Porandubas nº 306
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Atualizado em 14 de fevereiro de 2012 13:01
Salgar meu pai
Abro a Coluna com uma historinha do Rio Grande do Norte, mais precisamente de Macaíba, vizinha à Capital, Natal.
Em certa administração municipal, constituída em sua grande maioria por pessoas de Natal, um pobre rapaz procurou o gabinete do prefeito com um problema urgente. Era uma sexta-feira. "Meu pai morreu e vim pedir o caixão", suplicou o jovem à secretária natalense da mais fina flor da moderna burocracia. "Hoje não há como atender. O prefeito e todo o pessoal foram a Natal. Volte segunda-feira, está bem ?", respondeu a funcionária conscientíssima do dever cumprido. Desolado o rapaz recuou e abriu novamente a porta do gabinete para nova abordagem : "Dona, poderia me arranjar dois reais ?". "Pra quê você quer o dinheiro ?", interrogou a eficiente servidora."É pra comprar sal grosso, salgar o meu pai até segunda-feira !".
Quem conta o "causo" é Valério Mesquita.
Cenários eleitorais
- Vermelho/encarnado
Este cenário é o do PT. Nele, vê-se o partido abocanhando entre 1200/1300 prefeituras das 5.564 existentes no país. Significaria passar à frente do PMDB e, desse modo, garantir a argamassa para a decolagem do avião de 2014, com as maiores bancadas - estaduais e federais - sob o embalo da reeleição da presidente Dilma. Este é o desenho que o PT tentará compor. E mais ainda : sua meta é eleger o maior número de prefeitos nas 200 mais populosas cidades do Brasil. Faz parte da estratégia de prolongar o ciclo petismo/lulismo/dilmismo.
- Vermelho/preto
Este é o cenário do PMDB. O desenho que o partido quer ver no país abriga entre 1300/1400 prefeitos. Acha que, por ter, hoje, o maior número de administrações municipais e o maior número de vereadores, pode ambicionar meta mais larga, ou seja, expandir sua base municipalista. Trata-se do partido de maior capilaridade nacional, posição que vem mantendo desde 1986, quando elegeu 21 dos 22 governadores de Estado. Eram os tempos áureos de Sarney e do confisco do boi no pasto. A grande luta do partido será com o PT, que quer desbancá-lo da posição.
- Azul/amarelo
Este é o cenário tucano. O PSDB tentará eleger entre 800 a 1000 prefeitos. Conta, para isso, com a força de administrações estaduais nos dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo (Geraldo Alckmin), Minas Gerais (Antonio Anastasia), e em Estados importantes como Paraná (Beto Richa) e Goiás (Marconi Perillo). Lembre-se que MG tem o maior número de municípios do Brasil e o governador Anastasia é bem avaliado. A administração Alckmin também goza de razoável prestígio.
- Verde/amarelo/branco
Este é o cenário do PSD de Kassab. Que governa, hoje, cerca de 270 prefeituras, com a migração de prefeitos vindos principalmente do DEM. O PSD já tem 53 deputados Federais e espera ser vitorioso em 500 municípios. O partido pisca de um lado e de outro, ensaiando estabelecer alianças de todos os lados. Seu objetivo é formar uma grande base política. O prefeito é exímio articulador. Conta com governos de Estado (SC, AM) e com políticos influentes. Tenderá a participar da base governista.
- Vermelho/amarelo
Este é o cenário do PSB, do governador Eduardo Campos. Espera fazer uns 800 prefeitos, principalmente na região Nordeste, a partir dos Estados de Pernambuco e Paraíba, onde tem as rédeas. Campos sonha com 2014, seja como candidato a presidente da República seja como vice na chapa da presidente Dilma. Pisca com um olho para o tucano Aécio Neves e com outro para Kassab. É um poço de ambições. E aprecia Maquiavel.
- Azul/verde/branco
Este é o cenário do DEM. Que foi visivelmente enfraquecido pelo PSD de Kassab. O partido terá o pleito de outubro como um parâmetro para projetar suas estratégias e abrir os horizontes de futuro. Caso perca tempo eleitoral e recursos do Fundo Partidário - ameaça real que sobre ele se projeta - a saída para o DEM seria uma fusão. E o partido com quem começa a abrir conversações é o PMDB. Os dois, juntos, formariam um grande ente com mais de 100 deputados Federais. O DEM quer eleger uma boa bancada de prefeitos, mas seu desempenho será uma incógnita.
Prosperidade e adversidade
"Na prosperidade, nossos amigos nos conhecem. Na adversidade, conhecemos os nossos amigos". (Collins)
A policromia partidária
Como se pode aduzir das próprias cores que adornam os cenários, a imbricação de posições, ações, metas e comportamentos é patente. Todos pensam de forma assemelhada. Falamos, claro, dos grandes e médios partidos (lembrando ainda o PDT, PTB, PP, PRB, PV) que agem no centro - e nas bandas esquerda e direita - do arco ideológico. Não estamos, aqui, incluindo os entes com maior coloração doutrinária, como PSOL, PCO, PSTU, etc. A constelação partidária deverá obter 90% dos votos nacionais, deixando percentagem mínima para siglas das margens ideológicas.
A régua de cada um
Quem tem se sobressaído nas administrações estaduais ? A maior visibilidade dos governadores, convenhamos, ocorreu na esteira de eventos negativos - acidentes/incidentes naturais no Rio, greves de policiais militares, epidemias, etc. Quem apareceu de maneira positiva ? Ninguém. Anastasia, sobre o qual se projetava a marca de exímio gestor, mergulhou. Renato Casagrande, do Espírito Santo, não é nem referência de passagem. Alckmin, em São Paulo, talvez seja o mais visível, particularmente por conta de eventos conjuntos com a presidente Dilma Rousseff, em São Paulo. Tarso Genro, no Rio Grande do Sul, fica distante dos eixos centrais. Perillo e Beto Richa, tucanos, parecem não terem ainda deslanchado. Cabral, do Rio, aparece sempre em meio a tragédias. E com a imagem de turista parisiense. Wagner, da Bahia, acaba de sair de uma greve. Quem ficou acima de cinco na régua ? Difícil dizer.
Tudo o que somos
"Morrer é deixar tudo o que temos e levar tudo o que somos".
Serra quase aceitando
E aqui estou eu novamente fazendo a recorrente leitura do quadro paulistano. Digo e repito : aqui nessa arena ocorrerá a mais sanguinolenta e emblemática luta eleitoral dos últimos tempos. Terá Lula, careca e curado, no comando de um exército; Alckmin, na vanguarda de outro; e Kassab, abrindo novas frentes na arena. Pois bem, a briga tende a se acirrar, caso José Serra, que sempre nega ser candidato, decida enfrentar o páreo. Este consultor soube que, nas últimas horas, ele deixou de refugar. Já não manda o interlocutor recolher-se ao silêncio. Mostra-se disposto a pensar. Serra está quase com a decisão pronta. Se sair, Kassab deverá recuar da ideia de fechar posição com o PT de Haddad. Daí a pressa de Serra para evitar a decisão de Kassab.
Rejeição nas nuvens
Caso Serra tope a parada, deverá enfrentar a maior luta de sua vida : contra ele mesmo. Tem uma rejeição altíssima, por volta de 35%. Significa que Serra deverá ajustar sua identidade, na esteira de um processo que demanda mudança de atitudes, comportamentos, ações, gestos, etc. José Serra não provoca simpatia.
O que mata um jardim
"O que mata um jardim não é o abandono. O que mata um jardim é esse olhar vazio de quem por ele passa indiferente". Mário Quintana.
Ministros na ordem unida
Em tempos idos, era fácil apontar o ministro com maior força, de maior prestígio, o mais simpático, o mais arrogante, etc. Nos últimos tempos, essa tarefa tornou-se difícil. Porque o governo gira em torno de dona Dilma. Que centraliza tudo, que dá as ordens, puxa a orelha, cobra, dá corda, motiva e desmotiva. Os ministros temem enfrentar a ira da presidente. O Ministério recolheu-se. Quem bota as manguinhas de fora pode levar bronca.
Mais ordem unida
A presidente Dilma recomendou, ontem, aos 15 partidos que compõem a base aliada - presentes à primeira Reunião do Conselho Político - que mantivessem a unidade. Que as eleições de outubro não fossem obstáculo para brigas partidárias. Estiveram presentes líderes e presidentes dos seguintes partidos : PT, PMDB, PSB, PSC, PP, PDT, PTB, PR, PCdoB, PRTB, PRB, PT do B, PRP, PSL e PHS.
Ansiedade
"Ansiedade é a incapacidade de saber o que é importante e o que não é".
Plasmando a cara
A cara do Ministério vai tomando a feição de dona Dilma. A nova ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, e a nova presidente da Petrobras, Graça Foster, são carne e unha com a presidente. De maneira lenta, segura e gradual, a comandante-em-chefe das forças do país vai escolhendo os seus generais e coronéis.
Magistrados em nova briga
Nem bem saíram da batalha sobre o CNJ, cujas funções queriam ver mais restritas, as associações de magistrados acenam com mais querelas. Querem, agora, lutar contra o Executivo por não aceitarem a criação do Fundo Complementar para os Servidores Públicos. As demandas dos magistrados, convenhamos, contribuem para expandir o contencioso que entope os canais da Justiça. Cada qual empresta sua cota para as curvas da Justiça.
Justos e pecadores
"Só há dois tipos de homens : os justos que se crêem pecadores e os pecadores que se crêem justos. Mas nunca sabemos em qual dessas categorias nos classificamos - se soubéssemos já estaríamos na outra". (Pequeno Tratado das Grandes Virtudes - André Comte-Sponville)
Governo sob pressão
O governo não tem cumprido o compromisso de mandar pagar as emendas dos parlamentares feitas no orçamento de 2011. A insatisfação das bases bate no teto. As ministras Ideli e Gleisi são uma pilha de nervos. Os deputados miram em três alvos : aprovação do Fundo Complementar dos Servidores Públicos, o Código Florestal e a Lei Geral da Copa.
Prócer e liderança
Historinha contada por Carlos Santos, em seu livro Só Rindo 2.
Auxiliar direto do governador Dinarte Mariz, Grimaldi Ribeiro apresenta-lhe outro político interiorano no Palácio Potengi :
- Este é um prócer político do Trairi - define.
Noutra oportunidade, utiliza vocábulo diferente :
- Governador, esta é um liderança política da região Oeste.
Intrigado com as constantes distinções, mas sem captar a sutileza da separação, o arguto Dinarte interpela Grimaldi : "Por que uns são próceres e outros lideranças ?".
Professoral, Grimaldi justifica :
- Governador, prócer só tem pose, e liderança é que tem voto.
Conselho aos foliões
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Judiciário. Hoje, sua atenção se volta aos foliões :
1. Tempo de folia é tempo de catarse, de alegria, de descontração, de convívio social. Aproveitem a folia carnavalesca, mas sem exageros que possam causar problemas ao físico e ao espírito.
2. Que o carnaval lhes proporcione viver momentos de relaxamento e lazer ao lado de familiares, amigas e amigos.
3. E que voltem ao espaço do labor com disposição e o compromisso de realizar bem as suas tarefas e funções. Pelo seu bem e pelo bem da sociedade !
____________