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Política & Economia NA REAL n° 179

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Atualizado em 28 de novembro de 2011 10:53

Europa : BCE vai entrar no jogo

A generalização da crise no Velho Continente já é evidente e, assim sendo, os policy makers tem motivação extra para agir, coisa que não é muito do feitio dos europeus. O melancólico encontro do final da semana passada entre a chanceler Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy mais uma vez levou à dúvidas, mas houve avanço : a despeito da resistência da alemã parece que finalmente o Banco Central Europeu vai pôr as mangas de fora. Com efeito : poderá exercer o seu decisivo papel de "emprestador de última instância" e, desta forma, injetar nas combalidas economias meridionais a liquidez que lhes falta neste período de turbulência. Há dois anos o debate acerca do tema se esvai pela incompetência política dos principais países europeus em lidar com os problemas de sua própria moeda. Agora, parece que a gestão do BCE se encaminhará para o seu natural processo em tempos de crise.

Europa : união fiscal

Tanto os franceses quanto os alemães tem soltado informações incompletas que a União Europeia estuda a consolidação fiscal dos países membros. Trata-se de informação relevante e positiva : "uma moeda e uma só dívida" faz todo o sentido e evitaria muito da contaminação que ora se verifica. Obviamente, em se tratando de Europa e de assunto tão complexo o prazo de implementação é de anos e não meses. Até porque isso resultará numa perda substantiva de soberania de cada país. Os políticos estão dispostos a fazê-lo ? Por tudo isso, é bom não apostar neste assunto como pressuposto para melhorar o conturbado momento pelo qual passa a economia continental. A solução no curto prazo é monetária : injetar liquidez e esperar que a inflação suba um pouco. O resto é conversa para diplomatas e políticos nos próximos anos.

Ação de Graças, graças a Deus !

As vendas do mais importante feriado dos EUA, o dia de Ação de Graças, na semana passada foram da ordem de US$ 52,4 bi, algo como 16% superiores ao ano passado. Trata-se de um resultado espetacular e que nenhum economista neurologicamente equilibrado poderia prever. Obviamente, quando um fato destes ocorre, os analistas se socorrem das mais variadas explicações as quais, na maioria das vezes, servem a justificar os próprios erros de avaliação. De toda a forma, vamos ao que interessa : estas vendas podem ser um sinal de reversão das expectativas negativas para o consumo. Não se pode desprezar o fato de ser apenas UM indicador. Da mesma forma, não se pode esquecer que se trata de um dado importantíssimo nos EUA, pois revela o animus da sociedade em relação ao ano que vem, num país no qual o desemprego gravita em torno de 9% da sua mão de obra ativa.

Abram os olhos para a China

Já comentamos aqui neste espaço alguns aspectos sobre a China. Na semana passada, o governo comunista de Pequim lançou uma série de medidas de estímulo econômico, especialmente para o setor de construção civil. Este é responsável pelo menos por 3% do crescimento anual do país (entre 8% e 9%). Dificilmente, a China nos próximos anos manterá uma taxa de investimento da ordem de 40% de seu PIB. A improbabilidade não é apenas estatística de vez que pode estar se formando uma imensa "bolha de investimento" no país. Num país onde a transparência depende de um governo forte, comunista e central, estes riscos tendem a ser exacerbados. Os agentes econômicos sabem disso e, como já vimos nas dezenas de crises dos últimos dez anos, o mercado está longe de ser perfeito.

No Brasil, pouca informação e algumas "desconfianças"

Rigorosamente, nada de muito importante ocorreu nas últimas semanas que dê elementos novos relativamente às tendências consolidadas (inflação alta, desaceleração econômica relevante, pleno emprego e confiança alta e estável, etc.). Na imprensa tem saído, vez por outra, informações dando conta de um "pacote contra a crise" que estaria em gestão na Fazenda por estímulo do Palácio do Planalto. É preciso que se diga que faz todo o sentido que o governo se prepare para um cenário mais turbulento, mesmo que este não venha a ocorrer. De outro lado, é preciso que não se gere mais desequilíbrio em meio a um mundo de desequilíbrios. Pois bem : a maior e mais importante atuação que o governo pode protagonizar no curto prazo está no campo monetário. Trata-se de uma redução mais brusca da taxa de juros básica, ainda neste final do ano ou logo na virada de 2012. Ademais, a expansão do crédito também pode ser contemplada de forma mais imediata. Em ambos os casos os riscos existem : (i) do lado dos juros, trata-se da inflação, ainda num patamar desconfortável e (ii) do lado do crédito, o risco de tornar menos hígido o sistema financeiro num momento em que todos no mundo estão de olho neste item.

Radar NA REAL

25/11/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA baixa baixa
- Pós-Fixados NA baixa baixa
Câmbio ²
- EURO 1,3343 estável alta
- REAL 1,8540 baixa estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 54.894,51 estável estável
- S&P 500 1.158,67 estável estável
- NASDAQ 2.441,51 estável estável

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Dilma e o ministério : o desejo e o possível

As reações dos aliados, nada públicas por motivos óbvios, não foram nada simpáticas. Mesmo assim, porta-vozes não oficiais da presidente Dilma continuam assegurando, "à boca pequena" como se dizia antigamente, que ela não vai se contentar apenas em trocar alguns ministros em janeiro, uns por inadequação gerencial, outros por isso e também por "malfeitorias". Dilma fará também um ajuste mais fino da máquina ministerial.

Vertentes da mudança ministerial

A mudança do ministério da presidente, segundo esses "bochichos", teria três vertentes :

1. Livrar o governo de ministros problemáticos, segundo os critérios de eficiência e/ou temeridade na condução da pasta.

2. Eliminar o sistema de "capitanias hereditárias", instalada nos últimos tempos, em que cada ministério é feudo de um partido e nele planta suas raízes, a tal porteira fechada. Haveria rodízio de ministérios entre os partidos aliados e nem toda a equipe dos escalões superiores de uma pasta será do mesmo time do ministro. A ocasião seria aproveitada também para rever o peso de cada aliado no governo.

3. O mais importante : cairia o número de ministros e de secretarias com tal status. É voz (sem cara) corrente que o ministério da Pesca vai virar secretaria ou coisa parecida no ministério da Agricultura, o dos Portos seria incorporado pelo Transportes e as Secretarias de Direitos Humanos, da Mulher e da Igualdade Racial virariam uma só. Alguns mais audaciosos falam também num ministério da Infraestrutura (com Transportes e Comunicações) e até na fusão de Cultura, Turismo e Esportes num guarda-chuva único. Uma revolução que está deixando o mundo político literalmente de cabelos em pé. Imagine-se o PT perder de uma só vez três ou quatro postos. Ou o PMDB ver sua cota encolher... A impressão é que Dilma lança balões de ensaio de seus desejos (bons) para testar o possível.

Apoio e obstáculos

As intenções reformadoras da presidente ganharam um reforço de peso semana passada quando o empresário Jorge Gerdau, escolhido por Dilma para comandar a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do Governo Federal, tirou a caixa de ferramentas para atingir a ineficiência de Brasília e adjacências. Gerdau resumiu a ópera bufa, ao dizer, sucintamente, que é impossível administrar com 40 ministérios (na realidade são 38) e com mais de 23 mil cargos de confiança, de livre nomeação. Diz-se também que o vice presidente da República, Michel Temer, contrariando o DNA do partido do qual é presidente licenciado e hoje maior expressão política, o PMDB também defende essa dieta de emagrecimento Federal. Na outra ponta, há uma montanha rochosa com escarpas traiçoeiras - os partidos da base aliada, que não engolirão com facilidade ter seus cartórios eleitorais reduzidos, mormente em um ano de urnas eletrônicas. E uma incógnita : o que pensa o presidente Lula de tudo isso, ele que é o pai, a mãe e o avô desse esquema que sustenta politicamente o governo Dilma.

All the world

Em um texto luminoso na edição de domingo do "Estadão" a respeito da ex-primeira dama da França, Danielle Mitterrand, falecida na semana passada, o jornalista Gilles Lapouge, correspondente do jornal em Paris, deu a mais completa e sucinta definição do mundo de hoje em todos os quadrantes do universo : "...hipócrita, embusteiro, covarde, conformista". Algo a acrescentar no mundo dos trópicos tupiniquins, com suas mesquinhas disputas por cargos e benesses, tão bem caracterizadas nos episódios envolvendo o ministério do Trabalho e o ministério das Cidades ?

Em nível superior

É de solução muito mais delicada do que todos os outros casos de "malfeitorias" anteriores, tanto os que geraram as demissões de cinco ministros, o episódio envolvendo o ministério das Cidades e a troca do projeto de BRT (ônibus em corredores exclusivo) por um de VLT (Veículo Leve sobre Trilho) no plano de mobilidade para a Copa de 2014 de Cuiabá/MT. As demissões anteriores, ou foram casos individuais (Palocci) ou de uso indevido dos ministérios (casos dos Transportes, Agricultura, Turismo e Esportes). Agora não, as mudanças no parecer técnico do ministério das Cidades, para justificar a troca de um projeto de R$ 500 mi por um outro que no final das contas vai custar o triplo, foram engendradas para compromissos políticos acertados em nível superior. Pode sobrar para algum bagrinho, mas o próprio ministro Mário Negromonte, por mais trapalhadas que possa ter cometido na gestão de seu ministério, nesse episódio foi apenas uma correia de transmissão de ordens.

Noites de terror

Se há outra coisa que abala o sono de pessoas em Brasília e de algumas que pelo menos formalmente e de corpo presente já não habitam o Planalto Central são os fios da intrincada meada da compra do Banco Panamericano pela CEF ainda no governo Lula e que a PF está desvendando, peça por peça. O script traçado para que tudo não passasse de uma operação normal, que teve seu momento mais delicado quando dona Maria Fernanda deixou a presidência da CEF, já com Dilma e sem uma explicação convincente, está ameaçando desandar pela eficiência dos agentes Federais. Não se combinou com os russos.

Anomia, anemia

E a oposição hein ? Continua sem saber o que quer, se é que quer alguma coisa a não ser algumas das migalhas do Poder Público. Em um determinado momento mais duro do regime militar, quando o espaço do oposicionismo esteve perigosamente fechado, chegou-se a discutir entre eles a extinção do antigo MDB, hoje convertido no PMDB, sem nenhuma das virtudes do partido de Ulysses, Tancredo, Franco Montoro, etc. Felizmente a tese não foi para a frente e a persistência ajudou a abreviar o fim de uma ditadura que se pretendia eterna. Sem os mesmos problemas, a atual oposição parece ter optado pela inanição e, pelo andar do cabriolé e seus penachos de vaidade, para uma lenta extinção eleitoral, por absoluta irrelevância.

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