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Política & Economia NA REAL n° 11

terça-feira, 22 de julho de 2008

Atualizado em 21 de julho de 2008 22:41


COPOM : novo aumento dos juros

Se a taxa de juros básica vai subir 0,5% ou 0,75% é uma discussão muito relevante para as apostas no mercado futuro de juros. Mas a questão maior é se a elevação será suficiente para conter as expectativas de elevação da inflação. Afinal de contas, estamos vivendo um cenário que combina "inflação de custos" com "inflação de demanda". Do lado de custos, temos a severa elevação generalizada das commodities, liderada pela alta do preço do petróleo. Do lado da demanda, há o crescimento da massa salarial e a relativa disponibilidade de crédito, mesmo a custos mais altos. Ora, a "inflação de custos" é endógena, ou seja, criada essencialmente no mercado. A "inflação de demanda" pode ser controlada com o aperto de crédito e aqui o governo tem poder substancial. Portanto, o governo vai reduzir é a demanda e para isso pode puxar os juros no curto prazo inclusive acima dos 0,75% na reunião do COPOM, que se encerrará nesta amanhã. Desta vez o BC tem as bênçãos presidenciais para agir, mesmo que na Fazenda o ranger de dentes seja muito audível.

A inflação dá alento ao Ministério da Fazenda

Os sinais, ainda a confirmar, de que o ritmo de crescimento dos preços, especialmente dos alimentos diminuiu na última semana, trouxe alguma esperança para a área econômica do governo que prega que o BC já deveria começar a diminuir também a o ritmo de elevação da taxa básica de juros.

Sabe-se que no Ministério da Fazenda, no Palácio do Planalto, em alguns territórios da política e na maior parte da assessoria de Lula a nova escalada da Selic só foi aceita a contragosto e os números dos diversos medidores de preços realmente assustaram. Agora, se sentem de novo fortalecidos.

Não é, porém, o que pensa o BC e boa parte do mercado. Os especialistas esperam, no mínimo, uma nova tacada 0,5%. Não são poucos, porém, que acham que o necessário mesmo é um pouquinho mais, 0,75%, como já comentamos aqui há duas semanas. Ao contrário das indicações vindas do Ministério da Fazenda, o presidente do BC, Henrique Meirelles não quer esperar 2010 para trazer a inflação para o centro da meta - 4,5%. Quer resolver o problema em 2009. E vai lutar com os juros se não tiver outras armas.

Jó e a escalada dos preços

Há uma eleição no meio do caminho impedindo uma ação geral mais coordenada do governo em relação à subida dos preços. Acredita-se que os juros incomodam muito as empresas e quem tem mais informações econômicas. A maioria da população não sente imediatamente seus efeitos diretos e adapta suas compras com prazos maiores nas prestações. Outras ações recomendadas, como um corte nos chamados gastos correntes do governo, podem causar mais transtornos.

Por isso, mesmo, em vez de seguir os conselhos de alguns economistas e ser mais parcimonioso com suas despesas, o governo age no sentido contrário. Ele acaba de refazer a programação financeira para este ano e, mesmo garantindo os R$ 14 bilhões para o "cofrinho" do Guido Mantega, ainda autorizou os ministérios a gastarem mais R$ 1,2 bilhão além do previsto anteriormente. Talvez haja neste aspecto mais uma razão para o BC não fazer concessões.

Depois das eleições provavelmente as coisas mudarão. O governo não quer chegar a 2010 com os preços incomodando. Este jogo de equilíbrio é sempre precário, perigoso. Um mínimo erro de calibragem e tudo desanda. Lula na Colômbia disse que é preciso ter paciência para lutar contra a inflação. O problema é saber se os preços também terão paciência de esperar as urnas passarem.

BCE : forte pressão política

Diante de uma clara perspectiva de que a economia do Velho Continente venha a se desacelerar, sobretudo nos 15 países que formam a zona do euro, políticos que atuam no Parlamento Europeu estão exercendo fortes pressões para que o Banco Central Europeu (BCE) não aumente a taxa de juros básica, atualmente em 4,25% ao ano, em suas próximas reuniões do comitê de política monetária. O Parlamento Europeu não tem jurisdição sobre a autoridade monetária européia, mas está claro que o BCE terá de provar a sua independência para continuar crível na manutenção da inflação em patamares reduzidos. O euro é uma moeda forte, mas não se deve esquecer que também é uma moeda "nova" e que o BCE ainda não foi testado perante um surto inflacionário forte.

