Bom dia
Cosme de Farias foi um grande advogado dos pobres da Bahia. Enveredou também pela política. Vereador e deputado estadual por muito tempo. Vejam a historinha.
Um ladrão entrou na Igreja do Senhor do Bonfim e roubou as esmolas. Cosme de Farias foi para o júri :
- Senhores jurados, não houve crime. Houve foi um milagre. Senhor do Bonfim, que não precisa de dinheiro, é que ficou com pena da miséria dele, com mulher e filhos em casa com fome e lhe deu o dinheiro, dizendo assim :
- Meu filho, este dinheiro não é meu. Eu não preciso de dinheiro. Este dinheiro foi o povo que trouxe. É do povo com fome. Pode levar o dinheiro.
E ele levou. Que crime ele cometeu ? Se houve um criminoso, o criminoso é o Senhor do Bonfim, que distribuiu o dinheiro da Igreja. Então vão buscá-lo agora lá e o ponham aqui no banco dos réus. E ainda tem mais. Senhor do Bonfim é Deus, não é ? Deus pode tudo. Se ele não quisesse que o acusado levasse o dinheiro, tinha impedido. Se não impediu, é porque deixou. Se deixou, não há crime.
Cosme de Farias ganhou no verbo. O réu foi absolvido.
Campanha antecipada
A campanha para a presidência está nas ruas. E na mídia. Dilma leva vantagem. Todos os espaços do PT estão cedidos a ela. Nos spots televisivos e radiofônicos, ela recebe uma fala direta de Lula: ela é a alma e a cara de São Paulo. Exagero lulista de bom e pleonástico tamanho. Mas o TRE tirou a campanha do ar. Serra também faz campanha. Começa a sair da letargia. Corre o interior de São Paulo. Inaugura obras, faz discursos curtos. Mas não se pode dizer que apenas Dilma e Lula fazem campanha. Todos fazem.
Tendência das pesquisas
E se Dilma vence, por enquanto, a parada publicitária, é lógico que a tendência das pesquisas é a de mostrar seu crescimento. Nesta semana, possivelmente hoje, o Ibope mostrará queda de Serra. Na última pesquisa, registrava 10 pontos de vantagem sobre Dilma. Agora, o patamar é de apenas 5 degraus. Um corte pela metade. A continuar nesse ritmo, a pesquisa eleitoral na segunda quinzena de abril mostrará Dilma na frente. A ministra começa a andar com as próprias pernas. E a freqüentar palanques de todos os tamanhos.
Rejeição
O interesse maior de Rousseff é entrar em São Paulo. Essa terra é administrada pelos tucanos há um bom tempo. O tucanato fincou estacas profundas no território. Mas não tão rígidas que não podem ser quebradas. Será difícil, mas não impossível. Algumas figuras do PT são muito rejeitadas. Expressam arrogância, antipatia. Marta Suplicy, por exemplo. Mas outras figuras do PT, principalmente na esfera parlamentar, são bem aceitas. Mercadante é um sujeito preparado. Mas não se pode dizer que é um político simpático. Por isso, terá problemas como candidato ao governo.
PT, 30% Dos votos paulistas
Historicamente, o PT manobra com cerca de 30% dos votos paulistas. Trata-se de um bom índice. Pode ser que, nesta campanha, esta taxa aumente. Este consultor percebe que não há, como no passado, a montanha de restrições contra o partido. Parcela do empresariado passa a adotar o figurino petista, na esteira do pragmatismo que caracteriza, por exemplo, o lulismo. Outra parcela é visceralmente contrária. E toma a parte pelo todo. Ou seja, se há algumas figuras deletérias - e há mesmo - estas passam para a sigla a rejeição.
A moldura paulista
Em São Paulo, a parada será dura. Difícil para Geraldo Alckmin, tucano que se prepara para a corrida ao Palácio dos Bandeirantes. Alckmin é muito bom no início da corrida, mas tem histórico de ser atropelado no fim. Mercadante, se for o candidato, expressa discurso denso e forte. Pode passar ideia de sujeito duro. Deverá atacar o tucanato. Alckmin, pela maneira educada no trato, terá dificuldades em administrar a contundência do petismo.
Ademais
Ademais, os candidatos ao Senado, pela situação, não devem agregar votos novos. Orestes Quércia será um dos candidatos. É a cara do passado. Aloysio Nunes Ferreira é um perfil mais moderno. Mas Aloysio se encolheu nas entranhas do Palácio dos Bandeirantes. Zé Aníbal, que já foi candidato a senador e quase chegava lá, poderia até ter mais votos. E Paulo Renato, o secretário da Educação ? Considerado muito elitista. Ora, nessa moldura, Marta Suplicy, apesar de arrogante, terá chances. Ou Gabriel Chalita, com sua cara de bom moço. Ou seja, faltam grandes nomes para os cargos ao Senado.
Dilma no Jockey
Marta levou Dilma ao Jockey Clube. Para ver corrida de cavalo. Maneira de inserir a candidata nos palanques elegantes da cidade. Ganhou discurso e discursou. Paparicada. Mas ela terá dificuldades em encontrar uma expressão direta, emotiva, do gosto das massas. No Sudeste, principalmente. São Paulo será o Calcanhar-de-Aquiles de Rousseff.
E em Minas ?
Mas em Minas, é bem capaz de Dilma surpreender. Os mineiros ainda não aceitaram a ideia de ver Aécio passado para trás. Vão lhe dar o mandato de senador. E Aécio poderá, até botar Anastasia no seu lugar. A surpresa ? Uma coisa chamada Dilmasia, que se começa a ouvir. Mistura de Dilma com Anastasia. Serra, Serra, cuidado com Minas Gerais. Lá há 14 milhões de votos. Suficientes para decidir uma parada federal.
"Chama-se esperança o apetite ligado à crença de conseguir. Chama-se confiança em si mesmo a esperança constante." (Thomas Hobbes)
Serra e Dilma na Paraíba
Este consultor recebeu, esta semana, uma pesquisa feita na Paraíba por um Instituto do RN, Consult. Estado da Paraíba inteiro : José Serra : 36,45%. Dilma Rousseff: 35,25%. Ciro Gomes : 7,45%. Marina Silva : 3,55%. Nenhum : 6,05%. Pesquisa registrada no TSE - 4713/2010. Dois mil eleitores ouvidos de 25 a 28 de fevereiro de 2010. Margem de erro : 2,1 pontos.
João Pessoa: DR : 32,2%, JS : 30,5%. Grande João Pessoa : DR : 34,6%, JS : 32,7%. Zona da Mata : DR : 38,5% e JS : 29,2%. Campina Grande : JS : 44,3% e DR : 25,15%. Ou seja, Campina Grande tira a diferença. Agreste : JS: 37,7% e DR : 35,5%. Serra da Borborema : JS : 42% e DR : 37,2%. Sertão : DR : 39,7% e JS : 38,2%.
Skaf vai mesmo
Pelo jeito, Paulo Skaf sairá mesmo candidato ao governo de São Paulo. Razões para se apostar na possibilidade : Ciro Gomes queimou as pontes que ligavam sua vereda à estrada do PT. Bateu forte no PT nos últimos dias. E ainda se deu ao prazer de liberar a sigla para procurar um nome. Mercadante surge nesse vácuo. Sem querer ser candidato em São Paulo, por considerar sua candidatura muito artificial, Ciro abre a alternativa Skaf. E continuará a martelar na ideia de ser candidato à presidência da República. Mas é bem provável que Lula o vete. Moral da história : Ciro está entre a cruz e a caldeirinha.
Na linha de frente
O governador Serra inaugura oficialmente nesta sexta, 19, em Hortolândia (SP), a fábrica da CAF Brasil, subsidiária de uma das maiores empresas de transporte de massa sobre trilhos do mundo. A indústria, que custou R$ 200 milhões em recursos próprios, já está operando com cerca de 1.000 funcionários e tem contratos para fabricar mais de 100 trens do metrô e da CPTM.
Tasso e Aécio
Tasso Jereissatti dá mostras de que não gosta mesmo de José Serra. Não apenas rejeita a possibilidade de ser vice de Serra como teria dito, à boca pequena, que o governador paulista não é confiável. Tasso tem esperança de que, na última hora, Serra desista em favor de Aécio. Este consultor tem dito e repetido : o avião serrano decolou. Se o piloto quiser abortar o voo, a aeronave bate na imensa serra. Desastre.
Cadê o vice ?
Cadê o vice ? Onde está o vice de Serra ? Beto Richa (PR) anda dizendo que não topa. Quer ser governador tucano do Paraná. Sérgio Guerra (PE) não tem perfil adequado. Tasso (CE) não topa. Sobra ele, Marco Maciel, do DEM (PE). Tem perfil, postura e pode aceitar.
Hélio, o candidato
A decisão já está tomada. Lula vai apoiar Hélio Costa para o governo de Minas. Fernando Pimentel e Patrus Ananias que se conformem. Um deles poderá ser candidato ao Senado e outro poderá compor a chapa de Hélio Costa como vice. Zé Alencar será candidato e eleito ao Senado.
Imbróglio gaúcho
Quem não quer arredar o pé da estrada da reeleição é Yeda Crusius. Ela tem imagem corroída por grave crise. E José Fogaça, prefeito de Porto Alegre, é o candidato do PMDB ao governo. Serra e Sérgio Guerra tentam demover a governadora. E apoiar Fogaça. Maneira de trazer o apoio do PMDB gaúcho ao governador paulista.
"Chama-se benevolência, boa vontade, caridade o desejo do bem dos outros. Chama-se bondade natural se for do bem do homem em geral." (Thomas Hobbes)
Cochicho
O alto empresariado do país acha que não há mais perigo de retrocesso. Ouvi, porém, um cochicho de um grande empresário: há uma turminha perto de Lula que tem vontade de dormir na cama de Stalin. Teme ele que esse grupo possa influenciar Dilma. Se ela ganhar o páreo.
Um choro lobista
Sérgio Cabral (RJ) botou pra quebrar, aliás, se derramou a chorar. Choro com cara de lobby. O Rio de Janeiro não tem condições de fazer a Olimpíada - nem a Copa - se a grana do petróleo deixar de irrigar o Estado. Foi o que disse. Lula veio em socorro do governador. Sarney prometeu uma solução no Senado. Resultado: tudo ficará como dantes no quartel d'Abrantes.
O bom Gabeira
Fernando Gabeira tem boas chances no Rio. Pode encarnar a ideia de um novo tempo.
PTB E PMDB juntos ?
É bem possível que PTB e PSDB caminhem juntos na estrada rumo ao Planalto. A costura tem sido feita com linha grossa. No plano federal.
"Chama-se paixão do amor o amor por um só pessoa, junto ao desejo de ser amado com exclusividade. Chama-se ciúme o amor junto com o receio de que esse amor não seja recíproco." (Thomas Hobbes)
Michel e Vacarezza
O PMDB e o PT ficarão juntos na aliança em torno de Dilma. Haverá, porém, alguns rachas. Mas dois perfis que respiram equilíbrio e harmonia poderão desarmar os mais exaltados: Michel Temer e Cândido Vaccarezza.
PDT E PSDB No Maranhão
Já no Maranhão, os tucanos vão apoiar Jackson Lago para o governo. Ele foi cassado pela Justiça. Agora, volta a se candidatar. E o PT terá de apoiar Roseana Sarney. São os descaminhos da política.
Funaro abre o bico
Lúcio Funaro, corretor do mercado financeiro, abre o bico para os ouvidos dos juízes e deixa na berlinda pessoas como Marcelo Sereno, Zé Dirceu, João Vaccari, Valdemar Costa Neto e até o prefeito e ex-deputado Lindenberg Farias. As denúncias frequentarão os palanques da campanha. Pano de fundo : PT usando fundos de estatais. Fogueiras altas.
Mais uma historinha para fechar a Coluna.
Dois vereadores da Arena de Parnaíba, Piauí. Um, da Arena de Petrônio Portela, o outro da Arena de Alberto Silva. Inimigos políticos. Um, dentista, pôs os dentes na boca do outro. Na primeira sessão, os dois brigaram :
- V.Ex.ª é um desonesto.
- Desonesto é você, filho de uma...Devolva meu dente. Pois fui eu que pus.
- Eu paguei, seu sacana..
- E daí que pagou ? Falar mal de mim, até pode. Com meu dente, não.Partiu pra cima. E arrancou os dentes. Sem anestesia.
Conselho aos pré-candidatos aos governos
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador José Serra. Hoje, volta sua atenção aos pré-candidatos aos governos dos Estados :
1. Respirem o cheiro do tempo em seus Estados. Procurem vitaminar as cacholas.
2. Comecem a organizar um discurso arejado, crível, moderno, condizente com as realidades espaciais do Estado e as expectativas das classes sociais.
3. Lembrem-se que o chamado marketing não se restringe aos programas eleitorais na mídia jornalística. Envolve cinco eixos: pesquisas, propostas (discurso), comunicação (formas múltiplas), articulação (com a sociedade organizada e meios políticos) e mobilização das massas.
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