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Política & Economia NA REAL n° 74

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Atualizado em 19 de outubro de 2009 16:56


Como nunca antes...

Pense-se num país no qual o governo :

1. Trabalha para reforçar a presença das empresas estatais na economia e criar novas companhias governamentais.

2. Está empenhado em enfraquecer as agências reguladoras, podando sua independência e autonomia.

3. Se esmera para conter o que alguns deles classificam de "sanha fiscalizatória" do TCU, do MP e até de órgão do Executivo como os institutos do meio ambiente.

4. Sistematicamente tente interferir nas decisões empresariais do setor privado (como no episódio Vale) e não perde a oportunidade, em comícios eleitorais, de tentar demonizar as grandes empresas privadas.

5. Por meio de benesses com recursos do Tesouro tenha "amaciado" o mundo sindical e os movimentos sociais (ONGs, entidades estudantis).

6. Tenha realizado a mais bem sucedida e bem planejada ocupação do aparelho estatal por fiéis seguidores, de alto a baixo.

7. Deseja ardentemente exercer algum tipo de controle sobre o que alguns classificam como "imprensa burguesa" ou "grande mídia", pouco influenciável pelos incentivos oficiais.

8. Com um bem sucedido "terrorismo" verbal - utilizando termos tais como, antisocial, contra os pobres, antibrasileiro, antinacionalista - mantenha acuados a oposição e parte da sociedade.

9. Se dedique, sistematicamente, a desqualificar seus críticos.

10. Como nunca antes, tenha investido na franciscana política do "é dando que se recebe" com os aliados.

11. Não tenha muito apego à letra fria da lei.

Pois é : no longo prazo, o que será das instituições e do projeto democrático deste país ?

Eleições : passado e futuro

Estão evidentes as estratégias do PT e aderidos e do PSDB et caterva na campanha eleitoral. Lula quer fazer as comparações entre seu governo e o do presidente FHC. Um olhar sobre o passado. Serra quer fugir desta armadilha e discutir os próximos quatro anos, pós-Lula. Uma tentativa de olhar o futuro. Até agora, os planos de Lula parecem mais bem sucedidos, tal o atarantamento da oposição.

Rumo a 2014

No fundo, no fundo, a estratégia de Lula o torna, bem como o seu governo a grande estrela das eleições. Lula não sai de cena, como normalmente acontece com os governantes em fim de mandato, quando o capim começa a crescer na porta de seu gabinete e o café é servido frio. Dilma é a candidata ideal para um projeto destes, com vistas a 2014.

"Miss simpatia"

Se Serra continuar exibindo o sorriso e a paciência que mostra em público e se sua equipe de comunicação continuar com a simpatia e a eficiência que têm demonstrado, a ministra Dilma Roussef ainda vai ganhar o troféu de Miss Simpatia.

Quem tem a força

O PMDB em muitos Estados ainda resiste a Dilma. A resistência vai ser minada aos poucos, a não ser que a candidatura da ministra da Casa Civil fique patinando. Caso contrário, a adesão virá aos poucos. Afinal, Lula tem a caneta e o PMDB espera apenas que ele comece a usá-la para jurar fidelidade eterna.

Os movimentos das moedas

Na semana passada, os principais comentários nas mesas de operações do mercado financeiro foram relacionados à valorização das principais moedas mundiais frente ao dólar norte-americano. Há até quem comece a prever um colapso do dólar, a reserva de valor do mundo. Sem que tenhamos o objetivo de fazer uma "previsão", vejamos quais são os fatores que estão por detrás deste processo :

1. A recuperação econômica da Europa está sendo mais forte que a dos EUA. Assim sendo, a remuneração dos títulos de renda fixa (com prazo de 5 a 10 anos) do velho continente está subindo, pois os investidores buscam maior rentabilidade no atual cenário de taxas negativas de juros (descontada a inflação projetada);

2. Maior remuneração dos títulos faz com que os fluxos de capital migrem do dólar americano para outras moedas;

3. Portanto, parece que estamos a iniciar - lentamente ! - um processo de elevação dos juros nas principais economias. Isto deve ser visto como um bom sinal, pois é fruto dos bons ventos de uma maior aceleração da atividade econômica.

Todavia, prever o colapso do dólar parece precipitado.

O Real neste contexto

Lula teria autorizado as autoridades econômicas a taxar o capital que ingressa no país. Maior o prazo de investimento, menor a taxa incidente sobre as aplicações e vice versa. De fato, a rápida valorização do real neste ano, mais de 28%, retira competitividade das exportações, muito embora os preços das commodities em alta de certa forma compensem tal valorização. Todavia, o segmento mais dinâmico da economia - a indústria - perde muito com a valorização cambial. Essa medida do governo dificilmente desvalorizará o Real. Pode conter a alta, apenas. Isto se dá em função do fato de que o Brasil é uma das poucas alternativas de investimentos atrativas no atual contexto mundial e o fluxo externo para cá, inclusive da "economia real", é inexorável.

A política monetária do BC

Mais difícil ainda será a manobra da política monetária do BC no atual contexto de valorização do Real. Se elevar os juros, contribuirá decisivamente para manter o Real valorizado e se não subir os juros pode estar ajudando a criar uma conjuntura ostensivamente inflacionária. Há ainda um risco político : o de Henrique Meirelles se isentar de cumprir o seu papel de guardião da moeda, no exato momento em que a sua estrela de político do PMDB sobe. É cotado até para ser candidato a vice-presidente na chapa oficial, caso o chamado "mercado" fique inquieto com o "nacional-desenvolvimentismo" da ministra Dilma. A nota e depois a ata do Copom, sobre a reunião de hoje e amanhã, poderão dar sinais de quando o BC pretende começar a mexer nos juros.

Real valorizado não ajudará na inflação

É improvável uma elevação tão significativa do Real daqui para frente. Portanto, do ponto de vista exclusivamente cambial, a contenção de uma possível inflação futura não contará com o "apoio" da valorização cambial que barateia importações e contém a alta das commodities. No passado (2007, por exemplo), este foi um fator fundamental para reduzir as expectativas de alta da inflação. O BC não terá este benefício daqui para frente.

Radar "NA REAL"

Estão mantidas as tendências estruturais dos principais segmentos do mercado financeiro aqui e no exterior. As possíveis medidas cambiais que podem ser adotadas pelo governo brasileiro para conter a alta do Real não deve mudar a tendência favorável à moeda nacional. É possível que esta seja uma semana mais tensa e com mais volatilidade nos mercados de ações em função da temporada de resultados do terceiro trimestre das empresas cotadas em bolsa nos EUA e na Europa. Atenção redobrada deve ser dispensada ao segmento das instituições financeiras. É muito importante verificar se os bancos mais importantes dos EUA e da Europa, sobretudo ingleses, estão com melhores balanços e resultados. Mantenha-se afastado dos títulos prefixados no Brasil. É hora de ir aumentando a participação de investimentos de curto prazo na carteira de investimento, sobretudo no segmento de renda fixa. Inclusive investindo na caderneta de poupança, a grande estrela da renda fixa brasileira.

16/10/9

TENDÊNCIA

SEGMENTO

Cotação

Curto prazo

Médio Prazo

Juros ¹

- Pré-fixados

NA

alta

alta

- Pós-Fixados

NA

estável

alta

Câmbio ²

- EURO

1,4912

estável/alta

alta

- REAL

1,7100

estável

alta

Mercado Acionário

- Ibovespa

66.200,49

alta

estável/alta

- S&P 500

1.087,68

alta

alta

- NASDAQ

2.156,80

alta

alta

(1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)
(2) - Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Imóveis : recuperação à vista

Mais um sinal de recuperação da economia dos EUA. O combalido mercado imobiliário americano dá sinais positivos que indicam que o pior já passou no segmento que foi a principal causa da atual crise. As vendas de imóveis usados cresceram mais de 14% em relação ao menor nível alcançado em janeiro deste ano, o início de construções de casas subiu 23%, sendo que houve o aumento de 34% das construções para famílias que têm um imóvel apenas. Este processo se deu em razão do estímulo tributário do governo para o setor e ainda não foi acompanhado pela melhoria do crédito. Estes são os necessários novos passos para indicar uma recuperação consistente.

O fim dos estímulos fiscais

Se há uma tarefa fundamental nas discussões do futuro da economia brasileira é verificar e analisar, inclusive do ponto de vista político, como o governo retirará os estímulos fiscais utilizados para conter a crise. Esta é uma das matérias mais discutidas nos parlamentos mundo afora. Aqui parece que o debate "não pegou".

A volta da CPMF

Na semana passada, líderes do governo no Congresso foram instruídos para não fazer muito barulho em relação às articulações em torno da adoção de uma nova CPMF (CSS), destinada à saúde. Cidadãos, um "novo" imposto vem aí !

Salvos pelas urnas

A CSS pode naufragar somente por uma decisiva razão : os cálculos "custo-benefício eleitorais". Foi esta "matemática" que abateu, pela segunda vez, o plano dos gestores oficiais da economia de taxar a caderneta de poupança e fez o ministro Guido Mantega recuar (será mesmo ?) da manobra, já posta em andamento. Além de atrasar a devolução do IR de quem pagou a mais em 2008, para segurar, artificialmente, o superávit primário deste ano.

Contas de aproximar

Esta semana, salvo algum tropeço, devem ser divulgados os resultados a arrecadação federal no mês de setembro. Anotem bem : mês no qual, segundo o ministro Guido Mantega, a economia já estava "bombando". Aliás, "bombando" desde julho. Porém, de acordo com os primeiros levantamentos, a arrecadação de tributos mês passado não seguiu tal ritmo. Deve ter sido bem inferior à de agosto. No entanto, o governo tem alguns expedientes que pode adotar para tornar o bicho menos feio. Vejamos alguns deles : incorporação de depósitos judiciais, aumento do pagamento de dividendos pelas estatais...

Equívoco ambiental

É justo e necessário que Lula cobre dos países maiores sacrifícios nas questões climáticas para conter o aquecimento global. Esta deve ser a tônica da posição brasileira na Conferência da ONU sobre o tema, em Copenhague, em dezembro. O Brasil pode mudar o jogo. Porém, não é justo que o Brasil, como têm apregoado muitas autoridades, condicione suas ofertas na conferência (limitar o desmatamento na Amazônia, por exemplo) ao que os outros países concederem. Produzir mais limpo, poluir menos, é antes de tudo do interesse dos brasileiros, pela qualidade de vida, pela saúde dos cidadãos. Não pode estar ligado ao que os outros fazem. Ou a saúde do brasileiro, para o governo, só vale se o Obama valorizar a saúde dos americanos ?

Os confrontos no Rio

Embora muitos não aceitem, o fato é que não existem evidências suficientes que contrariem a premissa de que o Brasil é um país muito violento. A mortalidade relacionada à criminalidade é assustadora. Em contrapartida, o assunto carece de políticas públicas mais efetivas para conter a violência, bem como mudanças na legislação. Nem assuntos polêmicos, como a unificação das polícias civil e militar, deveriam ser evitados no atual cenário da criminalidade brasileira. Os enfrentamentos entre a política e os traficantes no Rio não são novidades. De outro lado, não temos nenhuma grande "novidade" para que a sociedade possa enfrentar o crime. Trata-se de um paradoxo evidente : o assunto é relevante, mas pouco se faz para solucioná-lo. Outra coisa : será que este cenário de fato permite que o país possa sediar com segurança eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos ? Por que o turista que virá ao Rio para estes eventos estará mais seguro que os moradores da cidade ? Esta é a Copa e a Olimpíada que o Brasil precisa vencer antes de 2014 e 2016. E isto não se faz com festas, propaganda e palanques.

O que é real

Vamos aos fatos : a implicância do governo federal com o TCU, o MP, o Ibama e até com a lei de licitações, aos quais culpa pelo atraso dos projetos e de obras ao gosto brasiliense, na realidade vem para disfarçar o real responsável por esses atrasos : a conhecida inapetência gerencial e executiva do próprio governo.

Humorista

O dono do futebol brasileiro, Ricardo Teixeira, entusiasmado com os resultados de público (não do jogo em si) da partida da seleção brasileira contra a Venezuela, pretende que os jogos noturnos do Campeonato Brasileiro do ano que vem sejam realizados também às 20h e não mais às quase 22h de hoje. Vai agir bem em cima do JN e da novela das oito que de fato é das nove. Quem quiser ficar rico pode apostar contra o presidente da CBF.