Política e Economia NA REAL n° 241
terça-feira, 16 de abril de 2013
Atualizado em 15 de abril de 2013 14:05
Muito além do tomate
O festival de números econômicos que alimenta as análises de especialistas e ajuda nas decisões das autoridades produziu, como sempre, números para diversos gostos nas duas últimas semanas. E para sabores e interpretações. Há o da inflação do IPCA de março, menor que o de fevereiro e menos disseminado, e o IBC-Br, espécie de prévia do PIB, de fevereiro, negativo, mas menor do que se esperava na praça. A conjunção dos dois, segundo uma parte dos analistas, deve levar o BC a manter a "cautela" que seu presidente, Alexandre Tombini, vem apregoando, e não tocar na taxa de juros na reunião do Copom hoje e amanhã. Para outros analistas, porém, a indicação é para que as autoridades monetárias comecem já uma nova etapa de aperto monetário. Será ?
Muito além do tomate II
No governo, o que acendeu mesmo o sinal vermelho - por coincidência a mesma cor do fruto na ordem do dia - foi o preço do tomate. Ele caiu na boca do povo como símbolo da nova inflação. Mas o otimista Guido Mantega acha que não é uma inflação ainda de preocupar, são aumentos sazonais, passageiros de preço. Se olharmos, contudo, que o mapa astral do governo Federal desde já prevê a conjunção da economia com as eleições de 2014, e aposta no trio - juros baixos, emprego elevado e renda do assalariado em dia para o consumo - o governo deveria estar olhando para outro número, oficial, divulgado na semana passada. Vejamos.
Muito além do tomate III
Trata-se do comportamento do varejo. Segundo o IBGE, as vendas neste segmento caíram 0,4% de janeiro para fevereiro, em volume. Mas subiram mais de 7% em faturamento. Este é o resultado perverso da inflação que, segundo uma área de Brasília, não preocupa : as pessoas estão gastando mais e levando menos mercadorias para casa. Ou seja : estão tendo sua renda corroída, seu poder de compra está menor. Pode ser um furo no discurso eleitoral que o ministro sem pasta João Santana está preparando para Dilma. E já está nos palanques de Aécio Neves e Eduardo Campos.
Preocupa simA presidente da Petrobras, Graça Foster, depois de ter dito pelo menos duas vezes nos dois últimos meses que a Petrobras precisa ainda de mais aumento nos combustíveis (uma opinião mais ou menos generalizada e que o balanço da empresa corrobora), apareceu segunda-feira nos jornais dizendo que não haverá mais aumento de gasolina e óleo diesel este ano. Isto, sem que as condições que a levaram a defender novos reajustes tenham mudado interna ou externamente. A verdade é que a Petrobras vai continuar com o sacrifício de contribuir para a política anti-inflacionária do governo - indicação de que a alta dos preços preocupa mais do que admite a vã filosofia de Brasília.
Recordar é viverNo início dos anos 1980, quando a inflação andava bem assanhada, nem tão assanhada quanto depois, nos governos Sarney, Collor e um pedaço da gestão Itamar, o czar da economia de então, o ministro do Planejamento Delfim Neto, compareceu ao Congresso Nacional para um depoimento sobre as condições econômicas e a escalada inflacionária. Para inquiri-lo, o na época deputado em primeiro mandato Eduardo Suplicy preparou uma encenação : levou para a tribuna do plenário da Câmara um desses caminhõezinhos de brinquedo, cheio da tomates como uma alegoria para o aumento dos preços da cesta básica que comia o salário dos trabalhadores. Desastrado, Suplicy não conseguiu segurar sua alegoria direito no púlpito, o brinquedinho virou e espalhou tomates pelo plenário, provocando uma gargalhada geral. Irônico, Delfim Neto aproveitou o tropeço do deputado para "pisotear" (simbolicamente) sobre os tomates e todas as críticas que os despreparados parlamentares tinham à política econômica por ele conduzida. Por ironia, como um dos principais conselheiros da presidente Dilma, Delfim vê o tomate tornar-se o símbolo da inflação brasileira do governo petista.
Copom : Possibilidades teóricas e práticas
Inflação em ascensão e disseminada de forma generalizada no sistema econômico recomenda um aumento mais forte na taxa de juros imediatamente e um posterior balizamento do ritmo do aperto monetário depois de a autoridade monetária "mostrar os dentes" para os agentes. Esta recomendação é a ideal, especialmente depois de se verificar que o BC "ficou para trás" no que tange às expectativas. Esta situação teórica pode ser enquadrada quase à perfeição com o que está a ocorrer na economia brasileira nestes últimos meses, marcadamente neste último. A alternativa é a autoridade iniciar uma escalada de aumentos, a qual será graduada conforme o andar da inflação. Nesta política a vantagem é que o custo inicial pode ser menor e, ao invés de uma "freada", o BC tenta conter os preços pouco a pouco, em pequenas pisadas no freio. O risco, contudo, é considerável : a política de juros pode ir correndo na "rabeira" das expectativas e a credibilidade da autoridade política vai sendo ainda mais corroída.
Copom : Possibilidades teóricas e práticas II
Ao que tudo indica, o governo, como um todo, e o BC, em particular, devem optar pela gradação do aperto monetário. Afinal, dizem os formuladores da política, a atividade econômica está capenga e são os preços dos alimentos e dos combustíveis que alavancam a inflação corrente. Talvez subestimem as autoridades o fato de que haverão mais à frente, dos aluguéis aos transportes, passando pelos eventuais efeitos dos reajustes salariais em tempos de pleno emprego. Como se sabe a economia segue a política e não vice-versa. A escolha política de Dilma está feita : o aumento deve ser gradual e o período deste aumento é que será a variável a ser controlada. Até quando ? Eis uma aposta que não vale a pena ser feita. Inflação se controla com aumento de desemprego e será a tolerância a ele o fator a definir o tempo aceitável do ponto de vista eleitoral.
Não devemos esquecer o câmbio
Sempre se debate o lugar certo das taxas cambiais. Um longo e, até agora, inconcluso debate acadêmico. Se a dúvida não tem solução até hoje, sabe-se ao menos que países periféricos ao sistema econômico mundial sempre se desenvolveram à sombra de moedas desvalorizadas no longo prazo. Assim foi com a América Latina nos anos 1960 e 1970, e o Japão pós-guerra até o final da década de 1960. O mesmo vale, mais recentemente, para a China. A história mostra que a industrialização e a mudança de padrões tecnológicos não ocorrem num contexto de moeda valorizada. A "mão invisível do mercado" na realidade não funcionou para não dizer que os países que se sujeitam às liberdades cambiais usualmente sucumbem em termos de desenvolvimento. O Brasil terá de fazer uma escolha : ou tenta desvalorizar o câmbio ou viverá espasmos de crescimento industrial. A inflação no curto prazo indica que nada será feito logo. Assim, a desindustrialização prosseguirá.
China e a situação dos mercados
O governo central chinês está fazendo valer a sua previsão e o país está reduzindo a atividade econômica e ajustando as variáveis fiscais, de crédito e de inflação. Se haverá sucesso na empreitada do governo comunista de Pequim o tempo dirá. Uma coisa é certa : depois da forte alta das ações nos principais mercados dos países centrais do capitalismo, especialmente os EUA, o ritmo de alta está cedendo e é possível que um período de "realização de lucros" venha a prevalecer nas próximas semanas. Pode ser um ajuste relevante, no exato momento em que o Brasil acumula um bom número de variáveis e notícias negativas. Há tempo de se plantar e este tempo vindouro parece o tempo de colheita. Especialmente para o mercado acionário.
A tomatada de José Dirceu
O ex-ministro, ex-deputado e ex-líder estudantil José Dirceu sempre foi um político sagaz e audaz, duas qualidades que ninguém nega a ele. Porém, talvez em função de sua condenação pelo STF no processo do mensalão e a possibilidade cada vez mais próxima de passar um período atrás das grades, parecem tê-lo feito perder essa sagacidade. A audácia continua, porém a perspicácia, o faro, parecem prejudicados. Só isto, o desespero de ver chegada a hora de vestir a roupa de presidiário explica algumas de suas declarações semana passada ao jornal "Folha de S.Paulo", especialmente a revelação de que foi procurado pelo ministro Fux para pedir apoio à candidatura dele a uma vaga no Supremo com a promessa de que votaria pela absolvição do petista no processo do mensalão.
