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Política & Economia NA REAL n° 145

terça-feira, 29 de março de 2011

Atualizado às 07:02


Portugal, mais um pedindo água

A irresponsabilidade na concessão de crédito durante os últimos dez anos foi gigantesca e generalizada. Quase todas as economias desenvolvidas caíram na cilada do crédito que ceifou pelo menos 35 milhões de empregos ao redor do globo. Pois bem : a evidência de que Portugal poderia entrar em colapso de crédito agita os mercados e a moeda europeia. O país terá de ser socorrido. A Espanha possivelmente também. A Itália, quem sabe ? Assim como a América Latina dos anos 80, as peças caem uma a uma. O pior é que as perspectivas de médio prazo para o Velho Continente persistem temerosas : a demografia, a imigração, a falta de produtividade e o desinteresse político dão evidências de que o que se imaginava ser o ápice da civilização está meio esclerosado. Apostar no euro e nas empresas europeias é uma aposta e tanto : cheia de riscos e retorno muito incerto.

Brasil e os riscos externos

O governo tem analisado os riscos das empresas europeias instaladas no país ? Afinal, importantes setores são liderados por empresas europeias. Isto é considerado nas análises "macroprudenciais" do governo ?

Japão : aposta na alta

A crise japonesa estimula as mentes analíticas do mundo financeiro : acredita-se que o terremoto e o tsunami vão estimular a demanda do país e contribuir para a alta da moeda e das bolsas. Em tempos de bolsas "andando de lado" e "moedas" com oscilações erráticas, nada como especular sobre temas da natureza. A conferir.

Limite da austeridade

Continua carente de explicações convincentes a política de austeridade anunciada há mais de um mês pela dupla Mantega/Miriam Belchior. As contas às vezes não batem - pela métrica oficial faltam detalhes essenciais. Na semana passada, sobre pressão dos parlamentares do governo, Dilma avisou que não cancelará R$ 18 bi de "restos a pagar" de 2007, 2008 e 2009 até 30 de abril, conforme decreto do ex-presidente Lula. Por coincidência, quando se anunciou a "conciliação" fiscal avisou-se que R$ 18 bi das emendas parlamentares foram cortadas do Orçamento de 2011. Não parece a mesma coisa. Ou será ? Certo mesmo é que os aumentos de impostos estão chegando...

Queda de braço

Por mais que se mostre o contrário, o BC e o dito mercado financeiro estão naquela situação popular em que "vaca não reconhece bezerro". Alexandre Tombini está agindo para acalmar os recalcitrantes. Mas não é uma questão de confiança na instituição monetária. Casos como o da Vale multiplicam as pulgas atrás das orelhas.

Falta comunicação

É claro que existe um problema econômico concreto na economia brasileira relacionado com a frouxidão fiscal, a inflação e o câmbio que destrói empregos. Todavia, a comunicação do governo se soma a tudo isso e complica ainda mais. O desencontro de dados e opiniões dentro da área econômica do governo é fator grave que deteriora expectativas. Há evidente falta de liderança na área econômica. Tombini, neste particular, parece ser mais um fator de inquietação. Parece constrangido ao ofertar opiniões.

Em margarina

Toda vez que Dilma faz um gesto para mostrar que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está "prestigiado", como os técnicos de futebol, mais cresce a convicção fora do governo (e nas intrigas "intramuros") de que está se acentuando o processo de fritura do homem dos cofres Federais. Ele estaria sendo torrado em margarina da região mais rica do interior de São Paulo (a "Califórnia Brasileira"), a seco, sem ao menos o direito a um molho de tomates com ervilhas.

Dilma : boa comunicação

O pessoal de dentro do governo reclama da forma de comunicação da presidente Dilma. Todavia, para fora do governo a presidente tem conseguido passar credibilidade e sobriedade. Especialmente, quando coleta e dá afagos na "inteligência" brasileira. Foi o caso da reunião com as artistas na última sexta-feira. Marcou um gol de placa. Feminista, no caso.

O Sílvio Santos foi aí

Operou-se com o máximo de discrição para que a demissão - o "a pedido" do anúncio oficial é uma licença poética - da presidente da CEF, Maria Fernanda Coelho, não trouxesse lembrança do mau negócio para a instituição que foi comprar quase metade do Banco PanAmericano do dono do Baú da Felicidade. Esta história não foi terminada ainda e não está nada bem contada. O balanço da CEF a ser divulgado nos próximos dias deve mostrar o quanto a aventura custou até agora. Há outro detalhe para se explicar, que o emprego que se arrumou para Maria Fernanda no exterior não deve anuviar : num negócio de tal natureza, ela não agiu sozinha. Se agiu deveria ter sido posta no olho da rua, sem direito a compensações, no mesmo dia em que se revelou a cratera do PanAmericano.

PT, a salvação

Consolidada a entrada da Portugal Telecom (PT, para os íntimos) na BrOi (oficialmente Oi) pode estar indo para o arquivo das histórias mal contadas um outro episódio muito similar ao do PanAmericano-Maria Fernando, estrelado pelos personagens BNDES-Oi-Brasil Telecom. Alguma semelhança não é tão mera coincidência. É da política que pode ser chamada de "de capitalismo de Estado brasileiro à moda chinesa" e que tratou muito também alguns frigoríficos.

Radar NA REAL

25/3/11 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,4093 estável alta
- REAL 1,6593 estável/alta estável/queda
Mercado Acionário
- Ibovespa 67.795,90 estável/baixa estável/alta
- S&P 500 1.313,80 estável/alta alta
- NASDAQ 2.746,06 estável/alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

As consequências aparecem depois

A questão no caso Vale não é saber se Roger Agnelli fica ou não, embora nenhuma empresa séria se desfaça de um executivo com os resultados que ele apresentou. Não é também saber se o substituto do presidente da companhia será mais técnico ou menos técnico. Um técnico com menos peso pode até sofrer mais influência política do que qualquer um que não seja "técnico". O fato real é que desde a sexta-feira em que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi informar ao Bradesco que o governo não queria mais Agnelli na direção da mais bem sucedida multinacional brasileira, a Vale está sob intervenção Federal branca. Ela deixou de ser uma simples empresa privada, é agora uma paraestatal ou, uma "privatal", rótulo que cabe a uma série de "privadas" nas quais o BNDES e os fundos de pensão têm grande influência e dão as cartas.

O que saber ?

A primeira coisa a se saber é o que o governo pretende com esta intervenção, uma vez que a gestão de Agnelli, do ponto de vista empresarial, era irretocável. O valor de mercado da Vale multiplicou-se por mais de seis vezes no seu mandato. Há outras questões : quais as outras empresas a sofrerem a mesma intervenção ? Como reagirão os investidores ? Como reagirão as empresas que estão pensando em participar em negócios de concessão em serviços públicos ? Na área oficial os dirigentes às vezes se esquecem de uma lição "óbvio ululante" do conselheiro Acácio, impagável personagem de Eça de Queiroz, em "O Primo Basílio" : "O problema é que as consequências vêm sempre depois".

Um governo de técnicos

Especialista disputado por várias instituições financeiras no Brasil e no exterior, o peemedebista baiano Geddel Vieira Lima, apesar de todo o assédio, rendeu-se ao sacrifício de homem público e vai aceitar ocupar uma das vice-presidências da CEF. O PMDB, sempre com quadros da mais elevada categoria técnica, está pondo à disposição do governo também os especialistas ex-governadores Iris Rezende (Goiás), José Maranhão (Paraíba) e Orlando Pessutti (Paraná).

Decisão sobre o Irã

Foi aplaudido o voto brasileiro na ONU na semana passada apoiando a inspeção nuclear no Irã. Mas ferveu internamente nos blocos mais à esquerda do governo e do partido oficial.

Oposição ainda sem caminhos

Gilberto Kassab não conseguiu ainda esvaziar a oposição como pretendia. Talvez até não consiga, pois há muitas dúvidas legais e políticas sobre a viabilidade do PSD para chegar competitivo em 2012. Mas plantou uma semente da desagregação no mundo do oposicionismo, cada vez uma nau sem rumo, sem discurso e sem projetos. Só com um projeto de poder - ou vários projetos individuais de poder - sem consequências maiores para o país.

Kafka no Supremo

Até que a chamada lei da Ficha Limpa se consolide e seja aplicada em 2012, muita ponte ainda terá de passar sobre os rios que correm para o STF. Pelo menos dois pontos ainda serão muito polemizados : o da retroatividade das punições e da punição antes da sentença definitiva. De todo modo, uma situação kafkiana já está no ar. Vamos ao raciocínio em tese, mas muito provável de vir a ocorrer. A lei passa a valer a partir de 2012, com o que já está. Vemos também que Jader Barbalho, agora senador com a anulação da validade da Ficha Limpa para 2010. Fica senador até 2018. Em 2014 ele pode se candidatar ao governo do Pará, o que está entre seus planos. Ele foi barrado em 2010 porque renunciou ao mandato para não ser cassado. Com a lei valendo, ele ficará inelegível em 2014. Mas continuará no Senado. Ou seja : não serve para ser governador de Estado, mas serve para ser senador da República. Como explicar ?

Mal explicado

Obama veio ao Brasil comprar etanol de cana ou vender álcool de milho ?

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