COLUNAS

Ano novo, fatos velhos

terça-feira, 1 de fevereiro de 2005

Atualizado em 31 de janeiro de 2005 15:45

Francisco Petros*


Ano novo, fatos velhos


Desde o final do ano passado não houve mudanças significativas das variáveis que estão a influenciar o desempenho econômico e do mercado financeiro nacional e internacional. Vamos aos principais aspectos:

A tendência de desvalorização do dólar norte-americano frente as principais moedas internacionais permanece intacta a despeito da menor volatilidade registrada nos últimos dias. Da mesma forma, moedas menos relevantes como o peso mexicano, o real brasileiro e o won coreano, além do dólar australiano e canadense, persistem valorizados frente ao dólar dos EUA;

1) As cotações do barril do petróleo estão oscilando entre US$ 40-50 (tipo light) ao sabor das divulgações das estatísticas sobre estoques disponíveis e atividade econômica, a política da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e as notícias sobre a evolução dos riscos geopolíticos no Oriente Médio;

2) Nada de novo em relação à economia chinesa. A nomenklatura do país resiste às pressões norte-americanas para valorizar a sua moeda, o yuan, e os níveis de produção, consumo e investimento do país continuam elevadíssimos. Os riscos estruturais relacionados com uma conjuntura de superprodução e fragilidade do sistema financeiro daquele país não se alteraram. Maiores pressões sobre a China devem surgir após o encontro dos países ricos (G-8) que ocorrerá no próximo dia 4/2;

3) Os déficits gêmeos (fiscal e externo) dos EUA, os quais gravitam entre 6% e 6,5% do PIB (Produto Interno Bruto) continuam a ser o principal fator de inquietação dos investidores ao redor do mundo. Nesta área, são crescentes as dúvidas no mercado financeiro internacional e dentre importantes membros do Congresso dos EUA que o Governo Bush esteja efetivamente interessado em implementar uma política dura e consistente para combater o problema. Além disso, a taxa de poupança dos consumidores dos EUA persiste próxima de zero. Um risco substancial;

4) Houve significativa melhora no risco político envolvido nas relações de Israel com os Palestinos após a eleição ocorrida em janeiro de Abu Mazen, um político pragmático. As eleições iraquianas por sua vez foram um sucesso em termos de comparecimento, mas o futuro do país persiste obscuro em função da excessiva fragmentação étnica e política, da presença militar norte-americana e do equilíbrio de forças políticas no mundo islâmico. Por ora, Bush e Blair devem capitalizar politicamente o evento positivo;

5) A política monetária dos EUA deve ter uma rota de contínuo aperto ao longo deste ano. Além dos riscos fiscais, o Federal Reserve, o Banco Central dos EUA parece motivado a não favorecer um ambiente especulativo em relação aos preços dos ativos, bem como estimular possíveis surtos inflacionários no médio prazo. De qualquer maneira, o curso da elevação da taxa de juros básica deve prosseguir previsível e gradual. Após a reunião de hoje e de amanhã, a taxa básica deve subir 0,25% ao ano.

Em resumo, poderíamos dizer que, em termos estritamente conjunturais, o ambiente internacional permanece positivo, mesmo que os riscos estruturais persistam extremamente elevados e necessitando de soluções de maior envergadura, especialmente no que tange à economia norte-americana.

Para o Brasil, a estabilidade que prevalece no exterior é fator essencial para o financiamento externo do país, bem como para a manutenção do status da política econômica do Presidente Lula. Os principais aspectos a serem observados no âmbito interno dizem respeito são: (1) a sustentação da taxa de crescimento a qual dependerá cada vez mais do incremento da taxa de investimento, (2) o desempenho político do governo no Congresso e as perspectivas de aprovação de reformas estruturais ao longo do ano e (3) a consistência da política monetária do Banco Central, a principal coluna da política econômica brasileira na ausência de reformas relevantes.

A taxa de crescimento do PIB este ano deve ser inferior a do ano passado, possivelmente algo em torno de 3,0% a 3,5% se nada de grave acontecer no exterior. Aparentemente, o governo brasileiro e os agentes econômicos não parecem acreditar e/ou ser possível uma taxa superior a esta. Assim sendo, o Brasil deve crescer ao redor da taxa de crescimento mundial e em níveis menores que o crescimento dos países emergentes.

No que tange à política, há que se observar o processo eleitoral para a Presidência da Câmara dos Deputados. Trata-se do "termômetro" visível do suporte que o governo terá no Congresso. Além disso, as forças de oposição começam a ser organizar para as eleições do ano que vem o que dificultará o caminho da administração governamental. Dentro do governo também existem aqueles que estão menos conformados com o caminho escolhido pela atual equipe econômica, mas estes estão silenciosos pelo desempenho favorável no último ano.

No campo monetário, as complicações são maiores. Definitivamente o Banco Central (BC) liderado por Henrique Meirelles continuará a subir a taxa básica de juros com o objetivo de tentar cumprir a meta de inflação de 5,1% estabelecida pelo próprio governo para este ano. Como não houve interesse da sociedade, dos políticos e do próprio governo em examinar os critérios, a forma e os principais aspectos institucionais envolvidos na implementação da política monetária no Brasil o BC está livre para atuar como quiser. Há queixas de muitos lados, mas de fato há muito ruído e poucos fatos novos. Afinal de contas, o próprio Presidente Lula parece convencido sobre a consistência da política econômica e disposto a fornecer o apoio político necessário para Palocci, Meirelles e toda a equipe econômica.

Considerando os aspectos acima abordados, a evolução da economia brasileira continuará essencialmente vinculada ao desempenho da economia internacional e seus problemas estruturais são abordados apenas na margem e sem a profundidade necessária. O destino do país é fruto da inércia. Há poucos sinais de mudança no horizonte.
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* Economista e pós-graduado em Finanças. Foi Vice-Presidente e Presidente (1999-2002) da APIMEC - Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais (São Paulo).







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