A tomatada de José Dirceu - II
Com algumas poucas frases Dirceu :
1. Complicou a imagem de todos os ministros do Supremo escolhidos por Lula, depois da instalação das investigações do mensalão, deixando dúvidas se eles, assim como ele diz de Fux, não foram escolhidos pelo critério da absolvição.
2. Complicou a imagem da presidente Dilma (e também do ex-presidente Lula) pela mesma suspeita.
3. Complicou a escolha do próximo ministro do Supremo, substituto de Ayres Brito, prestes a ser divulgado.
Por todas essas e mais algumas outras, está se dizendo em Brasília que não foram das mais aplaudidas no Palácio do Planalto as declarações do Dirceu. Popularmente diz-se que o ex-ministro pisou no tomatal inteiro.
Quem tem medo ?
É inegável que alguns excessos são cometidos aqui e acolá, mas a realidade é que o trabalho do MP, a partir dos poderes conquistados a partir da CF/88, é um dos grandes avanços institucionais do Brasil em décadas. Ajuda a tornar o Brasil mais limpo e a administração pública mais republicana. O balanço de lucros e perdas é extremamente favorável à sociedade, objeto primeiro e último da gestão da coisa pública. Há, no entanto, um crescente movimento nos meios políticos, burocráticos e mesmo de categorias profissionais - alguns mais abertos, outros mais envergonhados - para conter o trabalho dos procuradores. É o caso de se perguntar, sem ofender : Quem tem medo do MP ?
Dá para explicar ?
Causa surpresa o empenho do PMDB, com envolvimento direto do vice-presidente da República, Michel Temer, para a aprovação da nova lei dos portos apresentada ao Congresso pela presidente Dilma em forma de MP. Os peemedebistas estão mais empenhados até que o próprio partido da presidente : parte do PT tem alguma dificuldade no caso, por causa da posição contrária dos trabalhadores no cais. Uma das razões para o gosto peemedebista, segundo uma fonte de Brasília, pode ser o fato de há muitos anos o partido dividir com alguns aliados o comando do porto de Santos, em SP.
Reserva de mercado
Depois de ajudarem o ex-prefeito de SP, Gilberto Kassab, a fundar seu PSD e a conseguir ficar com o fundo partidário e o tempo no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão proporcionalmente ao número de deputados que angariou em outros partidos, o governo, todas as legendas, com empenho maior do PT, do PMDB e do PSD, armam-se para impedir que os novos partidos que surgirem daqui para a frente possam ter a mesma vantagem. Semana passada, por pouco uma proposta para fechar esta "mamata" aos novos não passou em primeira votação no Congresso. Foi, aliás, uma sessão vexatória a que pretendia aprovar o regime de urgência para o projeto, com grandes trocas de "elogios" e "amabilidades" segundo registrou em seu blog o jornalista Josias de Sousa, e que acabou não dando em nada.
Reserva de mercado II
A turma promete voltar ao ataque esta semana, porque eles têm pressa em barrar outros concorrentes que estão se preparando para dividir o mercado do tempo na televisão e o do fundo partidário : (1) o Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, (2) o Solidariedade, de Paulinho da Força Sindical, e (3) o partido resultado da fusão do PPS com o PMN. Essas novas legendas, pelas normas vigentes, como aconteceu com o PSD, permitem que parlamentares troquem de partido sem perda de mandato. O que está assanhando muito marmanjo no Congresso e nos partidos e, segundo alguns, abrindo mais uma temporada de "negócios" e chantagens. Há partidos com o PSDB, o próprio PSD, o PMDB e até o DEM com medo de perder deputados e senadores para os novos três parceiros. A alegação para se tentar esta "reserva de mercado" é evitar a proliferação de partidos no Brasil. Atualmente são 30, realmente algo incomum. Mas por que não pensaram nisso antes ? E por que não criar regras para a diminuição do número já absurdo de hoje ?
Radar NA REAL
12/04/13 | TENDÊNCIA | ||
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(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável