Política & Economia NA REAL n° 199
terça-feira, 29 de maio de 2012
Atualizado em 28 de maio de 2012 09:35
Mais turbulência pela frente
Se não havia ilusão de que a crise atual não comportaria saídas fáceis, está se consolidando entre os agentes econômicos mundiais de que a crise atual deve incorporar novos e perigosos elementos capazes de prejudicar ainda mais o crescimento econômico mundial pelos próximos anos. Destacamos :
(a) A elevada probabilidade da retirada da Grécia do euro. Eis um assunto muito comentado, mas cujas consequências são imprevisíveis;
(b) A fragilidade financeira da Espanha, Itália e, em menor medida, da França indica que os bancos centrais terão de socorrer cada vez mais estas instituições que estão tendo de financiar no mercado;
(c) O desemprego campeia no Velho Continente e as mudanças políticas que virão mostrarão cada vez mais a exaustão do modelo "Merkozy" de austeridade fiscal em meio a um crise semelhante a dos anos de 1929;
(d) O agravamento das relações comerciais é notório e a incapacidade de negociar dos países é notável;
(e) A China e outros países asiáticos começam a apresentar quedas (na margem) de seu crescimento com efeitos severos sobre a demanda mundial;
(f) Os EUA estão em ano eleitoral e o debate sobre a economia ganha contornos de certa irracionalidade no que tange à política de expansão fiscal e monetária.
Não haverá somente um aumento da volatilidade nas economias em geral. A possibilidade de uma depressão mundial é concreta e será um "fantasma" a perturbar a vida dos governos e seus cidadãos.
O "bom posicionamento" do Brasil frente à crise
Uma simples comparação dos indicadores econômicos do Brasil e as economias centrais do capitalismo nos leva ao diagnóstico de que estamos muito bem posicionados. Todavia, trata-se de algo contextual e relativo. Os efeitos do agravamento da crise mundial hão de ser despejados sobre a economia nacional. Neste sentido, a expansão do crédito e as medidas de estímulo ao consumo doméstico são positivas, mas serão mitigadas pela deterioração sistemática das expectativas dos agentes no campo do consumo e do investimento. Haverá, por conseguinte, os efeitos políticos deste processo com os atores políticos criando ruídos que refletirão a insatisfação social do menor crescimento. Por sorte, o emprego ainda não foi atingido, mas será seguidamente "contestado" pelo agravamento da crise externa.
Investimentos : a necessária urgência de reformas
O PAC intrinsecamente possuiu atributos para modificar a rota econômica do Brasil. Todavia, a sua implementação está carecendo de eficiência, além de sérias barreiras regulatórias. O Planalto sabe disso, tanto é que novamente se especula sobre o "retorno" da gestão deste importante programa governamental à órbita direta da presidência da República. Centralizar este acompanhamento nas cercanias palacianas pode até aumentar a visibilidade da execução, mas é condição apenas lateral ao processo. É preciso atrair fundos e visões privadas para os investimentos públicos, alinhando competência na concepção de projetos e eficiência financeira e operacional à sua execução. Estas variáveis mexem em aspectos ideológicos que precisam ser superados, não somente pelo centro do governo, mas pelas forças que o apoiam. A tarefa é árdua.
Economia : estrutura e conjuntura
Até os economistas mais ligados ao governo, como o ex-ministro Delfim Neto e o professor Luiz Gonzaga Belluzzo já admitem que apenas com incentivos ao consumo, sem um forte empurrão nos investimentos - a começar pelos investimentos públicos, ainda e sempre rateando - a economia brasileira não vai muito longe. Pelo valor da face, poucos analistas creem num crescimento sustentável do PIB a uma taxa superior a 3%. Os sinais de nervosismo em Brasília indicam que o fantasma de um PIBinho, abaixo dos 2,7% de 2011, começa a rondar a Esplanada dos ministérios e o Palácio do Planalto. Sexta-feira o IBGE deve divulgar o PIB do primeiro trimestre - previsão geral para um aumento máximo de 0,5% sobre o último trimestre do ano passado. Os vidros do Palácio devem tremer. O ministério da Fazenda deve vir com novas medidas na linha do consumo para ganhar tempo e esperar o que vem lá de fora... se algum milagre acontece. Os problemas do Brasil são mais profundos e medidas circunstanciais de pouco valem.
Humor azedoPor essas e outras, tirante os setores diretamente beneficiados, não são dos mais agradáveis os sentimentos dos empresários em relação à política econômica conduzida pelo ministro Mantega. No anonimato, o tal do "off", e cobras e lagartos saltarão no ar. Eles acham que o governo não tem visão de longo prazo e, muitas vezes, joga apenas para a plateia, para a arquibancada. Alguns já estão até arriscando soltar discretamente seu descontentamento.
