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Política & Economia NA REAL n° 169

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Atualizado em 12 de setembro de 2011 09:45

A política econômica de Dilma Rousseff é de Dilma

Se no todo o governo da presidente Rousseff ainda é comumente visto como mera continuidade da administração Lula, o mesmo não pode se dito da política econômica. São muitas as digitais da própria presidente nas recentes alterações na gestão da economia. Vejamos os principais traços da "nova política econômica" :

1) A presidente quer juros primários mais baixos, mesmo que isso implique na quebra de pressupostos relevantes do sistema de metas de inflação como, por exemplo, a administração das expectativas dos agentes;

2) A independência "operacional" do BC é muito mais "relativa". Este deve observar e seguir a orientação da política econômica sancionada pelo Planalto;

3) A presidente não é uma "fiscalista" na essência, mas vê nas restrições de gastos o principal mecanismo de gestão da economia (e da inflação). Todavia, não está disposta e nem tem força para revisar os gastos correntes feitos na gestão de Lula;

4) A taxa de câmbio não é resultado de fatores endógenos (formado pelo próprio mercado) e sim da excessiva liberdade de fluxos financeiros. É preciso administrá-los e, no limite, contê-los;

5) O controle da inflação deve centrar-se na variação constante dos preços e não em fatores ocasionais. Variações sazonais dos preços tendem a ser desprezadas na gestão da política anti-inflação, apesar dos riscos destas variações se proliferarem pelo resto da economia;

6) Política industrial não é adereço da política econômica como um todo (como durante FHC e Lula). Trata-se de uma necessidade do mundo global;

7) Investimentos públicos são os que puxam o setor privado para o jogo do desenvolvimento. Parcerias entre o setor público e privado são exceção e não regra.

Os testes da "nova política econômica"

Como se pode observar as mudanças de lavra da presidente são profundas. É um erro dos agentes desprezá-las ou não avaliá-las corretamente. De outro lado, toda mudança impõe riscos e estes não são nada pequenos. Vejamos :

1) A inflação é um problema sério. Há, sim, componentes inerciais e de rigidez na dinâmica dos preços, apesar da provável queda da atividade econômica;

2) Retirar do BC autoridade sobre os juros implica em adicionar mais um risco político direto sobre o Planalto. Além de gerar desconfianças no sistema financeiro que, como se sabe, ao reconhecer mudanças tira proveito de qualquer conjuntura;

3) Na área fiscal falta uma estratégia global para o controle dos gastos públicos. As soluções apresentadas para a produção de superávits fiscais são pontuais e sem consistência intertemporal. Não é um problema deste governo, mas torna-se mais vital quando se altera a política monetária na velocidade em que foi alterada;

4) O câmbio é formado endogenamente e pode surpreender. Além disso, foi a principal "âncora" contra a inflação desde o início do governo Lula;

5) Se os agentes não acreditarem mais no sistema de metas de inflação a reindexação é inevitável e somente ajustes maiores na atividade econômica (para baixo) corrigem os preços;

6) Uma maior dinâmica industrial depende de inúmeros fatores de competitividade que incluem desde políticas setoriais até aspectos sistêmicos, tais como menor tributação e redução dos oligopólios e monopólios na economia. Não há planos profundos nestes temas;

7) O setor público é essencial para engendrar mais crescimento. Todavia, a poupança/investimento do setor público é pelo menos 6% inferior (relativamente ao PIB) à média de países como China e Índia. Assim, as PPPs são a alternativa à mão até que substanciais ajustes no setor público sejam implementados.

Sinais da confiança abalada

É perceptível pela exposição pública a que se submeteram os economistas do governo, ao afirmar e reafirmar que a decisão do BC sobre juros não foi precipitada nem "política", que - na prática - aumentou-se a desconfiança em relação aos reais propósitos da política econômica, conforme nossa análise acima. O esforço governista de convencimento tem sido reforçado por economistas extra-oficiais, alguns até saindo, em seus mais recentes artigos, de seu estilo irônico e bem humorado de tratar os críticos. Estão um tanto quanto raivosos. A realidade - e o Boletim Focus desta semana é mais uma prova disto, por mais que a opinião dos "mercadistas" seja enviesada - é que há uma queda de braço entre o governo e os formadores de opinião (e de preços) de um modo geral.

Juros é questão política

O pano de fundo sobre a queda dos juros é mais do que econômico, é político. Duvida-se da disposição da maior parte dos governistas e da base aliada de levar adiante um ajuste fiscal real este ano e principalmente no ano da graça eleitoral de 2012. As contas oficiais, pelo menos as apresentadas até agora, não batem. A própria ministra do Planejamento, ao entregar o orçamento do ano que vem, já admitiu que "ele nasce com a necessidade de um contingenciamento (suspensão de pagamentos) de R$ 25 bilhões". Algumas rubricas, como o retorno do ICMS para os Estados, pela Lei Kandir, nem foram contempladas. Uma das apostas do BC para baixar os juros foi a economia que o governo promete fazer em seus gastos. Como se vê, a questão está bem obscura.

