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Política e Economia NA REAL n° 257

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Atualizado em 12 de agosto de 2013 15:34

Números providenciais - 1

O sábado, com a divulgação da pesquisa DataFolha indicando que o prestígio da presidente Dilma não só deixou de cair como apresentou uma recuperação de relação ao levantamento anterior do mesmo instituto, passando de 30% para 36% de avaliação ótima/boa, coroou uma semana de boas notícias para o Palácio do Planalto, depois de dois meses nada consagradores. Os seis pontos de bônus na pesquisa vieram a se somar com certa trégua - sempre um tanto quando incerta, é verdade - celebrada com os partidos aliados no Congresso Nacional para evitar a batelada de contestações e derrotas que o PMDB & Cia. estavam prometendo aplicar na presidente, aprovando algumas medidas que contrariam as posições do Planalto e derrubando alguns dos vetos considerados cruciais pela equipe presidencial.

Números providenciais - 2

Há ameaças, ainda, como a possibilidade de aprovação, esta semana pela Câmara, por insistência do aliado Henrique Eduardo Alves (PMDB), da obrigação de o governo liberar sem cortes e sem contingenciamentos as emendas parlamentares ao Orçamento da União. Porém, já se criou um ambiente mais cordial, de ambas as partes. A outra boa notícia foi a da trégua dos preços, com a inflação de julho ficando praticamente no zero (exatos 0,03%) e a acumulada de 12 meses abaixo do teto da meta de 6,5%, número que hoje é a obsessão do governo. Quando Dilma diz que a inflação vai ficar dentro da meta, ela está se referindo a esse limite máximo, não exatamente aos 4,5%. É certo que, como admite a maioria dos analistas e o BC, os números de julho não se repetirão tão cedo. A inflação voltará a subir nos próximos meses. Nem mesmo em 2014 acredita-se que a alta dos preços baterá nos tais 4,5%.

Números providenciais - 3

É certo também que o Congresso é imprevisível, os partidos aliados estão com o apetite aguçado, além do normal. Ou seja, o humor pode mudar tanto no mundo político quanto entre os agentes econômicos. Mas foi crucial para a presidente os bons ventos que sopraram para ela esta semana - veja-se a alegria muito genuína que ela exibiu em Porto Alegre onde esteve em dois eventos político-administrativos. Foi importante para ela exorcizar os fantasmas que estavam se formando cada vez mais em seu entorno. De um lado, segura os partidos aliados, em parte "rebelados" porque já começavam a ver outras possibilidades eleitorais em 2014. De outro, joga um pouco mais para longe as nostalgias petistas de Lula. Por mais que o ex-presidente insista em dizer que é Dilma e nada mais, que os petistas de mais fôlego também entoem esta ladainha, no coração petista, com Dilma rateando como estava, o "volta Lula" ainda está guardadinho no seu melhor lugar.

Números providenciais - 4

Uma prova de que há "fidelidade condicionada" foi o que disse o presidente do partido, Rui Falcão, em reportagem da jornalista Daniela Pinheiro, na revista "Piauí" de agosto. Mesmo com as ressalvas do cauteloso Falcão, está lá toda a nostalgia do ex-presidente : "Não tem isso de 'Volta Lula'" - disse grave. "Mas é evidente que, se no ano que vem a presidenta não estiver bem nas pesquisas, é natural que ele se apresente. Temos um projeto longe de mudar o país", afirmou, fixando o olhar pelo vidro lateral do carro. "Mas isso não vai acontecer. Ela vai se recuperar nas pesquisas." Assim, foi providencial este número do DataFolha agora. Ainda mais que a pesquisa indica também que ela ganharia de qualquer um de seus adversários em um hipotético segundo turno em 2014. Um lado da pesquisa tem para ela, porém, um senão : Lula, candidato, ganharia de qualquer um no segundo turno. Há quem esteja temendo que, com esses ventos favoráveis, Dilma e seus conselheiros acreditem de fato que está tudo bem e voltem ao seu mundo anterior aos sustos provocados pelos movimentos juninos. Poderá ser sua perdição.

Foi a economia

A leitura atenta dos dados da pesquisa do DataFolha indicam claramente que os seis pontos recuperados pela presidente Dilma na avaliação de seu governo se devem basicamente ao alívio da inflação e a persistência do baixo índice de desemprego. Há uma correlação direta entre esta recuperação e o aumento também da confiança dos entrevistados nas suas condições econômicas.

A economia vai andar ?

A presidente recuperou parte de sua popularidade, como se vê. Do ponto de vista da economia a maior probabilidade é que as coisas persistam na marcha lenta. Não há nenhum fator estrutural mudando no Brasil que possa indicar aumento do consumo ou uma "arrancada" do investimento. Até mesmo a inflação não deu propriamente "uma trégua". Observados os fatores de queda temos a exaustão momentânea de alguns fatores sazonais (no segmento de alimentos) e a queda das tarifas de transporte (fruto das movimentações nas ruas). Do ponto de vista "técnico", ou seja, das previsões possíveis de serem feitas, pode-se afirmar que o governo Dilma já acabou. Mesmo que a presidente fosse uma boa gestora, coisa que não é, e movimentasse o governo para executar grandes mudanças estruturais, os seus resultados viriam no médio prazo. Isso depois de riscos conjunturais substantivos, a saber : alta do dólar (e da inflação), fortíssimo déficit nas contas externas, alta dos juros no mercado internacional e debilidade do consumo no mercado doméstico. A antecipação da corrida eleitoral é um desastre do ponto de vista econômico : os investidores que já capengavam em função da incompetência governamental estão preferindo esperar. O capital é covarde, como se sabe ou se devia saber.

Emprego estável numa economia instável

A FGV-IBRE divulgou na última sexta-feira, 9/8, o Indicador Antecedente de Emprego e o Indicador Coincidente de Desemprego. Ambos tentam projetar o comportamento do emprego nos próximos meses. O que se pode observar é que o emprego está estável, mas dificilmente continuará assim se o consumo e o investimento não crescerem nos próximos meses. O empresariado está esperando a consolidação do cenário de médio prazo para tomar decisões na área laboral. Note-se que demitir é caro (custos de demissão e os incorridos na formação do funcionário) e readmitir é igualmente custoso (treinamento). Esta rigidez do mercado de trabalho não irá persistir por muito tempo e será o desemprego, se aumentar, o principal fator a conspirar contra a popularidade da presidente.

Inferno para os tucanos

Se a pesquisa trouxe alívio para a presidente Dilma, acendeu um sinal amarelo para os tucanos com Aécio caindo na intenção de votos em todos os cenários que apareceu. Caiu fora da margem de erro, numa demonstração de que o partido ainda não encontrou o tom certo da campanha. A pesquisa nem pegou as denúncias sobre irregularidades em contratos do Metrô de SP, que, dependendo de como se desenrolar, tem grande potencial para desgastar eleitoralmente os tucanos.

Não preocupa

Pessoas que têm interlocução com o staff de Aécio dizem que não preocupa tanto quanto estão dizendo alguns a perda de pontos do provável candidato tucano ao Palácio do Planalto na última pesquisa DataFolha. Dizem que a estratégia de Aécio agora é mais para dentro do partido do que para fora, embora não desprezem a conquista de simpatias neste momento. Antes ele precisa consolidar sua candidatura no PSDB afastando o fantasma de José Serra que ainda o atormenta. Depois é que virá a concentração na busca dos eleitores, que começa proximamente com a intensificação das viagens do senador mineiro pelo país. É o devagar e sempre, "sem açodamento", dizem, porque a corrida é longa e de muitos obstáculos. Para os aecistas, a pesquisa traz até boas notícias, asseguram : Serra não tem o recall que imaginava ter - é dos postulantes o que tem mais rejeição, a rejeição de Aécio é menor que a de Dilma e o prestígio de Dilma está muito ligado ao comportamento da economia que não deverá dar a ela fôlego que os conselheiros da presidente estão esperando. Pode ser. Mas também pode não ser.

