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Porandubas nº 46

quarta-feira, 29 de março de 2006

Atualizado às 15:01

 

CAIU O ÚLTIMO BASTIÃO

Com a queda de Palocci, caiu a última fortaleza de Lula. O ex-ministro da Fazenda era, efetivamente, a mais poderosa alavanca de Lula. A economia não será afetada. Mas o futuro é incerto. Lula dará a linha da política econômica, como o verdadeiro ministro da Fazenda, e Guido Mantega, o executor. Mas o que será da economia a partir do próximo ano ? Palocci caiu porque mentiu. A verdade de "apenas um caseiro" (como fez questão de dizer Lula ao expressar a condição de um pobre coitado) derrubou a versão de um homem poderoso. A mentira não resiste à verdade.

IMAGEM SERÁ AFETADA

Os pontos positivos de imagem que Lula ganhou, nos últimos tempos, serão comidos pela crise que derrubou Palocci. Dificilmente Lula conseguirá se safar da "emboscada" que seus aliados lhe fizeram. O ex-presidente da CEF, Jorge Mattoso, ao entregar o extrato do caseiro a Palocci, abriu mais uma grande ferida no corpo já ensangüentado do governo Lula. Caso Lula resista ao tiroteio, entrará no Guinness como o governante que opera o milagre de ressuscitar seguidas vezes. A campanha ainda nem começou. Mas Lula ainda detém o poder de falar e convencer os fundões. O Brasil se prepara para assistir a mais acirrada luta política da contemporaneidade.

A FORÇA DOS SISMOS

Os tiros de canhão batem no Governo e ferem Lula. Mas o corpo de Geraldo Alckmin, o candidato tucano à presidência, não está imune aos estilhaços. A denúncia da Folha sobre patrocínios de publicidade a políticos e meios de comunicação derrubou o assessor especial, Roger Ferreira, e seguramente entrará no rol de denúncias que aparecerá na mídia eleitoral, quando a campanha for escancarada. Entre 0 a 10, a queda de Palocci repercutirá na imagem de Lula com a força de um sismo de grau 7 na escala tucano-pefelista. Já o sismo em torno de Alckmin atingirá sua imagem com o grau 2 na escala petista.

LULA, UM GOVERNO DESNUDO

A queda de Palocci revela, por inteiro, a moldura que ilustra a fotografia do governo. A verdade se escondeu. A ética desapareceu. Os homens fortes do governo e próceres partidários caíram um a um: José Dirceu, José Genoíno, Silvio Pereira, Delúbio Soares, Luiz Gushiken (perdeu o status de ministro), e, agora, Mattoso e Palocci. O marqueteiro Duda Mendonça caiu em desgraça. A cidadania é estuprada com a quebra de sigilo bancário de um homem simples. Desmancha-se a aura de grandeza que imantou o governo no início da gestão. Lula mudou de traje, trocando a camiseta de revolucionário socialista pela casaca de autêntico neoliberal. A malha de corrupção é gigantesca. A cooptação parlamentar, com dinheiro público, está fartamente documentada. Uma deputada feliz com a absolvição de um correligionário, com a maior desfaçatez e arrogância, ensaia a dança da pizza no plenário da Câmara, e fere a consciência da Nação. Os índices de crescimentos são medíocres. Lula não sabia de nada ? Pode dizer que, mais uma vez, foi traído.

PALOCCI PRESO ?

A imagem mais temida por Lula e, claro, pelo próprio, será a do ex-todo-poderoso ministro Antônio Palocci sendo preso. O Ministério Público de São Paulo não lhe dará tréguas. E o delegado Benedito Antonio Valencise, de Ribeirão Preto, está enquadrando o ex-ministro criminalmente por formação de bando ou quadrilha. Tudo por conta das acusações de corrupção na Prefeitura de Ribeirão, quando Palocci era prefeito.

E OKAMOTTO, HEIN ?

Tentando escapar do tiroteio, Paulo Okamotto, o trem-pagador da família de Lula, segundo farta divulgação da imprensa, mais uma vez, escapa de comparecer à CPI dos Bingos para ser acareado com o economista Paulo de Tarso Venceslau que conhece profundamente as entranhas do PT. O ministro Eros Grau, do STF, concedeu mais uma liminar livrando o presidente do Sebrae do constrangimento de ter de passar pela lupa dos senadores. Okamotto é a pedrinha que falta para se chegar na sala de estar da família Lula da Silva.

AGRIPINO VERSUS JOSÉ JORGE

O líder do PFL no Senado, o senador potiguar José Agripino, disputa com outro senador, também José, a vaga de vice na chapa encabeçada pelo tucano Geraldo Alckmin. Agripino tem maior visibilidade, melhor fluência, perfil que melhor se encaixa na chapa. Mas o senador pernambucano José Jorge tem o apoio do poderoso presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen. Agripino conta com a força do senador baiano Antônio Carlos Magalhães. Como se pode aduzir, trata-se de uma briga de poderosos, onde a vaidade se faz presente.

SERRA NO GOVERNO DE SP

O projeto tucano fica mais claro. José Serra sairá da Prefeitura de São Paulo para disputar o governo. Torna-se, assim, por antecedência, um forte candidato à presidência da República em 2010. Se Lula ganhar, Serra não terá muito desconforto. Porque pode abocanhar o governo paulista e, assim, se credenciar a disputa em 2010. Se Alckmin levar a melhor, Serra trabalhará para derrubar a reeleição, compromisso pré-acertado com o próprio governador paulista. E será, da mesma forma, candidato à presidência. Ou seja, os horizontes de Serra se reabrem.

PFL NUNCA ESTEVE TÃO BEM

O PFL, hein, quem diria, chegou ao cume da montanha. Cláudio Lembo senta na cadeira do governo do Estado mais forte da Federação e Gilberto Kassab fica no comando da maior Prefeitura do país. Os dois pefelistas, caladinhos, discretos, sabem fazer política usando a capacidade de articulação. Só falta, agora, o PFL exigir um candidato próprio ao governo do Estado, sonho de Guilherme Afif Domingos.

PMDB NA BERLINDA

Os quadros governistas nos Estados - leia-se governadores e candidatos a governador - não querem uma candidatura própria à presidência da República. Defendem liberdade para fazer alianças a torto e a direito. Ou seja, querem viabilizar os candidatos do partido nas campanhas. Há 14 nomes com chances.

AÉCIO SAI PERDENDO

Quem sai perdendo com os últimos movimentos do PSDB é o governador Aécio Neves. Tem a reeleição quase garantida, e quer ser o próximo candidato à presidente da lista tucana. Serra ameaça tomar o lugar.

ALCKMIN E O DISCURSO NACIONAL

Calcanhar-de-Aquiles do candidato Geraldo Alckmin : o discurso nacional. O governador e candidato à presidente não consegue expressar um discurso nacional. Parece ainda muito voltado para a cultura (com todo respeito) de Pindamonhangaba, a cidade natal.

E BURATTI, HEIN ?

Se o advogado Rogério Buratti, que abriu a expressão contra Palocci, falar um pouquinho mais, a fogueira ficará mais alta. Diz-se que Buratti está muito chateado. Questões emocionais.

CENSURA DO GOVERNO LULA

O governo federal, pelas mãos do Ministério das Comunicações, fez intervenção na Rádio Difusora de Roraima AM, pertencente ao governo, único meio de comunicação que chega ao interior do Estado. O governador Otomar Pinto identifica no senador Romero Jucá (PMDB), seu adversário, a pessoa que fez gestões junto ao ministro Hélio Costa, senador também pelo PMDB, para calar a emissora. O senador Jucá estaria incomodado pelo fato de a emissora, muito popular na comunidade interiorana, divulgar os programas governamentais. Nem nos tempos da ditadura - lembra o governador - que é militar, brigadeiro aposentado, vê-se coisa semelhante. A Rádio Roraima tem 47 anos de existência.

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