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Política & Economia NA REAL n° 160

terça-feira, 12 de julho de 2011

Atualizado às 08:07

Uma transamazônica de problemas

Embora parcela dos analistas e, obviamente, os empedernidos governistas tenham entendido que Dilma agiu com eficiência nas suspeitas envolvendo o ministério dos Transportes, a interpretação é bondosa em demasia. É fato que não seguiu o padrão "episódio Palocci", mas as vacilações foram - e ainda são as mesmas - uma demonstração de que o governo, sem tutelas, sem temores e sem titubeios ainda não foi ainda inaugurado pra valer. O simples fato de a presidente ter "prestigiado" inicialmente o ministro Alfredo Nascimento, entregando a ele a investigação das supostas irregularidades, para depois forçá-lo a se demitir e, em seguida, convidar outro condestável do partido (PR) para o cargo e considerar ainda o ministério dos Transportes um feudo dos comandados de Valdemar da Costa Neto já diz sobre o grau de amarras que cercam S. Exa..

Asfalto movediço

Tem mais a demonstrar os grilhões do governo :

1. Luiz Antonio Pagot foi dado como demitido, amuou e então foi aceito como estando de férias.

2. O movimento para barrar uma possível CPI do DNIT que uma oposição combalida ameaça, sem nenhuma chance, convocar.

3. A preocupação com a reação do PR.

O que ele fez, fazia e agora vai fazer

Na estrutura dos ministérios, o secretário executivo é apontado como vice-ministro, o homem que toca o expediente, substitui o titular e coisas assim. No ministério dos Transportes, Paulo Sergio Passos exerce esta função desde a era de Lula. Já foi até ministro interino, quando o agora ex-Alfredo Nascimento saiu para concorrer ao Senado e depois ao governo do Amazonas. Guardou o lugar do titular. No caso levantado pela "Veja" o que viu Passos ? Ou não viu ? Ou fingiu-se de técnico apenas ? Ou contou tudo para alguém e viu o circo explodir ? Quais dessas credenciais fizeram de Passos o novo ministro, como o Palácio do Planalto anunciou ontem à noite.

Curvas traiçoeiras

Pelas primeiras indicações, a crise foi jogada temporariamente para debaixo do tapete. É uma tentativa de acomodação política. Pelo ambiente do mundo de fora, Dilma precisa dar um murro geral na mesa. O Congresso e os partidos estão abarrotados de escaninhos e curvas traiçoeiras. Esta semana vota-se a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Com armadilhas para pegar onça pintada.

E ele, o que é ?

Pouca gente, pelo menos quem não é do "ramo", conseguiu entender ainda o papel do secretário geral da presidência da República, Gilberto Carvalho, no governo Dilma. Ele está em todas (ou quase todas) as exposições para a mídia, ao contrário do discreto e eficiente mineiro Luiz Dulci no posto palaciano com Lula. Foi de Carvalho a solução (temporária) das férias de Pagot, depois de o Planalto ter saído com a notícia da demissão imediata do homem do DNIT. Disseram a jornalistas que Dilma teria ficado irritada com o auxiliar direto por isso. Mas ficou irritada apenas neste caso ?

O silêncio dos inocentes - O retorno

Ativos no episódio Palocci, um muito diretamente, o outro mais nos bastidores, o presidente de honra do PT e ex-presidente da República, Lula da Silva, e o presidente licenciado do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, guardaram obsequiosa e silenciosa distância do asfalto selvagem do ministério dos Transportes. Afinal, o negócio Palocci, embora atingisse indiretamente o governo, era mais uma questão pessoal. Já rodovias, ferrovias e tais... Em tempo : o PMDB, na fase de formação do governo Dilma, teve entre seus ministérios mais cobiçados o dos Transportes.

A foice está solta

Na esfera oficial o jogo já está feito para 2014 : como na loteria zoológica inventada pelo Barão de Drummond, "na cabeça vai dar", fora imprevistos pouco prováveis, Dilma ou Lula. Não necessariamente nessa ordem de preferência. As caneladas ficam por conta do segundo lugar, já em plena disputa, despontado na frente o atual donatário, o PMDB e, em segundo, o PSB. Por essas e outras é que, tirando o lado da tragédia familiar e pessoal pela qual ele passou recentemente, ninguém nesse mundo está se comovendo com as agruras do governador Sérgio Cabral, do Rio, amigo e cópia carbono mal tirada do ex-presidente Lula. Solidariedade política ele não está tendo nem de seu partido. Vale o oposto também.

Uma falsa calmaria

Quem olha o PMDB só pela superfície, vê hoje quase "um manso lago azul sem ondas nem espuma". Nada mais falso - o que talvez explique o retraimento de alguns de seus caciques, temporariamente aposentados da mídia. Ou a nova postura de Sarney a cobrar explicações de quem aparece no governo encalacrado, como fez na semana passada com Alfredo Nascimento, o oposto do que havia feito com Palocci semanas atrás. A razão é que ganham corpo e consistência duas dissidências dentro das bancadas do partido na Câmara e no Senado, não apenas contra os pajés que tudo podem e tudo levam, mas em defesa de uma nova imagem para a legenda. No Senado, oito senadores "independentes" já vão longe nas discussões de que posições devem tomar, sem radical oposicionismo ao governo. Na Câmara o movimento é mais incipiente, mas já ocorreram reuniões de debates com a presença de cerca de 20 deputados.

