Política & Economia NA REAL n° 73
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Atualizado às 07:49
Tudo muito rápido e positivo
O processo de "realização de lucros" nos principais mercados mundiais durou apenas uma semana, exatamente a última do mês de setembro. De lá para cá o que se viu foi uma renovação sistemática do crescente otimismo da parte dos investidores, em todos os segmentos do mercado e em quase todos os países relevantes do ponto de vista econômico. Os sinais objetivos de recuperação existem, todavia não são exuberantes quanto a conjuntura dos mercados. Resta saber se a melhoria das expectativas no mercado financeiro e de capital, sobretudo nos EUA e na Europa, hão de "contaminar" o lado real das economias. Por enquanto, as melhores expectativas estão mantidas.
Resultados na ordem do dia
A temporada de divulgação dos resultados do terceiro trimestre do ano das principais empresas com ações cotadas nas bolsas de valores iniciou-se. A nossa aposta é que os lucros serão crescentes e vale a pena manter posições compradas. Especialmente nos EUA, os primeiros resultados que apareceram foram muito bons frente à tragédia dos últimos trimestres.
Brasil na ordem do dia
Certamente há renovada euforia em torno do andamento da economia brasileira e de seu mercado de capital. Esta coluna teve ocasião de conversar na semana passada com dois analistas e um administrador de fundos situados em Londres e NY. Basicamente podemos dizer que eles estão eufóricos com a economia brasileira. Embora ainda não tenham publicado relatórios com estes números, eles acreditam que a economia brasileira pode crescer acima de 6% no ano que vem, mesmo que a taxa de juros básica venha a subir para conter alguma inflação. Não vislumbram nenhum tropeço nas eleições de 2010 que possa causar maiores danos econômicos, ao contrário, estimam um crescimento consistente da economia brasileira nos próximos cinco anos em função do financiamento externo proveniente do mercado de commodities que continuará sob o "efeito China". Segundo eles, já há consultas de fundos de pensão europeus e norte-americanos para investir em segmentos com retorno mais longo, por exemplo, o setor energético. Há uma exuberância racional em torno do Brasil, dizem.
China, ainda a chave do crescimento
Embora países como a Índia e Brasil estejam elevando o nível do crescimento mundial, é a China que agrega mais demanda ao sistema. Vale lembrar que lá o sistema financeiro não é hígido como o brasileiro e os riscos fiscais são crescentes. Potencialmente, a China também é o maior risco para a estabilidade mundial.
A pauta da economia mundial neste momento
O assunto macroeconômico que há de dominar o cenário nos próximos meses é como as políticas fiscais compensatórias utilizadas pelos governos dos países do G-20 para suprir a ausência de demanda do setor privado serão retiradas para evitar riscos inflacionários. O Reino Unido, liderado pelo trabalhista Gordon Brown, já está providenciando leilões de ativos para fazer caixa destinado a suprir recursos para um empobrecido erário público. Por lá também haverá eleições.
Taxa de juros sobem
O BC australiano já tinha avisado aos navegantes que estava prestes a iniciar um movimento de elevação da taxa básica de juros, a qual subiu para 3,25% ao ano (+ 0,25%). Agora devemos prestar atenção em relação ao que os BCs da Coréia do Sul, Japão, China e África do Sul vão fazer. São estes BCs os mais alertados em relação à elevação da inflação.
No Brasil, juros vão subir. Mas quando ?
O mercado futuro de juros, negociado na BMF-Bovespa, já mostra que as expectativas em relação à elevação da taxa de juros estão subindo rapidamente. Os últimos números da atividade industrial e do consumo foram expressivos e mostraram consistência. O impacto da maior atividade sobre os preços é dificílima de ser medida de vez que depende de cálculos muito carentes de uma razoável "ciência", muito embora muitos analistas se comportem como deuses quando fazem previsões. A única questão objetiva é que os gastos públicos são enormes e de natureza permanente, pois estão mais relacionados ao aumento de custeio que aos investimentos. A nossa estimativa é que no início do ano a probabilidade do início de uma "campanha de elevação da taxa de juros" se inicie. Provavelmente, ainda com Meirelles no BC.
O governo e os fiscais
Lula perdeu totalmente a paciência com o TCU, os gestores oficiais do meio ambiente e parte do MP. Todos, com suas exigências de transparência e cumprimento às leis, estariam, na visão presidencial, "sabotando" os projetos governamentais. Até o fim do ano, apesar do tempo apertado, espera-se que o Congresso aprove alterações na lei de licitações e nos poderes do TCU para conter a "sanha de fiscalizar" que tanto incomoda os tocadores de obras. As garras da PF já foram podadas como no caso da "Operação Castelo de Areia". De acordo com o auditor Antoninho Marmo Trevisan, que sabe o que fala, pois é dos empresários mais próximos a Lula, a intenção é entregar a fiscalização às auditorias externas independentes. Uma estranha "terceirização" num governo que faz questão de ampliar os poderes do Estado. Muitas dessas auditorias têm sido acusadas, sobretudo no exterior, de não enxergar bem o que se passa na contabilidade das empresas que auditam. Basta dar uma olhada no que ocorreu no caso do sistema financeiro norte-americano.
Real valorizado e assim ficará
Sabe-se do risco para o setor exportador, sobretudo o industrial, que o Real excessivamente valorizado traz. Pois bem : com a liberdade de fluxos de capital existente e com o atraente diferencial entre juros externos e domésticos há pouca esperança de que o Real volte a se desvalorizar num horizonte de tempo relativamente longo, digamos, pelo menos um ano. Não há modelo econométrico capaz de projetar o nível do Real, mas somos afirmativos em dizer que quem quiser apostar em desvalorização do Real vai se dar mal.
Cicatrizes
A "marolinha" deixou cicatrizes - Real valorizado, distúrbios nas contas públicas e outros tais. O crescimento que se está prevendo - ao ritmo de 6% no final de 2010 - só é sustentável se o governo curar esses desvios e fizer o que não fez quando tinha tudo a seu favor : atenuar um pouco o que se costuma chamar de "custo Brasil", na infra-estrutura, nos impostos e na burocracia. Mas em tempos de eleições, pré-sal, Copa do Mundo, Olimpíada, sobrará tempo e dinheiro para algo mais ?
Radar "NA REAL"
Voltamos a ficar mais otimistas em relação ao andamento dos mercados mundiais e do Brasil. Há uma positiva contaminação das melhores expectativas em relação à recuperação mundial e o Brasil é destaque neste processo, conforme consta nas notas acima. Logicamente, há riscos envolvidos no processo (inflação, eleições, excessos de gastos fiscais e inconsistência na recuperação do setor real das principais economias). O que estamos a dizer nesta nota é que tais riscos não devem interromper a trajetória sustentada dos mercados. Ou seja, a tendência estrutural de otimismo prevalecerá sobre tais riscos. Não é um processo linear de alta. Os mercados oscilam e esta é a única certeza que temos sobre eles.
9/10/9 |
(1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)
(2) - Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
Fala quem sabe
Há informações de que o senador José Sarney, por acaso também imortal na ABL, está escrevendo um novo livro, apropriadamente intitulado "A pobreza no Maranhão". Disso ele entende : desde que Sarney foi eleito governador do Estado, em 1966, o Maranhão, com raro interregno, foi dirigido por ele, alguém da família ou agregados da Casa Grande da política maranhense. E conseguiu se transformar num dos Estados mais pobres do Brasil : o Índice de Desenvolvimento Humano do Estado somente não é inferior ao de Alagoas.
De olho no FAT
Há menos de três meses do ministro do trabalho, Carlos Lupi, fez uma de suas lambanças e conseguiu botar no comando do Codefat - Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador - um dirigente de uma entidade patronal de sua total confiança. A ação do ministro afastou do Conselho outras entidades, como a CNA, CNI, CNC e a que representa o sistema financeiro. Agora, o tesouro nacional faz as contas para ver quanto vai ter de repassar ao FAT para ele não fechar o ano no vermelho. E não é pouco dinheiro, seguramente mais de R$ 3 bi. O FAT faz fundos para o BNDES, paga o seguro desemprego e financia cursos de treinamento para os trabalhadores.
Competividade eleitoral
Um dos fatores determinantes para o bom sucesso de um candidato é seu grau de exposição pública. Não é decisivo, mas é crucial, principalmente na fase de fixação da candidatura. Ainda mais quando o candidato é pouco conhecido fora dos meios políticos e da população mais bem informada. Hoje, a ministra Dilma está com um grau de exposição três vezes superior a qualquer outro de seus prováveis concorrentes : Ciro Gomes, José Serra, Aécio Neves e Marina Silva. Esta exposição deve se acentuar agora que Dilma está livre dos entraves provocados por sua doença e Lula decidiu botar de vez sua caravana eleitoral na estrada. Brasília, só esporadicamente, para assinar uns papéis e renovar a mala. Dilma precisa recuperar logo o que perdeu nas últimas pesquisas para exorcizar o fantasma de Ciro Gomes. Serra (ou Aécio) e Marina não são alvos preferenciais agora. Primeiro é preciso tirar Ciro do campo, por bem ou por mal.
Os esqueletos do PSDB
Os tucanos tanto fingiram que não era com eles que vão entrar na fase decisiva da sucessão presidencial com dois esqueletos berrando no armário : o caso Yeda Crusius no Rio Grande do Sul e os negócios da francesa Alstom em São Paulo.
O PMDB do B
A julgar pelas informações de bastidores, dia 21 será a data em que o PMDB (de Lula) e o PT fecharão um acordo para o primeiro apoiar Dilma e ganhar a vaga de vice. O estranho é que com toda a popularidade de Lula, seções importantíssimas do PMDB nos Estados não estão muito entusiasmadas com esse acordo agora - Minas, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco, Rio, Mato Grosso do Sul, Pará e Acre. Destas, duas ou três são praticamente serristas (ou tucanas) - São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul. A culpa pela vacilação das outras tem nome, sobrenome e endereço : PT. Nesses Estados o PMDB quer que o PT desista de disputar os palácios estaduais. Ou então que aceite dividir a atenção do presidente Lula e da ministra Dilma Roussef. Palanques para dois, gravações para dois, recursos para dois.
Loteamento ministerial
Se ganhar a eleição, Dilma pode assumir com vários ministros já "nomeados" e muitos outros cargos ocupados. As negociações para formar seus palanques e ganhar adesões importantes implicam ofertas futuras no novo governo : um ministério para Meirelles, outro para Ciro, uma estatal para Renan e assim por diante...
Ciúmes em Brasília
Pelo tom protocolar das "comemorações" brasilienses à escolha do "amigo" Barack Obama para receber o Nobel da Paz deste ano, baixou ciumeira brava na capital da República.
Inveja em Brasília
Os consultores de Lula em matéria de política de comunicação social, aqueles que defendem a "democratização" da mídia, devem estar se matando de inveja nos ares do Planalto Central. Inveja do casal Kirchner e do presidente de facto de Honduras. Os Kirchner, com todo o baixo prestígio político que carregam, conseguiram do Congresso argentino a aprovação de uma lei que aumenta o controle deles sobre a imprensa "adversária". E Roberto Micheletti baixou um decreto que permite a seu governo - "de facto", "golpista", "contragolpista", "provisório" ou o que seja - revogar a licença dos meios de comunicação que "incitarem a anarquia social" (seja o que isto venha a significar). Micheletti não é santo de devoção dos altares oficiais da República, mas esta sua oração tem adeptos lá.
Faniquitos eleitorais
A imagem da ex-ministra Marina Silva recebendo no Principado de Mônaco o Prêmio Príncipe Albert II para sua militância ambiental causou inquietação nos arraiais de seus possíveis contendores, políticos agora à caça de um "discurso verde". Além do "tudo pelo social" a campanha eleitoral brasileira vai também encampar o "tudo pelo verde". Para começar eles poderiam ler o "Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial" divulgado pelo BIRD durante a Assembléia Anual do FMI.
Os políticos "paraestatais"
A trajetória "política" do empresário Paulo Skaf e outros menos votados da mesma extração, que se aboletam em entidades sustentadas em parte com o dinheiro público (o imposto sindical) para entrar depois na vida de político profissional, está a indicar a necessidade urgente de se rediscutir as bases de utilização deste imposto, tanto no veio empresarial quanto trabalhista. Para lembrar : a ascensão política do vice-presidente José Alencar, até então apenas empresário de grandes méritos, começou no final do século passado quando ele foi presidir a Fiemg - Federação das Indústrias de Minas Gerais e protagonizou uma série de anúncios televisivos mostrando as realizações do SESI e do SENAI no Estado. Imposto sindical na veia.
Laranja mecânica
Uns arrancam, outros semeiam. Enquanto o MST destrói sete mil pés de laranja em uma propriedade privada no interior de SP, Lula vai formando seu laranjal. Já plantou Dilma no PT e na base aliada, Ciro na política paulista, Meirelles no PMDB, Eike Batista na Vale do Rio Doce...
Se colar, colou !
Pressurosos porta-vozes oficiosos de Brasília já se encarregaram de espalhar que Lula "teria ficado insatisfeito" com o atraso na restituição do IRPF pago a mais no ano passado, um dos muitos expedientes utilizados pelo ministério da Fazenda para mostrar que não há nenhum problema com as contas públicas federais. Informam ainda que o presidente não quer mandar para o Congresso o projeto que estabelece cobrança de imposto nos depósitos de poupança acima de certo valor - R$ 50 mil ?, R$ 100 mil ? É sempre assim : há algum "malvado" no governo que pensa uma barbaridade dessas e depois vem o magnânimo presidente e veta a maldade. Logo num governo em que ministro não toma nem elevador sem pedir licença ao presidente ? A tática está ficando manjada : lança-se um balão de ensaio (caderneta de poupança) ou faz-se algo na surdina (IR) e se colar, colou ! Se não colar, diz-se que foi um equívoco que o presidente desconhecia.
Caso Vale
Há alguns meses dissemos aqui que o presidente da Vale havia deixado de ser o mais recente "amiguinho de infância" do presidente Lula. Pelas últimas investidas oficiais, vistas nos últimos dias nos jornais, passou a inimigo. Nada de pessoal. Lula simplesmente está pegando a Vale, empresa exemplar, para mostrar como ele entende o relacionamento entre o governo e as empresas privadas : estas também devem obediência às autoridades. Têm liberdade até não contrariarem os dogmas presidenciais. No fundo, o sonho de Lula é deixar de herança para seu sucessor um capitalismo de Estado bem estruturado no Brasil.