Política & Economia NA REAL n° 222
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Atualizado às 07:36
Obama, Romney, China e Dilma
Obama pode perder a eleição porque a economia cresce pouco, algo como 2% neste ano. Diga-se de passagem, é mais do que o Brasil crescerá no mesmo período. Afora a evidente ironia, há outro paradoxo na eleição estadunidense. A eleição de Mitt Romney pode aumentar as tensões comerciais entre os EUA e a China e direta e indiretamente ajudar o Brasil. Isso porque o candidato republicano defendeu abertamente maior intercâmbio comercial com a América Latina. O tema foi recorrente, mesmo que obscuro do ponto de vista prático. De outro lado, temos a eleição do presidente chinês a se concretizar entre os comunistas de alto coturno do Partido Comunista que estarão no congresso a partir desta semana. O Brasil acompanha tudo de perto, mesmo porque diante dos evidentes sinais de desaceleração da maior economia emergente, a questão econômica ocupará uma boa parte da festança dos vermelhos chineses. Há alas tecnocráticas do partido que defendem ajustes macroeconômicos que reduzam o crescimento no curto prazo para evitar colapsos de crédito no futuro. Dilma, sabe-se, torce por Obama nos EUA, apesar deste nunca ter trazido muitos benefícios para o Brasil. A questão parece mais ideológica. Quanto à China, a torcida é pela manutenção da política econômica de crescimento que tanto ajuda o preço das commodities brasileiras.
Nada à vista, por enquanto, na economia
A produção industrial brasileira em setembro caiu 1%. Sinal amarelo com mutação para vermelho em relação à política econômica. A política de estímulos tributários e redução de juros encontrou limite evidente : não há no âmbito privado crença de que esta política seja sustentável no longo prazo. Isto sacrifica o investimento no curto prazo. Ademais, há os planos de investimentos públicos os quais estão escaldados por lerdeza e denúncias de mau uso de verbas, além de carência de visão estratégica e gerencial. O próximo ano pode ser recheado de surpresas negativas no que tange à atividade econômica : a inflação persiste sendo uma incógnita e o desemprego (por ora, baixo) pode subir quando se perceber que o crescimento vai ficar modesto. O risco político da política econômica sobe gradualmente. Mas sobe consistentemente.
Duda Mendonça de volta
Na última quinta-feira, a conta de publicidade do Senai foi parar nas mãos de Duda Mendonça, depois de longa licitação. Um montante de R$ 200 mi deve ser gastos para divulgar a imensa gama de serviços da entidade. Duda Mendonça foi inocentado no mensalão e já voltou a brilhar na sua área de especialização. De outro lado, volta a ter ligações com Paulo Skaf, o timoneiro da FIESP, com o qual o baiano trabalhou durante sua investida nas eleições estaduais passadas quando Skaf foi candidato ao governo paulista. Todas estas coincidências mostram que Mendonça é um homem abençoado. Agora poderá sair de sua fazenda no Pará e reassumir o seu latifúndio publicitário. Duda é inocente no mensalão, mas não tem nada de ingênuo.
Mensalão e a dosimetria
Joaquim Barbosa é esperado, no plenário do STF, mais saudável depois de seu tratamento germânico. Resta saber se a tal da dosimetria das penas do mensalão será finalmente menos sofrida para o público. Afinal, a confusão nas primeiras doses foi uma dose para elefante para quem assistia à sessão da alta Corte. Durante a ausência de Barbosa as conversas entre os ministros foram intensificadas pelo brevemente aposentado Ayres Britto. Se saberá no plenário se houve consenso sobre uma metodologia eficiente e, ao mesmo tempo, absolutamente legal, para o cálculo das penas dos mensaleiros. O fato novo ocorrido na ausência de Joaquim Barbosa foram os muitos editoriais de importantes jornais pedindo que as penas sejam "justas" e que não haja "abuso político".
Exorcizando Eduardo Campos - I
Os dois mais novos amigos de infância, agora de papel passado, o PT e o PMDB, sob as bênçãos da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, comemoram hoje o que, para eles, é uma eterna aliança - até que os votos os separem. Dilma recebe todos no Palácio do Planalto para discutir a nova relação e acertar os ponteiros até a travessia de 2014, quando os dois partidos pretendem estar mais unidos do que nunca, com Dilma e Temer na passarela. Naturalmente, será uma união com "comunhão de bens", um sujeito nada oculto deste encontro. O PMDB vai feliz em busca do dote que acredita fazer jus pelos serviços prestados ao PT, mormente em Belo Horizonte (mesmo com a derrota) e no segundo turno em São Paulo. Uma das noivas peemedebistas a serem contempladas no altar ministerial é Gabriel Chalita. Os do PMDB de Minas Gerais também querem sua compensação.
Exorcizando Eduardo Campos - II
Outro dote será a confirmação, definitiva enquanto durar, de que as presidências da Câmara e do Senado, no biênio 2013/2014, serão do PMDB, com Henrique Alves (RN) e Renan Calheiros (AL). Porém, nenhum Judas mais oculto será tão malhado na festiva noite palaciana que o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. A demonstração de eterna felicidade que PT e PMDB vão exibir em público, com direito a fotos e imagens para a imprensa, é um recado direto ao neto de Arraes de que não chegou a hora ainda de pensar em altares mais elevados para ele e o seu PSB. Ou se enquadra ou nem é convidado para qualquer boda oficial. Depois desse recado subliminar, estuda-se quem vai avisar diretamente a Campos. Enquanto isto, prepara-se também uma cizânia no PSB, explorando as tensões entre o governador pernambucano e os neocoronéis do Ceará, os irmãos Cid e Ciro Gomes.
Mais lugares...Como há candidato demais e postos de menos, ainda mais que quem está lá não quer largar nem uma lasquinha do osso, a presidente Dilma botou entre as prioridades do governo para o Congresso este ano a criação do ministzério da Pequena e Média Empresa, há tempo no compasso de espera no Legislativo. Na última vez que se falou sobre ele, no início do ano, especulava-se que ele seria destinado à empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza. Ela chegou a ter uma reunião sobre o assunto com Dilma no Palácio do Planalto. Agora, será direcionado a algum partido.
Dá uma vontade de trair...O PMDB vai sair da reunião com Dilma e Lula certo de que já poderá mandar fazer os ternos novos para as posses de Henrique Alves e Renan Calheiros no comando do legislativo Federal. Pode, em parte, gastar pano à toa. O PT que não é de cama, mesa e banho oficial, cúpula, principalmente o da Câmara, está incomodado com os acertos com os peemedebistas. Ponha-se nesta lista : Arlindo Chinaglia e Marco Maia. Tal insatisfação pode pregar uma peça em Dilma, Lula e companhia. E pode ser o troco do PSB que costura, com a oposição, a candidatura de Julio Delgado (MG) à Câmara. A manobra para enquadrar Eduardo Campos tem riscos e precisa ser feita com grande cautela pelo poder de fogo que ele adquiriu.
Definição mais que perfeita
Do professor de ética e filosofia política da Universidade São Paulo Renato Janine Ribeiro :
"Perguntem a quase qualquer partido político brasileiro o que ele quer ser quando crescer, se crescer, para crescer. É quase certo que, se ele for sincero, responderá : 'PMDB'. Chamo de 'PMDB' um partido de pouca definição ideológica, capaz de sustentar um governo de direita ou esquerda, mas formado por tantas alianças regionais que consegue um bom retorno da União em troca de seu apoio."
(...)
"Por mais que o modelo PMDB ofereça ganhos tangíveis e certos, os dois partidos que, somados, ou melhor, brigados, chefiam o Estado há quase 20 anos, só conseguiram isso porque não foram nem são PMDB. Nosso grande partido-ônibus é vantajoso para apoiar, não para liderar. Lutar pela hegemonia, como fazem PT e PSDB, tem um custo. Você pode perder. Já fazer alianças com qualquer lado (exagero um pouco no 'qualquer') tem suas vantagens, mas traz um custo : você não disputa a final do campeonato. Pode até se manter na primeira divisão, mas não chega à final do Brasileirão."
Um discurso, por favor
O problema principal da oposição, definitivamente, não é a falta de líderes, nem de votos, nem suas idiossincrasias e vaidades, nem de falta de figuras coroados. É mesmo de conteúdo, de um discurso coerente, crível, alternativo ao do governo. Simples assim. Com seu gosto pela ironia, o ex-governador Leonal Brizola, na campanha presidencial de 1989, quando cobrado sobre seu programa de governo, costumava responder dizendo que o difícil é criar as condições políticas para governar e aplicar seus planos : "Depois, a gente encomenda uma pelo reembolso postal (a internet ainda não existia) a alguns cientistas na universidade" - dizia. Invertendo um pouco a lógica de Brizola, não seria o caso da oposição começar por aí ? O que o eleitor vai querer saber é o que ela pode fazer de diferente (e de melhor) do que está sendo feito agora.
