Três historinhas para abrir o apetite.
Nosso negócio
Uma historinha de MS. O ministro Mário Henrique Simonsen foi a Campo Grande discutir os problemas econômicos e financeiros de Mato Grosso do Sul. O fazendeiro Fernando Junqueira Franco pediu a palavra :
- Senhor ministro, depois que juro virou correção monetária, fazendeiro passou a ser empresário rural e roçar pasto chama-se investimento, nosso negócio acabou se tornando uma merda.
Sem pauzinho
Uma historinha de MG. Fortunato Pinto Júnior, jornalista e ghost writer, escrevia os discursos de João Almeida, deputado mineiro. Sábio e bom, o doce coronel só não gostava de proparoxítonos :
- Tininho, não bota no discurso palavra que tem um pauzinho lá atrás, porque a dentadura cai.
5 minutos de silêncio
Uma historinha do RN. A onda de um minuto de silêncio faz parte da liturgia do poder. Surfam nessa onda políticos de todos os espectros. Vereador, então, usa a onda para capturar todos os votos da família do morto. Vejam este caso que ocorreu na Vila São José, bairro periférico de Macaíba/RN. O ex-vereador e candidato Moacir Gomes, ao usar a palavra, inicia a oração rogando aos assistentes do comício um minuto de silêncio pelo falecimento de um morador do bairro. Seu assessor e cabo eleitoral, ao lado, pensando no tamanho da família do falecido, sopra no ouvido de Moacir :
- Um minuto é pouco. Peça cinco. Tem muito voto na casa do nosso correligionário !
(Historinha de Valério Mesquita.)
O desempenho
Avalia-se o desempenho de uma administração pela somatória de quatro campos de viabilidade : o político, o econômico, o social e o organizativo. O equilíbrio entre eles é responsável pela fortaleza ou fragilidade das ações programáticas. Este analista abre a primeira nota da Coluna com esta pergunta : em sua opinião, que campo se apresenta em pior situação ? Dá para identificar os furos na imagem do governo Federal ?
Colar imagem nas ruas
A presidente Dilma Rousseff parece ter encontrado a bússola para repintar a imagem negativa de sua gestão. Proclama que é contra a terceirização. A chefe do governo não faz bem ao assumir esse rumo. Primeiro, a terceirização já existe ; tanto nas áreas privadas quanto nas áreas públicas das instâncias federativas. Segundo, se vetar a terceirização, inviabilizará muitos setores produtivos. Só a Petrobras abriga 360 mil terceirizados.
Lula tergiversa
Na TV, falando no programa do PT, esta semana, Luiz Inácio endossa a onda contra a terceirização. Diz ele que a terceirização levará os empregados à situação vivida no principio do século XX. Um embuste. Na verdade, todos os terceirizados têm carteira assinada pelas empresas de prestação de serviços ; têm todos, TODOS os direitos trabalhistas e previdenciários. Que estão previstos no PL 4.330/04. Hoje, já é assim. Mas é claro que Lula sabe. Quando ele assumiu, em janeiro de 2003, a Petrobras tinha 120 mil terceirizados. Hoje, tem 360 mil. Essa expansão extraordinária ocorreu quando ? Ora, nas administrações de Lula e Dilma. Conversa de Lula é lamúria pausada para acalentar bovinos, quer dizer, conversa mole pra boi dormir.
Na área Federal
O amigo José Pastore escreve, em O Estado de S. Paulo de ontem, mais um texto forte defendendo a terceirização. Desta feita, o prestigiado professor e economista é acompanhado do ex-ministro das Minas e Energia, Shigeaki Ueki, e mostra a terceirização na área pública. Levanta, primeiramente, um dado surpreendente : no mundo inteiro, o setor de petróleo terceiriza 2/3 do pessoal, porque a cadeia de produção, refino e distribuição de petróleo é uma das mais longas da industria moderna. Daí a Petrobras se amparar nas tarefas de 360 mil terceirizados. Zé arremata : o que ocorre na Petrobras persiste na Eletrobrás, Banco do Brasil, CEF, BNDES, ECT, hospitais e universidades públicas. O Ministério do Trabalho, o MP da União também o faz. Em 2013, havia 222 mil terceirizados na administração Federal. Dilma e Lula querem apagar esses números.
Colar imagem ?
Essa tentativa de colar a imagem nas ruas não se sustenta. A terceirização passa por um amplo corredor de mistificação e slogans trombeteados pela CUT e seus satélites. Na verdade, trata-se de um avanço, eis que dará segurança jurídica a 12 milhões de trabalhadores. O que a CUT defende é o aumento de seu Caixa : com a efetivação dos terceirizados, sonha encher as burras com contribuições de novos contingentes que cairão no seu curral. A verdade demora, mas um dia chega. O país não terá condições de sobreviver sem serviços terceirizados. Essa é a verdade.
E o que Lula quer ?
Lula volta aos palanques com a velha zanga : é bom de briga. Pensando que seu carisma é inesgotável. Não imagina que o país está mudando e muito. O bolso começa a ficar vazio, a barriga começa a roncar, o coração começa a doer e a cabeça começa a ficar indignada. Ora, esse desfazimento da equação BO+BA+CO+CA (Bolso, Barriga, Coração, Cabeça) é fruto do lulopetismo. Ninguém vai acreditar um pingo na lorota de Lula de que o Brasil não está abrindo tempos de recessão e que a crise é um produto da imprensa. Acha-se o faz tudo e o tudo pode na política e nas ruas. Não é bem assim, Luiz Inácio. Esse discurso de "nós e eles" mais parece ronco de leão que começa a perder os dentes.
Equívoco de Renan
Renan Calheiros é, urge reconhecer, um quadro político dos mais experientes. Não é a toa que preside o Senado mais uma vez. Sabe articular, sabe manobrar a casa, sabe fazer política. Nos últimos tempos, porém, o alagoano parece ter perdido as estribeiras. Como pode entrar nessa onda contra a terceirização ? Ao contrário do que se intui de seu discurso, regular terceirização é um avanço, não atraso. Se Renan deseja colar sua imagem ao sentimento das ruas, não será bem sucedido se usar a esteira da terceirização. A conferir.
CNI e FIESP
Robson Andrade, presidente da CNI, sumiu. Não deu as caras para bater nessa luta que se trava no entorno da terceirização. Ao contrário de Paulo Skaf, presidente da FIESP, que pilota a defesa do PL 4.330 como fez na campanha em que derrubou a CPMF. A CNI desce a ladeira do prestígio enquanto a FIESP sobe no conceito do empresariado. O momento que atravessa o país não aceita pusilânimes. A liderança exige ousadia, determinação, vontade, persistência, visão empreendedora, amor às grandes causas.
Pacote fiscal
Não se faz uma omelete sem quebrar os ovos. Não se faz um ajuste fiscal sem sacrifícios. Urge aprovar o pacote fiscal que o ministro Joaquim Levy apresentou ao Congresso. Que se façam nele ajustes que não comprometam sua viga-mestre. Nessa direção trabalha o articulador político do Governo, vice-presidente da República, Michel Temer. Que acaba de pedir ao PT ordem unida em torno do ajuste fiscal. Que história é essa do PT de sair pelas bandas quando a coisa pega em seus costados... ? Se o PT não fecha posição, como outros partidos da base governista o farão ?
Um país aproximativo
O Brasil é um País aproximativo, costumava dizer o embaixador Gilberto Amado. A precisão, a pontualidade, a clareza não combinam com a índole nacional. Em compensação, sobra generosidade nos elogios, no gosto pela imprecisão e no juízo de valor sobre fatos e pessoas. Por aqui se costuma dizer que fulano está "empurrando com a barriga" ou que há não perigo de as coisas melhorarem. Indagado, o interlocutor garante que trabalha "mais ou menos 40 horas por se¬mana". Para confessar a fé, afirma ser "católico, mas não praticante", concluindo a conversa com um "até logo", que quer dizer "até outro dia". Por ser o território do tempo relativo, não é de admirar que o ano novo só comece após a estafante folgança carnava¬lesca. O país tem usado suas estruturas de consolação para purgar as agruras do cotidiano. Comete o desatino de frequentemente dar o dito pelo não dito e esconder suas tragédias sob o cobertor. É o que estamos vendo nesses inesgotáveis depoimentos da Operação Lava Jato.
As oposições
As oposições ainda não encontraram o fio da meada em termos de um projeto alternativo para o país. O que pensam as oposições sobre ajuste fiscal, por exemplo ? Adjetivos suplantam os substantivos.
Capas de revistas
A capa de Veja, com o juiz Sérgio Moro e o discurso de que a soltura de executivos e empresários pelo STF, não significava fim da esperança, não correspondeu ao conteúdo da reportagem. Na visão deste escriba, o texto mostrou o longo corredor dos recursos e embargos, sob a desesperança de uma condenação no tempo em que muitas penas estarão prescritas. A capa de Época, sobre a "bomba Lula" como lobista, também foi uma reversão de expectativas. O texto parecia fragmentos requentados.
PT promete, mas...
O PT acaba de prometer expulsar de seus quadros os filiados que sejam condenados pela Justiça. A questão é : a decisão não se aplicará aos atuais condenados ? Falta nexo nesse conto de carochinha.
5 bilhões
Um dirigente de um grande grupo empresarial, muito preocupado com as nuvens que divisa nos horizontes, confessa a este analista : no Brasil, nosso radar tem prospectado, nos últimos anos (2012, 2013, 2014), negócios em torno de R$ 70 a R$ 80 bilhões, dos quais ganhamos uma pequena participação. Este ano (2015), nosso radar prospecta negócios (no total) de apenas R$ 5 bilhões. Coisa muito pequena. Imagine o que é disputar um pedaço dessa pequena fatia. O desestímulo é geral na área dos empreendimentos.
Política no fundo do poço
Os políticos estão no fundo do poço da imagem. Os atores do Poder Executivo também sofrem rachaduras em suas molduras imagéticas, vítimas que são do ciclo dos escândalos e das denúncias. A presidente Dilma está fragilizada. Seu partido virou símbolo de corrupção. O que fazer numa hora como essa ? Que caminhos restam ? O populismo ? Não há condição para tanto. A sociedade avança na régua da racionalidade e já não compra gato por lebre. Se aparecer alguém para entrar na cena, deve abrigar valores como credibilidade, perfil asséptico, experiência administrativa, ousadia, força de vontade. E visão abrangente sobre o país.
O gambá
O PT alega que o partido está à vontade e de cabeça erguida para se defender em relação a tentativas de colar em sua imagem a tática do gambá, que espalha mau cheiro para ver se todo mundo fica do mesmo jeito. Pequena observação : gambá não pula de graça no colo de gente limpa.
O turco e o canibal
Fecho a coluna com uma pequena história. Um turco se encontrou um dia com um canibal. "Sois muito cruéis, pois comeis os cativos que fazeis na guerra", disse o maometano. "E o que fazeis dos vossos ?", indagou o canibal. "Ah, nós os matamos, mas depois que estão mortos não os comemos." Montesquieu assim arremata a passagem contada no livro Meus Pensamentos :
"Parece-me que não há povo que não tenha sua crueldade particular."