Política e Economia NA REAL n° 256
terça-feira, 6 de agosto de 2013
Atualizado em 5 de agosto de 2013 13:33
O fim da crise - I
Nenhum policy maker vai propagandear isso mundo afora, mas os indicadores de atividade (consumo e, em menor medida, investimento), o comportamento das empresas e dos investidores, a situação do mercado de crédito e o comércio internacional indicam que a crise iniciada em 2008 está se esvaindo nos países centrais. Isso não quer dizer que o mundo não tenha problemas e que estes sejam desprezíveis. Ao contrário : o "rescaldo" da crise internacional persistirá como essencial ao sistema econômico, especialmente no que se refere à situação fiscal e à administração da política monetária. Este é o caso dos EUA onde o Federal Reserve manda recados propositalmente contraditórios no que tange à manutenção ou não do imenso estímulo monetário gerido pela autoridade monetária daquele país. Com menos alarde, é o mesmo que faz o Banco Central Europeu e o Banco do Japão.
O fim da crise - II
Não à toa os mercados mais arriscados e sensíveis às variações de humor, sobretudo o de ações, está com invejável desempenho nos países centrais. Os resultados corporativos tem sido positivos e corroboram o otimismo dos investidores. Nos EUA, além da confirmação das melhores expectativas em termos dos resultados, os analistas estão ouvindo dos managers que o ambiente mais favorável está se traduzindo em vendas e investimentos. As listas de recomendações de ativos estão lotadas e os volumes negociados nos mercados estão altos e se espera que assim permaneçam. Os próximos embates em termos de política econômica nos países mais ricos serão entre eles : os temas relacionados ao protecionismo e as taxas de câmbio começam a preocupar os formuladores de políticas e os próprios políticos. Em suma : a conjuntura melhora e os aspectos estruturais voltarão a dominar o ambiente das discussões.
O fim da crise - III
Apesar de todo otimismo e do melhor desempenho em termos de atividade, a maior probabilidade é que até o final desta década o crescimento mundial gravite em torno de 2%, algo como metade dos melhores anos da década passada. O despedaçamento do sistema de crédito e do funcionamento dos mercados em 2008 ainda produzirá muitas dificuldades para a recuperação dos países mais desenvolvidos. Com efeito : não se deve esperar que os ativos tenham valorização equivalente a dos patamares mais elevados dos anos 2000. A recuperação deve ser lenta e gradual. E sem a segurança de que a volatilidade seja razoável. Os tempos são melhores, mais promissores e ainda cheios de obstáculos.
O começo da crise - I
O caso brasileiro é oposto ao andamento do cenário no rico hemisfério norte. O Brasil passou rapidamente da condição de "queridinho" pelos analistas e investidores para a condição de "preocupante". Reduzidos os fatores de crescimento (aumento do consumo interno em função de salários e o efeito "China") o que fica evidente é que a tração do crescimento se reduziu para um patamar entre 0%-2%. Não há milagres possíveis em política econômica. Assim, o país continua omisso no que se refere às reformas necessárias à economia. Além disso, fatores estruturais como a péssima educação, o subdesenvolvimento tecnológico, os transportes, portos, etc. se juntam a uma tributação elevada e a uma taxa de câmbio que inviabiliza a competitividade externa. O governo Lula e Dilma tem a mesma agenda que adia as reformas e antecipa os ganhos e avanços sociais que produzem resultados eleitorais mais imediatos. A presidente Dilma acelera o intervencionismo governamental na atividade econômica e administra uma estranha coalizão política que soma oligarcas e movimentos sociais desprovidos de maiores ideais.
