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Política & Economia NA REAL n° 155

terça-feira, 7 de junho de 2011

Atualizado em 6 de junho de 2011 10:56

O vício está na origem

A decisão do procurador-Geral da República de arquivar as quatro representações da oposição contra Palocci deu uma sobrevida, talvez até uma vida longa, ao chefe da Casa Civil. Deu também o argumento que o presidente da Câmara, Marco Maia, necessitava para anular a convocação de Palocci para depor na Comissão de Agricultura sem parecer demasiado parcial. A insistência de Dilma em ficar com Palocci, apesar das pressões até de partidos aliados, tem outra razão que a simples solidariedade e o respeito à presunção de inocência do ministro : as dificuldades para encontrar alguém que o substitua com as características que foram imputadas a ele quando de sua escolha - ao mesmo tempo um eficiente gerente e um hábil articulador político. Assim, sem Palocci o governo ficaria manco, pois Dilma também tem características especiais que não a deixam ocupar os espaços que foram designados para o ministro da Casa Civil. Com Palocci baleado em campo (a confusão não vai amainar tão cedo, mesmo agora com o parecer de Roberto Gurgel) ou sem ele, no entanto, o governo continuará com problemas em seus espaços políticos, pois a confusão não nasceu com a decadência política do ministro. Está na origem do governo. O caso Palocci apenas explicitou o que já estava latente. O governo Dilma é politicamente arrevesado.

O grande equívoco

O pecado original foi a crença de Lula - depois abraçada de forma obediente pelo PT e seus aliados - de que seria possível botar na presidência da República, cargo eminentemente político, uma pessoa de perfil gerencial, sem gosto e paciência para as negociações que a política exige - as boas e, no Brasil, as más. O arranjo foi terceirizar essa função, deixando-se um pedaço dela para o ministro da Casa Civil, outro tanto para o ministro das Relações Institucionais e, ainda, algumas funções para o ministro Secretário Geral da presidência. Lula teve todo esse aparato, mas todos os seus auxiliares nesta linha eram, por assim dizer, "subintelocutores" dos políticos, dos empresários, dos sindicalistas, das ONGs. Quem fazia a interlocução real era ele mesmo, Lula, o animal político por natureza que tinha a caneta e o poder de decisão.

Linha torta

Como nem Palocci (o "primeiro ministro"), nem Luiz Sérgio e nem Gilberto Carvalho tinham força para fazer acontecer o que conversavam e acertavam, uma vez que dependiam da palavra final de Dilma, as relações políticas do governo ficaram capengas. Antes de estourar o caso Palocci, a insatisfação com o Planalto no Congresso, nos partidos aliados, já era imensa. Explodiu no episódio do Código Florestal, mas teria explodido também em outra votação na Câmara e no Senado mais tarde. Com ou sem consultorias do ministro, diga-se. É insatisfação que já atingia ministros, dirigentes de estatais e até gente de fora do governo.

Assim sendo...

Com Palocci totalmente reabilitado ou com ele fora do governo, a crise política que cerca o governo Dilma, fato negado inicialmente e agora classificado como um "problema do ministro", não vai embora. Ela fica, instalada no Planalto. O que terá de ser feito é reformular politicamente o governo, não apenas trocar de nomes. E esta reformulação implica que Dilma assuma as funções presidenciais em sua plenitude, como uma entidade política. Inclusive com paciência para a "micropolítica". Há muito urubu rondando o telhado...

Os nomes para a Casa Civil

As especulações para a substituição de Palocci, e que ainda estão no ar, gravitam em torno da ministra do Planejamento Miriam Belchior que, por sua vez, seria substituída por Paulo Bernardo no Planejamento e Graça Foster, diretora da Petrobras, um dos primeiros nomes cogitados por Dilma para o lugar, ainda na fase de formação do governo. Depois é que surgiu Palocci, indicado por Lula. O único nome que preenche o requisito político (comentado nas notas acima), no que diz respeito à articulação política do governo, é o de Paulo Bernardo. Experiente burocrata e político, Bernardo pode facilitar as articulações necessárias à retomada da normalidade do governo Dilma. Já Belchior e Foster são nomes que reforçam a visão de que o governo continuará carente na arte da política. Com o agravante de que há reservas sobre a personalidade excessivamente forte de ambas as amigas da presidente. Mas, por enquanto, a vez ainda é de Palocci.

