Política & Economia NA REAL n° 150
terça-feira, 3 de maio de 2011
Atualizado às 09:05
"Cresce a convicção de que a mudança é a nossa única permanência. E a incerteza, a nossa única certeza."
Zigmunt Bauman
Nossas 150 colunas - Editorial
Menos de cinco anos depois de inaugurarmos, no site "Migalhas", esta coluna semanal, cujo objetivo é tentar ajudar seus leitores entenderem o que se passa na política e na economia no Brasil, na "Real", sem o ruído das especulações e dos boatos, com fatos e interpretações buscadas nas fontes e testadas com outras fontes, chegamos à nossa edição número 150. Usando um velho jargão : é um marco ! Não somente porque estamos ainda explorando um novo meio de comunicação onde praticamente todos, aqui e lá fora estão ainda tateando, mas também e principalmente, pela audiência que conquistamos, com mais de 130 mil visitas únicas de cada escrito. E tudo se deve a persistência da direção do "Migalhas" que acreditou que um tema, ou temas, infelizmente ainda de interesse restrito no Brasil, que são a política e a economia, pudesse atrair leitores realmente interessados. Sobretudo, temos a adesão dos leitores. Continuamos acreditando que, sem uma boa política e sem uma boa economia não se fará uma grande nação, democrática e desenvolvida. É o esforço de continuar contribuindo, ainda que modestamente, para o debate pela busca de um país mais justo e mais saudável que nos anima a ir sempre em frente, renovando nossa presença neste espaço a cada manhã de terça-feira e sempre que se justificar uma intervenção extra. É a busca de informação no seu sentido mais amplo, sem subterfúgios e com o ceticismo sadio que nos faz desacreditar de tudo para constatar o que é "Real". Sem "ideologismos" e "partidarismos".
Falta uma explicação. Falta ?
Aparentemente, está ainda carente de explicações a ausência do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, na reunião do diretório nacional do PT, no fim de semana em Brasília e que elegeu o novo presidente da agremiação e lançou uma resolução com forte cheiro de manifesto político. Mas é só aparência. O ambiente no PT, inclusive entre antigas estrelas do partido, é de insatisfação com o governo. O PT, como disse José Dirceu numa palestra durante a campanha eleitoral do ano passado na Bahia, pensava chegar finalmente ao poder, coisa que os petistas não sentiram plenamente com Lula. Pela continuidade das políticas econômicas nada "petistas" de FHC o "lulismo" foi mais forte que o petismo. Mas Lula atendia o petismo, ainda que perifericamente.
E com Dilma ?Com Dilma, está sendo diferente. Ela afaga os companheiros. E embora esteja agradando em parte, pelo quase "cavalo de pau" que está dando na política anti-inflacionária, deixa dúvidas em vários aspectos, como, por exemplo, na guinada da política externa. O PT é governo, diz-se, mas ainda não está no governo. Sinal inequívoco da insatisfação foi dado no documento do diretório onde faltou uma enfática defesa da condução da economia. Ficou-se numa referência genérica : o petismo em ebulição "considera correta a orientação geral" da política econômica. Parece até a "simpatia" que Barack Obama demonstrou pelo desejo do Brasil de ter um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Os nós políticos da presidente Dilma ainda estão todos do seu lado.
O pêndulo do poderO discurso do ministro Palocci no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, indica sem muita suavidade para onde pender o pêndulo do poder quando a presidente Dilma solta, espontaneamente e deliberadamente, as rédeas do governo. A maior desenvoltura do discreto ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel também. O resto é "coadjuvância", mesmo como bem falante.
A oposição engasga
O ex-presidente Fernando Henrique (em artigo nos jornais "O Globo" e "O Estado de S. Paulo") e o senador Aécio Neves (em discurso na festa do Dia do Trabalho da Força Sindical) fizeram um ensaio para a oposição "pegar no tranco", atracando o que o ex-governador mineiro considera condescendência com a inflação. Ainda pregam no deserto, embora o tema já assuste até aliados do governo. DEM, PPS e PSDB ainda vão arder muito na fogueira de suas vaidades e ambições antes de virem à tona. Falta um líder ao grupo. Quem tem muitos líderes não tem nenhum. É por isso que o PT, mesmo com algumas mágoas, está se apegando mais e mais a Lula. Sem ele, pode também arder. Por essas e outras, mesmo não querendo de fato, o ex-presidente FHC talvez seja forçado a aceitar o desafio de presidir o PSDB, para juntar o partido e amalgamar a oposição. A opção é a extinção ou a irrelevância via urnas.
Clima apenas amenizado
A meia volta dada pelo STF em decisões anteriores sobre a posse de deputados suplentes, privilegiando o suplente da coligação, em detrimento do substituto do partido, amenizou temporariamente o ambiente de beligerância existente entre Judiciário e Legislativo. Deputados e senadores ainda não desistiram de botar freios no que no Congresso se classifica de "ativismo" político e eleitoral dos tribunais. A Câmara dos Deputados, por exemplo, prepara projetos para diminuir a intervenção do Judiciário nas atividades do Legislativo : um impede o STF de alterar a interpretação de emendas constitucionais.
Uma reforma sem reforma ?
