Política e Economia NA REAL n° 244
terça-feira, 7 de maio de 2013
Atualizado em 6 de maio de 2013 09:12
A "leoa" vai rugir ?
Denominada pelo secretário geral da presidência da República como uma "leoa" no combate a inflação, a presidente Dilma está prestes, segundo indicações de Brasília, a rugir bravo nos próximos dias - ou horas. Rugir para dentro do governo, com cobranças a seus auxiliares, e para fora, com alguma nova medida econômica e, naturalmente, com críticas aos "pessimistas" e aos de má vontade. O alvo não vai ser apenas a inflação.
A "leoa" vai rugir ? - II
A semana do feriado do Dia do Trabalho não foi das mais felizes para a presidente, pelo contrário. Dois pontos, principalmente, "balançaram o coreto" do otimismo brasiliense :
1. Novamente o crescimento da indústria em março, de apenas 0,5%, quando a expectativa geral era de um crescimento em torno de 1,3%. Isto levou a uma revisão imediata, por parte de muitos analistas, de suas previsões para o crescimento do PIB este ano. A equipe do economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, por exemplo, uma das mais ponderadas e com bom grau de acerto, já reviu suas projeções de 3,5% para 2,7%.
2. A deterioração do déficit comercial está se acelerando - foram mais de US$ 6 bi no primeiro quadrimestre, com as importações crescendo bem mais que as exportações. Também nesse item não se acredita mais em saldo positivo, mesmo assim contando-se com extraordinária recuperação nos 8 meses daqui até dezembro.
A "leoa" vai rugir ? - III
Para mal dos pecados da presidente, com o 1º de maio a inflação subiu definitivamente nos palanques eleitorais. Agora com riscos de produzir caraminholas na cabeça dos eleitores, pois os preços estão pegando direto no bolso do consumidor. Desde que o Plano Real botou um freio na inflação cronicamente elevada que assolava o país desde o fim dos anos de 1970, nunca mais a dança dos preços tinha ocupado lugar de destaque no debate político-eleitoral. No discurso do Dia do Trabalho, pela quarta vez em menos de dois meses, Dilma viu-se forçada a enfatizar seu "desamor" pela inflação, principalmente depois que a oposição passou a acusá-la de "leniência" com a rebelião dos preços e o tema entrou também no foco das centrais sindicais.
A "leoa" vai rugir ? - IV
Mesmo a CUT, mais governista que suas rivais no movimento sindical, fez referências ao tema na sua festa do Trabalho em São Bernardo. Amanhã, o IBGE anuncia o IPCA, a medida oficial da inflação, de abril. A previsão é que o índice virá mais alto que o de março. A inflação medida em 12 meses, no entanto, deverá ficar abaixo dos 6,5%. Mas não será um grande alívio - as incertezas são muitas e, ao contrário do que se previa, os preços dos alimentos estão resistentes.
A "leoa" vai rugir ? - V
Dilma, segundo as informações que seu auxiliares vazaram nos dias que antecederam o discurso de 1º de maio, pretendia aproveitar o evento para anunciar outra bondade para os trabalhadores. Seria uma espécie de "kit mobília" : o programa Minha Casa, Minha Vida passaria a financiar também a compra de geladeiras, fogões, máquinas de lavar. Por razões não explicadas, o pacote não saiu e Dilma perdeu o discurso para a oposição. Aguarda-se o troco esta semana. O sono não deve estar sendo muito tranquilo nas cercanias do Palácio do Planalto e dos ministérios econômicos.
A voz das ruasA persistência da inflação em níveis que incomodam o BC e o desempenho da economia brasileira como um todo, abaixo do oficialmente e extraoficialmente esperado, não surpreendeu quem, além das consultas às estatísticas, pesquisas, indicadores antecedentes e outros oráculos, frequenta a voz rouca das ruas. Passagens por feiras livres, supermercados, shoppings e lojas de rua, uma visita de vez em quando, por exemplo, ao Ceasa em SP, teria completado as análises de gabinete com boas indicações de que a carestia não quer ceder e as pessoas já estão comprando menos. Só uma indicação de quem está todo dia no campo : o preço dos alimentos não está pressionado apenas por razões sazonais. Há falta de mão de obra no campo e os salários subiram. Por isso, está se plantando menos e cobrando mais. Quem está nesse negócio há muito tempo duvida que os preços da comida básica retornem ao nível de um ano ou seis meses atrás.
O que é ?Há algo de muito errado quando um país com a extensão territorial, a qualidade das terras e o clima como o Brasil precisa importar tomate da China.
Nos últimos dias, a oposição, especialmente o PSDB, avançou perante o governo, teve mais presença na mídia e mostrou que pode se articular com vista a 2014. Todavia, ainda está devendo uma razão clara, evidente e o porquê o distinto eleitor deve votar em Aécio, Marina ou no neo-oposicionista Campos. O governo petista nunca esteve tão fraco desde o mensalão e o desempenho da oposição parece débil frente a esta fraqueza. Não há propostas e nem arranjos sociais, apenas os encontros partidários, longe do povo e de suas lideranças. Não se sabe o que pensam a turma da oposição. Do governo pelo menos se sabe o que ele faz.
