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Política & Economia NA REAL n° 143

terça-feira, 15 de março de 2011

Atualizado em 14 de março de 2011 11:08

 Japão : o novo fator de risco

As imagens da TV já dizem tudo. Estamos diante de uma catástrofe natural e humana de dimensões significativas mesmo que ainda não totalmente conhecida. Do ponto de vista econômico, o Japão agora incorpora mais uma dúvida no frágil cenário internacional. Ninguém ainda apurou tais efeitos em meio aos terremotos contínuos, tsunamis ferozes e vazamentos nucleares. Todavia, o que se vê não reduz riscos, aumenta-os numa região geoeconômica que não tem sido gestora de problemas. Para o Brasil, sobressai o fato de que estamos diante de um comprador de matérias-primas e, neste quesito, a questão é estratégica. A regra é olhar as informações disponíveis, avaliá-las com calma e saber que o que está aparente é apenas aparência, não é necessariamente essencial. Todavia, saibamos que o risco aumentou.

BC está no controle da inflação ?

Convenhamos, o cenário está complicado e as decisões são complexas. A inflação doméstica tem vários fatores que a jogam para cima e há um receituário relativamente estreito para controlá-la. Juros para o alto e/ou contenção fiscal são as soluções. No que se refere ao corte das despesas fiscais, a credibilidade do governo se iguala à de Pinóquio. Pura e simplesmente, o fato é que somente com fatos concretos o governo voltará a ser crível. O resto é papo furado. Do lado dos juros, a questão é outra : o BC parece hesitar entre o que realmente tem de ser feito e o que o pessoal do governo espera que façam. A última ata do Copom foi uma miscelânea de análises que funcionaram como um biquíni, aquela vestimenta que mostra tudo, mas esconde o essencial. A expectativa de "medidas macroprudenciais" (que dependem do governo e não do BC exclusivamente), tais como restrições ao crédito, para que o controle da inflação seja feito indica que o BC vai "deixar como está para ver como é que fica". Bem, o que o tal do "mercado" espera é apenas um dado do problema. Todavia, a solução depende essencialmente da credibilidade que o BC tem de ter para mostrar que fará o que precisa ser feito.

Uma meta

A realidade é que há uma ala do governo que não está gostando nada de saber que a carruagem da economia brasileira pode estar caminhando para um crescimento de apenas cerca de 3,5% este ano. Ela quer pelo menos 4,5%. Esta é a meta - e meta de PIB, não de inflação. Por isso a "macroprudência" do BC em relação ao juros, espelhada na ata divulgada na semana passada.

A taxa de câmbio

O governo não vai mais implementar nada de muito forte para tentar evitar que o dólar se desvalorize perante o real. O "real forte" virou instrumento de combate à inflação, coisa que já aconteceu muitas vezes nos últimos anos. E tem mais : se o governo quiser mesmo tratar da questão, a solução teria de caminhar para mecanismos de controle de capitais e, assim, controlar os fluxos generosos que aqui aportam para se aproveitar da maior taxa de juros do mundo. Dilma e seu governo não desejam muita confusão em relação ao tema.

Caderneta de poupança

Segundo muitos especialistas, se quiser trazer os juros básicos reais no Brasil para um nível razoavelmente civilizado, o governo Dilma terá de enfrentar antes um violento enxame de marimbondos : a remuneração das cadernetas de poupança. Ela é de 6%, mais a inflação. E este é o piso dos juros no Brasil.

Outro vespeiro

Não haverá controle efetivo das contas públicas (sem aumento de impostos no Brasil) com sobra de recursos para investimentos e melhoria dos serviços públicos oficiais, enquanto o governo não resolver o déficit da previdência. No ano passado, o déficit do sistema oficial passou dos R$ 50 bi para pagar a aposentadoria e pensão de menos de um milhão de beneficiários. O déficit da previdência privada ficou em menos de R$ 48 bi pagando mais de 25 milhões de aposentados e pensionistas. Dilma vai pôr a mão para valer nesta caixa de marimbondos ?

Dois Brasis

Não dá para comemorar e considerar um feito o fato de o Brasil ter 13 milionários na lista das pessoas mais ricas do mundo da revista "Forbes" e, ao mesmo tempo, não ter uma única universidade no rol das 100 melhores.

Radar NA REAL

11/3/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,3941 alta alta
- REAL 1,6649 estável/queda estável/queda
Mercado Acionário
- Ibovespa 66.684,60 baixa estável/alta
- S&P 500 1.304,28 estável/alta alta
- NASDAQ 2.715,61 estável/alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Ministros sem pasta

A presidente Dilma tem mesmo, em muitos casos, um estilo diferente de Lula. Lula não dava bronca, afagava mesmo os auxiliares indigestos. As vozes da sombra do Planalto informam que em menos de três vezes já viram no ar a régua de castigo da presidente. Lula deixava os indigestos fritando em fogo brando até que ficassem esturricados. Aí então demitia, dizendo-se a contragosto. Dilma desidrata o poder dos auxiliares indesejados, aqueles que ela acabou tendo de engolir por razões de Lula, por razões políticas. É difícil, por exemplo, descobrir que Moreira Franco é ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, a antiga "Sealopra" de Mangabeira Unger. Nada do que foi prometido ao PMDB para engordar a Secretaria até agora ocorreu. E não deve ocorrer no tamanho esperado pelo partido de Michel Temer. O comando do Conselhão dificilmente será deslocado para lá. O IPEA continua na Secretaria, mas sob completo domínio do PT. A saída de Marcio Pochmann da direção do instituto, dada como certa pelo grupo de Moreira Franco, gorou.

Desidratação

Na mesma linha de Moreira Franco está o homem de José Sarney no ministério do Turismo, Pedro Novais (PMDB/MA). Sua pasta parece não ter sido ainda informada oficialmente que o Brasil nos próximos anos sediará uma Olimpíada e uma Copa do Mundo, dois eventos, além de esportivos, de grande apelo turístico. E seu Ministério teve um corte tão brutal em seu orçamento que, se Novais não for comedido, ficará logo sem dinheiro até para passagens em ônibus convencionais de Brasília ao Maranhão quando quiser visitar suas bases eleitorais. Por enquanto, não estão tirando nota dez também duas outras heranças de Lula : o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tem a sombra de Antonio Palocci e até de seu secretário executivo, Nelson Barbosa, e o ministro da Educação, Fernando Haddad.

Pedra no mocassim de Kassab

A mais recente - talvez não a última estratégia do prefeito de SP, para botar de pé sua candidatura ao palácio dos Bandeirantes em 2014, passa pela (i) criação de um novo partido - o tal PDB -, (ii) levar a legenda a disputar as eleições municipais de 2012 por conta própria para evitar que se veja no PDB apenas uma manobra para burlar o princípio da fidelidade partidária e, somente depois, (iii) fundi-lo ao PSB.

O possível empecilho

Pode surgir, porém, um empecilho ao movimento. Para disputar com alguma chance de eleger prefeitos e vereadores em quantidade que lhe garanta certa robustez, o PDB precisará de uns bons minutos no horário eleitoral obrigatório. Esse tempo é medido pelo número de parlamentares eleitos pela legenda. Daí o empenho de Kassab em levar deputados para sua legenda. Kassab e seus seguidores acreditam que o Judiciário aplicará ao PDB a mesma norma que aplicou quando a costela do PSDB desgarrou-se do PMDB. O tempo dos deputados transferidos foi também para a nova legenda. Pode ser que o prefeito de SP e seus seguidores consigam tal interpretação. Mas não é certo. A decisão em relação ao PSDB se deu em outras circunstâncias. Na ocasião, o TSE e o STF ainda não haviam estabelecido a atual fidelidade partidária - então, o mandato era tido como do parlamentar. Agora, o mandato é do partido. E se o mandato é do partido, o tempo de televisão também, dentro da lógica, pertence ao partido pelo qual o parlamentar foi eleito.

Só com a ajuda de Alckmin

Kassab só conseguirá montar um PDB forte em SP, com bom número de deputados estaduais, de prefeitos e vereadores se o governador Geraldo Alckmin deixar. Quem desses se arriscará a deixar as generosas asas governistas, com riscos de viver a pão e água, tendo pela frente uma eleição municipal no ano que vem ? A reação de Alckmin à possível dissidência de aliados do DEM será uma indicação dos projetos futuros do governador. Afinal, fortalecendo Kassab ele pode estar fortalecendo um possível adversário em SP em 2014. Será isto que Alckmin quer ? Ou ele quer mais e Kassab vem a ser uma peça desse jogo ?

Ciúmes masculino

Está em transe na área jurídica do governo uma dose elevada de ciumeira. No governo Lula, os ministros da Justiça Márcio Thomaz Bastos e, depois, Tarso Genro, exerciam a plenitude do aconselhamento do presidente na área do Direito. Sem sombras. José Eduardo Cardozo não executa as mesmas funções, tem uma sombra a ofuscá-lo.

Sombra

As atuações do vice-presidente da República, Michel Temer, na área jurídica, são significativas, muito embora não sejam muito transparentes quando lemos jornais e colunas. Vejamos um fato que ilustra bem o tema : dizem que o constitucionalista, aconselhado por processualistas de escol, prepara uma investida contra o projeto de reforma do CPC, cujo principal articulador foi o ministro Luiz Fux. Se for fato, vejamos no que vai dar...

Ressurgimento de Lula

Há grande expectativa para a próxima rentrée de Lula no mercado da política, prometida para ele para depois do Carnaval, quarentena que ele mesmo se concedeu. Mudanças de rumo ensaiadas na política externa e na linha econômica não estão ao gosto do ex-presidente. Mas ele tem sido um fiel silencioso, em público. Por via de todas as dúvidas, a presidente Dilma, entre uma e outra revisão de políticas, faz públicos afagos a Lula. Na semana passada, na reunião com os sindicalistas, lamentou que Lula não estivesse presente ao encontro no Planalto. Segundo seus porta-vozes, na sombra ela pode também convidar Lula para acompanhá-la em uma próxima viagem ao Exterior.

Lulismo : o que realmente sabemos de Lula ?

Fala-se muito sobre o lulismo, este fenômeno político desconhecido que teria sido implementado no governo do ex-presidente Lula. Mas realmente sabemos muito sobre Lula a ponto de analisarmos o lulismo ? Há quem esteja pensando a respeito.