Porandubas nº 377
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Atualizado em 29 de outubro de 2013 11:26
O talento assusta
Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar o seu 1º discurso, na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu desempenho naquela assembleia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse-lhe em tom paternal :
- Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi demasiado brilhante neste seu primeiro discurso. Isso é imperdoável ! Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta.
Ali estava uma das melhores lições que um velho sábio pode dar ao pupilo que se inicia numa carreira difícil. Encastelados medíocres se fecham como ostras à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.
Historinha enviada pelo amigo Luis Costa.
Campos e o agronegócio
Eduardo Campos vai ter de rebolar para recuperar terreno no campo do agronegócio. Depois que Marina Silva, a parceira, chutou o pau da barraca, enxotando o líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado, entidades ruralistas e empresários de peso do setor do agronegócio decidiram tomar outro rumo que não o do candidato do PSB. Campos se esforça para manter o grupo ao seu lado, abrindo um diálogo com seu ex-colega de Ministério e fazendeiro, Roberto Rodrigues. Que o recebeu, mas não prometeu nada. Apenas conversar.
Lula como articulador
Lula, é sabido, o maior mobilizador de massas da política tupiniquim. É capaz de ainda animar as massas e causar furor na plebe. Mas nunca deixou os bastidores da articulação política. Ultimamente, por exemplo, tem falado bastante com o vice-presidente da República, Michel Temer, com quem discute a planilha de candidatos do PMDB e do PT. Ambos tentam aparar as arestas entre os dois partidos nos Estados. Mas os conflitos regionais se expandem. Sua orientação é para preservar a aliança nacional, a qualquer custo, mesmo se os dois partidos decidirem por candidaturas próprias em alguns Estados, como é o caso de SP, RJ e BA. Michel é um harmonizador por índole; e Lula é a voz mais forte do PT.
Alckmin e a segurança pública
A covarde agressão ao coronel da PM, que comanda as tropas do Centro capital, poderá reverter em endurecimento das ações de prevenção e repressão ao vandalismo dos black blocs em SP. E uma política mais eficaz no campo da segurança pública poderá resultar em maior apoio ao governador Geraldo Alckmin e à sua reeleição. O perfil do governador é de suavidade, harmonia, diálogo. Daí se cobrar dele mais força, mais autoridade. O combate ao vandalismo pode se transformar no eixo forte do candidato tucano nesse momento de tensão e insegurança.
Embate PT x PSDB
Veremos, em 2014, o último grande embate entre forças petistas e tucanas. Vamos às razões. O PSDB não se renovou. A sigla vive de lembranças de quando os governadores Franco Montoro e Mário Covas brandiam seus escopos, desfraldando o estandarte da modernidade. O PT, por seu lado, passou a ser membro atuante no palco da velha política, disputando com apetite fatias de poder e usando métodos combatidos de cooptação política. Na floresta dos tucanos, as árvores, com cascas cada vez mais despregadas, envergam de velhice. O tom lamuriento é de Lula. Vejam o que disse : "Por que queríamos chegar ao governo ? Não para agir como os outros, mas para atuar de maneira diferente". Já o desespero tucano para unir suas alas e amenizar querelas internas constituem inequívoca sinalização de que, em 2014, assistiremos à última sessão de cinema, encenada pelos dois maiores competidores eleitorais.
Renascer das cinzas ?
PSDB e PT poderão até voltar a resplandecer no futuro, voltando a se espichar para cima e para baixo como uma árvore adolescente, mas esse renascimento implica profundo reencontro com ideários e valores. Não significa que outros deverão, a seguir, tomar seu lugar. Não há indicação disso. O cenário é o de difusa disputa entre grandes e médios partidos, com foco em indivíduos e não das ideias, sob a égide de uma modelagem eleitoral muito permissiva quanto a uso de recursos financeiros e centrada na exuberância mercadológica. Por ausência absoluta de vontade política para reformar costumes e ante o mesmo blá blá blá que se ouvirá no próximo pleito, faz sentido a hipótese do esgarçamento maior do tecido institucional caso protestos e expectativas frustradas continuem a fazer barulho nos tensos meses do próximo verão.
Dois círculos concêntricos
Veremos, em 2014, dois grandes círculos concêntricos agitando as correntes : um, que se formará na onda da Copa do Mundo, a partir de junho; e outro, que tende a bater nas margens eleitorais e despejar suas águas (votos) nas urnas. Os resultados de um evento impactarão o outro ? Os perfis mais identificados com o novo (Marina veste esse figurino ?) serão beneficiados ? As velhas árvores voltarão a ser viçosas ? Sejam quais forem as respostas, não há como deixar de enxergar entulhos de velhos edifícios que desmoronam por falta de reboco.
Marina é o Lula de ontem
Marina Silva é o Luiz Inácio de 33 anos atrás. Que lembrava os tempos heróicos em que ele e os companheiros "carregavam pedras". Pois bem, os visionários de ontem e os sonháticos de hoje imaginam plantar em todas as searas da República sementes imunes aos vírus da velha política - patrimonialismo, fisiologismo, mandonismo, grupismo, nepotismo -, capazes de gerar árvores frondosas e frutos saudáveis, todas irrigadas pelas limpas fontes da ética. Os campos pragmáticos dariam lugar às roças programáticas. Diante da impossibilidade de substituir uma cultura política por outra da noite para o dia, principalmente quando não há movimentos capazes de redirecionar práticas, costumes e processos, torna-se evidente que a emblemática Marina se assemelha, em sua peregrinação, à imagem de "carregadora de pedra" do mesmo molde do empreendimento que o velho PT tentou construir, em 33 anos, e não conseguiu.
A nova política é abstração
Por que uma "nova política" tem se tornado abstração em nossas plagas, não adentrando o território da práxis ? Por ser complexa a tarefa de promover mudanças rápidas na fisionomia política, principalmente quando se vê nela a estampa dos valores do passado. Os agentes políticos em atuação no Parlamento, a quem cabe dar o primeiro passo na direção das mudanças, não se motivam a avançar em qualquer vereda reformista, considerando que a equação custo-benefício não lhes rende.
A imagem da corrosão
Se os avanços não ocorrem por falta de suficiente motivação dos agentes partidários, o que a estática na política acarreta ao tecido institucional ? Um agregado paralisante : acomodação, mesmice, burocracia, obsolescência, embrutecimento das estruturas e passividade dos gestores públicos. A imagem se assemelha às árvores que chegam à velhice vegetal : o crescimento diminui, os processos de regeneração são lentos, as raízes não conseguem mais retirar água do solo e sais minerais em quantidade necessária; os vasos que conduzem nutrientes param de funcionar; as folhas caem, os galhos perdem o viço, o tronco ameaça tombar a qualquer momento. Não é o que ocorre com os partidos ?
Arquivos da Ditadura
Paralelamente à discussão em torno da divulgação dos arquivos existentes no STM, que tratam do julgamento dos presos políticos durante da ditadura militar, foi produzido o filme "Sobral - um homem que não tinha preço", no qual Sobral Pinto denuncia a prática de tortura no Brasil durante o Regime Militar de 1964. O advogado criminalista Fernando Augusto Henriques Fernandes tem participação na produção do filme e também é autor do livro "Voz Humana - A defesa perante os tribunais de República".
Recuperando a memória do país
É de autoria do advogado Fernando Fernandes a ação que busca a divulgação dos arquivos de áudio retidos no STM, com as gravações das audiências de julgamento dos presos políticos, de 1975 até 1979. Uma parte destes arquivos, já recuperada, foi revelada no filme "Sobral - um homem que não tinha preço". "Ainda temos inúmeras questões não resolvidas, como permitir às famílias de presos políticos encontrar os corpos e enterrá-los", argumenta Fernandes.
O rei mais humilde
O rei Roberto Carlos mudou de opinião. Antes, era um renitente e duro combatente das biografias não autorizadas. Inspirou a criação de um grupo - Procure Saber - composto, entre outros, por Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Djavan. Domingo, em entrevista ao Fantástico, Roberto Carlos mudou de posição. Diz agora que é a favor das biografias não autorizadas, bastando alguns ajustes. Urge conversar, pede ele. Ainda bem. O grupo recebeu uma batelada de artigos e textos contrários ao seu posicionamento. Inclusive, um artigo deste escriba.
As vedetes
Nesse texto, fiz o posicionamento. As vedetes da cultura de massa podem ter biografias não autorizadas sobre suas vidas ou os relatos devem receber sua prévia autorização ? A resposta deve considerar a faceta pública desses semideuses, tanto os políticos quanto os artistas. Uns e outros têm deveres para com a sociedade. Dependem do público. A partir do momento em que suas atividades são massificadas - fator de sucesso profissional - submetem-se ao ordenamento ético de prestar contas a quem os acompanha. Que inclui relatos não apenas das retas, mas das curvas de sua existência. A esse posicionamento público do artista e do político, soma-se o ditame constitucional que acolhe a manifestação de pensamento e da informação sem restrição.
Danos morais
Se a honra, a vida privada e a imagem das pessoas são invioláveis, ainda nos termos constitucionais, lembre-se que há dispositivos no Código Penal contra danos morais, calúnia (art.138), difamação (art. 139) e injúria (art. 140). Daí não caber a restrição às biografias, prevista pelo art. 20 do Código Civil. Países democráticos, como EUA, Canadá, Reino Unido, França, Espanha não admitem qualquer censura às biografias não autorizadas, ao contrário de Rússia, China e Síria, por exemplo.
Nos EUA
Imagine-se a execração pública de Bill Clinton se censurasse biografia sobre sua trajetória presidencial, nela incluído o episódio com a estagiária Monica Lewinsky. Aliás, os norte-americanos estão lendo avidamente o livro "Sexo na Casa Branca", do historiador David Eisenbach e do editor Larry Flynt, que conta histórias impactantes, algumas conhecidas, mas não relatadas com detalhes, como as que envolveram os presidentes Abraham Lincoln, Thomas Jefferson, James Buchanan, Franklin Roosevelt e John Kennedy.
Na Inglaterra
Houvesse censura na Inglaterra, a história do príncipe Charles e Camila Parker teria sido guardada no baú. E também o caso mais escandaloso da política inglesa : o envolvimento do ministro da guerra, John Profumo, com a modelo Christine Keeler, no começo dos anos 60. Isso é importante ? Sem dúvida. São as entranhas da política. Estabelecer patamar diferente para político e artista é defender tratamento privilegiado para uns. É formar uma casta dentro da casta.
Censurar ? Pelas mãos dos leitores
Biografias autorizadas são livros de autoglorificação, loas ao biografado. E querer cobrar do autor percentagem pela obra é apropriar-se de um direito que não pertence ao artista. Nas situações em que as biografias alavanquem a venda de discos, o autor da obra teria direito a uma percentagem da vendagem ? Livros maldosos e mentirosos devem ir, sim, para a fogueira. Pelas mãos dos leitores, não pelo tacão da censura.
Conselho aos manifestantes
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado médicos brasileiros. Hoje, volta sua atenção aos manifestantes :
1. O Brasil vivencia um dos ciclos de maior participação social. Esse momento deve ser aproveitado pela sociedade para exigir, criticar, condenar, sugerir, acompanhar atentamente o processo político e a gestão pública.
2. Sob esse pano de fundo, é importante ter participação no processo social de manifestações nas ruas.
3. Urge, porém, não abrigar ou apoiar as brigadas de vândalos que se aproveitam do momento para desenvolver sua agressividade. Se "guerreiros" querem destruir patrimônios públicos e privados, que mostrem a cara e não se escondam sob máscaras.