Abro a coluna com uma historinha de Jânio Quadros.
Obrigado, colega
O próprio presidente Jânio Quadros, às vezes, transmitia seus bilhetinhos para os ministros por meio do aparelho de telex que mandou instalar em seu gabinete, ligado diretamente com os Ministérios em Brasília e no Rio de Janeiro. Ele mesmo datilografava os "memorandos". Transmitiu um bilhete para um ministro e na mesma hora recebeu a seguinte resposta, pelo telex : "Prezado colega. Não há mais ninguém aqui". Ao que o presidente respondeu : "Obrigado, colega. Jânio Quadros". Do outro lado do fio, porém, o outro não se perturbou : "De nada, às ordens. John Kennedy...".
(Nelson Valente, jornalista e escritor, em seu livro Jânio Quadros - O Estadista)
Sob o signo da confiança
E o novo governo começa sob o signo da confiança. Já se percebe um ar de esperança entrando pelos pulmões sociais. Não se espere um coelho da cartola. Não haverá. Mas a sensação de maior segurança, de ordem contra a bagunça, do zelo contra a inépcia, da autoridade contra a horda de barbárie que ameaça tomar conta do país, já repõe as energias no corpo social. Pressões e contrapressões sobre o novo governo surgem de todos os lados. Em primeiro lugar, urge fazer uma assepsia na estrutura do Estado. Que está contaminada pelo loteamento de espaços e infiltração de contingentes petistas.
Artífices da mamata e artistas
Há muitos artífices da mamata que se fazem de artistas e cobram a continuidade da Pasta da Cultura. Urge fazer a distinção entre estes e os verdadeiros artesãos das artes e da cultura. O fato é que o Brasil dos últimos anos foi saqueado por mercenários, oportunistas, fariseus e hipócritas.
Sabotagem
Percebe-se, nesse momento, a tentativa de grupos que agem nos intestinos do Estado para praticar atos de sabotagem. Procuram resistir às novas forças que passam a comandar as áreas. Correm de um lado para outro procurando buracos para se esconder. Agem como ratos. Na frente da comunicação, é perceptível a agressão de blogs e sites financiados pelo lulo-dilmismo-petismo. São velhos conhecidos. As torneiras serão fechadas. A expressão desses guerrilheiros de fachada tende a encolher.
Cabidão da imprensa - I
O governo Michel Temer pretende reformar a Empresa Brasil de Comunicação, aparelhada nos últimos 14 anos por militantes petistas. Em vez de servir a um só partido, a empresa deve ser voltada ao bom jornalismo, profissional, a serviço de toda sociedade brasileira. Mas o governo enfrenta fortes resistências : os caciques ali alojados alegam que estão protegidos por lei e não podem ser demitidos. Soltam até notas oficiais contra as pretensões do governo. A EBC tem mais de 2.500 funcionários, quase metade comissionados. Tem gente de alta competência. O Conselho e a Diretoria da EBC alegam amparo legal para esse imenso cabide de dirigentes bancado pelos cofres públicos. É legal ? Pode ser, mas é absolutamente imoral.
Cabidão da imprensa - II
O esperneio dos caciques parece ter vida curta. Ainda ontem o presidente Michel Temer demitiu o diretor-presidente da EBC, Ricardo Melo, nomeado no último dia 3 pela presidente Dilma para um mandato de quatro anos ; ou seja, a poucos dias de seu impeachment. A exoneração de Melo foi publicada ontem pelo Diário Oficial e assim começa a desmoronar mais um gueto petista. Ele tentará se manter no cargo. Vai à Justiça.
Prioridades
O novo governo tem pressa. Por isso, estabelecerá um conjunto de medidas para votação no Congresso. A meta é fechar o buraco de 120 bilhões nas contas públicas. Um grupo foi formado para sistematizar a nova Previdência. Serão garantidos os direitos de pessoas abrigadas no sistema previdenciário. Na área trabalhista, imperará a ideia de acordo entre patrão e empregado, na esteira da ordem que se emprega no mundo civilizado. Por aqui, temos uma legislação engessada. A tal Nova Matriz Econômica - ancorada em subsídios e desonerações - será desmontada. A desvinculação de 25% da receita de Estados, municípios e União pelos próximos quatro anos fará parte das medidas.
Pasta destroçada
O ministro Henrique Alves passou pouco tempo fora do Ministério. Pois bem, no tempo em que ficou afastado - após pedir exoneração do cargo- a Pasta foi simplesmente destroçada. Henrique havia organizado a estrutura. Encontrou-a entregue às baratas. Completamente desestruturada. Henrique vai precisar de umas duas semanas para pôr as coisas em ordem.
Brasil na transição - I
Como será o Brasil na transição ? Tentemos esboçar alguns traços : 1. Não teremos, ainda, um território integrado aos valores da modernidade - crédito à meritocracia, fim do nepotismo, eficiência dos serviços, racionalidade administrativa. Mas certamente esses eixos começarão a ser fincados ; 2. O discurso político ainda será tumultuado pela competição acirrada entre os partidos grandes e médios, interessados em ocupar espaços na máquina administrativa. Veremos, porém, um refluxo do fisiologismo, a partir de uma crítica social mais intensa e continuada ; 3. Plantar-se-ão as sementes para uma reforma política, que virá mais adiante.
Brasil na transição - II
4. As margens sociais terão garantidos seus programas de assistência, considerando que eles constituem obrigação do Estado, deixando, assim, de ser marcas de um determinado governo. Por isso, desconfiarão da expressão populista de Lula, em eventual périplo pelo país ; 5. As classes médias formarão a grande base de apoio e sustentação ao novo governo, espraiando para as margens seu poder de irradiação de ideias. Respirarão aliviadas pelo fato de verem esgotada a era do PT, com sua vermelha bandeira de traços bolivarianos sendo tragada por novos ares ; 6. Os movimentos sociais verão suas torneiras fechadas e, assim, com menos recursos farão ações mais pontuais, específicas e sob o controle dos instrumentos de segurança social.
Brasil na transição - III
7. Os horizontes serão menos tenebrosos e poluídos, com a vida produtiva tomando o caminho da normalidade. Sob o signo da confiança, os setores produtivos voltarão, de forma gradativa, a realizar investimentos ; 8. O país, pouco a pouco, retomará o ritmo da normalidade, diminuindo a taxa de tensões e as relações conflituosas entre as alas que fazem manifestações de rua ; 9. O voto tenderá a ser mais seletivo, apurado, sob o olho mais acurado de um eleitor atento, que não quer ser enganado.
O arco ideológico
Veremos, nos próximos tempos, um arco ideológico com as seguintes divisões : uma faixa vermelho-encarnada ocupando a extremidade esquerda (partidos pequenos e radicais, a partir do PSOL) ; uma faixa vermelha-embotada ocupando o espaço da esquerda (PT, mais um ou outro partido) ; uma faixa tomando o lugar de centro-esquerda (PSB, PDT, principalmente) ; uma gigantesca tira ocupando laterais esquerda e direita do centro (a constelação de partidos que formam a base do novo governo, como PMDB, PSDB, PTB, PSC etc.) ; uma faixa ocupando a margem direita, abrigando partidos como PSD, PP, PRB e DEM. Estes últimos partidos são também atraídos pelo imã do centro, sendo, portanto, maleáveis na mudança de posições.
Serra
José Serra, como já se começa a perceber, será um dos ministros com maior visibilidade. Já sinaliza contrariedade com os países sob a órbita bolivariana. Quer apurar o custo de embaixadas em países que, sob o aspecto de benefícios comerciais, pouco acrescem ao Brasil. No caso, alguns países africanos e do Caribe. Serra endureceu posição contra esses países pelo fato de terem considerado impeachment da presidente um "golpe".
A chave
A chave que vai destrancar as portas do amanhã será a nova equipe econômica sob o comando de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda : Ilan Goldfajn, no Banco Central ; Mansueto Almeida, Carlos Hamilton e Marcelo Caetano, nas Secretarias do Ministério da Fazenda. E mais : Maria Silvia Bastos Marques, no BNDES ; Jorge Rachid, continuando na Receita Federal ; e Otávio Ladeira, no Tesouro Nacional. Uma equipe portentosa. E de grandes conhecimentos sobre matéria econômica. Alguns metros acima da equipe da era Dilma.
Mulheres e negros
A polêmica criada com a ausência de mulheres e negros no Ministério do novo governo tem um mérito : o de levantar a questão sobre a representatividade dos gêneros e de raças face à competência. No primeiro momento, choveram críticas contra o novo ministério ; que foram se arrefecendo ante o argumento de que a meritocracia deve prevalecer sobre outros critérios. O bom senso, ufa, apareceu. Que se nomeiem mulheres. Não, porém, com a capacidade da mandatária que acaba de ser afastada.
Marco Aurélio
Marco Aurélio Mello, ministro do STF, aparece novamente nas manchetes. Libera caso do impeachment do vice para votação em plenário. Deverá colher mais uma derrota. Marco Aurélio é mesmo uma pessoa que preza as luzes midiáticas.
Troca de comandante
Renê Hermann ocupou, neste mês, sua cadeira à frente da CLIA ABREMAR BRASIL (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos). O executivo assumiu o lugar que foi de Roberto Fusaro por dois anos. Hermann, que também é diretor-Geral da Costa Cruzeiros para a América do Sul, trabalha no setor há 22 anos. Graduado em Administração, iniciou sua carreira profissional na indústria da aviação em 1974, obtendo licença como piloto. Antes de juntar-se à Costa Cruzeiros, o executivo trabalhou para Varig, British Caledonian e British Airways, ocupando nessa última empresa o cargo de diretor-Geral para o Brasil. Experiente no segmento, Roberto Fusaro seguirá no Conselho da CLIA Abremar Brasil.
Programa de qualidade
O Sescon-SP (Sindicato das Empresas de Contabilidade no Estado de São) realiza nesta sexta, 20/5, o evento de certificação do PQEC (Programa de Qualidade de Empresas Contábeis), criado há mais de 10 anos para incentivar a excelência das empresas de serviços contábeis. Nas palavras do presidente da entidade, Márcio Shimomoto, "com a evolução tecnológica, as mudanças legislativas, tributárias e sociais e o aumento da exigência dos consumidores, a qualidade na prestação de serviços se tornou fundamental para o sucesso das organizações". Este ano serão 473 empresas, sendo 99 certificadas também pelo ISO. O evento será no Espaço das Américas, em São Paulo, com show do cantor Luan Santana.
Gerdau explica
O Grupo Gerdau diz que, embora até o presente momento não tenha tido acesso ao relatório final recentemente elaborado pela Polícia Federal, recebeu com imensa surpresa e repúdio a informação de que executivos da companhia, entre os quais seu diretor-presidente (CEO), estariam entre os indiciados do processo do CARF. E explica que recursos que tramitam no órgão ainda se encontram pendentes de julgamento. Reafirma que está à disposição das autoridades competentes para prestar os esclarecimentos que vierem a ser solicitados.
Fecho a coluna com uma historinha das antigas.
O poder é como água
1945. O Brasil inaugura a redemocratização. Hermes Lima, fundador da UDN, deputado constituinte, ex-presidente do STF, foi ao Nordeste conseguir apoio de democratas ilustres para fundar outro partido, o Partido Socialista Brasileiro. Em João Pessoa, procurou Luís de Oliveira :
- Luís, o socialismo é como aqueles gramados dos castelos da Inglaterra. Cada geração dá por eles um pouco de si. Um jardineiro planta, o filho cuida, o neto poda. E vai assim, de geração em geração, até que, um século depois, torna-se o que é.
- Doutor Hermes, me desculpe, mas não vou entrar não. Gosto muito do socialismo, mas vai demorar muito. Eu quero é o poder. E o poder é como água. A gente tem que beber na hora.