Greves : e os efeitos macroeconômicos ?

Sabe-se que os sindicatos, origem política do presidente, perderam quase todo o seu papel político e de mobilização para ganhar maior participação na riqueza nacional. Isso não é fenômeno exclusivo do Brasil. É mundial. Contudo, no setor público, os trabalhadores mantêm a capacidade de ir arrancando nacos crescentes do orçamento público. A greve dos Correios provou isso. Provavelmente, a dos petroleiros também irá por este caminho.

O ganho de arrecadação no orçamento federal deste ano é de quase duas CPMF, algo como R$ 74 bilhões, e é resultado do crescimento do PIB. Se o crescimento cair o déficit estrutural do setor público vai aumentar velozmente. Aí teremos a combinação de baixo crescimento e política fiscal frouxa. Se os ganhos salariais do setor público se generalizarem, os riscos macroeconômicos num cenário de desaceleração da atividade da economia serão bem maiores que no início do Governo Lula. Esperamos não ter que conferir este cenário.

Citigroup : enorme prejuízo é comemorado

O Citigroup, um dos símbolos da indústria bancária norte-americana, registrou um prejuízo de US$ 2,5 bilhões no segundo trimestre do ano. No mesmo período do ano passado, ele apresentou um lucro de US$ 6,2 bilhões. Os ativos totais do banco declinaram quase US$ 100 milhões, 1/6 do PIB brasileiro. Apesar dos números não serem nada generosos com os acionistas do banco, esse desempenho foi comemorado pelos investidores que esperavam números piores. As ações subiram mais de 25% na semana, depois de atingirem o patamar mais baixo dos últimos doze anos. As coisas são como são...

O último tango do trigo

Com o mercado de commodities com preços nas alturas - apesar das recentes quedas - a crise argentina ainda pode provocar grandes efeitos no segmento agrícola mundial, sobretudo no caso do trigo. Cristina Kirchner esteve a um passo de renunciar na semana passada em função de sua derrota na votação das medidas que limitavam a exportação de trigo e carne. As pressões por maiores gastos públicos são crescente e a inflação já é galopante. Um cenário horroroso num contexto de vazio político. Difícil imaginar o preço do pãozinho caindo, inclusive no Brasil, com a Argentina nessa crise toda.

Cacciola : alguém quer ouvi-lo ?

Com Dantas perambulando nos interrogatórios dos diversos inquéritos nos quais é investigado, Cacciola virou figura coadjuvante, embora não lhe faltem virtudes para papéis principais de filmes de comédia. Ora, saber da boca dele como é que foram aqueles dias após a desvalorização do real em 1999 ainda é tarefa interessantíssima !

Cuba : rumo ao capitalismo

Os cubanos já podem comprar celulares, computadores e negociar algumas cositas a mais para os seus lares sem a interferência do governo. Agora Raúl Castro, o pouco carismático irmão de Fidel, permitirá a utilização de terras ociosas por cooperativas privadas. É o velho "lucro esperado" estimulando a produção, no caso de alimentos. Mais um pouco Raúl entenderá Adam Smith.



As primeiras pesquisas de outubro

Começaram a sair as primeiras sondagens sobre as preferências dos eleitores depois que as candidaturas foram oficializadas e a campanha caiu nas ruas. Em SP e Rio, nenhuma surpresa inicialmente. Marta e Alckmin lideram, tecnicamente empatados, e Crivella e Jandira Feghalli no Rio. Resultado do maior conhecimento que a população tem deles, o chamado recall de outras campanhas. A surpresa nas três maiores capitais, pontos decisivos para os embates de 2010, vem de BH. Lideram a sondagem do Ibope a candidatura do PC do B e o candidato do PMDB, dois nomes poucos conhecidos. O candidato do governador Aécio Neves e do prefeito Fernando Pimentel vem num incômodo terceiro lugar. Reconheça-se que Aécio e Pimentel ainda não entraram na campanha e é improvável, que os dois, com mais de 80% de aprovação de seus governos não consigam levar seu preferido pelo menos ao segundo turno. De qualquer forma, esse quadro todo pode mudar à medida que a campanha avança e entra no ar o horário eleitoral, quando a vantagem do recall diminui.