Bancos de investimento
Uma das ideias que poderia ser desenvolvida pelo governo é analisar a possibilidade de estimular a formação de bancos de investimento que se especializariam na viabilização financeira de projetos com prazo de maturação maior. No passado remoto (anos 1970) quando ainda existiam de fato estas instituições a sua atividade foi se reduzindo em função da inflação. No atual contexto em que o país tem um funding de mais longo prazo, tais instituições poderiam "retornar" e contribuir para financiar novos projetos ao largo de toda a economia brasileira. Até mesmo estímulos fiscais poderiam ser dados a estas instituições. De outro lado, com a política governamental de redução de juros, encontraria maior consistência no que diz respeito ao financiamento do desenvolvimento.
BC : reduções à vista
O governo pode e provavelmente fará mais reduções do juro básico. Não é algo apenas para esta próxima redução do COPOM. O mercado pode ser surpreendido com quedas de juros além daquela que imaginam.
O mistério da economia chinesaOs sinais são de que a China está num processo de desaceleração maior do que suas autoridades previram e o mundo não gostaria de ver. Já não deve crescer nem os 8% inicialmente projetados por analistas econômicos. Um crescimento ainda robusto, mas um desastre para o resto do mundo.
Lula - Gilmar Mendes : dores de cabeça
Quaisquer que sejam as versões - e muitas surgirão nas próximas horas e dias - e interpretações para o inusitado encontro entre o ex-presidente Lula da Silva e o ministro Gilmar Mendes, do STF, patrocinado pelo ex-ministro (de muitos cargos) Nelson Jobim, a verdade é que ele já plantou sobre Brasília nuvens carregadíssimas. Isto terá repercussões inevitáveis na CPI Cachoeira-Delta, nos cuidados do Supremo no julgamento do mensalão e até nas eleições municipais. E trará mais dores de cabeça políticas para a presidente Dilma, já sobrecarregada com as questões difíceis da economia, a conexão Delta-PAC e os distúrbios florestais.
Lula - Gilmar Mendes : os fatos
Aos fatos, para que se entenda bem a confusão saída do escritório de Jobim numa amena tarde de abril :
1. O encontro era para ter sido secreto, tanto que sua divulgação pela revista "Veja" um mês depois do ocorrido causou furor e correria por parte dos envolvidos para montar versões.
2. Somente os muitos ingênuos acreditam que foi uma coincidência Lula e Mendes aparecerem no mesmo local e hora sem um saber da presença do outro.
3. O ex-presidente e o ministro do STF não são propriamente amigos e não foram lá conversar amenidades nem discutir o esquema Corinthians e Santos na Taça Libertadores da América.
4. O único ponto de contato entre os dois é o mensalão : Lula como intransigente defensor dos suspeitos e Mendes como um dos julgadores.
Em princípio, esse movimento, assim como a CPI, parece não ter sido nada positiva para a defesa dos mensaleiros.
Perguntas de jurista sério
Não é exagerada a intimidade de ministros do STF com as câmaras de TV e com certas bancas de advocacia ? Por que os ministros não falam mais nos autos e menos em reuniões e pela mídia ?
Distúrbios florestais
Foram somente apenas ruídos, de todos os lados, as primeiras reações aos vetos da presidente Dilma ao texto do Código Florestal aprovado pela Câmara. As alterações que o Planalto vai tentar aprovar por MP, para recompor o vácuo deixado pelos vetos presidenciais, apenas fazem remendos. O Código fica capenga e vai gerar novos confrontos entre ruralistas e ambientalistas no Congresso, sem grandes proveitos. E o pior : a presidente corre riscos de não colher frutos de sua ação na Rio + 20, pois o texto definitivo do novo Código brasileiro não ficará pronto até lá, gerando desconfiança entre os conservacionistas de que foi apenas um lance de marketing e que o governo cederá depois aos ruralistas. Na realidade, o governo está pagando o preço de não ter se metido mais nas discussões do projeto nos três anos em que ele tramitou no Congresso e de ter deixado que ele entrasse no ar em clima da Fla-Flu ou de Corinthians e Palmeiras, com debates muito mais marcados por motivações emocionais que por considerações de ordem técnica e científica.
Pérolas coloridas
Quem garimpou as joias foi o jornalista Ancelmo Gois em sua coluna em "O Globo" :
Lembrando Jânio
Fernando Collor, na CPI do Cachoeira, tem chamado mais atenção pelo. linguajar circuncisfláutico. Quinta, ao justificar a estapafúrdia tentativa de convocação do coleguinha Policarpo Jr., da "Veja", declamou :
- Não se me acoime de ter comportamento alapado, lançadiço ou rafeiro em relação ao hebdomadário em tela.
- Hã ?
Gois explica.
- "Acoimar", segundo o "Aurélio", é castigar, punir, censurar. "Alapado" é escondido. 'Lançadiço" é desprezível. 'Rafeiro" é o indivíduo que acompanha sempre o outro, como cão de guarda, vigiando-o, defendendo-o. "Hebdomadário" é semanário, caso da "Veja".
Em tempo.
- "Circuncisfláutico" quer dizer rebuscado, pretensioso.
