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Política & Economia NA REAL n° 233

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Atualizado em 18 de fevereiro de 2013 10:53

Os juros, o câmbio, a inflação e a política

Depois de trombadas e abalroamentos em profusão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Alexandre Tombini (lembrete útil : também tem status de ministro) parecem, finalmente, que afinaram a "logorréia" econômica oficial. Pelo que ficou entendido das declarações de Tombini a respeito do "desconforto" do BC com a inflação e das afirmações de Mantega, na Rússia, de que o câmbio não será usado como instrumento de política anti-inflacionária e que esta função é dos juros, a qualquer momento que julgar necessário a autoridade monetária poderá voltar a elevar a taxa Selic, hoje em 7,25% ao ano. O tal de mercado leu rapidamente o recado e na própria sexta-feira, dia da declaração de Mantega, já começou a elevar as taxas de juros no mercado futuro.

Os juros, o câmbio, a inflação e a política II

Um pouco de cautela nessas análises é aconselhável. Os dois parecem mais interessados em ajustar as expectativas e ganhar alguma elevação dos juros no mercado futuro sem a necessidade de o BC agir diretamente na Selic. A razão é simples : um dos mantras político-eleitorais da presidente Dilma Rousseff é exatamente poder inflar o peito de orgulho e dizer que nunca neste país os juros estiveram tão baixos. E insinuar que podem - e devem - cair ainda mais. Como as eleições de 2014 já estão desgraçadamente no ar...

O plano real

As indicações mais confiáveis são as de que o governo pretende concentrar seu ataque ao risco de um descolamento da inflação em novas desonerações da folha de pagamento e na eliminação dos impostos que incidem sobre os alimentos da cesta básica. Isto, mais a redução das tarifas de energia elétrica e o menor efeito do aumento do salário mínimo, mais os bons sinais de que a pressão dos preços dos alimentos está arrefecendo, seriam fatores suficientes para não deixar a inflação estourar o limite superior da meta de 6,5%. Esta é a meta real de inflação no Brasil para 2013/2014 : não passar de 6,5%.

Governo faz um "ataque especulativo"

Ajustes econômicos nunca são neutros, como se sabe. Há sempre um efeito sobre certa variável macroeconômica quando se altera (ou se tenta alterar) outra variável. Note-se que as expectativas têm valor superior aos fatos (futuros), na medida em que são as primeiras que alteram os preços dos ativos e comandam as ações dos agentes. No momento, a política econômica está sofrendo "um ataque especulativo originado dentro do próprio governo". Afinal, são os próprios gestores da política econômica que tornam as coisas confusas, contraditórias e obscuras. Vejamos o caso do juros e do câmbio : não precisa ser economista para saber que a formação da taxa de câmbio é endógena, ou seja, formada pelo mercado. Assim como a inflação. A variável exógena que influi em relação a ambos chama-se taxa de juros básica. Somente esta última, em termos nominais, é administrada pelo governo. Nem mesmo a chamada "curva de juros" está sob a gestão do governo. Logo, se os agentes não entendem os sinais que vem do governo, formam-se expectativas confusas, erráticas. Assim nasce a volatilidade, fruto deste risco. Mantega, Tombini e sua turma estão freneticamente lançando comentários carentes de unidade lógica que favoreça uma menor volatilidade no mercado. Não lhes falta apenas talento para a comunicação. Falta-lhes conteúdo mesmo.

A inflação fora de controle ?

Já se sabe que este governo não tem competências intestinais capazes de produzir a confiança para que os agentes se arrojem na tarefa de investir e aumentar, assim, o investimento. Esta seria uma tarefa avançada para uma equipe econômica tão fraca de ideias e de concepções estratégicas. Agora, o governo está brincando com a inflação. Esta alcança patamares preocupantes num cenário de fraqueza de demanda. Imagine-se se o crescimento do PIB fosse mesmo de, digamos, 4%. A inflação não seria os atuais 6,0%-6,5%. Provavelmente, saltaria alguns pontos percentuais e com rapidez. A taxa de difusão dos preços já está acima de 60%. Isto significa que os agentes consolidaram a ideia de que a inflação ganhou dinâmica própria e que 6% é piso e não o teto para a carestia. Muitos analistas têm sido cautelosos para fazer prognósticos sobre a inflação. Isto é natural num país pouco acostumado ao confronto de ideias. Todavia, o país está sujeito a uma perigosa incompetência em relação à inflação. A correção disto pode custar mais que a atual estagnação. Pode ser necessária uma recessão.

Expectativas de crescimento exageradas

O ex-presidente Lula trouxe à política a "nova pauta" da inclusão social. Nada mais justo num país sabidamente desigual. A distribuição de renda ocorreu num ambiente internacional extremamente favorável até 2008 e, depois da enorme crise instalada no mundo, deixou de ser o "fenômeno" tão apregoado pelo ex-trabalhador. O que se seguiu com o governo Dilma foi a evidência de que o crescimento econômico brasileiro não tem dinâmica - os investimentos despencaram (de fato, nunca cresceram consistentemente) e o consumo encontrou o muro do alto custo dos empréstimos e da limitação da renda para pagar dívidas. Isso tudo com o mercado laboral permanecendo (surpreendentemente) positivo, apesar do vergonhoso PIB de 1% no ano passado - os EUA com toda a crise que enfrentam cresceu 2%. Ora, com a inflação em alta, os ataques especulativos de dentro do próprio governo e a taxa de câmbio valorizada, a aposta do "mercado" de que o crescimento vai ser maior que 3% parece bem otimista.

