Porandubas nº 356
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Atualizado em 7 de maio de 2013 10:15
Chapa e perereca
Abro a coluna com mais um "causo" narrado pelo potiguar Carlos Santos em Só Rindo, um de seus livros.
A campanha rola e o velho costume do assistencialismo é posto em prática. Entre outras ferramentas, a doação de "pererecas", ou seja, próteses dentárias, não perde o seu "charme". Um ancião, banguelo, assediado para trocar o seu voto por uma perereca, resolve fazer o negócio. No dia da eleição ainda com uso de chapa impressa, ele aparece para votar, com a perereca no bolso. Vota e vai saindo com a cédula na mão, quando alguém da mesa receptora lhe avisa : "Ei, o senhor tem que deixar a chapa aqui", apontando para a urna. Pensando tratar-se da perereca, o velhinho a retira do bolso e desabafa :
- Eu sabia que isso tinha enrolada !
Equação BO+BA+CO+CA
As interrogações se multiplicam na esfera político-eleitoral ? O que ocorrerá em 2014 ? Quem tem mais chances ? A campanha terá um segundo turno ? Dilma segurará no mesmo território os partidos que hoje lhe dão sustentação ? Diante das nuvens cinzentas, este consultor, mais uma vez, tira o espanador do baú na tentativa de aclarar um pouco os horizontes. Este exercício começa com a equação que dá o título à nota : bolso (BO) com grana significa geladeira cheia ; que gera barriga (BA) satisfeita ; o coração (CO) fica comovido e agradecido e, dessa forma, a cabeça (CA) acaba decidindo recompensar os autores da façanha (bolsas e bolsos supridos) com o voto. Pano de fundo dessa equação : economia estável, inflação sob controle e baixa taxa de desemprego. A biruta aponta : Dilma, franca favorita.
Equação IA+DM+VE+IS
Vamos ao segundo cenário. Nesse caso, os horizontes espanados deixam ver a inflação muito alta (IA) ; o desemprego em massa (DM), estourando a boca do balão ; a violência extremada (VE), com expansão de latrocínios e assassinatos e, por consequência, a insegurança social (IS) formando ambientes de medo e indignação. Esse panorama favorece os candidatos oposicionistas, particularmente aqueles que se identificarem com a moldura de mudanças. A biruta aponta para uma batalha de segundo turno, entre a candidata Dilma e um opositor - Aécio Neves ou Eduardo Campos.
Pibinho e inflação a 5% ?
Mas há um cenário intermediário. E se o Brasil continuar registrando um baixo crescimento e a inflação continuar no patamar entre 5% a 6% ? Esse quadro favorece a situação ou a oposição ? Resposta : quem leva a melhor é a situação. Pois o Pibinho não chega às margens sob uma moldura de economia estável, mesmo sob baixo crescimento. As Bolsas do governo e as compensações oferecidas a setores produtivos conseguirão empurrar com a barriga as questões centrais. E a inflação nas taxas acima descritas continuará a ser suportada pelo consumo. Significa que este cenário ainda é bastante favorável à reeleição da presidente Dilma.
Segundo turno
O segundo turno vai depender do número de candidatos. Com dois grandes candidatos apenas, e sob um cenário de estabilidade, o quadro favorece Dilma Rousseff. O eleitorado esbarrará na dúvida : se a situação é estável por que mudar ? A tendência é de apertar a tecla do status quo. Com quatro candidatos, a possibilidade de um segundo turno é bem maior. Quem seriam os candidatos ? Dilma, Aécio, Marina e Eduardo Campos. Lembre-se que Marina teve quase 20 milhões de votos no último pleito presidencial. Que Aécio contaria com o apoio dos governos de SP e MG, os dois maiores colégios eleitorais do país. Que Eduardo Campos poderia se identificar com o fator "novidade". Tem boa estampa.
Marina
Em qualquer pesquisa, Marina Silva aparece com cerca de 15% dos votos. Mais que Aécio e Eduardo Campos.
