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Porandubas nº 395

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Atualizado às 08:11

Pena mínima

Abro a Coluna com uma historinha da PB.

O rapaz era advogado novo em Princesa Isabel, na PB. Ia defender um criminoso de morte a faca. Procurou o coronel Zé Pereira, o mandão da cidade :

- Coronel, preciso conseguir pena mínima para meu cliente. Se não conseguir, não tenho carreira aqui.

O coronel prometeu. Terminou o julgamento, pena mínima. O advogado foi agradecer a vitória ao coronel, que valorizou a ajuda :

- Doutor, o senhor não calcula a força que eu fiz para conseguir a pena mínima. Todo mundo queria absolver o homem.

Coalizão dos indignados

Cada ciclo eleitoral possui as suas características, sendo algumas particularmente influenciadas pela vertente da economia. Este ano, ao fator econômico, somam-se situações de desconforto social, desagrado com o andar da carruagem, insatisfações, contrariedades. Há um Produto Nacional Bruto do Inconformismo, somatória de todos os problemas cotidianos, a partir do troco menor no bolso dos consumidores. Pois bem, esse PNBI é bastante visível, principalmente se aguçarmos os ouvidos. Para qualquer lado que se olhe, há um zum zum zum de insatisfações. Esse estado geral de indignação, que também se volta contra os atores políticos, dará o tom do pleito de outubro.

Dilma em queda

Dilma tende a cair mais ainda ? Resposta positiva se o clima econômico descambar e os consumidores dos estratos de baixo acusarem a queda. Resposta negativa se a locomotiva econômica puxar o trem do conforto social. Dilma tem boas respostas principalmente no Nordeste do Brasil, mas tem caído nos maiores colégios eleitorais, exatamente no Sudeste. Enquanto no NE ela leva, hoje, 51% das intenções de voto, no Sudeste tem uma avaliação positiva (ótimo + bom) de apenas 30%.

Atenção para os dados

A última pesquisa Ibope abre algumas pistas. 72% dos 37% que não indicaram preferência por nenhum candidato não têm interesse na eleição deste ano. Isso poderá aumentar o número de abstenções, votos nulos e brancos. Na pesquisa espontânea, 56% não marcaram nenhum candidato. Eleitores que disseram não votar de jeito nenhum em Dilma : 33% ; em Aécio, 25% ; e em Eduardo Campos, 21% ; e em Marina (o nome dela esteve em um cenário), 20%. Ou seja, a maior rejeição é para a presidente.

Mudança

O eleitorado quer mudanças. 30% querem mudar completamente. No Nordeste, 36% querem que tudo fique igual. Esse é o maior pedaço eleitoral (em termos proporcionais) de Dilma. Queda da presidente entre a pesquisa de novembro de 2013 para esta última, de abril de 2014 : 47% a 43% ; não votariam de jeito nenhum em Dilma : 25% a 33% (nesta última). Aécio saiu de 26% e subiu para 33% neste grupo e Eduardo Campos também aumentou a rejeição, de 24% a 33%. O eleitorado está descontente e desconfiado.

Clima em SP

No maior colégio eleitoral do país, o clima também esquenta. O governador Geraldo Alckmin, apesar da alquimia com que vem trabalhando para superar a tragédia da falta d'água (que já escasseia em torneiras periféricas), passa a ser alvo de bombardeio. O governador promete multar os consumidores flagrados em situações de extravagância. Faz campanha pelo bom senso no uso de água. E garante que o governo aplicará multas aos abusos. Alckmin não conseguirá formar um dique contra a indignação popular se a água deixar de correr nas torneiras nos próximos meses.

Pérolas do Barão de Itararé

-Cobra é um animal careca com ondulação permanente.

-Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.

-Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.

-Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem.

-É mais fácil sustentar dez filhos que um vício.

Temas do ciclo eleitoral

A água, ou se quiserem a falta dela, secará a roça eleitoral do governador Geraldo Alckmin, podendo lhe surrupiar gorda batelada de votos ; a insegurança da população, que se vê cercada de atos criminosos, em todos os espaços - do centro e das periferias - também se apresenta como ameaça ao candidato que dirige a segurança no Estado mais forte (e um dos mais perigosos) do país ; a bandalheira como está sendo apresentada a situação da Petrobras - teias de corrupção nos intestinos da empresa - símbolo da Nação - suja a imagem do candidato petista, Alexandre Padilha. Que terá de repetir a resposta-mantra sobre o caso da Labogen, empresa "farmacêutica" que teria sido beneficiada por negociações envolvendo o Ministério da Saúde ; a deterioração de alguns parafusos da engrenagem econômica, que se fazem ver na expansão da inflação das ruas (feiras livres) também estará recheando o bolo da campanha, podendo ser mais um ingrediente contra Padilha.

O eco das ruas

Sente-se por aqui e ali a sensação de que o copo transbordou. Escândalos, denúncias, troca de acusações, defesas inconsistentes, tiroteios entre alas de um mesmo partido formam um gigantesco pano de fundo a acolher a coalizão dos indignados. Ouve-se um clamor por inovação, por perfis que possam incorporar um novo conceito de gestão. O eleitorado quer, porém, uma figura que simbolize ação e menos discurso, experiência no trato administrativo, tendo como espelho situações bem empreendidas na área privada.

Exemplo das boas experiências

Buscam-se exemplos de iniciativas bem realizadas nas organizações privadas. O eleitorado jovem, principalmente, procura distinguir esses perfis na tentativa de se identificar com novos modelos e novas formas de fazer política. Por isso, pode-se prever, nos Estados, o crescimento de candidaturas comprometidas com o choque de gestão na administração pública, uma nova abordagem para o atendimento das prioridades e das demandas sociais, que ganham volume na contemporaneidade.

Volta Lula ? Ou fica Lula ?

Luiz Inácio está em silêncio. Luiz Inácio em silêncio é um monumento de interrogações ? O que tem pensado sobre a crise da Petrobras ? O que tem aconselhado Dilma a fazer ? O que tem dito aos companheiros sobre a economia sob o fio da meada ? Lula em silêncio diz tudo ou quase tudo : algo como "passarinho na muda não pia". O silêncio do maior palanqueiro do PT é um sinal de alerta para o PT.

Mais pérolas do Barão

- A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados.

- Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai.

- O advogado é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si.

- Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você.

Onde estão as Centrais ?

E por falar em Centrais, que carregam a bandeira dos trabalhadores, o que têm elas a dizer a Petrobras, os escândalos, as prisões, o disse me disse de diretores de nossa empresa-símbolo ? Será que defender a Petrobras deixou de fazer parte da agenda da CUT, por exemplo ?

Hegemonia petista

Até dois meses atrás, o projeto de hegemonia política do PT fazia parte da agenda de todos os partidos. E frequentava, ainda, a agenda de preocupações dos setores produtivos. De uns tempos para cá, sentiu-se certo alívio ante essa propalada meta petista. Mas o PT, sem dúvida, continuará a ensaiar como personagem as peças de nossa política. Trata-se do partido com a maior e melhor organização do país.

Serra e Cabral ?

Para onde irá José Serra, hein ? Candidato a senador ? Para onde caminhará Cabral ? Na direção do Senado ? Serra poderia ser um deputado de mais de milhão de votos. Será que isso é coisa menor ? Cabral, diz-se, quer ser ministro. De hoje e do amanhã. Em que governo ?

A rima

Lacerda, governador da Guanabara/RJ, candidato à presidência da República, foi a Montes Claros, lá em MG. A cidade amanheceu com os muros pichados : "Lacerda rima com m...". No comício, à noite, Lacerda acabou o discurso assim :

- Aos meus amigos, deixo um grande abraço. Aos meus adversários, a rima.

Conselho ao PT

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de SP, Geraldo Alckmin. Hoje, volta sua atenção ao PT.

1. Reconhecer o erro em relação a algumas decisões tomadas pela antiga diretoria da Petrobras pode ser uma alternativa interessante. Melhor do que a querela entre alas do partido.

2. É preciso coragem para repor a verdade, sem firulações, manobras e tergiversações.

3. O eleitor consegue distinguir as diferenças entre falsas versões, meias versões e a verdade. Tentativa de enrolar o eleitorado pode se transformar em bumerangue.