As contas reais

Quem mexe no Congresso e faz campanha política já, como se diz em economês, "precificou" as eleições municipais de 2012 : se os parlamentares governistas não tiverem um bom "incentivo" para as urnas, a bancada aliada na Câmara e no Senado tende a se reduzir. Já se levantam insatisfações nos municípios e mais desejos e ambições não atendidas da classe média de Lula com a qualidade dos serviços públicos.

O risco da oposição

Desse modo, a oposição, mesmo não querendo (aliás, parece até que está fazendo força para nada acontecer) corre o risco de sair mais fortalecida das urnas do que está hoje. Por inércia.

Não vai sair barato

O governo, bem no sufoco, vai aprovar até o fim do ano mais uma prorrogação da Desvinculação das Receitas da União. Sem ela é que as contas nacionais não fecham satisfatoriamente no ano que vem. Vai pagar um pouquinho caro, porém. Um tanto por incúria, pois demorou a mandar a proposta , entregando de graça armas para os chantagistas amigos - os aliados confiáveis, segundo a presidente Dilma na entrevista doméstica no Fantástico.

Os "patricinhos" de Lula

Foi-se o tempo em que os parceiros políticos preferenciais de Lula eram os velhos amigos sindicalistas e os políticos de tradição profissional. Criador da "nova classe média" brasileira, Lula está caminhando também para lançar uma "nova classe política" - a dos "patricinhos", sem tradição de disputas eleitorais e com certo ar de "tucanos arrependidos". O protótipo é Fernando Haddad em SP. Há, porém, indicações de que outros nomes da mesma extração podem surgir no empreendimento municipal de Lula para o ano que vem. Um deles seria o de Marcio Pochmann, do IPEA, para Campinas. Há companheiros com profundas crises de ciúmes e de identidade.

Radar NA REAL

9/9/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA queda estável
- Pós-Fixados NA queda estável
Câmbio ²
- EURO 1,3602 estável alta
- REAL 1,7014 estável/alta estável/queda
Mercado Acionário
- Ibovespa 55.778,35 baixa baixa
- S&P 500 1.154,23 baixa baixa
- NASDAQ 2.467,99 baixa baixa

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Imposto novo na Grécia

As chances de dar certo o imposto sobre propriedades, a ser implementado na Grécia, são remotas. Pode até produzir mais resultado fiscal no curto prazo, mas não evitará o default grego. Todos os governos responsáveis sabem disso. A dívida do país é impagável sob todas as circunstâncias e o sofrimento social é insustentável politicamente. O resto é análise furada.

O novo imposto brasileiro

Dilma pode negar a "volta da CPMF", mas o que a presidente quer mesmo é um imposto igual ao da CPMF, mas com maior rigidez na hora de gastar. Ou seja, a "nova CPMF" voltará sob o argumento de que "agora vamos gastar mesmo com a saúde". A questão é saber se o imposto volta este ano ou em 2012.

Obama e o Congresso, de novo

O pacote de US$ 447 bilhões de "dinheiro novo" para gastos públicos proposto por Obama tem enorme chance de ser mitigado no Congresso, atualmente mais controlado pelos republicanos. Além disso, as desconfianças na agenda política do presidente norte-americano estão tão grandes que nem seu próprio partido acredita que haverá criação substantiva de empregos no curto e, quiçá, no médio prazo. Somente as eleições presidenciais do ano que vem podem "zerar" o jogo político em favor da redução do desemprego.

Fusão de bancos

Não são poucas as movimentações de um grande banco de investimento brasileiro no mercado local. Recentemente, este banco, conhecido pela sua agressividade, andou rondando os lados de um grande banco de varejo brasileiro. O objetivo era fundir as operações, criando espaços para uma internacionalização mais rápida do "novo banco". Por enquanto, prevaleceu o veto do principal executivo. Quanto ao futuro, bem, quem viver verá...

Alckmin e Serra

A insistência do governador de SP em lançar a candidatura de Serra à prefeitura deve ter o claro objetivo de alijar o ex-governador e candidato à presidência das negociações em torno de outra candidatura. Afinal, Serra não quer nem ouvir falar em ser prefeito e Alckmin, sabedor disso, ao insistir na candidatura, quer que a retirada de Serra do front seja declarada, mas também completa. Que não fique nenhum preposto dele na liderança das negociações. Alckmin quer reinar sozinho.

Veja versus Dirceu

José Dirceu espera com certa ansiedade o resultado das investigações sobre o que ele considera "uma invasão de sua privacidade", no caso, a reportagem da semanal Veja sobre suas atividades em Brasília. Com base nas investigações da polícia é que o líder do PT decidirá sobre os caminhos jurídicos a tomar. Será interessante de toda a forma sabermos como se comportará Dirceu enquanto autor, ao mesmo tempo em que é réu.

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