Dudu
Eduardo Campos aparece com cerca de 5%. E tem um bloco de correligionários contrários à candidatura : os Gomes (Cid e Ciro), do CE ; o governador Casagrande, do ES ; o prefeito Alexandre Cardoso, de Duque de Caxias ; e todos sabem que o prefeito de BH, Márcio Lacerda, reza pela bíblia de Aécio Neves ; e o governador do PI, Wilson Martins, também seria favorável à reeleição da presidente Dilma. Será por isso que, nos últimos dias, Dudu desapareceu do mapa ? Não aceitou nenhum convite para participar de eventos importantes mais recentes. Joga seus olhos azuis na paisagem árida do sertão pernambucano. Contemplando a devastação da maior seca dos últimos 50 anos.
Dilma
A presidente começou a circular nos espaços centrais e periféricos. Começa a frequentar de maneira assídua o palco paulista. SP tem 32 milhões de eleitores. Lula é quem estaria por trás da agenda mais cheia da presidente.
E Serra, hein ?
Há quem enxergue um quinto candidato : José Serra. Como ? Saindo do PSDB e ingressando no MD, partido criado com a fusão do PPS e PMN. Serra tem dito que continuará a ocupar cargos. O que significa menos nomeação e mais disputas. Cargos disputados. Deputado ? Já foi. Senador ? Já foi. Governador ? Já foi. Prefeito ? Já foi. Sobra o cargo presidencial. Sairia do PSDB ? É difícil, mas não impossível. Os tucanos em SP se bicam há tempos. Mesmo com a eleição do deputado Duarte Nogueira para chefiar o tucanato paulista, as rixas continuarão. E Serra não engole o Aécio. Logo, as especulações de que pode sair do PSDB têm sentido. Até princípio de outubro, essa alternativa será uma espada de Dâmocles na cabeça dos tucanos.
E um quinto candidato ?
Se Serra for candidato, a moldura do segundo turno ganha mais firmeza. Seria quase impossível Dilma vencer Aécio, Marina, Eduardo Campos e Serra logo no primeiro turno. Suas chances de levar a melhor em um segundo turno com algum desses são boas. Quem garante que Eduardo Campos e Marina, por exemplo, fechem com Aécio (por exemplo) ou com Serra em um segundo turno ? Em qualquer circunstância, urge enxergar o pano de fundo econômico. Ele será o senhor da razão.
Milagre
O prefeito de Fernandópolis, na audiência aos prefeitos do interior, solicitou de Jânio providências urgentes para solucionar o problema da eletricidade do seu município, "ameaçado a ficar às escuras dentro de sessenta dias". O governador tinha de arranjar a luz.
- "O amigo me pede um milagre ! - respondeu Jânio. Ninguém pode dar luz em sessenta dias...".
Após os sorrisos, o governador declarou que iria tentar o milagre.
(Do livro Bilhetinhos de Jânio, de J. Pereira)
Alckmin x PT - copo cheio
Em SP, a clássica polarização entre tucanos e petistas poderá ceder lugar a outros pólos de poder. Celso Russomanno, que teve um bom desempenho como candidato a prefeito, poderá entrar no jogo. Paulo Skaf, o mais forte perfil do PMDB, tem boas condições de atrair o eleitorado. O PT e o PSDB, por sua vez, esgotaram seu estoque de disputas. Lula pensa em Alexandre Padilha, ministro da Saúde, e em Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo. O primeiro não tem o que mostrar, a não ser o desastre na saúde ; o segundo não escapa à rejeição de uma forte classe média, que o identifica com o sindicalismo petista. E Alckmin vai esbarrar na corrosão de material. Há 20 anos, os dutos do PSDB foram instalados em SP. Estão carcomidos.
E Lula, hein ?
Luiz Inácio Lula da Silva continua dando vazão às mais estrambóticas especulações. Uma diz respeito à sua candidatura ao... Governo de SP. Todos sabem que o sonho dos sonhos de Lula é tomar o Estado de SP para o PT. Nunca o partido conseguiu este feito. Se não encontrar o perfil ideal para vencer os tucanos, dizem, o próprio Lula poria seu nome à disposição. Este consultor acha a ideia pouco plausível. Depois de atingir os píncaros da glória, Lula aceitaria descer os degraus da fama ? Inacreditável. Hoje, ele é o mandachuva do PT, o guru da presidente, o orientador de todos os grupos petistas. Está acima de tudo e de todos. Por que descer na escada do poder ?
Cabral no senado ?
Sérgio Cabral começa a aplainar os caminhos do futuro. Quer ser ministro da Dilma. Espera por mais espaço do PMDB no governo. Enquanto isso, abre caminho para voltar ao Senado em 2014. Sem cargo não fica. Senador, teria mais condições de barganhar altos postos.
