COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Porandubas Políticas >
  4. Porandubas nº 270

Porandubas nº 270

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Atualizado às 07:58

"O carro atolou-se"

Walfredo Paulino de Siqueira foi um típico coronel da política pernambucana. Escrivão de polícia, comerciante, deputado, industrial, presidente da Assembleia, vice-governador de PE. Era uma figura folclórica, como conta Ivanildo Sampaio, diretor de redação do Jornal do Commercio, de Pernambuco, e meu contemporâneo na faculdade. Um dia, dois eleitores discutiam sobre o uso da partícula "se". O exemplo era com um automóvel que ficara preso em meio a um atoleiro. O primeiro afirmava que a forma correta de expressar-se era falar que "o carro atolou-se"; o outro insistia que não; o correto era "o carro se atolou". Consultado, Walfredo deu a sentença salomônica :

- Escutem aqui. Se os pneus que ficaram presos foram os dois da frente, o correto é dizer que "o carro se atolou". Se foram os pneus traseiros, a gente fala assim : "o carro atolou-se". Mas, acontecendo de ficarem presos os quatro pneus, os de frente e os de trás, então, meus filhos, a forma correta mesmo é "o carro se atolou-se"...

FHC X Lula

Lula não deixa a peteca cair. Se Fernando Henrique diz algo que possa ser considerado polêmico ou, ainda, que renda dividendos ao lulismo, o ex-presidente abre o verbo. O sociólogo, em artigo para uma revista, defendeu o ponto de vista de que as oposições deveriam se afastar da massa carente e focar na classe média. Chegou, até, a usar a expressão "povão", para deixar mais claro o pensamento. Lula arremeteu : Fernando Henrique, como o ex-presidente João Figueiredo, não gosta do "cheiro do povo", mas do cheiro de cavalo (Figueiredo apreciava equitação). A resposta não tardou por vir : "Lula esquece que o derrotei 2 vezes. E topo outra disputa, se ele quiser". Ora, essa algaravia só serve para acalentar bovinos. Lula e FHC gostam de desembainhar suas espadas. E esgrimi-las em público. O primeiro quer palco. O segundo deseja energizar as oposições.

FHC e o conceito

Sobre a ideia de PSDB, DEM e PPS focarem sua atenção na classe média, o sociólogo tem inteira razão. Meu último artigo dominical no Estadão - Classe Média, Povão e Lorota - procura, à luz dos conceitos de classes médias, partido político e massas, examinar os aspectos concernentes ao argumento exposto pelo ex-presidente FHC.

O maior racha dos tucanos

O PSDB vive o maior racha de toda sua história. Em São Paulo, a fenda é enorme. De um lado, está a ala comandada pelo governador Geraldo Alckmin e, de outro, a banda que fica sob controle do ex-governador e presidenciável José Serra. Estas alas não se toleram. A rixa é histórica. Os alckministas sempre foram desprezados pelos serristas e vice-versa. O episódio mais bombástico se deu com a saída do PSDB de 5 (pode chegar a 7) vereadores tucanos. O Diretório Municipal é presidido, hoje, pelo deputado Julio Semeghini, que faz parte do secretariado de Alckmin. Por trás dessa saída, atua de maneira habilidosa, como sempre o prefeito Gilberto Kassab.

PSDB perdeu a biruta

A biruta, o instrumento que mostra, nos aeroportos, o caminho do vento, foi perdido pelo PSDB. O presidente do partido, deputado (ex-senador) Sérgio Guerra é um cego no meio do tiroteio. Quer renovar o mandato na condução do tucanato e deve levar a melhor. Serra, pleiteante do cargo, não teria o endosso de caciques como Aécio Neves e Tasso Jereissati. Alckmin, mesmo governando o Estado mais poderoso do país, tem influência limitada. Trata-se de perfil alheio aos embates na arena política. Foca sua atenção na administração. FHC aponta rumos mas o partido não fisga a ideia.