Frase da semana

Do jornalista Rolf Kuntz em artigo no "Estadão" :

"O papa Bento XVI anunciou a intenção de se isolar depois de abandonar o Vaticano. Dificilmente estará mais distante do mundo num convento do que estaria em Brasília".

Trair e coçar, é só começar !

Diriam os pecuaristas que a situação política, em matéria de sucessão presidencial, está daquelas em que o bezerro não reconhece a mãe. Na plataforma de lançamento estão Dilma Rousseff, Marina Silva, Eduardo Campos e Aécio Neves. Dilma já está no jogo e fez algo inusitado na política brasileira : precipitou a própria sucessão, com todos os riscos políticos que isto acarreta. A largada antecipada pode levar, por exemplo, a presidente a tropeçar na economia (ver notas acima). Marina Silva, com o recém-lançado "Rede Sustentabilidade", também é nome certo no grid de largada. Eduardo Campos está no páreo, não esconde que é candidato apesar de algumas ambiguidades, está mais para ir que para não ir, mas ainda analisa riscos e oportunidades. Será força influente, porém. Aécio Neves é aspirante sim, só não concorrerá se não conseguir a unidade de seu partido e uma aliança que pelo menos mantenha com ele o DEM e o PPS. Porém, ao contrário de Eduardo Campos, da mesma geração e com quem tem diversas afinidades, ele testa suas possibilidades para dentro e não para fora.

Trair e coçar, é só começar ! II

Mas fora dos partidos de origem de cada um dos quatro, este cenário não está consolidado - e ninguém aposta em ninguém, estão todos esperando para ver o sopro do vento. O único dos partidos mais significativos que não terá candidato à presidência e que está com um compromisso mais firme, por interesses imediatos, é o PMDB. O partido quer garantir a vice-presidência, que está ameaçada por movimentos de Lula e Eduardo Campos. Também quer mais espaço no governo. Dilma quer o partido não só para suas necessidades diárias no Congresso como também como uma espécie de contraponto a alguma discordância com o próprio PT. Mesmo assim esse compromisso não está passado ainda "em cartório do céu e assinado por Deus" (Vinícius e Baden, no "Samba da Benção"). O restante está de amizade colorida. Dilma conversou com alguns já, mas de nenhum recebeu a garantia de votar com ela em 2014. Estão com ela no Congresso, a sucessão presidencial é outra conversa, para outro momento. O mesmo vale para Aécio, Campos, Marina. Vai depender das ofertas e das chances mínimas de cada um. O que começa a contar é a tal "expectativa de poder".

As bruxarias de Lula

Lula já deu demonstrações de que em matéria de política é capaz de fazer, como diria aquela bela canção de Dorival Caymmi ("João Valentão"), "coisas que até Deus duvida". Escapou incólume de todos os problemas de seu governo - mensalão, queda de ministros (Antonio Palocci e José Dirceu) - e posteriores - queda de ministros indicados a Dilma, os "bebês de Rosemary" - e elegeu duas apostas, inicialmente consideradas temerárias para a presidência da República e a prefeitura de SP. Mostrou que é mesmo o próprio "cara". Com tal cacife e sem contestações visíveis na área do governo, está agora pretendendo armar um quebra-cabeças realmente sobrenatural :

a) entregar a vice presidência da chapa de Dilma à reeleição para Eduardo Campos do PSB, retirando da cabeça do governador de PE o plano de se candidatar ao Palácio do Planalto ano que vem.

b) compensar o PMDB e Michel Temer pela perda da vice-presidência com a candidatura à sucessão de Geraldo Alckmin em SP com as bênçãos do PT.

Mesmo para um "milagreiro" como Lula, é santo demais para acomodar. O PMDB aceitaria trocar o que acha certo pelo mais que duvidoso, ainda mais que está totalmente alinhado com Dilma ? O PT aceitaria fazer concessões ? O PMDB e o PSB, conhecendo o parceiro como conhecem, confiarão numa resignação petista ? Se conseguir tal façanha, Lula poderá reivindicar o direito a uma "canonização política".

Jogo de cartas marcadas ?

Há um enigma em algumas movimentações iniciais do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff da sucessão de 2014. Apesar das diferenças de estilo e de ênfase, em dupla, eles atuam na política e na economia como as mais afinadas duplas caipiras. De público, não há divergências e quando surge algum ruído é logo explicado. Agora, porém, parecem em campos opostos nas tratativas para montar o palanque de Dilma para 2014. Lula trabalha para colocar Eduardo Campos no lugar de Michel Temer na recandidatura presidencial. Dilma tem afirmado que a parceria com o PMDB vai permanecer intacta. Das duas uma : ou eles começaram a divergir ou, o que é mais provável, estão jogando em dobradinha para manter o PMDB e evitar que Campos saia imediatamente do redil oficial e só oficializarão a chapa governista no ano que vem. Enquanto isso, ficam os dois distraídos e na expectativa.

Para compensar, a ABL

Quem sabe das coisas sabe que o PT nunca abrirá mão de disputar o governo de SP com um candidato próprio, pois nunca ter governado os paulistas é um das frustrações petistas. Assim, ele só abrirá mão dessa vaga para um aliado, no caso alguém do PMDB e, ao gosto de Lula : Michel Temer. Isso se o ex-presidente estiver absolutamente certo de uma derrota. Mas, quem sabe, tal estratégia não seja nada para o peemedebismo. Temer, poeta romântico que é, poderá ser compensado com o apoio de Lula à candidatura dele a uma vaga na Academia Brasileira de Letras.

Um vespeiro para Dilma

No vai e vem das informações desencontradas sobre a reforma ministerial que a presidente Dilma já está negociando com os aliados, assegura-se agora que a mudança será mais ampla que a inicialmente pretendida por ela. Não virá mais apenas para acomodar compromissos com PMDB e o PSD, assumidos nas eleições municipais. Vai atrair de volta para o curral oficial os partidos que andavam desgarrados das mudanças de 2011 por suspeitas de mal feitos, caso dos "faxinados" PR e PDT. Os dois têm "nomes fantasia" no ministério atual, que não são de agrado dos seus caciques. Dilma terá também de fazer algumas compensações regionais para não abrir fissuras perigosas na sua base. É o caso de MG, especificamente com o PMDB. O PMDB mineiro considera-se credor de um ministério por ter, atendendo a um apelo do onipresente Michel Temer, apoiado a candidatura derrotada de Patrus Ananias/PT à prefeitura de Belo Horizonte. Se não receber a compensação, os peemedebistas mineiros ameaçam abraçar desde já a candidatura presidencial do tucano mineiro Aécio Neves.

Um vespeiro para Dilma II

Até o próprio petismo mineiro acha que Dilma precisa dar mais espaço a Minas no Ministério, hoje representada apenas pelo solitário Fernando Pimentel no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A imagem de Dilma para uma parte relevante dos mineiros é "a de uma mineira que não gosta de Minas", frase esta já explorada por Aécio Neves na campanha municipal. Dilma não pode se arriscar a um atrito com o segundo colégio eleitoral do país, bairrista como ele só, e no qual tanto Lula (duas vezes) e ela (em 2012) conseguiram expressivas margens de votos sobre os adversários. Desta vez um dos prováveis concorrentes será um mineiro, o que ajuda a recrudescer o sentimento nativista das Alterosas. Ao admitir fazer uma reforma ministerial para atender PMDB e PSD de forma restrita, Dilma mexeu num vespeiro de reivindicações que já extrapolam também para o segundo escalão. Haja cargos !

A festa (e a solidariedade) do PT

O PT faz uma grande festa amanhã em SP, tendo como astros de primeira grandeza naturalmente a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula para comemorar os 33 anos de criação do partido e os dez anos de petismo na presidência da República. Em meio à apoteose que deve ser o evento será curioso descobrir como o partido, com outros convidados ilustres no palco, tratará os mensaleiros condenados pelo STF, figuras cruciais na fundação e consolidação da legenda. Haverá um ato de solidariedade explícita aos companheiros em dificuldades com a Justiça ou o assunto será esquecido ou apenas tratado de forma envergonhada ?

Tem gato na tuba ?

Depois de conquistar a presidência do Senado, com o investigado Renan Calheiros, o PMDB está querendo nada menos do que o comando do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa. Na Câmara, onde pontifica Henrique Alves, quem almeja posição idêntica é o PT, ainda às voltas com seus deputados condenados no mensalão.

A pequeneza de Dilma

Durante a campanha eleitoral que elegeu a novata em eleições, Dilma Rousseff, o Papa Bento XVI declarou que os eleitores não deveriam votar em candidatos que apóiam o aborto. Ora, nada mais natural que um pontífice se pronuncie em relação aquilo que diz respeito à doutrina de sua religião. A mesma crítica tocou a eleição norte-americana do ano passado. Não foi uma censura direta aos candidatos, um erro primário que o atual Papa não cometeu. A sociedade aberta permite este confronto. Note-se como é discutida a questão da pedofilia de certos religiosos nos EUA e na Irlanda, apenas para citar um incômodo assunto para as lideranças católicas. Pois bem : todos os líderes das principais nações do mundo mandaram mensagens à chancelaria vaticana quando do anúncio da renúncia de Bento XVI. A exceção foi Dilma que se recolheu às próprias mágoas.

Radar NA REAL

15/02/13 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável estável/alta
- Pós-Fixados NA estável estável/alta
Câmbio ²
- EURO 1,3351 estável baixa
- REAL 1,9636 estável estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 57.613,90 estável estável
- S&P 500 1.514,14 estável/alta estável/alta
- NASDAQ 3.192,03 estável/alta estável/alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

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