É a política

O julgamento do "mensalão", que começou a entrar nos "finalmentes", tem aspectos político-institucionais infinitamente mais relevantes que todos os aspectos técnico-jurídicos que engloba : o seu resultado vai definir o país democrático, republicano que queremos ter. O Supremo, com muitos de seus titulares agraciados mais ao gosto político-partidário-emocional do que jurídico, terá de mostrar, coletiva e individualmente, qual sua real dimensão como Corte Suprema.

A calmaria é real

A oposição está parecendo a seleção do Mano Menezes : não é uma equipe, não tem conjunto, não tem plano de jogo e é incapaz de transformar em fatos e ações (gols) de interesse nacional as oportunidades que os adversários (os governistas) lhes entregam gratuitamente. Dão sempre um drible a mais ou tentam as surradas soluções que não levam a nada.

Propaganda enganosa

Chega ao limite do deboche, para dizer o "menos pior", a propaganda que algumas ditas (mas não provadas) instituições de ensino fizeram publicar nos últimos dias celebrando o desempenho de seus alunos no último exame da OAB. É caso, isto sim, para luto fechado da sociedade e da comunidade jurídica nacional e para uma ação sumária, cirúrgica das autoridades. Mas o MEC, entenda-se, é uma entidade política...

É a economia

O governo Dilma está na berlinda, desde o seu começo - já lá se vão mais de seis meses- por razões de política e adjacências. É o acerto partidário nunca concluso, é a cobrança no Congresso, é o caso Palocci, é o caso Mercadante-aloprados, é o caso do ministério dos Transportes, são as idiossincrasias dos aliados, os amuos dos que se acham donatários e ministérios e cargos, e outras historinhas menos votadas. Mas no horizonte real, para cidadãos e agentes econômicos empresariais e particulares, é um crescente incômodo econômico, com ameaça de inflação, juros em alta, crédito limitado, câmbio escorregadio e crescimento da concorrência externa que vão trazendo uma inquietação crescente fora do mundo da política. Por razões que vão do otimismo exacerbado de alguns auxiliares de Dilma às atitudes boquirrotas de outros, passando por desentendimentos conceituais entre os setores oficiais, deixam a impressão da falta de uma política econômica orgânica e de longo prazo e de pesadas doses de improvisação e remendos. Não pode um ministro dizer que está assustado com o câmbio, por exemplo !

A fila anda

Os mercados comemoraram na semana passada a "salvação" da Grécia depois da liberação de novos recursos da União Européia em função da aprovação de mais um pacote de austeridade. Não se passaram dois ou três pregões para que os especuladores de mercado mirassem no pequeno Portugal e na Itália. Discute-se em relação a ambos os países a possibilidade de seus créditos serem insuportáveis no que tange à solvência. As agências de ratings, apesar de muito questionadas durante a crise norte-americana de 2008, voltaram a prestar seus serviços e a opinar sobre a dívida alheia em plena erupção do magma especulativo. Soa no mínimo estranho...

Sem solução no curto prazo

Uma coisa é certa : a Europa ainda vai viver durante um bom tempo sob forte escrutínio do tal do mercado. A Grécia irá, de alguma forma, reescalonar (ou reestruturar) a sua dívida. Poucos cálculos aritméticos são necessários para se verificar que o país não terá condições de honrar seus compromissos, apesar de já ter jogado quase 25% de sua população economicamente ativa no desemprego. Portugal e Espanha dependerão da "boa vontade" do mercado, coisa que não existe na prática. Irlanda está quebrada também. Até mesmo a França tem lá suas imbricações entre o sistema financeiro e seu setor produtivo, uma fonte constante de problemas para a higidez do sistema financeiro. Muitas análises ainda trazem estimativas/avaliações sobre as possibilidades de Grécia, Portugal, Espanha e cia. voltarem a ter paz para obter crédito. Tais avaliações não passam de uma cortina de fumaça sobre a realidade. Tudo com anuência da Alemanha, a sócia rica da UE e eterna fonte de problemas para a efetivação de uma política econômica consolidada no Velho Continente. Os alemães, quando o assunto é economia, se comportam como uma raça superior. Infelizmente. A tensão vai continuar.

Obama pede, os republicanos respondem

Enquanto Obama pavimenta seu caminho para disputar a reeleição, também pede que os republicanos que aceitem aumentos de impostos para minimizar os efeitos do gigantesco déficit fiscal utilizado para salvar o país do colapso de seu sistema financeiro. A resposta republicana vem em doses pouco homeopáticas : aponta o corte para os programas de universalização da saúde e da previdência. Algo duro para os democratas. A possibilidade mais efetiva é que tudo fique "no meio do caminho", nem muito ao déficit e nem muito aos impostos. O que significa que a dívida pública do país vai continuar gravitando acima de seu PIB, algo como US$ 14 trilhões. Neste ambiente, a coisa mais provável de ocorrer é o pessimismo continuar em alta no país.

Mais emissões de ações

Três empresas de grande porte brasileiras preparam o lançamento de suas ações nos EUA. Apesar de todo o pessimismo reinante no mercado internacional. A conferir.

Radar NA REAL

8/7/11 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,4016 alta alta
- REAL 1,5810 estável/queda estável/queda
Mercado Acionário
- Ibovespa 61.513,26 baixa estável/alta
- S&P 500 1.343,80 estável/baixa alta
- NASDAQ 2.859,81 estável/baixa alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

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