Abro a coluna com duas historinhas, da PB e de PE. Da verve de Sebastião Nery.
Se as galerias...
Flávio Ribeiro, presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba (depois foi governador), estava irritado com as galerias, que aplaudiam e vaiavam durante um debate entre o deputado comunista Santa Cruz e o udenista Praxedes Pitanga. De repente, tocou a campainha, pediu silêncio e avisou grave :
- Se as galerias continuarem a se manifestar, eu evacuo.
Felizmente, as galerias se calaram.
Perdão, eu num sabia....
Ramos de Freitas, delegado e arbitrário, entrou para a história de Pernambuco, nos anos 20, como o terror das minorias marginalizadas. Ladrões, prostitutas, gays, desempregados e vadios pobres sofriam horrores nas mãos calvinistas do D. Freitas. Era uma espécie de delegado Padilha de Recife. Quem não trabalhava, apanhava. Quem não tinha carteira profissional, xadrez. Saía pelas ruas, dia e noite, catando gente de arrastão. Uma tarde, chegam à delegacia, presos, dois gays. Dr. Freitas manda buscar a palmatória enorme, grossa como um filé malpassado, para dar uma dúzia de bolos em cada um. Chama o primeiro :
- Seu nome ?
- Valquíria.
- Você não tem vergonha, não ?
- Vergonha eu tenho, doutor. Eu não tenho é gosto de mulher.
- Vocês dois trabalham ? O que é que vocês são ?
- Nós semos homossexual, Dr. Freitas.
- Nós semos, não. Nós somos.
- Perdão, Dr. Freitas, eu num sabia que o senhor também era.
Duas dúzias de bolos em Valquíria.
Mês do cachorro...
A volta do recesso parlamentar projeta mais sombras na bela estética das conchas côncava e convexa. A Câmara e o Senado abrirão suas portas não com o tapete vermelho, mas com um gigantesco corredor polonês formado pelos contingentes que ocupam as ruas e as redes sociais, expressando suas demandas e posicionamentos. Mas a interrogação fica no ar : como se comportarão deputados e senadores caso haja alguma denúncia formal envolvendo os presidentes das duas casas congressuais ? Comenta-se que essa situação seria deflagrada já neste mês do cachorro...
Louco
É sabido que o procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, quer "pegar" o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Comenta-se que essa investida se daria logo na primeira quinzena de agosto. Pode até ser. Mas Cunha não deve se afastar da presidência da Câmara, onde conta com uma larga base de apoios. Explique-se que indiciamento não significa culpa. Haverá, sem dúvida, um discurso contra sua permanência na presidência, como já se ouviu de deputados como Jarbas Vasconcelos, este próprio do PMDB, e Silvio Costa, do PSC, ambos de Pernambuco. Permanecendo Cunha, veremos uma longa batalha jurídica. Que não se encerrará em menos de dois anos.
A crise mais profunda
A crise se acentuará. Quando se pensava que o pacote fiscal, composto por Joaquim Levy, seria desembrulhado sem estardalhaço, eis que o governo recua, reduz a meta fiscal para 0,15% do PIB, o que fará a crise se prolongar por todo o ano de 2016, quiçá entrando pelo meio de 2017. Sabe-se que paulada forte é que mata a cobra. Mas a cobra gigante da crise terá morte lenta, a pedido do próprio PT, que ouve o clamor das ruas e defende um posicionamento mais suave. Ou seja, muitos querem assoviar e chupar cana ao mesmo tempo. Impossível. O cobertor econômico só aparecerá depois da coroa de espinhos.
E a crise política, hein ?
Qual o cenário que se desenha para as próximas fases da crise política ? Muito sombrio. A crise política tende a se aprofundar com o envolvimento de importantes perfis do Parlamento nos dutos da Petrobras. O governo, por sua vez, terá sua situação mais complicada. É provável que as investigações batam na porta do ex-presidente Lula. A presidente Dilma terá pela frente o desafio de vencer a batalha contra as "pedaladas" fiscais. Coisa a cargo do TCU. Pode ser que o TSE venha também a pôr o dedo nas contas de sua campanha. Tudo isso entornará o caldo.
Saídas
Quais as saídas ? Vejamos as hipóteses: 1. Um governo de união nacional, com os partidos se unindo em torno da presidente e garantindo seu mandato até 2018 ; 2. O impedimento e/ou renúncia da presidente, com a ascensão do vice Michel Temer, e consequente instalação de um governo suprapartidário, que atenuará os espíritos e coordenará o processo eleitoral de 2018 ; 3. Prolongamento da crise até 2018, com base situacionista em processo de esfacelamento e base oposicionista vivendo ciclo de expansão e fortalecimento. Projeto do PT em desmoronamento ; 4. Governo consegue aprovar medidas de ajuste, faz agenda positiva, recupera-se do tombo, conserva forte parcela da base situacionista e PT entra em 2018 em condições de disputar pleito. Qual dessas a mais viável ?
Lula e FHC
Lula lançou um balão de ensaio : gostaria de conversar com FHC. Em um primeiro momento, Fernando Henrique pareceu querer. Disse : se Lula quer conversar comigo, ele tem meus telefones. Num segundo momento, possivelmente pressionado, afirmou : o momento não permite esse tipo de conversa. Como o PT está em maus lençóis, apenas quer o apoio do PSDB. Recusou. Os lideres tucano no Senado e na Câmara, Cássio Cunha Lima e Carlos Sampaio, publicaram nota recusando qualquer tipo de conversação nesse momento. A articulação, claro, só interessa ao PT.
Delação de presos ?
O advogado criminalista Luiz Flávio Borges D'Urso está propondo um projeto de lei para proibir delação premiada de presos. O projeto conta com o apoio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e deverá ser apresentado pelo deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). D'Urso explica : "A lei estabelece que a negociação, que é o cerne da delação premiada, não pode ter a participação do magistrado que, ao depois, deverá homologá-la. O acordo, portanto, deve ser realizado entre o delator e o agente do Estado, vale dizer, o Delegado de Polícia e/ou o representante do Ministério Público, sempre com a presença do Advogado."
Delação livre
O criminalista arremata : "uma das principais regras a ser observada é a da voluntariedade, pois a delação premiada não pode ser compelida ao delator, que jamais poderá ser forçado a delatar. A voluntariedade está intimamente ligada à origem da delação premiada, pois o delator deve agir movido pelo sentimento de arrependimento ou de colaboração com a Justiça, afastando-se da prática criminosa...... a voluntariedade deve significar que a delação será feita livremente, negociada sem pressões ou ameaças, isto tudo num ambiente de liberdade para decidir."
16ª fase
A operação Lava Jato entra na 16ª fase, que a criatividade da PF chama de "Radioatividade", pelo elo com a Eletronuclear. O foco recai sobre pagamentos de propina a funcionários da estatal, responsável pela construção da usina Angra 3, e tem como origem o depoimento do delator Dalton Avancini. Tudo começa de novo : novos detidos, novas apreensões de documentos, liturgia repetida. A cada semana, expande-se a bola de neve. Cada fase dessa operação Lava Jato "canibaliza" a anterior, parecendo ao cidadão uma novela sem fim. A certa altura, não se sabe mais onde começa e termina o rolo dessa fiação.
Governadores repartidos
Os governadores, convidados pelo Planalto, se reunirão, amanhã, com a presidente para uma análise geral da situação em que vive o país. A presidente colocará em pauta temas candentes : ICMS, guerra fiscal, perdas dos Estados, repatriação de recursos, meta fiscal, crise política e assim por diante. Os governadores deverão defender seus umbigos, antes de olhar para o umbigão da Federação. Será uma reunião mais litúrgico-estética do que de semântica.
2,7 : nota de Dilma
Pesquisa feita no almoço do Grupo de Líderes Empresariais (LIDE) com Eduardo Cunha, que juntou cerca de 500 empresários, em São Paulo, segunda feira, foi feita uma pesquisa sobre o governo Dilma. Cada empresário, com uma máquina à mão, deu uma nota. Entre 0 e 10, a média da avaliação foi 2,7, a menor de todos os eventos ocorridos até hoje.
A moldura
De 1991 até 2014, a arrecadação de impostos cresceu 184%, enquanto a renda subiu apenas 103%. Dá para explicar o Produto Nacional Bruto da Insatisfação.
Dória
João Dória, jornalista e empresário, surge na cena como mais um pré-candidato à prefeitura de São Paulo, em 2016. João é ligado ao PSDB, mas tem aliados fortes em alguns partidos, como PMDB, DEM, PPS, entre outros. Tem um trunfo nas mangas : a amizade que o une ao governador Geraldo Alckmin. Trata-se de um exímio comunicador. Que domina as técnicas da expressão e da articulação. Deverá enfrentar outros pré-candidatos do tucanato, a partir do vereador Andrea Matarazzo.
Política e economia
Há duas correntes : uma, que defende a tese de que a crise política arrasta a economia para o buraco ; outra, que argumenta no sentido contrário : a economia é a locomotiva que puxa os carros do trem da política. Este consultor defende esta segunda tese. E sempre lembra a batida equação : BO+BA+CO+CA= BOlso vazio, BArriga roncando, COração indignado, CAbeça revoltada. As ruas são mais agitadas quando a barriga ronca. E as ruas são aríetes a fustigar a representação política.
16 de agosto
Vamos conferir a força e o impacto da movimentação das ruas anunciada para dia 16 de agosto. Se o Brasil gritar, em uníssono, o Parlamento ecoará o clamor ; e o Planalto se encolherá de medo. A recíproca é verdadeira.
Janot saindo como herói ?
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sabe que será muito difícil passar pela sabatina - e corredor polonês - do Senado, caso seja nomeado pela presidente Dilma para permanecer no cargo. Por isso mesmo, imbuiu-se da meta : atacar. Pedirá a condenação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Não ganhando boa nota no Senado, sairá do cargo como um dos heróis do momento. Ao lado de Sérgio Moro e dos jovens promotores do Paraná.
Repente
Fecho a coluna com o repente de Augusto Pereira da Silva, Guriatã de Coqueiro :
Quando Morre Um Poeta Nordestino
"Se um dia morrer José Ferreira
Louro Branco e Lourival Batista
Meu irmão, outro grande repentista,
Zé Sobrinho, Juvenal e Oliveira
João Quindingues e Lourival Bandeira
João Silveira, Xuxú e Celestino,
Eu irei a convite do Divino
Cantar hinos à santa natureza
O Nordeste soluça de tristeza
Quando morre um poeta nordestino"."Se um dia morrer João Adriano,
Zé Barbosa também partir para o céu
Mandarei uma carta para Teteu
Para quando ele partir levar meu mano,
Se Domingos morrer no fim do ano,
Não esqueça de levar Chico Galdino,
Já mandei avisar a Constantino
Disse a Pedro Bandeira em Fortaleza.
O Nordeste soluça de tristeza
Quando morre um poeta nordestino".