Chávez, mais aguerrido, toma a dianteira. Leva a Cuba o irmão Evo Morales, que, no Brasil, prometia fazer parceria com a Petrobras. Sob as bênçãos de Fidel, Evo e Chávez decidem endurecer. Morales nacionaliza refinarias, na prática, a estatização de multinacionais. Lula, amigo de Morales, foi pego de calça curta. Vai se valer dos amigos comuns para tratativas mais amplas. Tudo na maior cordialidade. Afinal de contas, trata-se de ações de traição entre companheiros. Reverter a situação em favor da Petrobras é quase impossível.
O NACIONALISMO RESSURGE COM FORÇA
Evo Morales, na Bolívia, nacionalizando petróleo e gás; Hugo Chávez, na Venezuela, com suas diatribes contra o imperialismo norte-americano e adjacências; Ollanta Humana, em boas condições de ganhar o segundo turno das eleições, no Peru, contra o ex-presidente Alan Garcia - começam a desenhar uma tendência de reerguimento da bandeira nacionalista. Os três expressam discurso identificado com a soberania de seus países e as demandas populares. Mas a crise tem uma causa principal: a falência do sistema partidário. Os partidos políticos não têm conseguido levar adiante as mudanças tão exigidas pelo povo, que, em resposta, resgata a velha política populista, comandada por perfis identificados com a alma popular.
O PACOTE TRABALHISTA
Nos próximos dias, será apresentado o pacote trabalhista, que abriga a legalização das Centrais Sindicais e a formação de um Conselho Nacional de Relações do Trabalho. Mas há algo bem mais polêmico em jogo. Trata-se de um projeto que define atividade-fim e atividade-meio, com o qual o governo quer diminuir - e muito - os espaços da Terceirização. Os setores terceirizados se movimentam pela ação de sindicatos de empresários e trabalhadores.
JUÍZES ELEITORAIS E A LIÇÃO DE CASA
Os juízes eleitorais carecem fazer urgentemente a lição de casa, a partir das recomendações do Tribunal Superior Eleitoral. Procuradores e juízes eleitorais precisam chegar a um consenso sobre o que é propaganda governamental, propaganda eleitoral, propaganda governamental com viés eleitoral etc. Está havendo grande confusão, inclusive com a proibição do uso pelos governos de logomarcas nas campanhas governamentais. Um absurdo.
OS PAPÉIS SE INVERTEM
A Central Única dos Trabalhadores (CUT), comandada por João Felício, com história de oposição radical, agora virou governista. Amaciou o discurso. Irreconhecível. A Força Sindical, comandada por Paulo Pereira da Silva, conquistou o lugar da oposição. Ganhou identidade. Coisas do Brasil: o tigre perdeu os dentes e o boi manso virou fera.
POR QUE LULA QUER O PMDB ?
Lula avisa publicamente que quer o PMDB. Mudou ou foi mudado? Até parece que não foi ele o primeiro a queimar o partido. No final de 2002, José Dirceu procurou o presidente do PMDB, Michel Temer, em nome do presidente eleito, para fazer a aliança. Michel ouviu o partido e apresentou as reivindicações partidárias. Chegaram, até, a acertar os ministérios que caberiam ao partido. Foram conversas seguidas. Anunciaram conjuntamente, José Dirceu e Michel Temer, as bases da aliança. No dia seguinte, ao relatar a Lula o resultado das negociações e acertos, Dirceu ouviu um sonoro NÃO. Ou seja, influenciado por outros setores do tal núcleo duro, Luiz Inácio desfez o trato. Dirceu pediu desculpas a Temer. Que, a partir daí, não quis mais saber de acertos com o PT, sigla que passou a ser considerada por muitos, como Partido da Traição. Depois desse desacerto, vieram as alianças com os partidos do mensalão. E a crise estourou. Lula deve estar com dor de consciência.
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