Abro a Coluna com a mineirice de José Maria Alkmin.
O milagre
José Maria Alkmin, a raposa mineira, mestre da arte política, chegava da Europa com cinco garrafas enroladas na pasta. A Alfândega quis saber o que era.
- Água milagrosa de Fátima.
- Mas tudo isso ?
- Lá em Minas o pessoal acredita muito nos milagres da água de Fátima. Não dá para quem quer.
- O senhor pode desenrolar ?
- Pois não, meu filho.
- Mas, deputado, isso é uísque.
- Ué, não é que já se deu o milagre ?
A crise chega ao pico
A crise política chega ao pico. O processo de impeachment está acelerado. A Comissão encarregada de acolher/não acolher o processo decidiu não anexar a delação premiada do senador Delcídio Amaral ao processo inicial solicitado pelos advogados Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr. Isto para não dar à situação munição para "arrastar" a tramitação. Mas novo pedido de impeachment será protocolado com base nas delações, nas quais o senador afirma que Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atuaram junto ao Judiciário para tentar barrar as investigações da Operação Lava Jato.
"A favor" ganha hoje
Os deputados favoráveis ao impeachment são maioria, hoje, na Comissão. O número aumentou (bem) depois da interlocução telefônica entre Dilma e Lula. A presidente poderá, até, reverter essa posição. Não será fácil alcançar 172 votos em plenário. Hoje, contaria com 140/150. A tendência, aliás, é de expansão da maioria favorável. Causas : o peso das gravações entre Dilma e Lula e entre este e outros interlocutores ; as delações premiadas que puxam Dilma e Lula para o olho do furacão ; as manifestações de rua, favoráveis ao impeachment em sua grande maioria.
Do Sul para o Norte
A estratégia imaginada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para votação do impeachment é começar pelos deputados do Sul, mais favoráveis ao afastamento da presidente, entrando pelo Sudeste e, de maneira sequencial, chegando aos Estados menos favoráveis do Norte e Nordeste. De fora, no gramado do Congresso, uma grande manifestação tocaria bumbo e cornetas azucrinando os ouvidos dos deputados. Este consultor trabalha com a hipótese de intenso conflito entre alas favoráveis e desfavoráveis ao impeachment.
Tendência no Senado
A tendência é a de que a Câmara Alta, ao constatar a aprovação do impeachment por 342 deputados, não terá alternativa senão a de aceitar a posição dos representantes do povo. Também acolheria a ideia. Nesse caso, depois de acolhida na Comissão de Admissibilidade do Senado, Dilma teria de se afastar. A sessão do impeachment será presidida, no Senado, pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski.
Reação nas ruas
Prevê-se intensa movimentação nas ruas, com as suas alas - favoráveis e contrárias ao impeachment - promovendo grandes manifestações. Percebe-se que a ampla maioria da população acolhe a tese do impeachment, razão pela qual pode-se inferir que a probabilidade de mudança no comando do país é muito alta. Na régua de 0 a 100, esta chance é de 80. As alas irão, raivosas, às manifestações. Conflitos poderão ser vistos no radar.
Lula pode sustar ?
O ex-presidente está sendo considerado a chave para fechar a porta do impeachment. Ocorre que está na corda bamba. O STF só irá avaliar a liminar concedida pelo ministro suspendendo sua nomeação para a Casa Civil após os feriados da Páscoa. Nesse ínterim, Lula tentará demover deputados pela via informal. Do alto de seu poder de convencimento, sem a força do cargo. Conseguirá ? Este consultor acredita que não terá sucesso.
O maior feito de Lula
O maior feito de Luiz Inácio nesses últimos tempos foi o de impor ao PT e à Dilma sua agenda particular. Ou seja, a proteção a ele acaba se transformando na segunda preocupação da presidente. A primeira é o impeachment. Que, na visão do petismo, precisa de Lula para ser barrado.
PMDB, a chave do amanhã
O PMDB é visto como a chave que abrirá a porta do amanhã. A imagem tem sentido. O partido detém o maior número de deputados : 69. E dia 29 de março fará reunião do Diretório Nacional para decidir sobre o desembarque do governo. É mais que provável a saída do PMDB do barco de Dilma. Os ministros - sete - deverão ganhar alguns dias para arrumar os papéis e deixar a casa pronta para receber os sucessores. O PMDB sabe se unir nas horas decisivas. Não haverá racha. A conferir.
Lula e o PMDB
Lula está tentando se encontrar com o vice-presidente Michel Temer, presidente do PMDB. Eles vão se falar. Será difícil convencer o vice a segurar o PMDB no governo. Afinal, há uma decisão de Convenção dando 30 dias para o desembarque do partido. Diante dos fatos recentes, o prazo foi antecipado para o dia 29. Os ministros terão um prazo para desocupar seus cargos a fim de dar tempo à presidente para fazer as substituições.
O que Serra quer
Em eventual governo Temer, o senador José Serra gostaria de ser um dos braços direitos do presidente. Pensa em aplainar os caminhos para vir a ser candidato à presidência em 2018. Mas ambição demasiada de Serra é uma barreira à suas pretensões. Sua desastrada entrevista ao Estadão dizendo o que Michel deveria fazer teve efeito bumerangue. Voltou-se contra ele. Será que Serra não pensa que há alas contra ele no próprio PSDB ? E pedir ao vice-presidente que "não faça uma caça às bruxas" é esquecer que o perfil de Michel Temer não combina com o pedido. Trata-se de uma pessoa cordial, sensata e afeita ao diálogo e à união.
Outros partidos
Não se pense que outros partidos com ministros no governo permanecerão na base situacionista. Alguns já estão desembarcando como o PRB e o PP. O PTB está com um pé fora. A razão é uma só : instinto de sobrevivência. Sobreviver em navio afundando é difícil. Principalmente em mar borrascoso. Daí a preocupação : correr para os botes salva-vidas enquanto é tempo.
PT não é solidário
A crise política acrescenta mais uma tinta suja na imagem do PT : a tinta do desprezo pelos companheiros. A delação do senador Delcídio Amaral deixa patente a conduta do PT para com seus quadros atingidos pelas investigações. O partido simplesmente abandona seus participantes, deixando-os que se virem, sozinhos, perante a Justiça. É a queixa de Delcídio, que se vinga contando tudo sobre o chefe Lula, com o conhecimento de Dilma. Políticos que deixaram o PT confirmam esse posicionamento. E a cúpula partidária investe na defesa dos comandantes dizendo : este partido nunca compactuou com desvios. Se isso ocorreu, ninguém da cúpula sabia. A versão tornou-se risível.
Rosa Weber
A ministra Rosa Weber negou ontem o pedido de habeas corpus impetrado no STF para derrubar a liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes suspendendo a nomeação de Lula como ministro da Casa Civil. O ministro Luiz Fachin se declarara sob suspeição e a relatoria caiu em Weber. A ministra foi citada duas vezes por Lula nas interlocuções telefônicas gravadas com autorização judicial. Lula sugeria que se conversasse com ela para suspender investigações do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP/SP) sobre o apartamento triplex no Guarujá (SP) e o sítio em Atibaia (SP).
Jurisprudência
Jurisprudência do STF determina que uma decisão monocrática de um ministro não pode ser derrubada por mandado de segurança por outro ministro. Esse foi o caminho seguido pela ministra Rosa Weber. Aliás, ainda ontem, outro ministro do STF, Luiz Fux, também negara o mesmo pedido do governo para anular a decisão de Gilmar Mendes, que suspendeu a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil. Ele decidiu extinguir o processo sem sequer analisar o mérito do pedido feito pela Advocacia-Geral da União. Alegou que a ação ia contra a jurisprudência criada pela Corte. Os recursos serão analisados pelo Plenário da Corte.
Aragão sob polêmica
Apesar de o procurador Eugênio Aragão reunir condições legais para ser ministro da Justiça, eis que entrou no MP antes da CF de 88, sob o ponto de vista da ética sua nomeação para o Executivo abre um grande buraco. O MP defende a sociedade. Como pode servir ao agente governamental quando este arremete contra interesses sociais ? Se é ministro da Justiça, vai sempre defender a posição do Executivo a quem serve. Nesse caso, abandona o escopo do Ministério Público. As críticas contra ele se avolumam. Até porque, segundo se diz, trata-se de perfil petista radical.
Aécio na roda
O senador Aécio Neves, presidente do PSDB, deverá entrar na roda de investigação. A principal denúncia vem da delação premiada do senador Delcídio Amaral. Ele diz que o senador mineiro teria sido beneficiado por esquema de corrupção na estatal Furnas.
Mais de 100
Há 57 parlamentares na condição de réus no STF. Entre as principais acusações estão crimes de responsabilidade, eleitorais, contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. E cerca de 100 congressistas são alvos de inquérito.
João Doria
O jornalista e empresário João Doria, como este consultor previra, ganhou a vaga para pleitear pelo PSDB a prefeitura da maior metrópole brasileira. Tem boa estampa, bom currículo, domina bem a linguagem da mídia, cerca-se de bons profissionais e sabe fazer a lição de casa como ninguém. Reúne condições para preencher a imagem do novo na política. A conferir.
Alckmin fortalecido
O governador Geraldo Alckmin avança alguns metros na trajetória de 2018 com a vitória de João Doria nas prévias tucanas. FHC, José Serra, Alberto Goldman, Aloysio Nunes Ferreira torciam pelo vereador Andrea Matarazzo. Que acabou saindo do PSDB. José Aníbal apoiava o deputado Ricardo Tripoli. E Bruno Covas acabou apoiando Doria no segundo turno.
Fecho a Coluna com pequeno conselho de marketing eleitoral
Identidade e Imagem
Postas as candidaturas, a campanha começa a ganhar ares oficiais. Cada candidato terá de fazer chegar sua Identidade aos eleitores. Identidade é um composto de : pensamentos e ideias, experiências, história, atitudes e valores (plano semântico) ; e maneira de se vestir, de falar, de gesticular (plano estético). Identidade começa com o sufixo Idem (do latim), que significa semelhante, igual. Identidade, portanto, é a verdade da pessoa. Já Imagem é a sombra da Identidade, é a projeção. Quando a sombra está muito distante da pessoa, cria-se uma dissonância. A Imagem não corresponde à verdade. Por isso, candidatas e candidatos, procurem ajustar as Imagens que desejam transmitir aos eleitores à Identidade.
Campanha negativa
Os candidatos terão de controlar muito a expressão. E a razão é muito conhecida : campanha negativa não ajuda candidatura. Quem se prestar ao esforço de passar uma campanha xingando, acusando, criando atritos, poderá ser visto como perfil negativo. É claro que os contendores devem reagir à altura diante de acusações pesadas. Mas o substantivo é melhor que o adjetivo em campanha eleitoral. Porque eleva as pessoas, conferindo-lhes uma taxa de liturgia e seriedade.