Pagando também pelo que não deve

Palocci está hoje em desgraça com os políticos, mesmo os que ainda o defendem não querem ser vistos em sua companhia. A razão não é apenas os embaraços causados pelos até agora mal explicados negócios de consultoria empresarial. Ele já estava em desgraça antes no meio político, porque é tido como responsável pelo represamento das nomeações para o segundo escalão e das verbas das emendas do parlamentares. Neste caso, está pagando pelo que não deve. Decisões desse tipo saem de um andar superior ao de Palocci. A não ser que ele fosse poderoso o suficiente para impor essas normas à presidente. A interpretação de que era Palocci quem barrava tudo pode ser até conveniente para Dilma, pois não a indispõe diretamente com os políticos, mas ajuda a desgastar sua imagem de pessoa decidida. Já bastam as intromissões do sucessor.

A caneta é dela

As decisões de bloqueio são, sim, da presidente, que não quis se render ao jogo tradicional do escambo fisiológico da política. Quis deixar isto para os ministros "políticos". Agora, o desafio da presidente é mergulhar nessa micropolítica sem entrar no jogo bruto.

Um homem de peso

Gabinetes muito bem postados em Brasília e em SP - e bota bem postados nisso ! - estão anotando ciosamente em suas cadernetas de "deveres e haveres" a agilidade política com que tem se movimentado o vice-presidente da República, Michel Temer. O prócer do PMDB é comparado, em termos de fidelidade, com o companheirão José Alencar nos tempos lulistas. Uma comparação penosa para o atual vice.

Joguinho sem erros

Pergunta um : quem quer a permanência de Palocci no governo, de preferência fragilizado ? Pergunta dois : quem não quer mais Palocci no governo de modo algum, a não ser que ele seja ungido beato ? Erra quem responder PT, para a primeira indagação, e PMDB, para a segunda. Hoje, quem está com o ministro e não abre é o peemedebismo (e outros aliados). Ninguém quer perder o que Garotinho ironicamente classificou como um "diamante de 20 milhões".

Experiência

Jornalista político experiente, sentado à mesa tomando chopp num tradicional bar paulistano, analisava o desempenho de Palocci na sua incursão televisiva da última sexta-feira. Depois de minuciosa observação do ministro, o jornalista lançou a conclusão : há sinais inequívocos de que Palocci falava para seus clientes e fazia um seguro para si mesmo, para Dilma e para o PT. Algo parecido com o que já fez José Dirceu.

Guido em silêncio e resguardado

O ministro da Fazenda era um dos principais membros do governo sujeitos ao monitoramento e, de vez em quando, ao fogo cruzado de Palocci. Desde a conversão do trotskismo juvenil para a ortodoxia de sua gestão na Fazenda, o venerável de Ribeirão Preto era os olhos e ouvidos dos segmentos mais conservadores do meio empresarial. Guido sabia disso e era alvo aberto da tentativa de Palocci em interferir no dia a dia da política econômica. A fragilidade de Mantega se reduziu drasticamente com os percalços de Palocci. Daqui para frente pode ter mais paz dentro do governo, mas será mais cobrado pelos críticos que se escondiam por detrás dos vidros do gabinete do ministro da Casa Civil.

BC e os juros. De novo

Em meio à crise política do governo, o Copom se reúne a partir de hoje para analisar os dados disponíveis e disparar uma decisão. É quase unânime a expectativa de que os juros básicos subam de 12% para 12,25% ao ano. Pode parecer algo cosmético, mas não devemos esquecer que as pressões em relação à autoridade monetária eram gigantescas em função da alta da inflação. Agora, por debaixo de nuvens cinzentas externas e internas, o BC deve ter mais paz para subir os juros e todos dizerem amém. Afinal, a economia continua aquecida, mesmo com sinais de desaceleração à vista.