Pesquisas eleitorais : o que levar em conta

Pesquisa é pesquisa, voto é voto, embora os instrumentos de sondagem eleitoral estejam cada mais sofisticados e, portanto, mais precisos. Mas, devemos levar sempre em consideração que se tratam de levantamentos sobre "intenções" de votos. E intenções podem mudar repentinamente ao sabor das circunstâncias - fatos reais ou factóides. Há outros fatores, além dessas intenções, manifestadas nas respostas estimuladas ou espontâneas, para tentar se entender qual a real tendência do eleitorado. Um dos principais - se não o principal - é o grau de aceitação do governo/governos (estadual, municipal ou federal) que apóiam o candidato. O eleitor, por natureza, não quer mudar aquilo que ele acha bom. Influem também o grau de rejeição do candidato ("em que candidato o senhor não votaria de modo algum?") e o grau de confiança no eleitor nas possibilidades do candidato ("quem o senhor acha que vai ganhar as eleições?"). De todo modo, ciência estatística na mão e tudo, ninguém dorme tranqüilo em véspera de eleição.

Aviso ao eleitorado

Sabe-se que promessas de campanha eleitoral em qualquer lugar do mundo são vazias quando não, mentirosas. Do lado econômico vem um aviso claro : quase todas as prefeituras das cidades mais importantes do país estão com parcos recursos para investir. Basta olhar os dados do Ministério do Planejamento que detém dados sobre o assunto. Portanto, a pergunta mais importante que deveria ser feita aos candidatos é : de onde vem o dinheiro ? Os candidatos sérios ficaram com o rosto vermelho de vergonha. Os candidatos cínicos abrirão o sorriso pálido, de quem não tem nada a falar.

Fidelidade, infidelidade

A maioria dos políticos - há muito tempo e cada vez mais - se queixa da infidelidade dos eleitores, da pouca ligação que eles têm para com os partidos. Isso encarece as campanhas e torna a corrida eleitoral uma loteria. A culpa é deles mesmos. Quem com infidelidade fere com infidelidade será ferido. A infidelidade, nesse caso, não é apenas a troca de partidos. É a traição pelo voto, a negação das promessas, o esquecimento dos compromissos éticos, etc.

Carros menores e mais eficientes

A Ford está considerando voltar a produzir carros menores e mais eficientes em termos de consumo de combustível nos EUA. A idéia é produzir alguns modelos atualmente disponibilizados nos mercados europeus para os americanos. Trata-se de um desafio mercadológico muito grande de vez que os americanos gostam de carros maiores e mais potentes. Todavia, a alta dos preços dos combustíveis pode estimular a que os consumidores dos EUA coloquem na mesa a velha equação "custo versus benefício". Na hora de comprar um carro, o principal fator de escolha do carro pode ser a economia de combustível cada vez mais caro.

Obama descobriu o Afeganistão

O candidato democrata a presidência dos EUA Barak Obama descobriu, in loco, durante a sua visita ao Afeganistão, o que há muito se sabe sobre o país : que a situação lá é "precária e urgente". O Senador por Illinois está tentando estruturar uma política externa em relação ao terrorismo que combine uma saída do Iraque e maior presença no Afeganistão, país onde subsistem diversos grupos terroristas, dentre os quais a Al Qaeda. Obama, obviamente, ainda não disse como vai deixar o Iraque, país que beira a guerra civil.

DD e MST

Segundo reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" de sábado, Daniel Dantas não é e nem nunca foi dono do banco Opportunity". Ele é apenas cliente da instituição financeira e aluga a marca Opportunity para os que, no papel, seriam os donos do negócio : Dório Ferman, Sima Esther Ferman e Sérgio Bouqvar. Dados levantados na Associação Comercial do Rio de Janeiro. Quanto ficou sabendo que Dantas é também um membro do MSB (Movimento dos Sem-Bancos) e da jogada acionária do controlador do Opportunity, uma língua ferina do mercado financeiro observou : "Ué, igualzinho ao MST". O MST, lembremos, também não tem existência jurídica - para não ter problemas na Justiça com as invasões que promove ou coisas tais.