Abro a Coluna com uma historinha de promessas de campanha em Minas Gerais.
Eclipses ? Aqui não
O Coronel Zé Azul, chefe político de São Gonçalo do Abaeté, em Minas Gerais, era candidato a prefeito pela UDN, às vésperas de um eclipse do sol que a imprensa vinha prevendo para começo do ano seguinte, como o mais forte já visto no Brasil. O medo generalizou-se. Corriam relatos de crianças que iam nascer defeituosas, galinhas que deixariam de pôr ovos, cabritos que não mais berrariam e a cachaça que ficaria envenenada.
No dia 1º de outubro, o coronel Zé Azul fez o último comício da campanha e acabou com um juramento sagrado :
- Pode ser que, na prefeitura, a partir de janeiro, eu não consiga fazer tudo que pretendo por esta terra. Mas juro para vocês que meu primeiro decreto será proibir definitivamente eclipses em São Gonçalo do Abaeté.
Ganhou a campanha !
Cuidado, candidatos : os tempos mudaram !
A válvula do carnaval
O carnaval é a válvula da panela de pressão social. A folia deste ano ganha uma interpretação adicional por ocorrer num momento de grandes dificuldades. A falta de grana sugere uma movimentação maior nas ruas. Os foliões deverão fazer o carnaval das circunstâncias : mais natural, menos dispendioso, descontraído. Multidões buscarão em seus blocos compensar angústias e esquecer, por alguns dias, o déjà-vue da política. A cada dia, aumenta o fosso entre sociedade e os políticos. Alguns atores, a propósito, inspiram marchas do carnaval. Risíveis.
Zika, o medo
A doença é uma emergência mundial. A OMS deu o alerta. A microcefalia dispara um sentimento de medo. O carnaval, dizem especialistas, produz ambientes adequados para propagação do mosquito Aedes aegypti. Logo, favorece a massificação da doença. O Brasil está perdendo a batalha para o bichinho, reconhece a própria presidente Dilma.
Geração de amanhã
Pequena reflexão : que efeitos a microcefalia provocará na geração do amanhã ? Uma geração com distúrbios ?
O Brasil real
O país real será revisitado depois do meio dia da quarta-feira de cinzas. A vida rotineira encontrará seus fios e as pessoas buscarão a melhor maneira de administrar os próximos tempos de escassez. Os negócios tenderão a diminuir de volume e ritmo. As Operações de investigação continuarão - Lava Jato, Zelotes, Merenda Escolar/SP - e os órgãos de controle deverão recolocar seus exércitos nos ambientes de indiciados e suspeitos. A área política funcionará como sanfona : abre e fecha, fecha e abre. O que significa isso ? Expliquemos.
A sanfona política
A representação política age de maneira pragmática, tateando no amplo salão da Opinião Pública. Esta, por sua vez, ajusta seus sentimentos ao clima da crise econômica : quando as carências e necessidades batem no bolso, a indignação sai do coração para a cabeça. E reage. Haverá, portanto, um sentimento negativo muito intenso nos próximos meses. Que calibrará o ânimo da Opinião Pública. Que funcionará como espelho aos políticos. Daí a sanfona : sístole e diástole, pressão e descontração. Pressão implica aperto no coração do governo : desaprovação de matérias de interesse de Dilma ; descontração, maior simpatia às teses da administração, com aprovação de matérias de seu interesse no Parlamento.
CPMF
Imaginem, dentro dessa moldura, o voto (ou o veto ?) à CPMF. Para passar, o ambiente econômico e social precisa ser harmônico. Caso contrário, será difícil sua aprovação. Os parlamentares podem, até, ser mobilizados - como é previsível - para aprovar a contribuição financeira ; mas não agirão como suicidas. Governadores, de pires na mão, querem a CPMF. Como, porém, defender um novo imposto em ano eleitoral ? Terão eles coragem de fazer esta pregação em praça pública ?
No Congresso
Já se viu, ontem, um ligeiro retrato do que pode ocorrer com a CPMF. Em sua fala na abertura da Legislatura, a presidente foi vaiada quando falou do Imposto. Aliás, ela foi ao Congresso por sugestão de Delfim Netto. Que sugeriu enfrentar cara a cara o Parlamento. Prometeu, ainda, fazer a Reforma da Previdência e o ajuste fiscal. Dois temas que não são consenso no próprio PT.
Cunha na guerra
Eduardo Cunha tem provado ser resistente na luta. Quando se imaginava apeado da cadeira de presidente da Câmara, ele volta mostrando disposição de não ceder um passo na estratégia de ataque contra o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, e de enfrentamento contra o STF. Entra com embargos de declaração junto ao Supremo para fazer reverter o rito do impeachment. Dispõe-se a demonstrar que a Câmara pode eleger comissões (pelo voto secreto e sem indicação de partidos) e o Senado não pode bloquear decisão de dois terços dos deputados para evitar julgamento de eventual pedido de impeachment da presidente.
Vai e vem
Como se sabe, esses embargos deverão ser apreciados e, assim, o presidente da Câmara vai ganhando tempo. Na esfera interna, procura estancar o processo contra ele na Comissão de Ética, alegando irregularidades. Por ser um especialista em regimento interno, Cunha acabará adiando seu afastamento do assento presidencial. O STF já sinaliza a dificuldade de afastá-lo do cargo. As próximas semanas serão decisivas.
Governo desmonta turismo
O turismo vive dias de angústia. Depois de renovar um compromisso do passado - isenção de IR para as agências de turismo sobre valores de compras feitas no exterior - o governo acabou taxando o setor em 25%. Calculado sobre o "gross up", a soma chega a 33%. Os termos assumidos pelo ex-ministro Joaquim Levy e pelo Secretário da Receita Jorge Rachid, sob o patrocínio do ministro do Turismo, Henrique Alves, eram sobre o pagamento de 6% de IOF. Qual não foi a surpresa ao se perceber que o prometido não se cumpriu. As agências de turismo, a partir de 1º de janeiro, são obrigadas a arcar com 33%. Essa situação destruirá o setor : cerca de R$ 20 bilhões deixarão de ser recolhidos aos cofres públicos, na esteira de 185 mil vagas diretas e 430 mil vagas indiretas eliminadas. Só de salários a perda será de R$ 4,1 bilhões. E assim se desmonta um setor.
Grau de risco
A Moody's está desembarcando no país para reavaliar os nossos indicadores. Pelo andar da carruagem, Brasil será mais uma vez rebaixado pela agência de reclassificação de risco.
Liderança do PMDB
Mesmo que leve a melhor na eleição para líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani sairá com a imagem borrifada. Acabou colando sua imagem ao Palácio do Planalto, o que implicará desconfiança de metade da bancada peemedebista, mais de 30 deputados. Acenou com a possibilidade de mudança na presidência do PMDB, tirando o presidente Michel Temer. Não esperava que Michel costurasse - como está fazendo - um consenso em torno de sua recondução. Hugo Motta, o paraibano que disputa com Picciani, pode vencer a parada. Com o apoio de Eduardo Cunha.
A costura de Temer
Michel Temer esteve em cinco Estados, semana passada, costurando a unidade do Partido (PR, SC, PB, RN e PE). Foi aclamado em todos, recebendo o apoio de lideranças históricas do partido, como o senador Roberto Requião e o deputado Jarbas Vasconcelos. Certa movimentação de senadores - contra a recondução de Temer - refluiu. O senador Romero Jucá (RR) deverá ser o primeiro vice-presidente do partido. O senador Eunício de Oliveira (CE) deverá substituir o senador Renan Calheiros (AL) na próxima legislatura, podendo este voltar a liderar a bancada no Senado.
A imagem de Lula
O ex-presidente Lula não tem conduzido com eficiência o imbróglio do tríplex no edifício Solaris, no Guarujá, e do sítio em Atibaia. Deveria, desde o início, ter dito que comprou um apartamento do qual desistiu quando percebeu a onda que se formou com a aquisição. No entanto, falou em uma cota da Bancoop em nome de dona Marisa. Cota é uma coisa, compra do imóvel é outra. Quanto ao sítio, poderia ter dito que, apesar de estar no nome de dois sócios de um de seus filhos, ele e a família têm o usufruto. Pronto. Ele pode ter apartamento, duplex, tríplex, sítio etc. Não pode, isso sim, é driblar a informação sobre propriedade e recursos.
Fingimento na política
Exemplar é a historinha envolvendo Benedito Valadares e José Maria Alkmin (1901-74), que se encontraram no aeroporto de Belo Horizonte. "Alkmin, para onde você vai?", indaga Valadares. "Vou para Brasília". "Ah, para Brasília, ah, sim para a Capital." Puxando para perto o amigo Olavo Drummond, presente ao ato, cochicha : "O Alkmin está dizendo que vai para Brasília para eu pensar que ele vai para o Rio. Mas ele vai mesmo é para Brasília". Tem muita gente fingindo na política. Sem a graça do Valadares.
Chances
Qual a possibilidade de Lula resgatar sua boa imagem e voltar a ser considerado forte candidato em 2018 ? Resposta : vai depender da recuperação da economia. E da imagem da presidente Dilma. Vejamos os cenários. Dilma sairá do governo com imagem em alta, aplaudida, com reconhecimento do povo ao seu bom governo. Chance entre 0 a 10 ? 2 a 3. Dilma sairá com imagem arranhada e PT reaparecerá em cena depois de mudança geral em seus costumes. Chance ? 4 a 5. Dilma sairá com imagem profundamente comprometida, rota, rasgada. Chance ? 8 a 9. Qual é chance da economia se recuperar ? Em 2016, 0 a 2. Em 2017, 4 a 5. Em 2018, 5 a 6. Em 2020, 8 a 9.
A imagem de Dilma
A presidente Dilma parece mais aliviada. Mesmo assim, 60% da população são favoráveis ao impeachment. Essa ideia tem condições de ainda causar rebuliço no Congresso, mas tende a arrefecer. A não ser que novas denúncias apareçam envolvendo diretamente o nome da mandatária. Sem novos atos, a leitura deste consultor é de que ela caminhará até o fim do mandato, mesmo capengando. A política é mutante como nuvem. Dilma sempre esteve sob o escudo imagético de Lula. Ante o tiroteio sofrido pelo ex-presidente nas últimas semanas, deixa de ser interessante buscar refúgio naquele abrigo.
Cabral ?
Por onde anda o Sérgio Cabral ? Deve estar na oitiva : "passarinho na muda não canta".
Lava Jato
A Operação Lava Jato tem uma sobrevida : apurar as últimas delações e analisar as imbricações/conexões. Vai correr por todo o semestre.
STF na frente política
A Suprema Corte deverá se debruçar sobre os mais de 30 processos de políticos que enchem suas gavetas. Vai ganhar ainda mais visibilidade.
Aécio ?
Por onde anda Aécio Neves ? Por que o senador está em refluxo ?
Ó, jardineira
Tempos de carnaval, tempos da marcinhas. Como a velha canção dos carnavais de outrora.
Na cidadezinha do norte do Rio de Janeiro, a procissão de Senhor Morto caminhava lenta e piedosa, na Sexta-Feira da Paixão, com o povo cantando hinos sacros. O velho padre na frente, o sacristão ao lado e os fiéis atrás, cantando as músicas que o vigário puxava.
De repente um pequeno ônibus, que na região chamam de "jardineira", passou perto e começou a subir a íngreme ladeira da igreja, bem em frente da procissão. No meio da ladeira, a "jardineira" afogou, encrencou, parou, deu aceleradas fortes e inúteis e começou a dar para trás, de costas.
Os fiéis não viram, mas o padre, atento, viu. E ficou apavorado. A "jardineira" já despencava numa grande velocidade. O padre gritou :
- Olha a jardineira !
E os fiéis começaram a cantar, em ritmo de samba
- Ó jardineira, por que estás tão triste ? Mas o que foi que te aconteceu ? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu.
A "jardineira" veio até embaixo e acabou parando. Sem atropelar ninguém.
Dicas para entrevistas
Atenção, fontes e emissores :
- Seja a fonte e não a notícia ;
- Diga a verdade ou então não fale ;
- Controle o que puder controlar - use roupas adequadas, maquiagem sóbria, evite extravagâncias de caras e bocas ;
- Estude muito bem a matéria que vai desenvolver ;
- Antes da entrevista, faça uma exposição geral a fim de que o jornalista possa entender claramente o assunto ;
- Dê respostas curtas e objetivas - a concisão é importante e deixa o discurso mais claro ;
- Construa frases completas : com sujeito, verbo e complemento ;
- Não fale mais do que foi perguntado - perspicácia para responder apenas o que interessa ;
- Evite clichês : destaque os pontos fundamentais e chame a atenção do jornalista para eles ;
- Não fale sinalizando com a cabeça ou olhos baixos, evite cacoetes, e tente não se mexer muito durante a entrevista ;
- É importante ser didático e explicar de forma que todos possam compreender o que se fala - para isso, o entrevistado deve dominar o assunto sobre o qual vai tratar (Nem sempre o jornalista está bem preparado para a entrevista, mas o porta-voz não deve se sentir intimidado e, sim, tentar explicar o assunto como se fosse para uma pessoa leiga) ;
- Mesmo tendo todas as informações na cabeça, a memória pode falhar - até por nervosismo. Para evitar constrangimento, tenha sempre em mãos uma "cola" com os principais tópicos. Principalmente, se a informação a ser transmitida abrigar números.