Portugal na rota conservadora

A vitória do PSD português e seus aliados da direita levarão Portugal a caminhar para a ortodoxia econômica com mais docilidade. Para receber os quase 115 bilhões de euros de recursos para fechar as suas contas, Portugal deve se sujeitar a um crescimento de 12% para 15% no desemprego formal. Os credores podem até sorrir, mas a dúvida sobre a capacidade de Portugal em resistir a tanto sofrimento social voltará à tona. Por enquanto, há alguns felizes na terra de Fernando Pessoa. Já os infelizes são incontáveis.

Entre a reforma e a conjuntura

O BC dos EUA deve aumentar o capital mínimo para que as instituições financeiras alavanquem seus ativos, sobretudo os empréstimos. Esta é uma boa notícia no que tange à reforma do combalido sistema financeiro do país. Todavia, como nada é neutro quando o assunto é economia, esta medida adicionará dificuldades para que os indivíduos e empresas retomem sua disposição em emprestar para consumir e investir. Os últimos números de empregos e de atividade econômica dos EUA mostram que a convalescência depois da crise do final de 2008 ainda é sofrida. A retomada ainda é frágil e o mundo não está nada fácil para os americanos : a Europa está caída e, até mesmo, a China mostra sinais de esfriamento da demanda.

Radar NA REAL

3/6/11 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,4601 alta alta
- REAL 1,5815 estável/queda estável/queda
Mercado Acionário
- Ibovespa 64.340,50 baixa estável/alta
- S&P 500 1.300,16 estável/alta alta
- NASDAQ 2.732,78 estável/alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Ainda não se viu tudo

Está ainda para ser contada a verdadeira crônica da malfadada ressurreição da Telebrás e da pressa eleitoral do lançamento do Plano Nacional de Banda Larga. A demissão, na semana passada, para "readequação" do Plano, do primeiro presidente da nova Telebrás, Rogério Santana, é apenas o capítulo inicial. O segundo, foi também na semana passada, a decisão da Anatel, sem esperar a votação de um projeto já em tramitação no Congresso, da TV a cabo para as empresas de telecomunicações. A banda larga eleitoral de alta velocidade está com todos os prazos vencidos e os custos elevados. E o TCU já entrou no jogo constatando superfaturamento em licitação da Telebrás.

Contradição ambiental

Esqueçam-se as questões de fundo, de conteúdo, olhe-se só a questão política. Em matéria ambiental, o governo anda mergulhado em uma contradição só. Para não aceitar a proposta de Código Florestal aprovada pela Câmara, Dilma põe entre seus argumentos os estragos que ele pode causar na imagem internacional do Brasil como um país ambientalmente responsável. Mas, ao mesmo temp,o força o Ibama a apressar as licenças para a construção da Usina de Belo Monte, decisão que no mesmo dia gerou várias bordoadas no Brasil lá fora.

Eles estão salivando

Usinas hidrelétricas em correria, Copa do Mundo e Olimpíadas com lei de licitações abrandada, trem bala com "papai" BNDES de cofres abertos, pressões para o TCU ser menos exigente... Nunca antes neste país os construtores de obras públicas estiveram tão felizes... E mais felizes ainda estão os que concedem as obras e os consultores de negócios.

Neoconvertido. Mas não sabe rezar

Acompanhado de prefeitos de 47 cidades, que estiveram na capital paulista para discutir os problemas (e soluções) dos grandes aglomerados urbanos, o prefeito Gilberto Kassab virou um poço de ideias, inclusive para um dos mais graves gargalos de São Paulo - o trânsito. Logo ele, que em sua gestão (somada aos dois anos de Serra) não construiu praticamente um único quilômetro de corredores exclusivos para ônibus, solução já testada para melhorar a circulação dos veículos de transportes de massa. Um de seus grandes projetos é o de um túnel na avenida Sena Madureira, pista para veículos individuais. E a sua mais brilhante ideia agora é criar faixas exclusivas - para carros que se dispuserem a fazer o transporte solidário. Levaram Kassab à missa do transporte público. Mas não lhe ensinaram direito a rezar.

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