DEM em apuros

Quem também está em apuros é o DEM. Míngua a olhos vistos. Seu presidente, o senador José Agripino, do RN, tem perfil diplomático, sabe ouvir e argumentar. Será difícil resgatar a densidade do velho PFL. A questão é : poucos políticos resistem a mandatos continuados dentro do túnel escuro das oposições. O rolo compressor do governismo devasta os espaços oposicionistas. Deputados e senadores ficam praticamente sob a proteção única do verbo. Tiram-lhes as verbas orçamentárias. Sem recursos para atender as bases, vêem suas forças quebradas. Vivemos cada vez mais o ciclo da micropolítica, a política das pequenas coisas, das demandas locais e regionais. Se as demandas não são atendidas, os políticos são forçados ao canto do ringue.

Filosofia do Vitorino

Vitorino Freire, ex-manda chuva e filósofo do Maranhão :

- Quando o pasto pega fogo, preá cai no brejo.

- O risco que corre o pau, corre o machado.

- Não quero que ajudem meu roçado. Só quero que os bois do vizinho não entrem nele.

- O Sarney não conhece o tamanho do meu roçado. De um lado da cerca eu grito e ele não ouve do outro lado.

- Política no Maranhão é um bumba-meu-boi que não sai sem mim.

Oposições somadas : 96

O calculo é de que as oposições deverão ficar com apenas 96 parlamentares, o menor número dos últimos 16 anos. Vejam : no primeiro e segundo mandatos de FHC, somavam 108; no primeiro mandato de Lula, as oposições chegaram a fazer 159 deputados; no segundo mandato, o número caiu para 147; na posse de Dilma, as oposições tinham 108 e agora estão em 96.

Cena municipal em SP (I)

Lula tem uma crença : estampa nova é novidade e gera interesse. Foi assim que apostou em Dilma. Agora, a estampa nova da vez se chama Fernando Haddad. Ele é o candidato in pectore de Lula para disputar a prefeitura de São Paulo, em 2012. Contra ele, no PT, há Aloizio Mercadante, atual ministro da Ciência e Tecnologia, Marta Suplicy, senadora. Fala-se, ainda, em Alexandre Padilha, ministro da Saúde, mas este não tem porte, perfil, flexibilidade e vocação. Da parte do PSDB, quem demonstra mais fôlego é o secretário de Energia do Estado de São Paulo, deputado José Aníbal, que já teve uma boa votação para o Senado.

Cena municipal em SP (II)

O prefeito Kassab aprecia bastante a arte de jogar balões. Para ver que efeitos e curiosidade provocam na opinião pública. Lançou, até o momento, estes nomes para a prefeitura : Guilherme Afif Domingos, vice-governador e secretário de Estado; Eduardo Jorge (PV), seu secretário do Verde e Meio Ambiente; Francisco Luna, seu secretário de Planejamento e (pasmem!) Henrique Meirelles, que será a Autoridade Pública Olímpica. Despiste ? Disfarce ? Quem desses é o nome in pectore do prefeito ? Da parte do PMDB, o perfil mais adequado e forte seria o de Paulo Skaf, que já mostrou fôlego na política, ao disputar o último pleito para o governo de Estado. Com apenas um minuto, Skaf obteve 1.038.430 votos, ou seja, 4,56% dos votos válidos. Outro nome é o do deputado Gabriel Chalita, hoje no PSB, que tem a intenção de migrar para o PMDB. Tem história, perfil e carreira muito ligadas ao governador Alckmin.

Sem pauzinho

João Almeida deputado mineiro, Fortunato Pinto Júnior, jornalista e ghost writer, escrevia seus discursos. Sábio e bom, o doce coronel só não gostava de proparoxítonos :

- Tininho, não bota no discurso palavra que tem um pauzinho lá atrás, porque a dentadura cai.

Fadiga de material

Este consultor tem usado recorrente análise sobre a moldura político-institucional. O copo está quase transbordando. Estamos fechando um ciclo da política. A sociedade não aguenta mais ouvir desculpas. Fala-se muito em reforma, renovação de métodos, mudança. Mas o clamor social não recebe respostas adequadas. As reformas não saem. Projetos há, mas não ganham consenso. E assim a fadiga de material exibe suas marcas no tempo. Essa fadiga se projeta também nos campos governamentais e nos Estados. Há cansaço nas esferas da administração Federal e em alguns Estados. Depois de 12 anos de um sistema no poder, o sinal amarelo surge no horizonte. Muito tempo de poder corrói as portas dos Palácios. Cuidado, partidos.

Lula 70% mais

Lula gastou 70% mais em publicidade, no final do mandato (2010), que Fernando Henrique. Em 8 anos, foram R$ 10 bilhões. Lei da propaganda : repetição é a medida da eficácia.

Infraestrutura patina

As obras de Infraestrutura destinadas aos empreendimentos da Copa, em 2014, e da Olimpíada, em 2016, continuam patinando. Os investimentos ainda não chegaram ao índice de 5% dos recursos previstos. Cadê você, Henrique Meirelles, a Autoridade Olímpica, que tem a missão de fazer correr o fluxograma ? Coitado, ainda dorme na rede da burocracia. Sua APO ainda não foi criada legalmente.

Colombo no PSD ?

Há quem diga que o governador Raimundo Colombo (DEM) não aguentará ficar no partido. Jorge Bornhausen estaria fazendo pressão por sua saída e ingresso no PSD.

Cuba vê a China

Cuba quer se espelhar no modelo chinês de comunismo. Mas faltam condições. Não adianta apenas querer. Os jovens que Fidel pensar entronizar no poder não farão milagres. Cuba é uma pequena ilha cheia de grandes carências e de monumentais atrasos.

Drible na fiscalização

Governo Federal pensa em mudar a lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) por meio de um artigo que esvaziaria o poder dos auditores do Tribunal de Contas da União. Esse é o Brasil. Se os controles são mais severos, a solução é driblá-los. Famoso jeitinho brasileiro.

Reforma política ? Tá brincando

O interlocutor se aproxima do político e pergunta : e aí, desta vez, a reforma política passa ? Todos, senadores e deputados, parecem mais entusiasmados. O parlamentar responde : "Tá brincando. Não vai dar". Ou seja, para a maioria parlamentar, mudar as regras do jogo é suicídio. E o que pode ser aprovado ? Coisas pontuais. O financiamento público de campanha, por exemplo, deverá ser aprovado. Ou o fim das coligações proporcionais. Voto em lista ou distritão é matéria polêmica. Não passarão. A não ser que se faça a costura de alhos com bugalhos.

Aécio flagrado

Ninguém tem o direito de ser contra o fato de um político prezar a boemia. Mas, homem público deve prestar contas de seus atos. Mesmo atos privados, quando flagrado em tramoia. O senador Aécio Neves até pode recusar o bafômetro. É um direito dele. Mas a recusa depõe contra sua imagem. Derruba o argumento de que o bom exemplo vem de cima. Se Aécio pode se negar a fazer o teste do álcool, por que não posso eu também negar ? Esse é o senso comum.

Cofre cheio

Em março, a arrecadação de impostos e contribuições Federais totalizou R$ 70,984 bilhões. O resultado supera a média de R$ 68,300 bilhões. A arrecadação de impostos e contribuições Federais cobradas pela Receita Federal apresenta, no 1º trimestre deste ano, crescimento de R$ 35,740 bilhões em relação ao mesmo período do ano passado. A arrecadação saltou de R$ 190,454 bilhões, de janeiro a março de 2010, para R$ 226,194 bilhões. Dinheiro para a gastança. E enfeite do Estado Espetáculo.

O verbo não "vareia"

A Câmara Municipal de Paulista (PE) vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista intervém, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens".

- Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa.

- Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo, e verbo não "vareia".

Mais uma historinha de Ivanildo Sampaio.

Conselho ao ex-presidente Lula

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos educadores de todo o país. Hoje, sua atenção se volta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva :

1. Tenha mais cautela nas afirmações, declarações, acusações e insinuações que expressa.

2. A matéria da revista Veja mostrando a influência do advogado Roberto Teixeira, seu amigo, que teria insinuado corrupção por parte do ministro Cesar Asfor Rocha, do STJ, merece maiores esclarecimentos. Verdade ou prevaricação, é a indagação da revista. Que fica sem resposta. E se for verdadeira a insinuação de corrupção, não seria condenável a atitude do advogado ao procurar o ministro ?

3. Urge avaliar melhor as novas tarefas políticas a serem desenvolvidas por Vossa Excelência. Um ex-presidente da Republica há de cumprir uma liturgia do poder, evitando ações estrepitosas. Use seu carisma para melhorar os costumes da Nação.

____________