Jânio Quadros
Abro a coluna com a figura inesquecível de Jânio Quadros. Nelson Valente acaba de escrever mais um livro sobre o ex-presidente : Jânio Quadros, O Estadista. Jornalista, pesquisador, autor de 14 livros sobre Jânio, Valente confessa jamais ter convivido com "pessoa tão inteligente e de personalidade tão complexa". Deste magnífico livro, pinço passagens curiosas. Jânio gostava de cães. Tinha alguns em casa, Guri e Totó, entre eles. Nomes bem brasileiros. Dizia : "Sempre desconfiei de cachorro com nome sofisticado. Cachorro nacional tem que se chamar mesmo Joli, Sultão, Jagunço, Toco. Minha vizinha tem uma cadela chamada Blue Gardênia. Não confio nesse bicho. Conheço uma cadela chamada Sonata. Confio menos ainda".
Falta de terra
Caso engraçado, que alguns atribuem ora a Jânio, ora a seu candidato a vice-presidente, o mineiro Milton Campos. Jânio tinha pavor das viagens aéreas. Certa feita, lívido, apertava fortemente a mão da esposa. Eis que a comissária, prestativa, se aproxima e pergunta :
- Presidente, o senhor está sentindo falta de ar ?
A resposta veio pronta :
- Não, minha senhora, o que eu estou sentindo é falta de terra !
Sinceridade
O relato é de Nelson Valente : "por formação e tendência, Jânio, ao longo da sua vida política, jamais escondeu ou disfarçou o pensamento que tange às coisas do interesse público. Jânio dizia :
- Tenho desgostado a alguns e contrariado a não poucos. Faço-o insatisfeito por vezes, das insatisfações que provoco, mas recolhendo, no extremado culto da verdade, a certeza de não enganar os que me interpelam, a segurança de não ludibriar o Povo. Semelhante norma de conduta submete-me, amiúde, a querelas doutrinárias, facilmente arredáveis ou postergáveis. Ao falso, prefiro o genuíno, ainda que áspero. Ao polido, o exato. Ao fosco, a crua luz do Sol."
Reforma ministerial
Vem aí uma reforma ministerial. Dezembro ? Seria pouco viável em função das festividades de fim de ano. Deixar ministros sem cargo seria, convenhamos, uma decisão desumana. A reforma poderia ocorrer em janeiro ou, no máximo, fevereiro. Espera-se que a mudança contemple mais coisas que a simples troca de nomes. Abrigaria, como se comenta nos bastidores, enxugamento de estruturas e redefinição de funções. Vejamos o teor de algumas projeções.
Enxugamento
Diz-se que as 38 Pastas seriam reduzidas para umas 30. Ou até menos. Como poderia isso ser feito quando a tendência aponta para a extensão da estrutura para atendimento às demandas partidárias ? O raciocínio é o seguinte : o enxugamento da estrutura ministerial significará encolhimento de todos os entes partidários na máquina. Não significa perda para cada partido, pois todos serão atingidos. Seriam obedecidos critérios de porte e força partidária. Ou seja, as perdas seriam repartidas com cada um e, assim, os espaços de poder continuariam a contemplar de maneira isonômica os entes partidários. Fala-se numa modelagem com foco na concentração/integração de áreas temáticas comuns.
Integração
Vejamos alguns exemplos : a Casa Civil voltaria a ser aquela Pasta com funções clássicas de atendimento às demandas políticas e coordenação dos Ministérios. Incorporaria, assim, o Ministério das Relações Institucionais. As Pastas voltadas à defesa da Mulher (Secretaria Especial de Política para a Mulher), Promoção da Igualdade Racial e Direitos Humanos seriam concentradas em um único Ministério : Direitos Humanos. A Pasta da Agricultura seria adensada com as Pastas da Pesca e do Desenvolvimento Agrário. Esportes, Turismo e Cultura poderiam ser também agrupados. As Comunicações e os Transportes formariam o Ministério da Infraestrutura. Até o Ministério do Trabalho poderia sofrer transformações. Seria incorporado à Pasta da Previdência. Esta possibilidade é remota, segundo alguns, pela importância da Pasta na moldura governativa e posição forte adquirida pelas Centrais Sindicais. Há uma proposta para mexer com todo o corpo do governo. De alto impacto.
Cadê a coragem ?
Comenta-se, porém, que falta disposição para uma reforma em profundidade. Teme-se que a acomodação das placas tectônicas do terremoto ministerial demoraria muito tempo.
Cuidado com o panga !
Estamos importando lixo dos Estados Unidos. Lençóis usados por veteranos de guerra se transformam em roupa de cama em hotéis de Pernambuco. Pois bem, agora estamos importando porcarias da Ásia. Um tal peixe chamado Panga ou Peixe-Gato. Recebi grave denúncia. Esse peixe vem do delta do rio Mekong e está infestado de venenos e bactérias - arsênio dos efluentes industriais e tóxicos e de metais pesados. O rio Mekong é um dos mais poluídos do mundo, sendo aquele em que foi despejado o "agente laranja", desfolhante e cancerígeno.
Um poço de doenças !
Os pangas são alimentados com restos de peixes mortos, ossos e de solo seco, transformados em farinha com mandioca e resíduos de soja e grãos. Alimentação idêntica ao que gerou o vírus da "vaca louca". O peixe recebe cargas de hormônio (PEE) que dá capacidade de produzir 500 mil ovos de uma vez. O denunciante arremata : "ao abrir uma posta do peixe, notei que a massa estava impregnada de filamentos. Colhi uma amostra e levei para análise. Os filamentos, na verdade, eram vermes de até 2 centímetros".
EXPO 2020
O prefeito Gilberto Kassab está em Paris onde participa, hoje, às 14h30, na sede da OCDE, da primeira apresentação de São Paulo como candidata à cidade-sede da Exposição Universal 2020. Trata-se do início da campanha diplomática que culminará na eleição da cidade-sede no segundo semestre de 2013. Além de São Paulo, Izmir (Turquia), Ayutthaia (Tailândia), Yekaterinburg (Rússia) e Dubai (EAU) concorrem ao direito de sediar o terceiro maior evento internacional em termos de impacto cultural e econômico - atrás apenas de Copa do Mundo de Futebol e Jogos Olímpicos. O tema de 2020 é : "Poder da Diversidade - Harmonia para o Crescimento". A Exposição Universal se iniciou em 1851, no Palácio de Cristal, em Londres, Inglaterra, ganhando fama como marco para grandes descobertas mundiais e ideias inovadoras nas mais variadas áreas de atuação. Caso São Paulo seja a cidade escolhida, será a primeira vez na história da exposição que o evento acontecerá no Hemisfério Sul.
O centro de Pirituba
Caso São Paulo ganhe a disputa, a Expo será realizada no Centro de Convenções de Pirituba, que ocupará área de mais de cinco milhões de metros quadrados, distribuídos entre centro de conferências, área de exposições, shopping center, hotéis, instalações e serviços. Projetado para ter quatro vezes o tamanho do Anhembi. A última edição da Exposição Mundial aconteceu em 2010, em Xangai, na China, e levou para os pavilhões 73 milhões de pessoas, sendo a maior da história.
Reforma política
O projeto de reforma política, relatado pelo deputado Henrique Fontana (PT-RS) será objeto de muitas alterações. Como a reforma política bate de frente em muitos interesses, o mais provável é que se chegue a um meio termo. Nesse sentido, a proposta do PMDB seria a mais viável : financiamento público e privado; voto em lista para 50% das vagas e voto majoritário, sem adoção do coeficiente eleitoral, para os outros 50%. Significa o seguinte : os candidatos com maiores votações nos Estados, independentemente do coeficiente eleitoral, seriam os eleitos.
PSB e Ciro
A novidade da semana é a volta de Ciro Gomes ao foro político. Depois de um jejum silencioso, Ciro retoma o ritmo, falante a faceiro, para dizer que quer ser candidato à presidente, em 2014, apesar de reconhecer que Eduardo Campos, o poderoso governador de Pernambuco, tem mais chances de ser o indicado pelo PSB. Campos não quer dar opinião sobre a fala de Ciro. Como é sabido, o neto de Arraes arrasta o pé pelo país, abrindo conversas, articulando, desenhando cenários, fazendo projeções para 2012 e 2014. Este consultor antecipa : Eduardo Campos fechou posição em torno de Henrique Alves, líder do PMDB, que pleiteia ser o próximo presidente da Câmara.
E Serra, hein ?
Para onde irá José Serra ? Que caminho trilhará ? Continua a enxergar as colunas do Palácio do Planalto ou começa a olhar para o prédio da Prefeitura de São Paulo no Viaduto do Chá ? A versão, em seu entorno, é a de que ele, José Serra, quer algo além da prefeitura. Este consultor faz provocações constantes sobre o futuro de Serra. Tenho dito que a ficha vai cair e ele acabará descobrindo que a alternativa mais conveniente é a da Prefeitura. Nos últimos dias, recebi um aviso : ele não topará. Pois bem, então vai ter de disputar o Senado, enfrentando Eduardo Suplicy. Já se sabe que o senador Aécio Neves tem, hoje, o apoio da cúpula tucana para ser o candidato do partido em 2014. Aécio começou a tricotar sua candidatura com afiada agulha.
Campanha paulistana
Se Serra não entrar no páreo paulistano, quem será o candidato tucano ? Zé Anibal, dizem, por ter a maior quantidade de votos junto aos núcleos que integram o Diretório Municipal. Este consultor acha que o eleitor mais forte para decidir o imbróglio se chama Geraldo Alckmin, o governador. Será candidato quem ele quiser. Dizem que se inclinaria por Bruno Covas. Mas o rapaz é jejuno. Poderia esperar mais um pouco. É o que dizem a Alckmin, que começa a vê-lo assim. Se der muita confusão, a solução seria pinçar o nome de Guilherme Afif, o vice-governador, do PSD de Kassab. Com essa solução, Geraldo fecharia, logo, o acordo para 2014, sendo apoiado pelo PSD.
E as possibilidades ?
Fernando Haddad, do PT, e Gabriel Chalita, do PMDB, teriam boas chances, se Guilherme Afif não for o candidato. Ambos se enquadram na categoria de perfis novos, com possibilidades de causar sensação. Tudo vai depender do clima político e econômico de 2012. E, claro, da mídia eleitoral. Quem dispuser de um bom tempo na programação eleitoral - 5 a 6 minutos - terá grandes chances de entrar no segundo turno.
Navios à vista na Copa ? Ainda não
A Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (ABREMAR) recebeu nesta semana, para um almoço em Campinas, a Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados (CTD). Representada pelos deputados Jonas Donizette (PSB-SP) e Romário (PSB-RJ), a comissão, que visitava a cidade por ocasião do Fórum Legislativo sobre os Centros de Treinamento das Seleções, conheceu um pouco melhor o setor de Cruzeiros Marítimos. Presente no encontro, o senador Benedito de Lira (PP-AL), presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado, afirmou que os grandes eventos não são importantes apenas para aumentar o número de visitantes no país, mas pelo legado que geram.
Faltam acertos
Ainda não existem tratativas consistentes para que os navios venham ao Brasil durante os grandes eventos, para complementar a oferta de leitos em algumas cidades. Para Ricardo Amaral, presidente da Abremar, as autoridades devem traçar um plano claro para desenvolver o turismo no País como um todo. Diz ele : "hoje, as empresas já estão programando seus roteiros para os anos de 2013/2014. Então, se não ocorrerem manifestações consistentes por parte dos interessados ainda no primeiro semestre de 2012, dificilmente teremos navios presentes na Copa do Mundo".
O tiro
A gozação se espalhou rápida no meio da rapaziada do Ipu/CE. O velho Faca Cega foi submetido à lâmina do dr. Benjamin Hortêncio, que amputou, quase pelo tronco, seu órgão genital. Faca Cega, tipo popular, detestava a alcunha. A operação era motivo de galhofa. E ocorreu um mês após seu casamento. Conta Leonardo Mota, em seu Sertão Alegre : "se o mero consórcio provocara picarescos comentários, imagine-se o que foi a maledicência ao se divulgar o que Faca Cega sofreu nas mãos do cirurgião. E as murmurações culminaram quando, um ano depois, a mulher do mutilado começou a apresentar os iniludíveis sintomas da maternidade.
Nessa atmosfera de zombarias impiedosas, Faca Cega se dirigiu ao Padre Feitosa e lhe pediu uma hora para o batismo do filho. Espírito folgazão, o velho sacerdote, que jogava o gamão à calçada, fungou uma pintada e gracejou :
- Mas, que história é essa ? Depois duma operação como aquela sua, você ainda consegue ser pai ?
Risada geral. Pachorrento, Faca Cega retrucou :
- Eu me admiro, Padre Feitosa, é de o senhor, um padre velho, homem prático na vida, vigário no sertão há tantos anos, ignorar que o tiro não saiu do cano e, sim, da culatra.
Conselho ao ministro Carlos Lupi
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta ao ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi :
1. Políticos e governantes têm uma vida útil nos territórios em que imperam. O ciclo de vida abriga as seguintes fases : apresentação/lançamento; crescimento; consolidação/maturidade; clímax e declínio.
2. O ator político deve se esforçar para esticar as fases de seu ciclo de vida. Nem sempre conseguem. O declínio, frequentemente, emerge mais cedo.
3. Quando isso ocorrer, a alternativa do político/governante deve ser a de saída de seu território e o ingresso em um novo espaço político. Portanto, os políticos devem administrar muito bem seu ciclo de vida. E saber quando é hora de partir.
4. Ministro Lupi : com todo respeito, chegou a hora de Vossa Excelência voltar ao seio partidário e recomeçar atividades como comandante do PDT.
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