Afif no ministério
Guilherme Afif é, reconhecidamente, o mais adequado perfil para assumir uma pasta com escopo para organizar as políticas das micro e pequenas empresas. Dedicou quase toda sua vida pública a esta causa. Sua entrada na administração Federal significa o compromisso do PSD de Kassab com a reeleição da presidente Dilma. Por mais que o ex-prefeito Kassab diga que a escolha de Guilherme está na conta pessoal da presidente. Kassab já cumpriu todos os compromissos com José Serra e o tucanato. Quer, agora, consolidar seu partido.
Telefones e versos
A Sra. Dahyl de Marsilac Fontes, da família do poeta Martins Fontes, dirigiu, em versos, uma petição a Jânio, reclamando contra a espera, na fila, há 15 anos, um aparelho telefônico da CTB. Na parte final, diz :
"E me perdoem se esta petição
Lhe chega às mãos à última hora
E no apagar das luzes...
Embora !
Que importa, se outras acenderão ?"
Jânio respondeu, também em verso, despachando num "bilhetinho" :
"Prezada Senhora.
Vencendo terras e montes;
- assim é a burocracia,
Chegou-me, Sra. Fontes,
Descrita na poesia, a história do telefone,
E o mais que a história continha...
- Li, Sra., e exausto e insone,
Saiba que a culpa não é minha !"
(Do livro Bilhetinhos de Jânio, de J. Pereira)
PSD
PSD de Kassab já contabiliza 12 diretórios regionais a favor da presidente Dilma.
PEC 37
O MP tem importante papel na construção de uma sociedade ética e do Estado Democrático de Direito. Nos últimos tempos, porém, alguns de seus quadros têm se mostrado como organizadores de uma nova ordem social. Espetacularizam suas ações, abrem as baterias midiáticas, chamam a si as luzes fosforescentes das TVs. Não tem sentido fazer investigações criminais como se fossem comandos especiais da polícia. Devem deixar essas operações para as forças policiais. Cada macaco no seu galho. A PEC 37 faz sentido.
PEC 33
Já a PEC 33, que limita o poder do STF, é fruto de uma tensão contínua entre os Poderes Legislativo e Judiciário. Somos uma democracia em processo de consolidação. Por isso mesmo, os pesos e contrapesos do nosso sistema democrático não estão plenamente regulados. O desbalanceamento gera interpenetração de fronteiras institucionais. A judicialização da política e a politização da Justiça são as duas faces dessa moldura. Daí a importância do debate.
O valor da pontuação
Um homem rico, sentindo-se morrer, pediu papel e caneta e escreveu assim : "Deixo os meus bens à minha irmã não ao meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres". Não teve tempo de pontuar e morreu. A quem deixava ele a riqueza ? Eram quatro os concorrentes. Chegou o sobrinho e fez estas pontuações numa cópia do bilhete : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não. Ao meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". A irmã do morto chegou em seguida, com outra cópia do escrito, e pontuou deste modo : "Deixo os meus bens à minha irmã. Não ao meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". Surgiu o alfaiate que, pedindo a cópia do original, fez estas pontuações : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! Ao meu sobrinho ? Jamais ! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". O juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade ; e um deles, mais sabido, tomando outra cópia, pontuou-a assim : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho ? Jamais ! Será paga a conta do alfaiate ? Nada ! Aos pobres !".
(Do almanaque O Pensamento, de 1958)
Conselho aos chefes dos poderes
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos Poderes Legislativo e Judiciário. Que continuam a merecer atenção :
1. As tensões que energizam os ambientes institucionais precisam ser contidas e administradas. Os ânimos devem ser acalmados. Diálogo e compreensão, nesse momento, se fazem absolutamente necessários.
2. Urge aprofundar a agenda do momento -as PECs 33 e 37 - e dar a elas o destino mais conveniente : modificações/alterações, arquivamento ou aproveitamento parcial de seus escopos. Se trazem alguma contribuição para elevar o debate nacional e aperfeiçoar a ordem, não podem simplesmente ser deixadas de lado.
3. O Estado Democrático de Direito e a Construção da Sociedade Cidadã estão a exigir permanente diálogo e esforço para aperfeiçoamento do sistema normativo.