O dilema de Marina

A ex-senadora Marina Silva foi novamente a "grande vencedora" da pesquisa do DataFolha no quesito eleições presidenciais. As intenções de votos nela subiram novamente e ela aparece como a candidata de oposição mais competitiva no momento. O drama de Marina é que ela não tem ainda um partido para chamar de seu, tem menos de dois meses para registrar definitivamente o Rede e se não conseguir terá de se submeter a alguma legenda já inscrita no TSE, o que sempre é um risco.

É simples assim : os tucanos têm de se explicar

Quando colocados diante de algum tipo de suspeita de má conduta, os partidos políticos brasileiros costumam fazer de tudo : fingir que não é com eles, inventar alguma teoria conspiratória, mandar procurar o bispo. Menos o mais simples : vir imediatamente à público e explicar o caso - e até assumir culpas, se houver. Isso vale para todos, sem exceção. Desta vez quem está tendo tal ataque é o PSDB, diante das denúncias de que um cartel pintou e bordou em contratos no Metrô de SP e na CPTM. Há fortes indicações de que as irregularidades denunciadas, e já em investigação pelo Cade, de fato ocorreram e também indícios de que servidores públicos - não se sabe ainda em que nível - foram envolvidos. O PSDB apenas pasmo, tergiversando simplesmente até agora. Os adversários estão explorando politicamente o fato. É natural. Assim fazem os tucanos também quando podem. Por que não apoiar uma CPI para investigar o caso ? Aliás, duas - uma em SP e outra em Brasília ? Prejuízos o PSDB já está tendo, por sua omissão. Poderá pagar mais caro ainda se não explicar, como poderá ver a partir da agora na campanha presidencial.

Promiscuidade em xeque

Uma CPI - séria, para valer, naturalmente e não com objetivos meramente políticos - a respeito do cartel do Metrô poderia ser muito útil no sentido de desvendar o que se sabe, ocorre em boa parte de negócios públicos - os acertos de preços entre os grupos interessados na concorrência, muitas vezes sem nenhum envolvimento de qualquer autoridade. Um jogo que não existe apenas no Brasil, como, aliás, comprovam as confissões da Siemens a respeito de sua atuação em várias partes do mundo.

A imprensa e o seu papel

Impressionante (no bom sentido, por isso digno de todos os aplausos) o trabalho da dita mídia tradicional na investigação, dentro de suas possibilidades, de desdobramentos das denúncias de formação de cartel e pagamento de propinas em negócios com trilhos nos governos de SP e do DF, com grande destaque para o primeiro, já no período em que o Palácio dos Bandeirantes já estava nas mãos dos tucanos. Não é nada demais, nem deveria merecer um comentário aqui - é apenas uma obrigação do jornalismo que se quer o respeito. Mas vale a nota porque desmoraliza as teorias conspiratórias de alguns de que a grande mídia só investiga quando a denúncia atinge um lado, é seletiva no seu trabalho e nas suas preferências. Os mesmo que dizem isto agora estão se fiando no esforço de jornais e jornalistas que em outras ocasiões eles execram para agora atacar os adversários. Faça-se bom proveito.

Os ETs de Brasília

A presidente Dilma declarou que tem "muito respeito" pelo ET de Varginha. Ainda bem que se trata apenas de uma brincadeira com uma figura de ficção. O problema é o respeito pelos ETs políticos, burocráticos que infestam o ambiente do Planalto Central. Estes não são fictícios : são reais - e muito vivos. Na realidade, para lembrar outra criação assombrosa do jornalismo popularesco brasileiro dos anos 1970, 1980, são verdadeiros "chupa-cabras".

Cuidados eleitorais

É consenso no governo, a começar pela presidente Dilma, de que é preciso voltar ao antigo modelo de hidrelétricas no Brasil, com construção de grandes barragens e não a fio d'água como foram as últimas concessões na Bacia Amazônica. A tese do governo, amparada em estudos técnicos, é que a volta das grandes represas permitirá o melhor aproveitamento dos recursos existentes : mais potência para as usinas e, obviamente, custos menores na produção de energia. O governo está de olho principalmente na grande capacidade do rio Tapajós. Porém, apesar de encontrar tantos benefícios na mudança do modelo, Dilma e seus ministros não deverão passar a defender, de peito aberto, essas alterações. Pela simples razão de que baterão de frente com os grupos ambientalistas (nos quais Marina Silva tem grande penetração) e com os grupos de defesa dos povos indígenas. Para os marqueteiros oficiais isso é desaconselhável em períodos eleitorais, pois feriria até a alma de muita gente boa no PT. É por isso que a defesa dessas mudanças está sendo prioritariamente "terceirizada" para entidades empresariais e especialistas independentes.

Insegurança jurídica por todos os lados

Não bastasse a tentativa boba e incompetente do Planalto em tentar "tabelar" o retorno dos investimentos privados nos diversos segmentos de infraestrutura, espalha-se pelo país a sensação de insegurança jurídica e de negócios. Em SP o escândalo em relação às licitações do Metrô adiciona ao cidadão comum mais certeza sobre como funcionam as licitações. Para os investidores, fica a sensação de que os processos licitatórios vão demorar ainda mais. O Palácio dos Bandeirantes já não era objeto de admiração dos investidores no que tange à sua eficiência. Agora caiu na vala comum dos administradores públicos brasileiros. No RJ, o "ex-arrogante" Sérgio Cabral mudou os termos da concessão/construção dos complexos esportivos das Olimpíadas/Copa do Mundo. Novamente fere a segurança jurídica e a lógica econômica. O setor público brasileiro afasta quem nunca aqui investiu e prejudica a quem quer investir.

Alta da Bolsa, queda do dólar, etc.

Há, do nosso ponto de vista, pouco conteúdo passível de análise nas recentes altas das ações, na queda do dólar ou, de forma mais geral, no otimismo do tal do mercado. Acreditamos inclusive que este "veranico" permaneça por mais alguns dias/semanas. Da mesma forma, acreditamos que o mercado financeiro nos países centrais "ande de lado" como se diz no jargão do mercado. Estamos em pleno período de transição. As principais variáveis domésticas já estão consideradas nos preços (inflação, descrença política, demanda fraca, etc.), assim como lá fora (fim da temporada de divulgação de resultados, dados econômicos, mudança da política monetária nos EUA, fraqueza econômica na Europa, PIB mais fraco na China, etc.). Será preciso uma nova onda de notícias que clareie as atuais tendências (negativa por aqui e positiva lá fora). Apenas num contexto de fatos novos é que novas posições estruturais devem ser assumidas.

O Brasil, a Grécia e o FMI

O ministério da Fazenda informou na quarta passada que o representante do Brasil, e de outros 10 países da América Latina no FMI, Paulo Nogueira Batista, tem "respaldo político" do ministro Guido Mantega para continuar exercendo suas responsabilidades na instituição de crédito internacional. Como se sabe, o nosso representante no FMI resolveu, por moto proprio, se abster na votação de liberação de US$ 1,7 bi para a combalida Grécia, sob a justificativa de que as reformas helênicas têm sido "insatisfatórias em quase todas as áreas" e que "as suposições de sustentabilidade de crescimento e dívida continuam a ser otimistas demais". Seria muitíssimo interessante conhecer as inteligentes percepções de Nogueira Batista Jr. sobre a política econômica de seu padrinho Guido Mantega. Será que as nossas reformas são aceleradas ? E o crescimento da nossa dívida, o que acha tão abalizado economista ?

Mensalão : mudanças à vista ?

Há contido entusiasmo dentre as bancas de advocacia que estão defendendo mensaleiros que estão apurados com a perspectiva de irem para detrás das grades. Segundo vozes destas bancas, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso vão mudar os rumos das penas aplicadas sob a batuta de Joaquim Barbosa.

Radar NA REAL

9/8/13   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta estável/alta
- Pós-Fixados NA alta estável/alta
Câmbio ²
- EURO 1,3311 estável baixa
- REAL 2,2712 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 49.874,90 estável/baixa baixa
- S&P 500 1.691,42 estável/alta alta
- NASDAQ 3.660,11 estável/alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável