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Política & Economia NA REAL n° 180

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Atualizado em 5 de dezembro de 2011 14:16

Ufa ! Enfim, o Banco Central Europeu

Em matéria econômica não existe pior crise que a cambial. A dúvida sobre a credibilidade, a estabilidade e a solvência da taxa de câmbio e seus correspondentes ativos financeiros não pode persistir por longos períodos sob pena de instalar ou aumentar a dinâmica dos colapsos financeiros. Se a moeda "sob contestação dos agentes" for uma das mais transacionadas do mundo, a crise é muito maior. Embora esta assertiva seja amplamente conhecida pelos economistas e não-economistas, não deixa de ser surpreendente a irresponsabilidade dos líderes europeus em relação ao tema, sobretudo no caso da chanceler alemã Angela Merkel que quer impor modelos fiscais em meio a um turbilhão cambial. É como se os bombeiros ficassem discutindo sobre as origens de um incêndio em meio a sua propagação. Nesta hora, o que começa a aparecer no horizonte é a perspectiva de que o Banco Central Europeu (BCE) irá fazer uma intervenção da ordem de US$ 1 trilhão para aumentar a solvência de países e bancos. Talvez esta seja, de fato, a única medida cabível em meio às especulações de que o euro irá entrar em colapso.

Consequências da intervenção

No caso da Europa, é sempre bom ter certeza sobre o contexto e a magnitude da intervenção do BCE nos mercados antes de avançarmos em prognósticos. No próximo dia 9, a cúpula da União Européia irá se reunir para (mais uma vez) discutir a crise no Velho Continente. Até lá é possível que o BCE já esteja em plena ação. Este pacote, se for mesmo de US$ 1 trilhão, parece ser capaz de provocar a estabilização financeira em todo o continente, especialmente na Itália e Espanha. Esta estabilização é condição sine qua non para que o longo rescaldo relativo à recessão, desemprego e melhoria das contas fiscais possa andar para frente. Ainda sobrará muita dor social e econômica aos países, mas a superação da corrente especulação deve favorecer a valorização dos ativos (ações e títulos de renda fixa), bem como tornar menos neurótica as operações usuais dos agentes. O mundo agradece e torce para que dê certo.

Os EUA devem ser os mais beneficiados

A economia norte-americana representa cerca de 1/4 do PIB mundial e, por ser muito aberta, é muito dependente do consumo mundial e de seu próprio consumo (que, por sua, vez representa 2/3 do PIB norte-americano), deve ser a maior beneficiária da estabilização europeia. Além disso, já existem sinais iniciais de que o consumo das famílias americanas está começando a crescer. Ainda não dá para estarmos certos de que se trata de um novo ciclo econômico que se inicia, mas, como já afirmamos há um mês, as chances de reversão são concretas. Note-se que não estamos dizendo que devemos sair por aí soltando fogos. O que estamos dizendo é que o pior parece estar passando. É hora de não nos conformarmos com o pessimismo reinante, mas o de olharmos para o futuro e tentarmos extrair oportunidades (hoje) dele.

Ainda a China

Já repisamos muitas vezes nesta coluna que os riscos da China são múltiplos e não há transparência suficiente para se chegar a um diagnóstico da saúde da economia chinesa e, muito menos, sobre a concreta possibilidade da existência de "bolhas especulativas" naquela economia. De toda a forma, devemos reconhecer que é quase impossível uma economia sustentar uma taxa de investimento acima de 40% do PIB - no Brasil esta taxa é a metade - sem que existam desequilíbrios no sistema de crédito e de preços. É preciso estar atento para aquele lado do mundo, sobretudo o Brasil que é altamente dependente das exportações de commodities.

Brasil, devagar no estrutural e tranquilo no conjuntural

Se colecionarmos as reformas pelas quais o Brasil passou nos últimos 15 anos, verificaremos que estas são, no mínimo, modestas frente aos desafios que necessitam ser ultrapassados para que caminhemos para o desenvolvimento pleno de nosso país. Há uma leniência em relação aos investimentos em infraestrutura, tecnologia, educação, logística, etc. Não dá para nos enganarmos e cairmos no "conto da carochinha" de que somos o melhor país do mundo, conforme alguns daqui e de lá de fora imaginam. Falta-nos um plano estratégico de longo prazo para conquistarmos pontos na direção de um país mais equilibrado do ponto de vista social e econômico. De outro lado, é preciso reconhecer que os riscos de curto prazo são perfeitamente manobráveis, inclusive do ponto de vista fiscal (contas públicas), monetário (especialmente, no caso da inflação) e cambial (cujas reservas externas são significativos). Os juros básicos caminham para a queda - talvez estrutural -, mas os juros bancários ainda estão em patamares mundialmente recordes. Se a Europa se acalmar, o Natal pode ser mais generoso que o esperado. Poderemos comemorar. Sem entusiasmo, no entanto.

