COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Porandubas Políticas >
  4. Porandubas nº 352

Porandubas nº 352

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Atualizado em 9 de abril de 2013 10:25

A fonte secou

Abro a coluna com uma historinha da região do Seridó/RN, década de 50.

Médico-chefe de um posto de saúde do Estado do RN (região do Seridó, em Caicó) o dr. Abílio Medeiros também era responsável pela distribuição do leite em pó, o popular "leite do Fisi". Deputado estadual pela UDN, aproveita a presença do governador Dinarte Mariz para um comício no bairro Paraíba, o mais populoso e mais pobre da cidade, nos anos 50. Voz grossa e de muitos decibéis, fazia o estilo "para um bom orador, meia palavra basta" e tascou :

- Governador. O povo deste bairro é miserável !

É mal entendido em sua fala - o termo usado soa pesado demais para os humildes presentes (miserável, ainda hoje, é entendido por muitos como sendo uma ofensa, o mesmo que sem vergonha, cabra safado, etc.). A derrota nas urnas é iminente ; passadas as eleições, apurados os votos, doutor Abílio volta ao trabalho nos postos de saúde. Uma pobre e ingênua mulher, lá do bairro injuriado, arrisca da porta do posto :

- Dotô, o sinhô ainda tá dando leite ?

O deputado derrotado estoura :

- A senhora tá me achando com cara de vaca ?

(Narrada pelo jornalista Orlando Rodrigues em Segura Essa...o Nhem, Nhem, Nhem da caatinga)

Heleno Torres : o pingo nos is

Heleno Torres é o tributarista considerado favorito para ingressar no STF. Trata-se de um dos mais qualificados profissionais do país em sua especialidade. Sexta-feira passada, este consultor almoçava em um restaurante de SP, na companhia do vice-presidente da República, Michel Temer, do professor Celso Antônio Bandeira de Melo (mestre de alguns dos maiores juristas do país) e do amigo José Yunes. Na mesa ao lado, almoçavam o advogado geral da União, Luis Inácio Adams, e Heleno Torres. Cumprimentos. Na hora da despedida, Heleno me disse : "se for convidado, você está convidado para a minha posse". Respondi : "claro que irei". Voltei ao escritório para concluir um trabalho. Por volta de 17h, acessei os jornais na Internet. Li na Folha e no Estado : Heleno Torres foi escolhido pela presidente Dilma para integrar o corpo de ministros do STF na vaga do ex-ministro Carlos Ayres Britto.

Barriga de todos

Ao ler a notícia, imaginei : "puxa, vida, Heleno quis dizer que foi escolhido e fui tão pouco efusivo no cumprimento...!" Imediatamente, postei no twitter : "na hora do almoço, Heleno me informou ter sido escolhido pela Dilma. E me convidou para a posse. Claro que irei". Queria eu dizer que tivera o privilégio de ser um dos primeiros a saber. Vício de jornalista. Não era verdade. Heleno não fora escolhido. Descobri quando liguei para ele para contar do meu entusiasmo e das manchetes que acabara de ler. E ele me respondeu : "pois é, não fui escolhido. Peço para que você desminta a nota, que está provocando balbúrdia". Foi o que fiz. Pedi desculpas. Fui apressado. Porém, ressalto, fui induzido à nota apressada pelo registro dos jornais. Todos cometemos o que, em jornalismo, se chama de "barriga", uma notícia não verdadeira.

Antecipação

A campanha de 2014 entra nas ruas. Nos Estados, pré-candidatos fazem articulações. Os atores com intenção de ocupar a cadeira central da República correm de um lado para outro. O mais açodado é o governador de PE. Que expressa, aliás, o mais dúbio discurso. Diz : deixemos 2014 para tratar em 2014. Ora, ele sai do Nordeste, perambula pelo Sudeste e bate no Sul. Faz palestra a torto e a direito. Critica o governo do qual faz parte muito mais que o tucano Aécio Neves. Faz acenos para atrair o apoio da Força Sindical, comandada pelo deputado Paulinho.

Ética às avessas

Eduardo Campos pratica uma ética às avessas. Ao dizer que a presidente Dilma poderia fazer muito mais, fica no plano genérico. Critica por criticar. Claro, quem quer ser candidato, mesmo pertencendo à base governista, se esforça para aparecer de modo crítico. É o diferencial. Mas criticar o governo que o PSB integra não fica feio ? Fica. O líder Beto Albuquerque promete a saída do governo para o segundo semestre, lá para setembro ou outubro, a depender do clima político. Campos, por sua vez, informa que está administrando PE à distância, por meio de um tablet. É o reconhecimento de que faz campanha.

Quem comunica também se estrumbica

Paulo Egydio, governador de SP, no enterro do piloto de Fórmula 1 José Carlos Pacce, vítima de um acidente aéreo : "Lamento que ele tenha morrido longe das pistas".

Paulo Maluf, candidato à presidência da República, numa palestra em Belo Horizonte : "Está com desejo sexual, então estupra, mas não mata"

Franco Montoro, governador de SP, visitando de barco as cidades inundadas do Vale do Ribeira : "Que lindo ! Parece Veneza !"

Leonel Brizola, governador do Rio, comentando as declarações da deputada Rita Camata sobre o massacre de meninos na Cinelândia : "Essa mulher é uma vaca inútil".

Fernando Henrique Cardoso, candidato do PMDB à prefeitura de SP, respondendo a Boris Casoy, que lhe perguntara se acreditava em Deus : "Oh, Boris, você me prometeu não fazer essa pergunta".

(Do livro A vida é um palanque, de Carlos Brickman)

E o PDT, hein ?

Quanto mais Paulinho da Força abraça Eduardo Campos, mais força ganha a pergunta : e esse PDT de Carlos Lupi, hein, para onde vai ? Lupi acaba de emplacar o novo ministro do Trabalho, mas abre a expressão para anunciar que o futuro a Deus pertence. Ou seja, o PDT olha para um lado e para outro. Se integra, hoje, a base governista é porque age de acordo com o dicionário da pragmática. Por isso, não enquadra correligionários que correm para os braços de Eduardo Campos. Paulinho da Força que o diga. Hoje, Paulinho está disposto a abraçar a causa do neto de Arraes. Mas continua com um pedaço do Ministério do Trabalho. Uma no cravo, outra na ferradura.

Pezão versus Lindbergh

Outra frente de guerra ocorre no Rio : Pezão, do PMDB, o vice governador de Cabral contra o senador Lindbergh, do PT. Faz séculos que se sabe da candidatura de Pezão. Que conquistou Lula e Dilma. O cara é hábil, maneiro no trato. Sabe agradar. Mas não ganha, hoje, o agrado do povo. Cabral, com certa razão, diz que tem sido cabo eleitoral fechado de Lula e Dilma. Por isso, não abrirá mão de Pezão. Quer que o PT firme a parceria com o PMDB em torno de seu vice. Mas a cúpula do PT já fechou posição a favor do senador. E argumenta que Lindbergh tem quase o dobro de Pezão nas pesquisas. O vice, dizem, é um peso pesado difícil de puxar. Nem o nome - popular - ajuda. Esse imbróglio no Rio poderá ter repetições em alguns Estados.

PMDB e PT

A parceria do PT com o PMDB deverá ser mantida no nível Federal - em torno da chapa Dilma/Michel Temer, e em alguns Estados. É claro que interessa aos dois partidos uma política de harmonia e integração de esforços. Meta que não será cumprida. Ou cumprida parcialmente. Porque a ambos interessa adensar a base. Significa fazer o maior número de governadores, deputados Federais e estaduais. Essa será a vitamina de continuidade no poder. O PMDB tomou esse suco desde 1985 quando fez um destroço no quadro partidário, elegendo as maiores bancadas. O PT aprendeu a lição. Teremos, portanto, uma disputa contundente nos bastidores. Nem Lula nem Dilma conseguirão apaziguar os ânimos. Deixarão de ir a alguns Estados para evitar palanques duplos. Ou será que, no frigir dos ovos, irão prestigiar apenas os candidatos petistas ?

PSB no DF

O PSB pensa como partido grande. Quer fazer candidatos no maior número de Estados, a partir do DF, onde o senador Rodrigo Rollemberg ostenta, hoje, o índice de 27% nas pesquisas de intenção de voto contra o governador petista Agnelo Queiroz, com apenas 14%.

Fim das coligações ?

Henrique Alves, presidente da Câmara, promete começar a votar a reforma política, a partir de duas propostas de emenda à Constituição (PECs 10/95 e 3/99) e um projeto de lei (1.538/07), que deverão nortear a discussão. Os principais pontos são : financiamento público exclusivo de campanha ; fim das coligações para eleições proporcionais, porém permitindo que os partidos façam federações partidárias que durariam, no mínimo, quatro anos ; coincidência das eleições (municipais, estaduais e Federais) ; ampliação da participação da sociedade na apresentação de projetos de iniciativa popular, inclusive por meio da internet. Pela medida, 500 mil assinaturas garantiriam a apresentação de um projeto de lei ; e 1,5 milhão, de proposta de emenda à Constituição ; e nova opção de lista flexível, em que o eleitor continuaria votando no deputado ou no partido, mas só o voto na legenda é que reforçaria a lista apresentada pelo partido.

A quem interessa ?

Aos maiores partidos, PT e PMDB, interessa aprovar o fim das coligações proporcionais, que lhes daria cerca de 30 deputados a mais. Em compensação, os nanicos estariam ameaçados de desaparecer da planilha partidária. Um ponto que parece consensual é a coincidência das eleições. Ao PT interessa, também, a aprovação do financiamento público de campanha. Colocaria mais fumaça no ambiente do mensalão. A proposta de reforma não tem acordo entre os líderes partidários quanto à forma nem ao conteúdo. É possível que um item que não consta do relatório - a janela para troca de partidos - ganhe força e se sobreponha aos demais.

Barbosa contra os tribunais

A criação de quatro Tribunais Regionais Federais irritou, sobremaneira, o presidente do CNJ e presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa. Que insinuou a implantação desses órgãos em "resorts" ou nas redondezas das praias. Ironia pura. Juízes tentaram contestá-lo em uma audiência. Ele ordenou que não falassem tão alto. E que não confundissem sua legitimidade. Fervura deverá continuar.

Cartão postal borrado

O RJ, que vinha resgatando sua imagem de capital do bom acolhimento, estampa para o mundo uma fotografia de horror. De violência. De abuso. Os estupros que se repetem no Rio desmancham as belezas naturais da capital carioca. Cristo, no Corcovado, está com vendas nos olhos de tanta vergonha.

A doméstica

"Se a sua empregada doméstica precisar fazer uma hora extra, lembre-se de que ela terá de descansar 15 minutos antes de começar. Se você precisa de muitas horas extras, atente que ela não pode exceder dez horas por semana. Se dorme ou não no emprego, ela terá de ficar 11 horas sem trabalhar depois de encerrada uma jornada. Atenção : ela não pode comer em menos de uma hora em cada refeição. Se ela demorar mais de dez minutos para entrar no serviço, trocar de roupa ou tomar banho na hora da saída, esse tempo será contado como hora extra. Se ela dorme no quarto com uma criança ou um doente, terá de ser remunerada com adicional noturno e eventualmente hora extra por estar à disposição daquela pessoa. Se você tiver de compensar em outro dia as horas a mais que ela trabalhou no dia anterior (banco de horas), lembre-se de que isso tem de ser previamente negociado com o sindicato das domésticas". (José Pastore).

Mercadante lidera corrida

O ministro da Educação, Aloísio Mercadante, lidera a corrida para o governo de SP na esfera do PT. Os outros nomes : Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, não tem perfil para cooptar fortes classes médias ; ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é mal avaliado ; sua pasta é conhecida como Ministério da Doença ; a ministra da Cultura, Marta Suplicy, exibe uma rejeição histórica, difícil de ser administrada.

Lula sob inquérito

PF tem incumbência de realizar inquérito para apurar responsabilidades do ex-presidente Luiz Inácio no episódio do mensalão. Este consultor acha que essa ação não resultará em nada.

Quem comunica também se estrumbica - II

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente nacional do PT : "O vermelho da bandeira do partido é a cor do sangue de Cristo".

Antônio Rogério Magri, Ministro do Trabalho, explicando por que utilizara um carro oficial para levar sua cadela ao veterinário : "Cachorro também é gente".

Francelino Pereira, presidente nacional da Arena, desmentindo que o governo pretendesse fechar o Congresso : "Que país é esse em que não se confia na palavra de seus governantes ?". (O Congresso foi fechado em seguida, pelo pacote de abril).

Mário Amato, presidente da FIESP, falando sobre a ministra do Trabalho, Dorothéa Werneck : "É inteligente, apesar de ser mulher".

Luiza Erundina, prefeita de SP : "Os mortos das enchentes são águas passadas".

(Do livro A vida é um palanque, de Carlos Brickman)

Conselho a Eduardo Campos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao deputado Marco Feliciano. Hoje, volta sua atenção ao governador Eduardo Campos :

1. Governador, Vossa Excelência tem dito que 2014 será resolvido em 2014. Mas faz peroração eleitoral quase todos os dias. Sua atitude é incongruente com o discurso.

2. Não seria mais lógico afastar-se da base governista logo agora para não ser considerado oportunista e de estar se valendo da máquina pública (cargos na estrutura do governo) para consolidar espaços de poder ?

3. É perfeitamente compreensível que seja candidato à presidência, dispondo de grande visibilidade, boa avaliação de sua administração e de um partido em ascensão. Mas é inaceitável que esteja, como pré-candidato, usando a esteira governamental para alavancar a candidatura.