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Política & Economia NA REAL n° 139

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Atualizado em 7 de fevereiro de 2011 13:49

Timothy Geithner : sem novidades

Na "conversa" de ontem do Secretário do Tesouro dos EUA na FGV/SP, na atual viagem pelo Brasil, as informações foram, digamos, "burocráticas" da parte do principal artífice da política econômica de Obama. Vejamos alguns pontos :

1- A agenda interna dos EUA é a prioridade do governo Obama neste momento. Portanto, as questões internacionais não diretamente relacionadas com a política econômica do governo americano estão "congeladas";

2- A proposta francesa de "estabilização dos preços das commodities" é difícil de ser executada. O governo americano persiste "interessado" em saber mais sobre tais propostas. Leia-se : a proposta não deverá ser incorporada pelos EUA apesar de o Secretário não ter falado, em momento algum, sobre um tipo de alinhamento com a posição brasileira em relação ao assunto.

3- A política de Obama é ter um equilíbrio entre o "mercado" e o papel do Estado no controle dos agentes. Ou seja, acabou-se o tempo em que a regulação do mercado era matéria demoníaca para o governo dos EUA.

4- A relação entre as taxas de câmbio no mundo é importante para a recuperação da economia norte-americana. Por sua vez, interessa ao mundo que os EUA cresçam. De toda a forma, as falas de Geithner deixaram transparecer um certo cuidado na preparação da viagem de Barack Obama ao Brasil daqui a cerca de dois meses. Ponto positivo para o país e uma região que sempre foi desprezada pela diplomacia americana.

Geithner incomoda apenas Meirelles

O ex-BC Henrique Meirelles foi o mediador da "conversa" na FGV/SP de Geithner com a comunidade acadêmica. Inicialmente, Meirelles murmurou um "not yet" para negar que exercia o cargo de "Autoridade Pública Olímpica (APO)". Parece ter gostado, contudo, que sua apresentação perante à plateia incluísse este cargo (não assumido). Ao final da "conversa", Timothy Geithner afirmou que a valorização do Real perante às principais moedas se "devia a uma taxa de juros que parece excessivamente elevada". Nesse momento, Meirelles saiu de seu papel de mediador e argumentou que "a taxa de juros só pode cair se a política fiscal for mais apertada". Claramente saiu em defesa própria. Não houve nenhum comentário adicional de Geithner sobre o assunto.

Segurança americana em baixa

Até que foi bastante discreta a presença dos seguranças norte-americanos que protegiam o Secretário do Tesouro dos EUA na FGV/SP. Será que isto se deve à melhoria da segurança pública na maior cidade do Brasil ?

Rússia aperta o crédito

Com o objetivo de não aumentar a taxa de juros básica para controlar a inflação e, desta forma, atrair mais capital especulativo, a Rússia resolveu reduzir a liquidez monetária aumentando as reservas bancárias obrigatórias. Todos os países emergentes que são relevantes (denominados de BRICs) estão com uma trajetória de aperto monetário com o objetivo de controlar a inflação. Apenas o Brasil está aumentando a taxa de juros com mais vigor.

Inflação projetada pelo mercado

A propósito da inflação no Brasil, as expectativas continuam piorando em relação à inflação : o relatório Focus do BC que coleta dados do mercado projeta uma inflação de 5,66% para este ano, 1,16% acima do centro da meta para o IPCA, índice que a autoridade monetária usa como meta de inflação. A julgar pelas expectativas do mercado a taxa Selic deve fechar 2011 em 12,5% ao ano. Nada bom para o crescimento.

Política fiscal na geladeira

Até agora não se sabe onde e quanto o governo vai cortar no orçamento para cumprir a meta fiscal proposta pelo próprio governo. Não há direções que sejam respeitadas pelo governo, mesmo quando quem emite as ordens seja a presidente da República. Anotem aí : o assunto está muito mal conduzido na esplanada ministerial de Brasília.

O Baú de "seu" Sílvio é o PanAmericano ?

Aparentemente o grande beneficiário da venda de 37,6% do Banco PanAmericano para o BTG de André Esteves foi o apresentador e empresário Sílvio Santos. Segundo consta na imprensa, em notícias soltas e descoladas uma das outras, Sílvio deixa os "pepinos" para os compradores e salva o seu grupo empresarial. Uma operação genial para um banqueiro desastrado, não é mesmo ? Tudo muito curioso. Afinal, o PanAmericano é de capital aberto e, portanto, tem acionistas que não são os controladores. Ora, como se chegou ao valor de R$ 450 milhões ? Haverá oferta para os acionistas de mercado que quiserem vender as suas participações ? Qual o papel e o poder que a CEF terá no banco ? Há ligações da transação com a política, especialmente o PT que aceitou dinheiro do "trabalhador-banqueiro" André Esteves ? Sílvio Santos parece ter aberto "as portas da esperança" e recebido belas mercancias. Do outro lado, pouco se sabe, mas muito se fala.

Silêncio na Fazenda

Quase nada se ouve no ministério da Fazenda sobre o caso PanAmericano. Por que será ?

Risco sistêmico

Há membros do governo que defendem o resgate/venda do Banco PanAmericano em função do risco sistêmico que poderia gerar. Se esta lógica vale para o PanAmericano, vale para qualquer outro banco.

Radar NA REAL

4/2/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável alta
- Pós-Fixados NA estável alta
Câmbio ²
- EURO 1,3597 alta alta
- REAL 1,6733 estável/alta estável/alta
Mercado Acionário
- Ibovespa 65.269,13 estável/baixa estável/baixa
- S&P 500 1.310,87 alta alta
- NASDAQ 2.769,30 alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Os donos do poder

Depois de Dilma, escrevam estes nomes : Antonio Palocci, Michel Temer, José Sarney. São as maçanetas que contam em Brasília.

Rumo ao Supremo

Há mais razões que o simples e inegável talento para explicar a escolha do novo ministro do STF, Luiz Fux. Tem um tanto a ver com o politicamente mais momentoso caso que o STF terá de julgar nos próximos meses.

Estilo Dilma

Orlando Silva não era o preferido de Dilma para continuar no ministério dos Esportes. O nome escolhido por ela era o da ex-prefeita de Recife, Luciana Santos, também do PC do B, como o repetido Orlando. O PC do B, no entanto, não concordou com a troca e Luciana ficou no ar. Queria o PC do B encaixar tudo da Copa do Mundo e das Olimpíadas do Rio na sua pasta, inclusive a tal Autoridade Pública Olímpica (APO) cobiçadíssima com seus mais de R$ 30 bi de verbas. Dilma, sem ligar para as reivindicações do aliado, agora escolheu o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, para o cargo. E pode dar a ele também a "autoridade" da Copa. A escolha foi aplaudida fora do mundo político. Já nesse mundinho, nem tanto. A presidente ao mesmo tempo pagou uma dívida de campanha dela e de Lula, e passou um "carraspana" no PC do B. Com recados para outros aliados.

A arte de dividir

No meio ambiente político da Câmara e do Senado já é voz corrente que a tática adotada por Dilma é a de dividir para governar. Dividir os aliados, diga-se, não a oposição. É enfraquecer a todos, até o PT, para não ser engolfada. Já provaram do veneno, o PMDB, em pé de estourar uma guerrilha entre os que são de Sarney e de Temer e os que não são ; o PSB já com as tropas dos irmãos Cid e Ciro Gomes e as do governador Eduardo Campos em uniforme de campanha : e o PT dos dilmistas e daqueles que na ferina capital já estão sendo classificados de "viúvas de Lula". A dúvida é saber qual o cacife de Dilma para bancar tal tática no longo prazo. No primeiro embate está goleando e os descontentes apenas amuam pelos cantos.

Contencioso

Por essas e tantas outras como a do PC do B, nas contas do Congresso a presidente está fechando um temível contencioso com os aliados : um pedaço do PT, o PMDB que não é de Temer nem de Sarney, o PSB está já na "contabilidade" e tende a aumentar mais sua participação à medida em que forem definidos os cargos mais amados do segundo escalão. Não há como escapar da lei natural da fisiologia de que cada nomeação gera uma alegria e dezenas de tristezas.

O silêncio dos inocentes

No novo governo, não é privilégio da presidente a arte de cultivar o mutismo. Não se sabe se por mimetismo, por ordens expressas, por medo ou, agora, por falta do que dizer, que governistas outrora falastrões de repente ficaram se voz. O distinto público anda intrigado, por exemplo, com o desaparecimento da mídia de figuras como o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, do presidente do Banco do Brasil, Ademir Benedini. Até Palocci está mais silencioso que nos seus tempos de ministro da Fazenda e de deputado Federal. Nunca se viu tanta gente fugindo de jornalistas em Brasília como nesses tempos de presidência feminina.

A arte de se dividir

Nos tempos ditos de antigamente, com certas ironias e maldades, mas com boa dose de acerto, se dizia que as esquerdas no Brasil, batidas por conflitos ideológicos e vaidades, só se uniam na cadeia. Pois bem, como não há possibilidade nem remota de se retomarem as prisões políticas no Brasil, o que se pode dizer das oposições brasileiras, mantido o andar do cabriolé, é que elas só deverão se unir como as paralelas que se encontram no infinito. A bola está na área, na marca do pênalti : briga por cargos, história de Furnas, negócio do PanAmericano... Coisas para os oposicionistas mostrarem pelo menos um pouco de sua cara, e lá estão eles se matando, sem nenhum gesto de altivez. Para alegria de Dilma e de seus parceiros. Em Brasília, assegura-se que as divergências Serra/Aécio no PSBD e Bornhausen/Maia no DEM não chegarão ao fim sem mortos e feridos. Pelo que se tem dito e escrito o ex-presidente FHC já está perdendo a paciência.

Em Santos, uma capitania abandonada


Concais é o nome da estação de passageiros do Porto de Santos. O nome mais apropriado seria Concaos, tal a precária infraestrutura para lidar com milhares de passageiros que embarcam e outros milhares que desembarcam, quase ao mesmo tempo. Misturam-se aqueles caminhões caindo aos pedaços carregando containers, enormes trens de carga cruzando o caminho de passageiros com malas, dezenas de ônibus trazendo e buscando os viajantes e mais os ônibus que trazem os passageiros dos navios até o terminal de bagagem. Acrescente-se a este pavoroso cenário, um absurdo congestionamento de táxis também trazendo e levando os infelizes usuários. Reclamar para quem ? Daqui a pouco vai ser mais apropriado embarcar do Rio de Janeiro, sem trem, sem container, sem caos. Bem isto se dá na área restrita do serviço para passageiros. Descrições mais cruas ainda se podem fazer das operações de carga e descarga de mercadorias, importações e exportações. É mais que o caos bíblico. E o porto de Santos tem donatários, muito bem situados na República. Não seria o caso de confiscar a "capitania" e entregá-la a pessoas mais dispostas ao trabalho e menos à politicagem e outros tais.