Porandubas nº 29
quarta-feira, 23 de novembro de 2005
Atualizado em 22 de novembro de 2005 21:37
LULA A FAVOR DE LULA
O presidente Lula, ao jogar a ministra Dilma Roussef contra o poderoso ministro Palocci, não está querendo destruir ninguém. A tática de Lula é preservar o poder presidencial. Dividir para somar. É claro que Dilma expressou o que o presidente gostaria de dizer a Palocci. O governo precisa abrir o cofre para ampliar as possibilidades de vitória eleitoral. Mas não pode derrubar o ministro da Fazenda. Ficaria muito feio para a imagem de seu governo e para a banca internacional. Resumo da ópera: o recado foi dado, Palocci poderá ficar no governo se mantiver a flexibilidade de dançarino e Dilma receberá os louros e os aplausos dos colegas de ministério.
QUEM SERÁ O NOME ALTERNATIVO?
Começa-se a esboçar nas esferas de irradiação de opinião a idéia de que a disputa entre tucanos e petistas chegará a um ponto de saturação que acabará abrindo espaço para uma candidatura alternativa. Ou seja, a briga PT versus PSDB com o auxílio da metralhadora do PFL faz parte do déjà vu nacional. Não haverá novidade. A luta apontará para a pergunta fatal: quem roubou mais ou quem roubou menos? O meio da sociedade espera por um candidato com o seguinte perfil: digno, asséptico, com autoridade moral, bom domínio da política brasileira, conhecedor dos problemas nacionais, respeitado nos espaços políticos e institucionais, aberto às idéias, sensível, humano. Quem descobrir um nome com essas qualidades, favor usar o velho processo de comunicação boca a boca, pessoa a pessoa. Acabará chegando aos meios de comunicação. Quem sabe, poderá ser abençoado pela opinião pública.
GAROTINHO NÃO EMPOLGA EM SÃO PAULO
O ex-governador Anthony Garotinho é um político determinado. Quer ser presidente da República. Tem tempo para fazer política e corre os Estados, circulando entre setores e esferas. Exibe respostas prontas para quase tudo: baixará juros, impulsionará a produção, acabará com a miséria, enfim, diz ser capaz de fazer algo como assoviar e chupar cana ao mesmo tempo. Um discurso messiânico. Seu discurso para empresários e executivos de vendas e marketing, na ADVB-SP, no clube Monte Líbano, segunda, 21 de novembro, não empolgou. Leu um texto cheio de estatísticas e de cunho econômico. A platéia estava mais interessada em jogar conversa fora, a ponto de o capitão do time, João Dória, insistir em pedir silêncio em respeito às autoridades e, claro, ao pré-candidato do PMDB. Garotinho não empolgou. São Paulo, o maior colégio eleitoral do País, é mais racional do que emocional e não vai muito com a cara de Garotinho.
APERTANDO O CERCO?
Merece aplauso a iniciativa do presidente do Tribunal Superior Eleitoral em submeter ao Congresso Nacional um conjunto normativo para moralizar o processo eleitoral, particularmente impondo mais restrições ao uso do Caixa 2. Mas não se espere a morte desse expediente. Recursos não contabilizados para campanhas e outras mutretas fazem parte do DNA da cultura política brasileira. Estabelecer mais regras sem atentar para reformas amplas - moralização de partidos, escopo doutrinário, fidelidade, cláusula de barreira - é apertar a tampa da garrafa com rolha esburacada.
O TOUR CULTURAL DE DIRCEU
José Dirceu faz um brilhante trabalho de Relações Públicas. Reúne grupos de amigos, faz palestras, incentiva a produção de listas de assinaturas contra eventual cassação, enfim, circula por toda parte. E não esquece de pedir votos aos parlamentares, mesmo os do baixo clero. Dirceu descobriu - possivelmente tarde - a virtude da modéstia. Fosse modesto, todo tempo, não estaria ameaçado de cassação. E seu advogado, José Luiz de Oliveira Lima, faz um trabalho de gigante. Advoga tanto quanto é possível advogar. Se perderem a causa, colecionarão louros de alguns valores: persistência, determinação, coragem e espírito de luta.
CONVENÇÃO TUCANA SEM BRILHO
Políticos sérios que observaram a movimentação em torno da Convenção tucana, em Brasília, atestam: faltou brilho, faltou entusiasmo. Os tucanos pareciam cansados. De bico encolhido. Serra não deu a cara para os acepipes noturnos.
OPOSIÇÃO PARA INGLÊS VER
Aliás, um desses atentos observadores, senador da República, ele mesmo fazendo parte da bancada de um partido de oposição ao governo, está estarrecido com o ânimo das oposições. Não se conforma com o grande acordo feito entre PFL e PSDB para preservar o ministro Palocci. Certa parte das oposições faz de conta que é do contra, mas é a favor. A favor do governo. Por isso, ele não tem dúvidas: Lula é e continuará a ser o favorito nas eleições de 2006. O senador, homem sério, aguarda um nome alternativo.
IZAR DESAPARECEU
Constatação: o presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado Ricardo Izar, depois de flagrado tirando a assinatura da lista que pedia a prorrogação da CPI dos Correios, desapareceu do noticiário. Por algum motivo ético?
ITAMAR E A INOCÊNCIA DE LULA
Pois é, nem o ex-presidente Itamar Franco, até pouco obstinado defensor do presidente Lula, acredita em sua inocência. Ele diz que tem dúvidas. Não é possível que Lula ignore "uma crise como essa". Se até Itamar duvida, quem ainda conserva a certeza da inocência do presidente?
PALOCCI APRENDEU MUITO
Quem viu Antônio Palocci, nos últimos dois depoimentos (Senado e Câmara), discorrer com fluidez sobre a complexidade da matéria econômica do governo do PT acaba ficando com boa impressão. O ministro não apenas fez e faz lição de casa como internalizou conceitos complexos, falando com naturalidade e grande domínio de todas as pautas temáticas que lhe foram apresentadas. Boa pontuação para o ministro. Sem avaliação ou juízo de valor sobre eventual participação em falcatruas e denúncias sobre sua administração municipal em Ribeirão Preto.
50 COMENSAIS NO BANQUETE DE ILÍCITOS
O relator-geral da CPI dos Correios, Osmar Serraglio, promete apresentar uma lista com 50 nomes de pessoas envolvidas nos escândalos. A relação de ilícitos abrange: corrupção ativa e passiva, prevaricação, tráfico de influência, advocacia administrativa, crimes contra o sistema financeiro, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, gestão temerária, gestão fraudulenta, fraudes em licitação e formação de quadrilha. Será interessante ver a lista com os nomes dos indiciados, sublinhados com a relação de ilícitos. Perguntas-chave: Quantos parlamentares serão cassados? Quantas pessoas serão apenadas? Escolha a resposta: entre 5 e 15; entre 15 e 30; entre 30 e 50.
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