Jânio e CollorAntes de Fernando Collor tomar posse, foi consultar-se com o ex-presidente Jânio Quadros. Perguntou o presidente eleito o que achava de seu governo. Jânio respondeu que preocupava-o o fato de Collor ser muito jovem. Collor instantaneamente respondeu que a sua idade era a mesma de quando Jânio tornou-se presidente. Jânio não se fez de rogado e disse : " e veja no que deu o meu governo".
O mesmo ghost writer ?O senador Collor agora se diz vítima de uma conspiração, golpe congressual levado a cabo, com a ajuda da imprensa, pelos setores mais atrasados da elite de um país que ele tentava modernizar com sua política de abertura econômica. Lula diz que o mensalão foi uma invenção das elites com o apoio da grande imprensa para dar um golpe em seu governo. Dá até a suspeita de que o orientador, o escritor fantasma desses dois textos é a mesma pessoa.
Dilma e a biruta do PT
O ex-ministro e ex-deputado José Dirceu, dizia, antes de Dilma tomar posse, que, agora sim, o PT estaria de fato no governo e o Brasil veria um verdadeiro governo do PT. Não era uma crítica a Lula, governo que Dirceu ajudou a criar e do qual fez parte, mas a constatação de que o ex-presidente tivera, por razões até de sobrevivência, de viver no puro pragmatismo e, por isso, fazer muitas concessões que contrariavam antigos dogmas petistas. Agora, com Dilma mais ideológica, fazendo muito daquilo que o petismo original pregava, haja vista o ataque aos bancos e aos juros altos, o maior ativismo do governo na vida econômica, o empenho em fazer da Comissão da Verdade mais próxima do que querem os petistas do que Lula de fato mandou o ministro Nelson Jobim negociar, o PT não está feliz, está mesmo até incomodado às vezes. Por que essa insatisfação ? A questão parece não estar propriamente nas "políticas", mas na "política" - a influência do partido é bem menor agora que com Lula. E parte importante da legenda está alijada das decisões da presidente.
Matando dois coelhos
Crescem em Brasília as especulações sobre o apoio da presidente Dilma às candidaturas de Renan Calheiros ao governo de Alagoas em 2014 e de Edison Lobão à presidência do Senado em 2013, na vaga de José Sarney. Se der certo, ela se livra de dois problemas com uma só cajadada : Renan será sempre um presidente do Senado instável e incômodo e ainda pode não se eleger em Alagoas; e abre vaga no ministério das Minas e Energia para um ministro de fato, e não apenas formal.
Na encruzilhada
Ou a CPI Cachoeira-Delta convoca hoje os governadores Marconi Perillo (PSDB/GO), Sérgio Cabral (PMDB/RJ), Agnelo Queiroz (PT/DF) e o empreiteiro Fernando Cavendish e aprova a quebra de sigilo bancário da empreiteira Delta nacionalmente ou pode fechar as portas por absoluta inutilidade.
Radar NA REAL
25/5/12 | TENDÊNCIA | ||
SEGMENTO | Cotação | Curto prazo | Médio Prazo |
Juros ¹ | |||
- Pré-fixados | NA | estável | estável/alta |
- Pós-Fixados | NA | baixa | baixa |
Câmbio ² | |||
- EURO | 1,2534 | baixa | baixa |
- REAL | 1,9797 | baixa | estável/baixa |
Mercado Acionário | |||
- Ibovespa | 54.463,16 | estável/baixa | estável |
- S&P 500 | 1.320,68 | estável | alta |
- NASDAQ | 2.839,38 | estável | alta |
(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
Voos turbulentos
Sabe-se que a presidente Dilma não ficou muito entusiasmada com o resultado dos leilões de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília. O governo chegou até a cogitar trocar alguns operadores ou mesmo trocar pelo menos um concessionário. Não encontrou amparo legal para o empenho. Agora, adia mais uma vez, por mais 15 dias, a assinatura dos contratos, mais um atraso no já atrasadíssimo processo de arrumação desses aeroportos para a Copa de 2014. Como diria o Barão de Itararé, parece que há no ar mais coisas do que simples aviões de carreira.
Dinheiro fácil (I)
A CEF não é a maior instituição financeira no Brasil. Mas é mais generosa na hora de gastar em publicidade, à frente do BB e de gigantes como o Itaú e o Bradesco. Segundo o ranking da publicação "Meio & Mensagem" em 2011, a CEF ficou em quinto lugar como maior compradora de anúncios, com gastos de R$ 428 milhões, atrás apenas das Casas Bahia, da Unilever, da Ambev e da Petrópolis, e na frente até da joia mais rara da coroa estatal, a Petrobras.
Dinheiro fácil (II)
O PT sozinho, ano passado, ano não eleitoral, portanto de vacas mais magras para os cofres do partidos políticos, arrecadou, de contribuições do setor privado, mais de R$ 50 mi, dez vezes do que conseguiram seus principais concorrentes nesse "mercado", o PMDB e o PSDB. E depois ainda falam em "financiamento público de campanha".
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