O Brasil perdeu a oportunidade
Convenhamos : há oportunidades seculares que, quando se perdem, são lamentadas por um bom tempo. Veja-se, a título de ilustração, o Brasil e a Coreia do Sul no início dos anos 1970. Eram ambos "países emergentes" com PIB semelhantes, nível educacional parecido, dimensão de comércio exterior mais ou menos igual. O Brasil era o gigante do "milagre econômico" do regime militar e a Coreia do Sul, um país pequeno também sujeito a uma ditadura. Pois bem : olhado o resultado depois de 40 anos, vê-se a oportunidade perdida. A Coreia do Sul toca os indicadores dos países centrais e o Brasil ainda discute o fim do analfabetismo. Da mesma forma é o que se vê hoje : um país paralisado politicamente por um pacto de poder que se calça na ambição de permanecer mandando. Enquanto isso, a indústria está capenga, a criminalidade impera, a educação mostra suas cáries e assim vai. O Brasil saiu forte da crise de 2008. Agora está se enfraquecendo quando o mundo começa a melhorar. Seria risível, não fosse trágico.
EUA : uma boa apostaObservados os indicadores da economia norte-americana no último mês, estamos reforçando a nossa visão de que aquele país é uma ótima oportunidade de investimento, a despeito do extraordinário avanço das cotações das ações nos últimos 12 meses. Os desafios ainda são enormes, mas as políticas de expansão monetária e de estímulos governamentais estão dando resultado. Além do fato de que não há nada como se financiar as taxas de juros negativas pagas aos estrangeiros que para lá destinam a suas poupanças.
Saia justíssima
A programação orçamentária (em bom português : correção do Orçamento aprovado pelo Congresso) divulgado na sexta-feira revela que há ainda um rombo de R$ 25 bi para o governo fechar suas contas mais ou menos equilibradas, com alguma sobra para pagar parte dos juros da dívida, o chamado superávit primário. Normalmente, esse ajuste é feito na mesma ocasião do anúncio da programação orçamentária, com o "contingenciamento" das despesas excedentes - no caso, este ano, os R$ 25 bi. Porém, excepcionalmente, o Ministério do Planejamento deixou para anunciar o contingenciamento em outro dia, provavelmente no dia 22/5. A razão é muito simples : o dinheiro a ser cortado tem praticamente o mesmo tamanho do das emendas dos parlamentares. E cortar R$ 25 bi das expectativas de deputados e senadores num momento em que a presidente Dilma tem projetos importantíssimos a serem votados no Congresso é risco de desagradáveis surpresas.
DúvidaA dúvida é saber se os experimentados parlamentares vão engolir a manobra. Já há uma insatisfação grande na base aliada, a falta desse "alpiste" deve aumentar a grita. Há partidos doidinhos para dar um susto no Palácio do Planalto. Muitos podem aproveitar a MP dos Portos para dar o seu recado. Há uma parcela do PMDB que não se aguenta de tanta coceira para uma traiçãozinha.
PMDB : é um porto seguro ?
A cúpula do PMDB velha de guerra armou-se tão bem - aproveitando-se também das divergências petistas - que hoje a presidente Dilma Rousseff depende cada vez mais de sua boa vontade para não ser surpreendida desagradavelmente no Congresso Nacional. A MP dos Portos é um exemplo. O PMDB tem Eduardo Cunha como expoente, em conluio com alguns governadores, especialmente o de PE, Eduardo Campos. Ele está se armando para aprovar um texto nada palatável para os propósitos de modernização do setor pretendido pela presidente.
PMDB : a esperança de Dilma
A esperança de Dilma é a interferência direta - e da apregoada liderança - de Renan Calheiros, José Sarney e Michel Temer - a quem ela apelou na semana passada para ajudar a conter os peemedebistas mais rebeldes. Mas quem conterá os outros aliados também insatisfeitos com o projeto ? O fato é que a coordenação política de Dilma no Congresso está falha, é capenga, e o experiente PMDB está sabendo bem se aproveitar disso. O PT já está, nesse aspecto, em segundo plano.
Judiciário ativo, Legislativo omisso
O Congresso Nacional se queixa, como recentemente, às vezes com razão, de um certo "ativismo político" do STF, da "judicialização da política", ou seja do Judiciário "invadindo" as prerrogativas do Legislativo. Antes de gritar, no entanto, a Câmara e o Senado deveriam atentar para os motivos que estão alimentando esse processo. Basicamente, são três :
1. A baixa qualidade das leis produzidas no Legislativo, muitas induzidas pelas MPs impostas pelo Executivo. Depois então que se passou a usar as MPs como "barriga de aluguel" para todo o tipo de proposta, a coisa degringolou. Há certas leis, de tão confusas, que só uma Comissão Internacional de Juristas para entendê-las e interpretá-las.
2. A omissão do Congresso, que deixa muitas coisas por fazer e outras faz pela metade. Veja-se que até hoje há várias normas da Constituição sem regulamentação. Caso, por exemplo, do direito de greve do funcionalismo público. Outro é o da fidelidade partidária, imposta pelo Judiciário porque o Congresso não se definiu.
3. A interferência dos próprios parlamentares. A maior parte das decisões do Supremo que incomodaram o Congresso por "invadirem" suas prerrogativas foi provocada pelos próprios parlamentares ou partidos.
Casos da fidelidade partidária e, agora, da suspensão da votação da lei que dificulta a criação de novos partidos. O problema, diga-se, não está restrito apenas à seara da política. Há também queixas contra a "judicialização da economia" e contra a "judicialização da saúde". Do jeito que a carruagem anda no Congresso, a tendência é só piorar.
Radar NA REAL
7/5/13 | TENDÊNCIA | ||
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(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável