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Porandubas nº 398

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Atualizado às 08:49

Abro e fecho a coluna de hoje com duas historinhas do meu amigo Chico Santa Rita, um grande nome do nosso marketing político. Primeira :

O candidato "Pato"

Em setembro de 2009, fui a Campo Grande/MS fazer palestra sobre marketing político. Num grande auditório, havia mais de 500 assistentes. Sempre digo que posso falar sobre marketing político durante vários dias sem parar, pois acumulei 33 anos de prática em mais de 100 campanhas. Um dos vereadores presentes fez uma pergunta que, mesmo localizada, tem muita abrangência e me permitiu criar uma nova definição. Ele contou que, na sua cidade, o candidato a prefeito do partido era do tipo "sabe-tudo". Sabia fazer a comunicação, sabia fazer os acordos políticos, sabia o melhor lugar para o comício, sabia escolher a música, sabia o ponto fraco do adversário, sabia o que dizer na entrevista, sabia. E a pergunta : "Como agir com um candidato assim?'. Criei a definição na hora : "Esse é o 'candidato-pato'. Age exatamente como essa ave. Sabe andar, mas anda mal, todo desajeitado, balançando o corpo grande. Sabe voar, mas voa mal, tem voo curto e raso, não voa alto, nem a longas distâncias. Sabe nadar, mas nada mal, não mergulha e não é rápido. Bota ovo, mas bota mal, pois o ovo é grande demais e muito pouco frequente. Foi uma gargalhada geral, pois o "candidato-pato" também é muito frequente, como o pato, que está nos quintais, mas também nos jardins e praças públicas. Como agir com ele ? Ah, eu levo na gozação e vou tocando, devagar e sempre, assim como se toca um bando de. patos ! Com a ave de verdade, pelo menos, há possibilidade de se fazer um confit de canard - delicioso prato francês no qual a ave é cozida em fogo brando.

Os ventos do segundo turno

A expectativa tende a se confirmar. Os ventos de maio tendem a soprar sobre os desvãos do segundo turno. E Aécio se apresenta como o candidato com mais estofo para disputar a vaga presidencial com Dilma. Eduardo Campos até pode vestir o manto do novo. Mas tem patinado em seus índices de intenção de voto. Os bolsões que poderiam formar uma enchente de votos em suas urnas parecem retraídos, a partir dos jovens. Aécio se locomove com mais desenvoltura, correndo as plagas onde Dilma é favorita, a partir do Nordeste, onde a presidente espera ganhar com folga. Na eleição passada, tirou por lá cerca de 70% dos votos. Este ano, deve girar em torno de 50% a 60%.

E se tivéssemos novas lideranças ?

Diagnóstico : o Brasil é um país de velhas lideranças. Pergunta recorrente : e se tivéssemos novas lideranças no cenário institucional ?

Dilma em Minas

MG é a fonte cobiçada como segundo maior colégio eleitoral. Dilma passou por lá seis vezes nos últimos tempos. Quer entrar na onda de Fernando Pimentel, o candidato do T ao governo. O dilema está posto : Aécio escolheu Pimenta da Veiga como seu candidato. O tucano é um perfil tradicional. Muito conhecido, mas representante da velha política. Pimentel, por sua vez, foi um prefeito muito bem avaliado. Aécio terá de eleger o sucessor do governador Antonio Anastasia sob pena de amargar uma derrota e isso gerar efeitos negativos sobre sua campanha presidencial.

E se tivéssemos mais autoridade ?

Diagnóstico : o Brasil vive grave crise de falta de autoridade. Pergunta recorrente : e se tivéssemos perfis que encarnassem valores do respeito, da autoridade, da respeitabilidade e da dignidade pessoal ?

O vice de Aécio

Seis nomes já apareceram para formar com Aécio a chapa presidencial : Miguel Torres, dirigente da Força Sindical ; o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, de SP ; o senador potiguar José Agripino Maia, do DEM, presidente do DEM ; a deputada tucana Mara Gabrilli, de SP ; e a senadora gaúcha Ana Amélia, do PP. E, por último, José Serra, o tucano que ainda sonha com a presidência da República. Pois bem, Serra é o nome que mais soma para Aécio. Certamente, uma chapa puro sangue com Aécio e Serra teria grande visibilidade. E poderia aumentar a maioria de Aécio no maior colégio eleitoral do país, SP.

E se tivéssemos poucos partidos, porém fortes ?

Diagnóstico : o Brasil é o espaço ideal para a pasteurização partidária. Temos 33 partidos, quase todos amalgamados. Pergunta recorrente : e se tivéssemos cinco a seis partidos fortes, doutrinários ?

O tormento do PT

O PT ainda não saiu do inferno astral. O caso Petrobras continua a fazer fumaça. E há versões circulando dando conta : a. que o deputado André Vargas teria negociado sua cassação (no caso, não cassação) com a oposição em troca de mais informações envolvendo perfis petistas, inclusive candidatos ; b. pautas envolvendo nomes próximos à presidente estariam sendo trabalhadas ; c. o esforço monumental do ex-presidente Luiz Inácio para derrubar o movimento Volta, Lula não tem gerado muito efeito. Alas petistas continuam a apostar na hipótese de sua candidatura.

O tormento de Alckmin

O governador Geraldo Alckmin, apesar de ter escalado técnicos para responder sobre a questão da água da Cantareira (que está na escala de 8,5% de sua capacidade), viverá o tormento das torneiras secas. Mesmo que o chamado volume morto do sistema comece a ser usado, a ameaça de se ver a fonte secar completamente até outubro - caso não chova forte até lá - rondará a imagem do governador. Certamente esse tema estará no epicentro da campanha. Alckmin tem fortes colégios no interior do Estado. O PSDB é um partido poderoso por estas plagas. Mas é visível a corrosão do material tucano, após 20 anos de intenso uso.

Provérbios

"Ao término do jogo, o rei e o peão voltam para a mesma caixa". (Provérbio italiano)

"Ser pedra é fácil, difícil é ser vidraça". (Provérbio chinês)

"Tropeçamos sempre nas pedras pequenas, as grandes logo enxergamos". (Provérbio japonês)

Carlos Mattus I

Do famoso cientista chileno Carlos Mattus : "O governante deve administrar três grandes variáveis : o projeto de governo, a governabilidade necessária a seu projeto e a capacidade de governo. Esse triângulo constitui um sistema dominado pela capacidade de governo. Aí está a chave. Sem capacidade de governo não se formula um bom projeto, nem se administra com perícia a governabilidade. A capacidade de governo se prova no manejo de três balanços chaves : 1) o balanço da gestão política, em que se administra o poder político como recurso escasso ; 2) o balanço da gestão econômica, em que prima a escassez de recursos econômicos ; 3) o balanço de intercâmbio de problemas, que trata das questões cotidianas que as pessoas valorizam. O sinal positivo ou negativo de cada balanço determina o sinal positivo ou negativo do balanço global do governo".

Os votos do Sudeste

Atentem para este número : Dilma tem 30% dos votos do Sudeste, onde estão os maiores contingentes eleitorais do país. Aécio tem hoje 27%. Daí a concentração de viagens para Minas, SP e Rio. A maioria de Dilma no Nordeste poderá ser tirada caso as oposições aumentem sua participação nas urnas do Sudeste. Esse será o nó da campanha. O X da questão estará por aqui.

PROS no CE

Quem manda no PROS cearense é Cid Gomes. Mas o PROS nacional está dividido. Uma ala quer fechar com Dilma. Outra tende a ficar com Aécio e há até um grupo que pensa em aderir a Eduardo Campos. No CE, o PROS quer apoiar o nome do senador Eunício Oliveira, do PMDB, contra a vontade do governador Cid Gomes. A confusão é grande.

Carlos Mattus II

"A metáfora dos três cintos é boa para entender esses balanços e, certamente, nenhum bom estrategista aperta os três cintos ao mesmo tempo. Se existem dificuldades econômicas, deve-se compensar o aperto no cinto (2) com alguma folga nos outros cintos. Em outras palavras, se for necessário impor sérios sacrifícios no âmbito econômico, deve-se compensá-los com benefícios políticos na distribuição do poder, na ética pública, na legitimidade do sistema político e com benefícios não econômicos importantes para a vida dos cidadãos".

Lindbergh isolado ?

O senador petista Lindbergh Faria enfrenta muitas dificuldades para fechar alianças. Tem o PV e o PC do B como parceiros que lhe darão os nomes para vice (Roberto Rocco) e para o Senado (deputada Jandira Feghali). Há seis meses, Lindbergh era a aposta para ganhar. Hoje, se distancia do pódio.

Fundo partidário

Por terem pago advogados de condenados na AP 470 com recursos do Fundo Partidário, o PT e o PR estão ameaçados de perder a regalia. O ministro Marco Aurélio, que deixa o cargo de presidente do TSE, poderá afastá-los dos recursos. A dúvida : fará isso no último dia do mandato ? O novo presidente do TSE é o ministro José Antônio Toffoli, ex-advogado do PT.

Movimentos grevistas

A menos 30 dias da Copa, expandem-se as greves e manifestações de categorias profissionais : motoristas, engenheiros, policiais Federais, professores, policiais militares, entre outras.

Na boca do Itaquerão

Nas vizinhanças do Itaquerão, instalou-se uma comunidade de Sem Teto. Em uma semana, o número de acampados se avolumou sob a promessa do prefeito Fernando Haddad de acolher o contingente. A presidente Dilma acena com a possibilidade de incluir o grupo no programa Minha Casa, Minha Vida. A Justiça ordenou a reintegração de posse, atendendo recurso da empresa imobiliária. A confusão aumenta como bola de neve.

Turistas

Espera-se um contingente de 500 mil turistas na Copa do Mundo. Número projetado pela compra de ingresso. E quem não comprou ?

PF de traje preto

Os policiais Federais que trabalham nas 12 cidades-sede da Copa começam a usar um traje preto. E se cruzarem os braços durante a chegada dos turistas ? Sei não !

Provérbios

"Uma maçã por dia mantém o médico distante". (Provérbio inglês)

"Um pássaro nunca faz seu ninho em uma árvore seca". (Provérbio japonês)

"Quer a faca caia no melão, ou o melão na faca, o melão vai sofrer". (Provérbio chinês)

"A raposa tanto vai ao ninho, que um dia deixa o focinho". (Provérbio japonês)

"A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo". (Provérbio espanhol)

O motorista Quércia

Segunda historinha do Chico Santa Rita.

O ex-governador Orestes Quércia adorava dirigir carros. Quando senador, em 1976, fiz uma entrevista/perfil dele para a revista Nova, da Editora Abril. Na nossa convivência de três dias houve uma viagem a Pedregulho/SP, sua cidade natal, para que eu conhecesse os lugares da sua infância e juventude. Ele dirigiu um velho Simca Chambord, num total de 692 km, ida e volta. Quando me ofereci para assumir a direção, ajudando-o na tarefa, tive uma resposta incisiva :

- Pode deixar que eu dirijo. Adoro isso.

Anos depois, já governador entre 86 e 90, novamente andei com ele dirigindo, desta vez dentro da cidade de SP. Íamos fazer uma gravação de vídeo, num estúdio no bairro de Pinheiros e, para desespero da segurança, ele resolveu ir ao volante, comigo no banco do passageiro. Era um sábado de pouco trânsito. Quando passávamos pela avenida Brasil um sinal fechou e paramos ao lado de outro carro, cujo motorista tomou um susto e acenou para o governador. Quércia pediu que eu abrisse o vidro e cumprimentou o desconhecido. A mulher que estava ao lado dele, perguntou "Quem é ?". E o companheiro, imaginando que ela se dirigia a mim, foi rápido, pois o sinal já se abria, mas ainda deu pra ouvirmos :

- Não sei quem é, mas deve ser alguém importante, pois o motorista é o Quércia !

Conselho às ONGs

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos presidenciáveis. Hoje, volta sua atenção aos dirigentes das Organizações Sociais :

1. Estamos a menos 30 dias da Copa do Mundo. As Organizações Sociais terão peso na balança da harmonia social do país por ocasião do maior evento futebolístico mundial. Os dirigentes de entidades deverão assumir suas responsabilidades junto ao dever de contribuir para a paz social.

2. As ONGs prestarão formidável contribuição por meio de uma expressão harmônica e alerta contra eventuais radicalismos que, eventualmente, possam gerar tensão social.

3. Que procurem, da mesma forma, evitar que o evento esportivo possa ser utilizado como ferramenta eleitoreira por atores políticos.