Caldo de galinha e paciência
Os mensaleiros petistas, que esperavam ver o PT, institucionalmente, de armas em punho para defendê-los da "sanha" do STF (e da mídia tradicional) terão de munir-se de muita paciência e muito caldo de galinha. E esperaram confortados numa poltrona para não se cansarem. Tanto o partido como especialmente o governo Dilma não parecem muito dispostos mais a ir nesta direção. Percebem que isto manterá aberta uma ferida difícil de cicatrizar em público e que tem poder de trazer pesado desgaste político para eles. Bobagem pensar o contrário. A solidariedade pública será inversamente proporcional à solidariedade pessoal que os réus receberão. A vida continua...
Embrulhos federativos - I
Na empolgação com a eleição no segundo turno na capital paulista, Dilma abriu espaço na sua agenda logo na segunda-feira depois do resultado oficial para o prefeito eleito Fernando Haddad. Prometeu a ele atender a um de seus pleitos, promessa da campanha em São Paulo : mudar as regras estabelecidas para o pagamento da dívida de São Paulo, renegociado no início de 2000. Para Haddad, esse alívio é essencial para cumprir o plano de governo apresentado aos paulistanos e as promessas soltas nos palanques. Para o PT é essencial porque, como seus dirigentes já confessaram, pretendem fazer de São Paulo a vitrine do "novo modo governista de governar", para a classe média. É plataforma para a reeleição de Dilma em 2014 e para o PT ampliar seu poder Federal e nos Estados.
Embrulhos federativos - II
Com o afago a Haddad, Dilma, porém, abriu uma panela de pressão que há algum tempo estava para explodir : a insatisfação de governadores e prefeitos com a situação de seus acordos de dívida e com as relações federativas (a divisão do bolo dos impostos e as obrigações de gastos impostos por Brasília a eles). A Confederação Nacional dos Municípios já prepara uma caravana para ir a Brasília conversar sobre o assunto. O governador de MS, de passagem pela capital, já avisou : "Se é para um, tem de ser para todos". Aécio Neves e Eduardo Campos, muito amiguinhos atualmente, têm conversado sobre o assunto. Aécio já incorporou o tema em seus discursos. Dilma pode jogar o assunto na mesa em troca de pontos da reforma tributária. O imbróglio é que este é um jogo que não tem soma zero. Todos querem ganhar.
Enquanto isso...... Senado e Câmara preparam-se para enviar ao STF um pedido de ampliação do prazo, que vence no dia 31/12, para a aprovação de uma nova lei de distribuição do Fundo de Participação dos Estados, um bolo este ano estimado em R$ 55 bi, parte do IR e do IPI. Deputados e senadores tiveram mais de dois anos para discutir e votar a mudança. Agora, se nada for feito, a mina para os governadores fecha no dia 1º de janeiro. Não há mais prazo para aprovar na Câmara e no Senado um projeto desse teor com qualidade. Depois, os parlamentares se queixam da "judicializaçao" da política no Brasil.
Mantega também aproveitaAs necessidades financeiras dos Estados podem tornar a vida do ministro da Fazenda, Guido Mantega, mais fácil no que se refere ao fim da chamada "guerra fiscal". Com a pauta da renegociação das dívidas de Estados e municípios sobre a mesa, o ministro vai tentar fechar um acordo em relação aos benefícios fiscais concedidos pelos Estados para atração de investimentos. Mesmo assim, o que vai sair (se sair) será um acordo para o futuro, pois para o presente as dívidas pertencem.
O triste fim da uma CPI
Morre da CPI Cachoeira-Delta sem que os partidos tivessem a coragem de investigar o que era realmente importante na história : as relações espúrias da empresa em várias esferas do poder público brasileiro, os "laranjas" que ela usava para fazer seus negócios... Nem o julgamento do mensalão parece causar temores em certas áreas do mundo político e administrativo brasileiro. Mas o MP, se quiser, já tem um bom filão para quem sabe um "Mensalão II - O Retorno".
Radar NA REAL
2/11/12 | TENDÊNCIA | ||
SEGMENTO | Cotação | Curto prazo | Médio Prazo |
Juros ¹ | |||
- Pré-fixados | NA | estável | estável/alta |
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Câmbio ² | |||
- EURO | 1,2789 | baixa | Estável/baixa |
- REAL | 2,0353 | baixa/estável | estável/baixa |
Mercado Acionário | |||
- Ibovespa | 58.307,43 | estável | estável/alta |
- S&P 500 | 1.414,20 | estável | alta |
- NASDAQ | 2.978,09 | estável | alta |
(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
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