O começo da crise - II
A melhoria do cenário externo retira certos riscos que pairam sobre o Brasil, vindos de fora. Todavia, os riscos domésticos são substantivos e carecem de soluções políticas articuladas que não virão por duas razões básicas : (i) a presidente tem visão míope e bastante distinta da enorme parte da sociedade brasileira e lhe falta força política para agir depois da recente e vertiginosa queda de popularidade e (ii) as forças políticas estão paralisadas à espera da evolução do cenário para somente depois se posicionar. Neste segundo item estão incluídos os partidos de oposição, tão pobre de ideias quanto o governo. "Fatos novos" na política são necessários para que se mude o prognóstico para o país. O que se espera é que nos próximos meses fique mais evidente a queda da atividade e, com efeito, aumente o desemprego. Estes elementos devem tornar o governo ainda mais débil e mais combustível será dado à corrida eleitoral do ano que vem. Apostar na melhoria do cenário não será apenas um exercício para os mais otimistas. Será dos videntes que estão vendo muito além daquilo "que aí está".
Leilões : hora de decisões - I
Começou a contagem regressiva para os leilões de concessões nas áreas de ferrovias, rodovias, portos, aeroportos e exploração de petróleo, boa parte deles marcada para ir ao ar ainda este ano, em negócios iniciais de mais de R$ 100 bilhões. Há um clima de alta tensão em Brasília por causa da chegada da hora das vendas, de apreensão, insegurança e medo. Para o Brasil, os leilões, por sua importância para a economia brasileira, de forma a dar uma empurrada num PIB vacilante e com sinais de que o limite de crescimento do país está muito baixo, é essencial. Mas para o governo Dilma e as pretensões presidenciais ele é tão essencial quanto :
1. Será a forma de Dilma começar a mudar o clima de desconfiança dos agentes econômicos e dar também uma injeção de ânimo na população.
2. O Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda contam com o dinheiro que entrará nos cofres pelas concessões ainda este ano para fechar as contas públicas e garantir o superávit primário de 2,3% do PIB prometido por Guido Mantega e do qual boa parte dos analistas duvida. Os R$ 15 bilhões do campo de Libra, do pré-sal, por exemplo, já estão somados nas previsões orçamentárias.
Leilões : hora de decisões - II
Há, no entanto, muitas incertezas quanto ao sucesso da maioria das concessões previstas para este ano. A única que parece segura, até agora, é a do campo de Libra. Mesmo assim, os prováveis candidatos estão pressionando para que algumas regras sejam mudadas. Nas outras, a insegurança é total, embora fontes não-identificadas de Brasília estejam alimentando a mídia com informações de que o número de interessados é grande e o entusiasmo deles é maior ainda. No mundo real, porém, ao que se sabe, há pressões para que as condições do leilão sejam mudadas, o negócio não é considerado pelos investidores assim tão atraente quanto o governo imagina. É claro que há o jogo natural das empresas para tentar levar mais vantagem, mas há também, como se sabe, a idiossincrasia de parte do governo com o que ele classifica como "lucro excessivo", que quer levar os candidatos às concessões. Vai ser uma queda de braço até que os leilões de fato se realizem. Já se fala, por exemplo, em novo adiamento do trem bala, agora sem nova data para acontecer. A decisão sobre isto deve sair esta semana.
Sinal amarelo
O sinal amarelo em relação às concessões piscou depois que, na semana passada, fracassou, por falta absoluta de concorrentes, o leilão para construção e exploração da linha 6 do metrô de SP. E olha que o governo paulista é muito mais aberto às concessões que o governo Federal.
DebandadaO banco norte-americano Goldman Sachs anunciou nesta segunda-feira, 5/8, que não mais irá recrutar 50 executivos para a sua agência brasileira. A justificativa é que o Brasil não parece tão atraente neste momento de fraqueza de crescimento. Nos últimos tempos, o GS perdeu três de seus principais executivos, dentre os 40 que saíram da instituição. Os bancos de investimento são bem ágeis para ajustar seus quadros às perspectivas do mercado.
Mais política, menos marketing ?
