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Política & Economia NA REAL n° 137

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Atualizado em 24 de janeiro de 2011 15:49


Dilma e os sindicatos em busca da paz


A presidente escalou o ministro Gilberto Carvalho para acertar com as centrais sindicais pendências a respeito das reivindicações deles em relação ao novo salário mínimo e ao reajuste da tabela do IR. Essas pretensões, porém, são apenas a espuma no rol de insatisfações dos sindicalistas. Além de alguma concessão, para exibir como conquistas, o pessoal da CUT, da Força Sindical e outras quatro entidades querem :

1. Manter o mesmo canal presidencial aberto e o mesmo prestígio que tiveram com Lula.
2. Não perder posições no governo em áreas estratégicas.
3. Não avançar em nenhum ponto da reforma trabalhista, como a anunciada proposta de redução da contribuição patronal para o INSS, sem que os sindicatos opinem e concordem.
4. Apoio e empenho para aprovar no Congresso a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.
5. Deixar de lado, como aliás a presidente já disse que deixará, intenções de avançar em uma reforma da Previdência. Ao contrário, apoiar o fim do fator previdenciário.

A presidente e as pendengas com o PMDB

Em quarentena, o PMDB anota os passivos que tem a receber de Dilma :

1. Perda de substâncias no ministério e no segundo escalão.
2. Crescimento de sua imagem de fisiológico.
3. Divisão de suas forças e os movimentos para enfraquecer alguns de seus líderes no Congresso, caso dos deputados Eduardo Cunha e Henrique Alves.

Fogo amigo em alta combustão

O PMDB assanhou-se a ponto de chamar o PT para "a briga" a fim de não perder a presidência da Funasa, hoje nas mãos de afilhado de Henrique Alves. No auge da controvérsia, desabou na imprensa matéria dando conta que a CGU, em investigação, levantou suspeita sobre no mínimo R$ 500 mi dos gastos efetuados pela fundação nos últimos anos, quando esteve debaixo das asas peemedebistas. O deputado Eduardo Cunha, do PMDB/RJ, tão glutão quanto audacioso, faz ameaças públicas de retaliação ao governo no Congresso, se perder o controle de Furnas, conquistado por ele depois de ajudar a derrotar a prorrogação da CPMF, em 2007. Por coincidência, esta semana, uma misteriosa e providencial mão, fez saber ao distinto público que a companhia, cuja sede fica no RJ, enfrenta denúncias de prejuízos financeiros causados pelo aparelhamento político da atual gestão. A oposição, ainda lambendo suas feridas eleitorais, não tem fontes para esse tipo de informação. Ou seja.

Distúrbios na oposição

Quem faz a leitura, mesmo que esporádica, do twitter que José Serra mantém na rede já percebeu o rumo que ele está tomando para tentar manter-se com a cabeça acima da enxurrada : vai fazer uma oposição dura ao governo Dilma, como não fez com Lula em seus tempos de governador nem mesmo durante a campanha eleitoral. Com isso, pretende atrair parte dos tucanos e criar constrangimentos para Aécio Neves, de estilo mais conciliador e que pretende levar os tucanos a fazer uma oposição mais "propositiva". Serra não desistiu nem de liderar o PSDB, nem de tentar ser novamente o candidato do partido à presidência em 2014. E Aécio arma-se para confirmar que é a bola da vez. Vão precisar de um conselho de arbitragem, papel que os assistentes da disputa esperam que FHC venha a exercer.

Outro árbitro

O mesmo papel de conciliação entre os Bornhausen e os Maia, os do DEM esperam que Marco Maciel se disponha a assumir.

Pax oposicionista

Enquanto não chegam os conciliadores, Dilma terá mesmo de se preocupar é com os seus "aloprados", que não são poucos nem facilmente deglutíveis. Há um PT muito inquieto na Câmara.

Prazo de vencimento

A tal reforma ministerial que Brasília discutia ser necessária antes mesmo da posse dos novos ministros de Dilma já tem três candidatos potenciais a encabeçar a lista dos substituídos, daqueles que deverão ser convidados a não mais fazer "sacrifícios" em Brasília : Fernando Haddad, da Educação; Luiz Sérgio das Relações Institucionais e Pedro Novais, do Turismo.

A primeira vítima

A saída do jovem Pedro Abramovay do Ministério da Justiça mostra, por um lado, que Dilma não se esquece do passado e, na hora certa, dá o troco. Desde a edição da revista "Veja" que revelou a queixa dele quanto aos pedidos de Dilma e Gilberto Carvalho, que a relação estava azedada. Mas a demissão revela outro lado da história. De fato, demonstra aquilo que já é voz corrente em Brasília, que José Eduardo Cardozo pretende tirar todo mundo do ministério que tem em seu DNA a indicação de Márcio Thomaz Bastos. A julgar pelas últimas movimentações, tem obtido êxito. E mostra, ainda, que Dilma quer marcar mais uma diferença entre ela e Lula, que sempre foi de tergiversar muito antes de afastar companheiros que o desagradavam ou eram surpreendidos em estripulias. Abramovay foi o "efeito demonstração" : nem passou pelas frigideiras comuns em Brasília, foi direto para o fogo.

Estilos vice-presidenciais

No consulado de FHC, Marco Maciel foi discreto e silencioso como pressupõe sua esguia figura. No reinado de Lula, o volumoso José Alencar só troava contra os juros altos, ecoando os silêncios que o presidente era forçado a manter sobre o tema. Nem como ministro da Defesa, Alencar inovou - foi o mineiro das anedotas, quieto e desligado. Na primeira presidência feminina, Michel Temer, um político de sorriso dietético, é um vice em busca de um estilo e de um espaço para ancorar suas expectativas políticas. Na mídia, sua atividade política intensa, mesmo que de bastidores, é alardeada quase aos berros.

Estilo presidencial

Do mesmo modo, causa estranheza a insistência das vozes oficiosas em soprar para os jornalistas as diferenças de postura entre Dilma e Lula e de contar que a presidente se comunica com frequência com seu antecessor. O que é natural não se apregoa, ele é visível.

Critérios técnicos ?

O ex-deputado (não reeleito) Rocha Loures (PMDB/PR) vai para a vice-presidência de Loterias da CEF. O ex-governador Orlando Pessutti (PMDB/PR) vai para a diretoria de Crédito Agrícola do BB.

G-2 em ação

Não há nenhum erro na sigla, não falta um zero à direita do mundo. Os destinos da economia mundial estão nas mãos de EUA e China. Importa é o eles fizerem ou deixarem de fazer. Todos os outros, inclusive os restantes 18 do G-20, serão simples coadjuvantes ou meros expectadores.

Alta ansiedade

O BC fez a média que o mercado financeiro esperava dele. No entanto, o mundo econômico ainda não se acalmou, pois falta o resto do governo dizer qual será a sua parte no processo de reorganização da economia nacional. A bola está com Dilma, Mantega e sua tesoura mágica.

Pressa e perfeição

Em seu artigo quinzenal no Estadão de domingo, 23/1, o excelente economista e analista José Roberto Mendonça de Barros chama a atenção para um fenômeno em ocorrência ainda na economia brasileira em função do aquecimento das atividades no ano passado, não freada no tempo devido pelo governo Lula por razões de cunho eleitoral : "todos os esforços [das empresas] foram direcionados para resolver esse gargalo [na produção], mesmo que isso implicasse em custos maiores, algum atraso, qualidade eventualmente menor e margens mais estreitas". E nada ilustra mais esta desenfreada corrida para a produção do que está ocorrendo com a indústria automotiva no país. Fabricando e vendendo como nunca, as montadoras estão batendo recordes de recall. Semana passada, foi a vez da Ford chamar mais de 300 mil carros para reparos. No ano de 2010, o setor fechou com recall de 1,4 milhão de automóveis, um aumento de quase 100% em relação a 2009.