Pacote anticrise

Sinceramente, pouco temos a comentar sobre o "pacote anticrise" anunciado pelo ministro da Fazenda Guido Mantega, na semana passada. Criar expectativas ou desfazê-las é parte da tarefa de governar. Lançar mão de medidas pouco claras em relação aos objetivos e menos claras ainda, em relação aos meios, é algo indesejável de se ver emanado do governo. Pois foi exatamente isso que se viu em relação ao referido pacote : inepto para evitar crises e insuficiente para criar expectativas. A única observação que podemos fazer é que o governo parece adotar um ritmo bem gradualista para se colocar contra a crise. Esta prudência é positiva, mas é preciso não errar na dose e produzir "um nada" em termos de expectativas.

Radar NA REAL

Acreditamos que o cenário de curto prazo pode sofrer uma sensível alteração neste final de ano com um maior otimismo face às expectativas anteriores. É preciso perceber se, de fato, os europeus vão conseguir introduzir medidas monetárias e cambiais suficientes para estabilizar as expectativas dos agentes. É cedo para dizer, mas acreditamos que os diversos segmentos do mercado financeiro hão de apresentar um desempenho menos estável e mais construtivo. Relativamente ao médio prazo ainda não somos capazes de recomendar com clareza uma estratégia. Haveremos de fazê-lo em futuro breve.

2/12/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA baixa baixa
- Pós-Fixados NA baixa baixa
Câmbio ²
- EURO 1,3472 estável alta
- REAL 1,7821 baixa estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 57.885,84 estável/alta estável
- S&P 500 1.244,28 estável/alta estável
- NASDAQ 2.623,93 estável/alta estável

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Dilma, uma autora à procura de um estilo

A publicação recente de dois livros com histórias da presidente da República, uma feliz conveniência tanto do mercado editorial quanto do mercado político, coincidentemente ou não, faz parte de um esforço de criar uma identidade própria de primeira mulher a chegar ao comando supremo da nação brasileira. Contribui para reforçar as qualidades atribuídas a ela de boa gerente, durona (pero sin perder la ternura jamas), intransigente quando necessário, da faxineira intolerante com os "malfeitos". Esta fixação de estilo é um necessidade também do mercado do poder, para retirá-la das sombras, reais e/ou imaginárias, que pairam ainda sobre ela : do mentor Lula, do PT, dos partidos aliados. Realidade ou não, o certo é que, por todas essas vicissitudes, ela parece ainda não ter nas mãos todas as rédeas do poder.

Vacilações

As vacilações que a presidente demonstrou para demitir alguns ministros encalacrados em "malfeitorias" é um exemplo de que as rédeas do poder ainda estão frouxas. As dificuldades que ela enfrenta com os aliados, outra. Lula, por exemplo, nem mesmo no auge do mensalão, viu tantas pedras em seu caminho no Legislativo. Dilma é uma personagem em busca de um ator. Sua grande oportunidade é a reforma ministerial.

Em tempo

Os livros referidos na abertura desta nota são :

1. "O cofre do dr. Ruy", de Tom Cardoso, editora Civilização Brasileira.

2. "A vida quer é coragem", de Ricardo Amaral, editora Primeiro Plano.

Expectativa demais

Pelo que os porta-vozes "ocultos" da presidente estão prometendo para a reforma ministerial de janeiro, Dilma só reforçará sua imagem se atender a quatro requisitos :

1. Trocar ministros para além dos que precisam ser trocados por algum tipo de suspeita de "malfeitos" e insuficiência de desempenho.