Depois do barulho das ruas, talvez assustado com o que muitos governistas classificam como um ruído de comunicação entre o governo e a sociedade, a Brasília oficial passou a espalhar que o governo passaria a fazer mais política e menos marketing nas suas conversas com a sociedade. A interpretação era de que a presidente Dilma estava fazendo tudo certo, apenas não transmitia bem o que fazia. Parece que não será bem assim. Segundo informações da capital Federal, a presidente Dilma está preparando-se para uma série de entrevistas exclusivas em programas de audiência de televisão de grande alcance popular, principalmente os que atingem as donas de casa. Anuncia-se também que está sendo preparado um calendário de inaugurações - seja de obras, seja de pedras fundamentais - pelo país para a presidente comparecer. De preferência em locais onde os governadores e os prefeitos amigos possam ajudar.
Não é o que pareceNão é isto, porém, que parece querer uma parte do PT, a julgar por este trecho do documento que o presidente nacional do partido, Rui Falcão, lançou para ser discutido pelos petistas como plataforma de sua candidatura à reeleição, em novembro : "O Partido que Muda o Brasil", que lançou Rui Falcão à reeleição, afirma : "Nossa comunicação não pode e não deve ser comandada pelos referenciais do marketing, mas pela perspectiva política que não se atém, apenas, às vitórias eleitorais e à sustentação da imagem partidária. Nossa comunicação deve ser capaz de dialogar, de modo permanente, com a sociedade por meio das redes sociais, da TV, do rádio, da web e de materiais impressos, o que supõe políticas e coordenação permanentes". É tudo muito simples : o problema do governo, no momento, é credibilidade. Confiança não se retoma com retórica apenas, o discurso e os números prometidos e anunciados têm de ter um pezinho no mundo real.
Não se pode dizer que o PT voltou a amar Dilma - pois nunca houve, de fato, um afeto profundo entre eles. Lá no passado, o partido não tinha Dilma como uma de suas opções para substituir Lula. Aceitou-a, como acata tudo e muito mais que vem do ex-presidente. Afeiçoou-se a ela depois que ela caiu nas graças da opinião pública. Agora, que a mesma opinião pública começou a tirar terra debaixo dos pés da presidente e de seu governo - o PT quis ser "independente". Foi devidamente enquadrado por Lula e pela própria Dilma, por atos e palavras. E percebeu que seu destino em 2014 e a permanência no poder em 2015 está atrelado ao dela. Enquadrou-se sem aos menos estrebuchar.
O Congresso está de volta
Com muita disposição e apetite os políticos voltam para o Planalto Central. Nessa hora é que mora o perigo. Para alguns deputados e senadores as promessas de ação são a melhor reza. Valha Deus a Dilma e ao Brasil !
A pesquisa do PMDB
Deve ficar pronta esta semana uma pesquisa, com uma série de questões, que o PMDB está fazendo entre seus deputados, senadores e direções regionais para levantar a opinião do partido sobre as relações com o governo Dilma e outros temas. Uma das perguntas é sobre a manutenção ou não da aliança com o PT nas eleições presidenciais do ano que vem. Como é uma pesquisa interna e sem auditoria, pouco se saberá dela de fato. Mas é certo que cerca de 95% dos peemedebistas dirão que são favoráveis à manutenção da chapa Dilma Rousseff/Michel Temer. Podem acreditar.
O Brasil no FMI
Não deixa de ser ilustrativo que o representante do Brasil no FMI, indicado pelo ministro Guido Mantega, esteja fazendo do cargo o que bem entender. Ao votar, em nome do país e de outros tantos contra o empréstimo do Fundo à Grécia, Paulo Nogueira Batista Jr. alegou que as condições concedidas ao belo país mediterrâneo eram muito melhores que aquelas que prevaleceram em 1987 para o Brasil. Nogueira Batista Jr. era o negociador brasileiro naqueles sombrios tempos. Além da evidente maluquice de nosso representante ao votar sem considerar os interesses do país e de seus representados, há que se reconhecer que Guido Mantega não escapa da culpa in eligendo. O titular da Fazenda deveria usar o seu poder mágico que utiliza para fechar as contas públicas para fazer sumir Nogueira Batista Jr. das cercanias do prédio do FMI em Washington.
Radar NA REAL
2/8/13 | TENDÊNCIA | ||
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- S&P 500 | 1.689,56 | estável/alta | alta |
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(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável