Um sonho com Deus
Era o ano de 2006. A campanha ao governo de Alagoas estava "fervendo". Um candidato muito conhecido no Estado pelas presepadas, cujo nome, por motivos óbvios aqui se omite, liderava as pesquisas. Era considerado imbatível. Último debate eleitoral na TV Gazeta. O apresentador passa a palavra ao mais que provável vencedor :
- Candidato, após esta intensa campanha eleitoral, o senhor tem 30 segundos para as considerações finais. Fique a vontade para falar.
O candidato jorrou :
- Povo de Alagoas, ontem eu tive um sonho. Neste sonho, Deus meu dizia : "doutor (fulano de tal), construa hospitais para o sofrido povo deste Estado.
A seguir, o apresentador passou a palavra ao outro candidato. Que usou a verve :
- Povo de Alagoas, quem sou eu para disputar uma eleição com um homem que Deus o trata por doutor ? O candidato (fulano de tal) disse há pouco que falou com Deus e Deus disse : doutor fulano de tal. Ora, se Deus chama o meu adversário de doutor, reconheço que não posso fazer melhor do que ele. Vocês não acham que o adversário (fulano de tal) já se considera nomeado por Deus ?
E foi assim que o candidato (fulano de tal), líder absoluto nas pesquisas, conheceu a derrota. Perdeu para a própria arrogância.
Historinha enviada por Manoel Pedrosa.
No fio da navalha
A política é um caminho com muitos desvios. Frequentemente, as curvas se interpõem diante das retas. E conduzem o caminhante ao despenhadeiro. Vejam só. O ministro mais poderoso do governo, Antonio Palocci, vinha navegando em voo de cruzeiro e em céu de brigadeiro. De repente, uma tempestade tira o avião da rota. A nave, desnorteada, descamba à procura de um espaço onde aterrissar. Seu pouso, seja qual for o lugar, não será tranquilo. O piloto tem condições de se salvar ? Sim, porém restritas. Dependem de sua habilidade em administrar a tempestade. Ou, em outros termos, o ministro está andando sobre o fio da navalha. Chegará ao cabo sem receber cortes ?
Segundo round
Este é o segundo round que deixa o ministro Palocci quase nocauteado. O primeiro ocorreu por ocasião da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo. Palocci entrou em profundo inferno astral - que demorou longos meses - mas se recuperou. Graças ao talento, à capacidade de articulação e ao bom trânsito em todas as áreas. Trata-se de um médico que domina bem as entranhas da economia. É respeitado nas frentes empresariais. Por isso mesmo, foi bem acolhido como consultor. Saiu-se bem. A rigor, não há proibição que faça consultoria. Menos, claro, para contratantes que tenham negócios com o Estado. Poderia o consultor esbarrar no perigoso terreno do conflito de interesses. E, agora, o que resta a Palocci fazer ? Dizer a quem prestou consultoria. Ele alega que não fez nada de errado. Portanto, não deve temer a análise do caso pela Controladoria-Geral da União e pela Comissão que trata da ética dos servidores do Estado.
Verdade e versão
Brecht já dizia que há 5 maneiras de contar a verdade. Mas uma versão sempre mais verdadeira. Este consultor já teve oportunidade de tratar de muitas crises. E sempre lembrou aos atores políticos e empresariais que devem procurar a versão mais convincente. A que tem dados consistentes. Vejam bem : DNA de Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor-gerente do FMI, foi encontrado na gola da roupa da camareira do hotel, que o acusa de crimes sexuais. E ele se diz inocente. Há casos em que as versões não resistem à uma irrefutável prova. Será interessante verificar a desculpa do francês para o DNA flagrado.
Governo menos poderoso
O affaire Palocci tem o condão de esgarçar a força do governo. Que precisa mais jogo de cintura para relacionar-se com o Congresso. E capacidade para evitar que o caso contamine a imagem geral do governo. Imagem, é oportuno reconhecer, com boa aceitação pública, graças ao estilo técnico e discreto da presidente Dilma. Esse capital começa a ser corroído. Mesmo com o escudo de proteção feito pela base parlamentar do governo. Que, é claro, deve cobrar os pleitos feitos junto a Palocci. Por conseguinte, o sistema de compensações será acionado.
Artilharia pesada
Nos últimos dias, a mídia tem calibrado a artilharia pesada sobre membros do governo e do Parlamento. Os últimos cartuchos procuram atingir o ex-presidente Luiz Inácio (caso de amigos do presidente em Campinas) e o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Acusado pelo MP por dispensa de licitação para construção de casas populares quando era prefeito de BH.
Cachorro ? Não
"Não me chame de cachorro, não mereço tão alto qualificativo, pois não sou tão fiel nem tão leal, sou só humano". (Colaboração de Álvaro Lopes)
Terceirizadas estranguladas
O governo vai apertando o laço que sufoca as empresas terceirizadas. O índice dos reajustes de seus contratos, que já foram celebrados por preços muitas vezes abaixo do exequível, está sendo efetuado com base no IPC da FIPE. Este índice mede a variação de preços para o consumidor na cidade de São Paulo com base nos gastos de quem ganha de um a vinte salários mínimos, e que tem girado em torno de 6%. Como os dissídios chegaram até 15%, a lucratividade, que já era ruim, torna-se pior. Muito cuidado com o andor. Se estas empresas quebrarem, a conta acabará sobrando para o próprio Estado, não só a parcela trabalhista mas a do dano social causado pelo fechamento das prestadoras de serviços. Às autoridades, fica o alerta para rever a equação.
Poupadores
Uma das maiores causas na mesa de julgamento do STF diz respeito aos direitos dos poupadores na questão sobre correções dos planos econômicos entre 1986 e 1991. A causa ultrapassa a conta dos R$ 280 bilhões. Trata-se de quantia que sangraria o país e com consequências drásticas sobre os programas em ação. Por isso, este consultor tende a acreditar que o viés político estará em jogo. O presidente Cezar Peluso promete votar o imbróglio. A conferir.
Luta pela PEC 457
Esta Coluna registra, mais uma vez, a frente de lutas pela aprovação da PEC 457/05, que propõe alterar o art. 40 da CF relativo ao limite de idade para o servidor público se aposentar. Vamos ao fato nuclear : hoje, o servidor se aposenta aos 70 anos, idade em que a pessoa chega ao clímax de seu ciclo de vida. A aposentadoria compulsória do servidor público aos 70 anos significa também um monumental prejuízo aos cofres do Tesouro nacional. Basta ver apenas o cenário intermediário desenhado pela FIESP. A economia seria de R$ 1,4 milhão se o período de trabalho fosse estendido para 75 anos por trabalhador por ano. Em um período de 5 anos, esta economia chegaria aos R$ 2,4 bilhões, somente para o governo Federal. O presidente da FIESP, Paulo Skaf, lidera a luta pela aprovação da PEC 457.
Aécio no comando
Aécio Neves joga pesado para controlar o PSDB. Dia 28, será o Dia D, xxx Convenção Tucana. Neves quer impor seu grupo no comando. Acha que a era Serra acabou. E que chegou sua vez. Conta com leve simpatia de Geraldo Alckmin.
Lobby
O projeto legalizando as atividades de lobby deverá voltar à mesa do debate logo, logo. Trata-se de matéria amplamente consolidada em Nações democráticas. Nos Estados Unidos, a prática se incorporou às rotinas congressuais. Aí, ex-parlamentares transformam-se em lobistas.
Três projetos
Ademais, o Congresso deverá apressar a votação de três projetos sobre conduta de servidores públicos : tornar crime o enriquecimento ilícito de agentes públicos; definir situações em que há conflito de interesses públicos e privados e ampliar a punição a servidores envolvidos em irregularidades. Esses projetos foram apresentados em 2005, 2006 e 2009. Depois de passarem pela Câmara, deverão esticar a fila no Senado.
Quiçá e cuíca
Benedito Valadares, governador, foi a Uberaba para abrir a Expozebu. E passou a ler o discurso preparado pela assessoria. A certa altura, mandou ver : "cuíca daqui saia o melhor gado do Brasil". Ali estava escrito : "quiçá daqui saia o melhor gado". A imprensa caiu de gozação. Passou-se o tempo. Tempos depois, em um baile na Pampulha, o maestro, lembrando-se do famoso discurso na terra do zebu, começou a apresentar ao governador os instrumentos da orquestra. Até chegar na fatídica cuíca. E assim falou : "e esta, senhor governador, é a célebre cuíca". Ao que Benedito, querendo dar o troco, redarguiu com inteira convicção :
- Não caio mais nessa não. Isto é quiçá !
Historinha enviada por J. Geraldo
Paulo Egydio conta
O livro "Paulo Egydio conta" é um precioso documento sobre parcela importante da história contemporânea do país. Trata-se de um rico depoimento que o ex-governador paulista (1975 - 1979) dá a pesquisadores da FGV. Ele narra episódios e bastidores da política, descreve as tensões e turbulências do início de seu mandato, quando ocorreu o assassinato do jornalista Vladimir Herzog e, meses depois, o do operário Manuel Fiel Filho. Narra sua versão sobre a polêmica invasão da PUC e interpreta diversos momentos daqueles tempos de chumbo.
Episódios de ontem
Um dos episódios mais curiosos, narrados por Paulo Egydio, foi a saída do general Ednardo D'Ávila do comando do II Exército e sua substituição pelo general Dilermando Monteiro. Na transmissão do comando, Ednardo, em protesto, não usou o procedimento de transmitir o comando ao general Ariel Pacca da Fonseca, que ficou alguns dias até a chegada do general Dilermando. Com o qual, "acabaram os boatos e não se ouvia mais falar do DOI-CODI". O ex-governador conta que foi ele a dar posse a Lula como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. E conta : "admirei a figura do Lula, que se apresentava como sindicalista totalmente contrário ao peleguismo getuliano. ... Fui fazer uma homenagem e acabei convidado a dar posse a ele. Um gesto de deferência". Ganhei o livro do sobrinho de Paulo Egydio, André Pousada.
Eita, Brasil
Um sujeito comprou uma geladeira nova e para se livrar da velha, colocou-a em frente a casa com o aviso : "De graça. Se quiser, pode levar". A geladeira ficou três dias sem receber um olhar dos passantes. Ele chegou à conclusão : ninguém acredita na oferta. Parecia bom demais pra ser verdade. Mudou o aviso : "geladeira à venda por R$ 50,00". No dia seguinte, a geladeira foi roubada !
Historinha enviada por Álvaro Lopes
Conselho ao ministro Palocci
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos olimpianos. Hoje, sua atenção se volta ao ministro Antonio Palocci :
1. Apesar da cláusula de sigilo posta nos contratos para os clientes de sua consultoria, sua palavra é, neste momento, absolutamente imprescindível. A nota de esclarecimentos que veio a público é insuficiente para atenuar a onda crítica da mídia e das oposições.
2. Quem não deve não teme. Se vossa excelência agiu de acordo com a lei, não há razão para evitar explicações.
3. A negativa de dar entrevistas sobre o caso apenas vai adensar a pauta crítica.
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