2. Fazer uma dança de cadeiras no ministério entre os partidos e ainda incorporando atores não partidários à equipe.

3. Acabar com os feudos ministeriais e as entregas de porteira fechada.

4. Reduzir de forma significativa o número de ministérios.

Todas essas mudanças, apregoadas como em andamento nos bastidores de Brasília, atingem diretamente o "negócio da política". Se não se realizarem, vão frustrar expectativas. Tal qual o pacote "anticrise" do governo na semana passada.

Um é um, o outro é o outro

Análise de um experiente político de Brasília da chamada base governista : "Lula conquistava pela simpatia, pela lábia, pela capacidade de conversar e negociar. Na hora que quis impor, tropeçou na CPMF. A linguagem da Dilma é só da vontade dela. Lula dava liga. Dá para ver que falta um mínimo de coesão na base aliada e no próprio ministério. Lá está cada um por si. Tem de tropeçar".

Quem quiser que acredite

É certo que estamos na época do Natal, mas mesmo os que acreditam no bom velhinho estão com dificuldades de acreditar que o senador José Sarney, com mais de 50 anos na praia da política, cometeu um cochilo na semana passada, ao contribuir com a oposição para retardar no Senado a votação do projeto que prorroga até 2015 a vigência da DRU (Desvinculação das Receitas da União). O PMDB, insatisfeito sempre com verbas e ministérios, às vésperas de mudanças na equipe de Dilma, exercita seu melhor estilo assopra (com Michel Temer, a apaziguador da República) e morde (com Sarney, Renan Calheiros, Henrique Alves, pero sin perder la ternura jamás).

Se colar...

Na esteira desse peemedebismo de resultados, os senadores mineiros Clésio Andrade (PR, em transição para o PMDB) e Zezé Perrela (PDT) assinaram a proposta da oposição com emendas ao projeto da DRU e avisaram, em nota oficial, que poderão retirar o apoio se Dilma não der prioridade máxima a alguns projetos do interesse de Minas.

As municipais - I

Não se sabe se é sonho ou fantasia apenas, mas os PSDBs paulista e paulistano começaram a ficar animadinhos com a possibilidade de José Serra negar o que vem jurando até agora e aceitar concorrer à prefeitura de São Paulo. O fantasma de uma derrota na capital paulista, menos pela força de Fernando Haddad e mais por suas fraquezas e idiossincrasias internas passou a ronda para valer o sono do tucanato.

As municipais - II

Com Lula articulando no momento em ritmo mais "piano" e à distância, o PT já começou a perceber que terá dificuldades de atrair todos ou a maior parte dos parceiros Federais para cidades-chaves nas eleições municipais. Sem Lula, que diz e faz o PT acontecer, os aliados estão desconfiados de que o partido de Dilma vai querer sempre comandar as melhores fatias.

Ninguém é de ninguém

Aliás, a aliança governista sofre desse mal : ninguém confia inteiramente em ninguém. Basta conversar com um peemedebista em relação aos petistas com a garantia de anonimato da informação ou auscultar um petista a respeito agora, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e seu PSB. E assim por diante. Ademais, a oposição somente não padece do mesmo mal nas dimensões do governismo porque está em "estado de necessidade" o que a faz ir mais ou menos unida para as eleições de 2012 (onde der) e 2014. 

Ronaldo "Fenômeno", CBF e governo

Comenta-se na imprensa que o presidente da CBF, em vista de possíveis denúncias de corrupção vindas do exterior, mais exatamente da sede da FIFA na Suíça, estaria se "blindando" por meio de "nomes populares" sabiamente colocados ao redor de seu trono. Ora, não sabemos se uma estratégia dessas dá certo. Mesmo com inserções televisivas de comerciais dando conta da eficiência da CBF na gestão desta "coisa nossa" chamada futebol, a pergunta que fica é : e o governo ? Como vai se comportar o governo sabendo que o presidente da CBF, organizadora local da Copa, está envolvo por vastos mantos que obscurecem suas atividades ? Mais ainda : Ronaldo "Fenômeno" e seus conflitos de interesse afetam em alguma medida o interesse público ? Vejamos as próximas trocas de passe na cartolagem do futebol...

Aeroportos : medidas desmedidas

As autoridades que regulam aeroportos e o setor aéreo brasileiro (ANAC, Infraero, etc.) anunciaram há duas semanas um plano para evitar o "caos aéreo" no Brasil. Tudo funcionaria melhor em março do ano que vem quando o Carnaval e as férias já passaram. Acredite se quiser.

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