Não custa anotar : se tivermos reforma política, por mínima que seja, será marcada simplesmente pelo interesse direto dos políticos e dos partidos. Fim das coligações partidárias em eleições proporcionais ? Não. Voto facultativo ? Não. Regras e punições mais rígidas para "caixa 2" e "financiamentos irregulares" ? Não. Fim das contribuições eleitorais reservadas ? Não. Mas sim ao financiamento público de campanha, a uma fidelidade partidária menos fiel. O ex-secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, que sabe das coisas, pois já foi homem dos cofres públicos, escrevendo sobre a tal reforma, foi no alvo : "Ainda que possa parecer utópico, a reforma política deveria reservar atenção para o processo orçamentário, a profissionalização da administração pública e a limitação do foro privilegiado e das medidas provisórias". O mais, como diria Millôr Fernandes, é armazém de secos e molhados.
Radar NA REAL
29/4/11 | TENDÊNCIA | ||
SEGMENTO | Cotação | Curto prazo | Médio Prazo |
Juros ¹ | |||
- Pré-fixados | NA | alta | alta |
- Pós-Fixados | NA | alta | alta |
Câmbio ² | |||
- EURO | 1,4845 | alta | alta |
- REAL | 1,5788 | estável/queda | estável/queda |
Mercado Acionário | |||
- Ibovespa | 66.132,89 | baixa | estável/alta |
- S&P 500 | 1.363,61 | estável/alta | alta |
- NASDAQ | 2.873,54 | estável/alta | alta |
(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
A voz do mercado
Não temos especial predileção pelos dados e informações da pesquisa Focus do BC com os agentes do mercado. Trata-se de uma pesquisa que tem uma autocorrelação substantiva. Ao mesmo tempo que forma expectativas, as reproduz. Todavia, os resultados mostram que as incongruências no médio e longo prazo da política econômica governamental estão em larga medidas naquela pesquisa : o Brasil está se mostrando negligente em relação à inflação (projeção próxima de 6,5% para 2011), com crescente déficit externo (conta corrente negativa em US$ 60 bi), com crescimento muito inferior à China e Índia (menos de 50% do crescimento destes, 4%) e com uma taxa de investimento em relação ao PIB que mostra a fragilidade governamental neste item. O mercado nem sempre está certo - há muitas projeções descabidas. Todavia, devemos reconhecer que a política econômica carece de coerência para que o país seja realmente um emergente de porte.
A economia e o Planalto
Notaram os nossos leitores que o ministro Mantega saiu do noticiário ? Nada é ocasional. Sabe o ministro que ali na Praça dos Três Poderes, mais exatamente no Palácio do Planalto, há raposas que estão sempre prontas para ler o clipping diário fornecido pela área de comunicação governamental e assinalar as falhas do ministro em relação a sua gestão. Será que o ex-presidente Lula andou aconselhando o ministro a colocar "as barbas de molho" ? O problema é que o ministro não tem barba. Já no Planalto, há barbudinhos prontos para agir.
Ben Bernanke , política econômica e eleições
As últimas declarações do presidente do FED tentam dar uma visão estratégica em relação à saída da política econômica "emergencial" (desde 2008) para a "normal". O problema é que quando se confronta o que diz o chefão da política monetária com os dados o que se vê não é nada consistente : (i) como reduzir o déficit se a economia ainda patina ? A economia está ainda recebendo estímulos na veia e, se isso se reduzir muito a atividade econômica volta a patinar; (ii) Obama e as autoridades americanas mantiveram intactas as estruturas que levaram à crise atual. Assim sendo, o ambiente altamente especulativo persiste e, assim, mina as bases para a sustentação sadia da economia. Enquanto isso, tanto Obama como seus oponentes estão ficando embebedados com a chegada prematura da corrida presidencial à cena política. Tudo muito vazio. E cedo.
Barack Bush
Quem assistiu so discurso do presidente Obama na noite deste domingo para anunciar oficialmente a morte de Bin Laden pensou estar ouvindo George W. Bush pós-2001. Esta retórica de que "a segurança dos EUA está acima de qualquer interesse" parece muito distante de "Yes we can". Eleições criam mais caricaturas que histórias em quadrinhos...
Google e J&J lideram ranking de imagem
Pesquisa conduzida pela consultoria Harris Interactive com 30 mil pessoas (de diversos segmentos) que podiam votar em 60 companhias durante os dias 30 de dezembro do ano passado e 22 de fevereiro deste ano, confirmou a liderança em termos de imagem do Google. A Johnson & Johnson foi a segunda colocada, seguida de 3M, Berkshire (empresa liderada por Warren Buffett) e Apple. O interessante desta pesquisa é que há significativa conexão entre a imagem das marcas e o desempenho financeiro e operacional das empresas. Os bancos, por exemplo, altamente afetados pela crise estão mal posicionados na pesquisa (últimos lugares) a despeito de se tratarem de marcas muito conhecidas.
IPOs no Brasil
Há uma coleção enorme de empresas cujo capital está parcialmente nas mãos de fundos de private equity e que ambicionam ter as cotações de suas ações nas bolsas, um movimento de "reciclagem" de capital entre os investidores em geral e os "especializados", no caso os fundos private equity. O que se tem verificado é que os preços propostos pelos bancos intermediários estão aquém daquilo que os fundos imaginavam obter. Este é um sinal de que, por enquanto, a demanda adicional por ações está contida. Neste sentido, as notícias de baixo crescimento da economia brasileira é uma péssima notícia para o setor.
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