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Porandubas nº 494

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Atualizado às 08:09

Abro a coluna com o inesquecível Franco Montoro

Depois de deixar a esfera governativa e parlamentar, Franco Montoro passou a se dedicar ao Instituto Latino-Americano - ILAM. Na condição de presidente desta entidade, foi a um almoço organizado por um pequeno grupo de professores da USP no restaurante do campus. O ex-governador, como se sabe, tem registrado em sua história muitos casos de dislexia, momentos em que confundia nomes, alhos com bugalhos, motivando risos nas cerimônias. A conversa fluía bem, versando sobre os mais diferentes problemas do país. A certa altura, ele se surpreendeu ao saber que este escriba era potiguar. Mais ainda : tio de Sônia, minha sobrinha, casada com João Faustino, tucano do melhor naipe e seu dileto amigo. (João faleceu em 9 de janeiro de 2014).

Montoro e dona Lucy foram padrinhos do casamento de uma das filhas de João e Sônia. De repente, ele me lança a pergunta :

- E como está o Agrário ? Você sabe como ele vai ?

Passo a lupa na mente e lamento ignorar a identidade da figura. Mas vou procurar saber, logo, logo. Mudamos de assunto. Mas o Agrário continua a frequentar o meu sistema cognitivo. De repente, Eureka ! Agrário ? Agrário ? Não seria o Urbano ? Tomo a iniciativa :

- Governador, será que o senhor não confundiu o Agrário com o Urbano ?

- Ah, sim, é claro, é claro. Desculpe. Como vai o Urbano ?

Francisco Urbano era presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG. Um potiguar muito conhecido nos universos sindicalista e político. A dislexia do ex-governador paulista havia trocado o espaço rural pela geografia urbana. Franco Montoro, exemplo de Honradez, Dignidade, Seriedade, Civismo, Independência e Amor à Pátria. Quanta falta ele faz nesses tempos de lamaçal político.

Cunha derrotado

Eduardo Cunha, o poderoso presidente afastado da Câmara, perde de 11 a 9 na Comissão de Ética. Seu advogado, Marcelo Nobre, vai recorrer. Será difícil reverter a situação. No Plenário, com voto aberto, não será complicado arrumar 257 votos pela cassação. Cunha tem cinco dias para recorrer. O processo deverá ir a plenário. Depende, agora, do presidente interino, Waldir Maranhão. Aliado de Cunha, mas com um olho na opinião pública.

30 dias de governo

O presidente em exercício, Michel Temer, deve fazer esta semana um balanço de 30 dias de governo. E mostrar como recebeu o país. O resultado traz algum alento, a partir do índice de confiança que já se apura na vida produtiva. Empresários de diversos setores registram certa animação, considerando que o fundo do poço já chegou e o Brasil, nos próximos tempos, tende a se recuperar. Quase 10 bilhões foram captados por empresas brasileiras no exterior, nos últimos tempos, o que denota a volta da confiança.

Economia e política

Na frente econômica, o otimismo é patente, com fartos elogios à equipe econômica chefiada por Henrique Meirelles. Na área política, as articulações se estreitam visando a garantir a aprovação das medidas econômicas, a partir do teto para gastos públicos e do prazo de duração. As primeiras medidas foram aprovadas, mas o detalhamento está encaminhado nessa semana. A aprovação da DRU, que engessava recursos em educação e saúde, por exemplo, foi considerado um feito do governo. A área política certamente tende a cobrar pelo maciço apoio que está dando ao novo governo.

30% do valor dos impostos

A PEC, aprovada na Câmara com o voto favorável de 340 deputados, segue para votação no Senado. Caso aprovada, a DRU vai autorizar que o Poder Executivo use livremente 30% do valor dos impostos e contribuições sociais e econômicas Federais que hoje são destinadas, por determinação constitucional ou legal, a órgãos, fundos e despesas específicos. Esta autorização para o governo equivale a um número entre R$ 117 bilhões e R$ 120 bilhões, já que a vigência é retroativa a 1º de janeiro de 2016 e validade até 2023. Na prática, esses recursos desvinculados serão transferidos para uma fonte do Tesouro Nacional que é de livre movimentação, sem qualquer tipo de vinculação ou destinação específica.

O desafio

O corpo parlamentar quer abrir espaço na estrutura administrativa. Os aliados partidários pressionam para ocupar cargos importantes. Ora, esse é o desafio que se apresenta ao novo governo. Cerca de quatro mil cargos comissionados serão extintos. Milhares, porém, continuarão a existir. Daí o governo avaliar a oportunidade para um enxugamento maior. Mas se obriga a enfrentar crescentes pressões dos partidos que formam a base. Entre uma votação e outra, o governo chama deputados e senadores, ouve as demandas, anota os pedidos e atende na medida do possível os casos mais urgentes.

Dilma, vítima

A presidente afastada promete continuar o périplo pelo país, denunciando o "golpe" que a tirou do Palácio do Planalto. E abre uma peroração de vítima, na esteira das perdas que contabiliza : só conta com o jato da FAB para levá-la de Brasília para Porto Alegre (ida e vinda), e cartões corporativos de sua equipe cortados. No último mês, ela teria gasto cerca de R$ 650 mil com passagens e alimentação. O governo eliminou, ainda, os recursos que abasteciam blogs de amigos e quadros petistas.

Eleições gerais

Sob pressão intensa, a partir do próprio PT, Dilma passou a defender a ideia de um plebiscito para auscultar o interesse da população por eleições gerais ainda este ano. Esta figura - eleições gerais e diretas para presidente no meio do mandato - não existe na CF. Para haver um pleito presidencial, seriam necessárias a renúncia da presidente e a do vice, Michel Temer. Ora, quem garante que o vice renunciará ? Plebiscito em ano eleitoral é maluquice. Ademais, teria de ser aprovado pelo Congresso. Que maioria Dilma tem nas duas casas congressuais ? Resumo : trata-se de lorota leve para acalentar bovinos.

Cassação pelo TSE

Outra hipótese seria a cassação da chapa pelo TSE ainda este ano. Se esta hipótese ocorrer em 2017, a eleição de presidente seria indireta, ou seja, teríamos a eleição de um membro do Congresso. Esse processo demandaria recursos, embargos e postergações. Portanto, a tese de cassação não resiste à análise mais séria. Dilma, por seu lado, faz o que ainda pode fazer : reclamar, usar as redes sociais, viajar em jatinho pago pelo PT, ter direito ao jus sperneandi. Observação importante : o PT não acredita na volta da Dilma. Quer subir imediatamente ao palanque da oposição. Maneira de se sentir confortável e apto a enfrentar o pleito de outubro ainda com algum gás. E garantir uns 200 prefeitos petistas dos 650 que hoje possui.

Turbulências

As turbulências deverão continuar pelos próximos meses. Estamos vivenciando um ciclo de grandes mudanças. E não se atravessa caminho cheio de obstáculos sem percalços e tropeços. O governo Temer tende a se equilibrar, não antes de enfrentar bombardeios, principalmente por parte da artilharia da operação Lava Jato, que atira na cúpula do PMDB. Uma grande interrogação estará no ar : como os dirigentes partidários e congressuais serão tratados nas próximas semanas ?

Acordos e delações

O futuro imediato abre zonas de fumaça. Muita incerteza estará no ar. Acordos de leniências e novas delações abrirão mais atritos, expandindo temores. O próprio PT está sendo aconselhado por José Dirceu a fazer um acordo de leniência, assumindo responsabilidades, pagando multas e renascendo da lama. Vaccari, o tesoureiro, também estaria negociando e/ou estudando essa hipótese. Bomba sobre bomba, se isso ocorrer. E o Marcelo Odebrecht ? O resto da República cairia se contar tudo o que sabe. Isso é o que se comenta. Por último, Eduardo Cunha. Imagine-se se, para salvaguardar a família, ele abrir o bico. O que poderia ocorrer na esfera política ?

O fim de um ciclo

Seja qual for o cenário - turbulento, conflituoso, harmônico, azul-celeste, pacífico, cinzento - expande-se a convicção de que estamos vivendo os últimos dias da Pompéia brasileira. Os bacanais da corrupção estão com seus dias contados. Este consultor ainda costuma lembrar ser possível nascer uma flor no pântano.

A campanha paulistana

O pleito na maior metrópole brasileira será desenhado por muitos simbolismos : 1. A capital paulista tem o maior eleitorado entre as cidades brasileiras (cerca de 9 milhões) ; 2. Concentra os maiores contingentes - as maiores classes médias, os maiores núcleos de profissionais liberais, as maiores categorias de trabalhadores especializados, as maiores periferias, os maiores redutos de jovens, etc.. 3. São Paulo é, por consequência, o espaço mais largo para as críticas, cobranças, participação política, etc ; 4. Agrega a maior quantidade de votos racionais e emotivos. É, assim, a capital dos superlativos. A campanha paulista comandará a orquestra eleitoral no país.

Perfil e o espírito do tempo

Que perfil tem condições de agregar e atrair os maiores volumes eleitorais ? Responder a essa questão implica fazer uma digressão sobre o espírito do nosso tempo. Vejamos : o eleitor está saturado das velhas promessas ; não se deixa levar mais na esteira do "Maria vai com as outras" ; está desconfiado da política ; tem simpatia por um ou outro, mas tende a nivelar todos os candidatos ; ainda sinaliza preferência por um e outro na onda da lembrança do último pleito ; quer ver serviços públicos eficientes ; clama por uma nova ordem. E assim por diante. Quem vestiria esse figurino ?

Russomano

Celso Russomano é o preferido das margens mais carentes. Tem o "recall" (a lembrança) do eleitor. Construiu identidade no palanque de xerife e despachante das comunidades mais distantes. Tem hoje cerca de 30% de intenção de voto. Insere-se no espírito do tempo ? Não. A começar pelo valor da assepsia. Celso tem processos no STF. Que até agosto deverá julgá-lo. Se for condenado, ganha ficha suja e nessa condição não será candidato. Seu partido, o PRB, sofre o viés de ligação com a Igreja Universal. Vista com reservas. Russomano, se for candidato, tende a cair. Não chegará ao segundo turno.

Marta

Marta Suplicy, ex-prefeita, sustenta forte recall também nas margens, aprovada que foi com Céus da Educação. Tem alta visibilidade. Mas difícil é retirar de seu perfil a cor vermelha de petista e o epíteto de martaxa, como os paulistanos a viam na época das taxas que cobrava quando prefeita. Marta será candidata pelo PMDB, partido que chega ao centro do poder com Michel Temer na presidência. Terá de fazer muito esforço para ganhar votos nos bolsões do meio da pirâmide. As classes médias têm forte rejeição ao petismo que muitos ainda enxergam em Marta. Ela encontrará barreiras intransponíveis para ganhar o apoio dos grupamentos médios. Mas o PMDB pode até crescer este ano.

Haddad

Fernando Haddad foi a maior conquista do PT no pleito de 2012. Boa estampa, ares de schollar, professor universitário, Haddad prometia fazer uma revolução na gestão da metrópole. Não conseguiu o intento. Nas promessas da campanha, sobressaía um tal Arco do Futuro, uma espécie de porta da esperança de grandes empreendimentos na zona leste da capital. Ficou na palavra perdida. O prefeito praticamente concentrou esforços nas ciclovias, mesmo assim limitando-as ao perímetro do centro expandido. As regiões periféricas não ganharam ciclovias. O programa tem recebido críticas e elogios. A reduzida velocidade para carros nas marginais e avenidas centrais tem sido outra frente de queimação do prefeito. Que deve se enrolar, ainda, no cobertor manchado de lama do PT. Tem a seu favor a força da máquina. E os braços da militância encravada nos postos da administração municipal.

Doria

João Doria será o candidato tucano. Virá com o apoio do governador Alckmin, o apoio do PSB e de outros partidos, que devem lhe garantir um largo espaço na mídia eleitoral. Tem contra si o fato de ainda não ser conhecido junto às camadas periféricas. A favor conta com uma imagem asséptica, não comprometida com a velha política. Empresário trabalhador, jornalista, decidiu levar a sério o ingresso na militância política, apesar de já ser experiente quadro público, pois trabalhou para o governador Franco Montoro, o ex-prefeito e ex-governador Mário Covas, tendo sido ainda presidente da Embratur no governo Sarney. Conhece bem as retas e curvas da comunicação, sendo ele um homem de televisão. Tem amplas condições de incorporar a feição do "novo", o pregoeiro de mudanças tão clamadas pela população. Detalhe : cumpre exaustiva agenda nesse ciclo de pré-campanha, já tendo corrido os 95 subdistritos da capital.

Matarazzo

Andrea Matarazzo entra na campanha como um tucano frustrado por não ter vencido nas prévias o adversário João Doria. Saiu do PSDB e entrou no PSD do prefeito Gilberto Kassab. Foi secretário das subprefeituras durante a administração, oportunidade em que se fez conhecer na periferia. Considerado candidato das elites, Matarazzo, de família tradicional, tem amigos fortes como FHC e José Serra, mas não sendo candidato do PSDB será difícil para ele arrumar apoios na floresta tucana.

Erundina

Luiza Erundina, a ex-prefeita, será candidata pelo PSOL. Terá pouco tempo de TV e rádio. Ganhará alguns votos de opinião de quem admira a "tia". Luiza estará na ponta esquerda radical com seu partido fazendo a execração de tudo e de todos. De origem humilde, é um quadro respeitado e admirado. Não se contaminou com as mazelas da política. Mas não tem chances.

Chances ?

Este consultor vê a campanha paulistana como uma das mais aguerridas do país. E enxerga três candidatos com possibilidade de ir ao segundo turno : Marta Suplicy, Fernando Haddad e João Doria. O candidato Russomano acabará preso na malha fina que seu partido e ele teceram. Uma barreira de suspeitas e polêmica sobre seu perfil. Se o PT se transformar em pedra amarrada no Haddad, este irá ao fundo do rio. Sobrarão Marta e João no segundo turno. Quem tem mais chances ? A conferir o perfil com maior rejeição do eleitorado. Façam suas apostas.