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Política & Economia NA REAL n° 113

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Atualizado em 9 de agosto de 2010 16:15

 

Um novo PMDB na praça ?

Depois de eleito em 2002, como animal político que é, Lula percebeu que precisava fazer alianças políticas nada ortodoxas para governar. Mas quis manter certa pureza política e ideológica de seu governo e do PT, e tomou duas providências :

1. Vetou um acordo formal com o PMDB, negociado pelo então ministro chefe da Casa Civil - o PMDB já era a imagem acabada do fisiologismo que Lula então execrava ;

2. Arranjou algumas legendas auxiliares para acomodar os adesistas de sempre, sem manchar o governo.

O mensalão derrubou toda a estratégia e as portas tiverem de ser escancaradas sem pedidos de atestados de antecedência. As bancadas do PT que surgiram das urnas já não tinham o mesmo pedigree de antanho, embora ainda mantivessem certas características. O governo, no entanto, começou a ter uma cara mais parecida com o PMDB nascido depois que o partido chegou ao poder com Sarney. Pelos arranjos partidários patrocinados por Lula para eleger Dilma e manter seu grupo no poder, O PT das urnas de 2010 deverá sair mais forte nos legislativos, mas também mais parecido com o PMDB que um dia Lula não quis a seu lado.

O autêntico PMDB

A referência bíblica de Michel Temer a um grupo de senadores, sobre a arte de repartir o pão e as artimanhas de compartilhar - ou repartir, esquartejar - o governo diz bem dos propósitos governistas ao entoar loas à candidatura oficial. O PMDB não nega sua vocação, desde que perdeu a aura de partido da resistência à ditadura e provou as delícias de Brasília.

Obséquio do silêncio

Não foi a primeira vez nas últimas semanas que o presidente da Câmara e vice de Dilma expõe, sem máscara e cruamente, o fato de não ser um mero coadjuvante num futuro governo comandado pela petista. Como a estratégia da campanha de Dilma agora é mostrar que ela tem e terá luz própria, as intervenções peemedebistas estão desagradando.

Sem espaço

Em Brasília, na área de quem sabe dos ventos, analisa-se as declarações de Temer não como simples escorregões, fruto de desatenção ou afoiteza. Afinal, Temer não é nenhum neófito, tem reconhecida habilidade política. De fato, o vice estaria apenas dando voz à insatisfação peemedebista com o ambiente da campanha oficial. Não há nenhum peemedebista - ou outros aliados - no alto - nem no médio - staff que assessora Dilma e o tal conselho suprapartidário, que nem funciona. O PMDB está de verdade apenas na equipe de programa de governo. E ninguém ignora o valor que esses documentos têm : nenhum. São destinados à prateleira das coisas inúteis da política brasileira.

A questão é outra

O PT cedeu espaços regionais. Nacionalmente, não cede sequer um ladrilho. Os aliados estão estrilando, mas em conluios fechados, pois o objetivo é eleger Dilma, e ponto. Depois de outubro, Dilma e Lula terão de dançar diferentes minuetos para evitar tiroteios entre aliados, com mortos e feridos. E o PMDB então entrará com sua principal arma, como disse e acredita Temer : o tamanho de sua bancada na Câmara e no Senado.

A microeconomia está em ritmo lento

Nos últimos anos não tivemos nem as reformas micro e nem as macroeconômicas. Questões centrais, tais como a tributação, proteção alfandegária, política industrial, etc., ficaram no falatório ou nas prateleiras. O que temos hoje é uma política de crédito oficial que privilegia empresas com critérios duvidosos de eficiência e interesse público. Os próximos meses serão ainda mais curiosos nesta rota do governo : a eleição traz certa paralisia dos negócios à espera do novo governo. Já se sente isto em setores de infra-estrutura, por exemplo. Há mais um dado : nenhum dos candidatos traz à tona uma discussão consistente sobre o futuro do desenvolvimento brasileiro. Existe um deserto de ideias e a possibilidade da continuidade das políticas "dos amigos" é elevada. Para o mal do país.

Primeiro o nosso

Soou extraordinariamente "espontâneo" o manifesto assinado por doze entidades empresariais da indústria defendendo as generosas linhas de financiamento subsidiado do BNDES. Também deve ter sido uma mera coincidência o documento, como matéria paga, ter surgido no mesmo dia em que, em Londres, começava a circular o prestigioso semanário The Economist com uma reportagem com as mesmas críticas que se fazem no Brasil e o manifesto tenta explicar. Ele teria sido mais forte e "espontâneo" se tivesse vindo acompanhado de uma relação dos empréstimos do banco, a juros módicos, para os associados das entidades. Nenhuma suspeita pairaria sobre interesses particulares. E tudo poderia ser comemorado com um grande churrasco com carnes carimbadas pelos frigoríficos que receberam gorduchos empréstimos. Ficaria, como se diz, tudo em família.

Exclusão financeira

Duas reportagens saídas nos últimos dias mostram a atual vocação do BNDES :

1. O jornal Valor Econômico mostrou que o banco aprovou empréstimos de bilhões de reais para apenas dois frigoríficos e negou apoio a outros médios e pequenos, com dificuldades.

2. Segundo a Folha de S. Paulo, 57% dos R$ 168 bilhões de financiamentos contratados pelo banco de 2008 a junho deste ano foram para a Petrobras, a Eletrobrás e apenas dez grupos privados.

É o que podemos chamar de exclusão financeira, o contrário do discurso oficial. Para uns poucos, tudo. Para alguns, migalhas. Sem trocadilho.

Decepção nos EUA

Depois de quase três anos de políticas fiscais e monetárias frouxas, os números do setor laboral dos EUA, divulgados na última sexta-feira, foram um balde água fria nas expectativas. Há três meses, o desemprego não melhora e a economia patina. Um pouco notável, porém pouco comentado no Brasil, é que a paciência da população americana está caindo velozmente e o Congresso pode começar a ser uma fonte ainda maior de problemas para Obama. Se os EUA seguirem o exemplo europeu e apertarem o lado fiscal, a possibilidade de recessão nos EUA passará a ser muito concreta. Atenção aos navegantes.

Euro forte

O fortalecimento do euro nos últimos dois meses é fruto da decisão dos principais países europeus de, mesmo em recessão, reduzirem os déficits fiscais. Estão apostando que o welfare state aguenta as taxas de desemprego nos céus. Está se somando ao baixo consumo doméstico europeu os problemas de competitividade conhecidos (custo de mão-de-obra, excesso de regulação, etc.) e conjunturais (euro forte). Se nos EUA a possibilidade de retorno de uma recessão mais forte está cada vez mais concreta, na Europa talvez a recuperação não venha nos próximos anos.

Radar NA REAL

Férias no hemisfério norte, números macroeconômicos fracos nos EUA e Europa, e poucas notícias do lado corporativo, são notícias que têm feito os diversos segmentos do mercado financeiro e de capital ficarem letárgicos. Assim deve prosseguir o ritmo nos próximos dois meses. No Brasil, a atividade econômica está se moderando e os movimentos eleitorais paralisam os investidores. Tudo sem emoção e sem motivação para que os investidores mudem de posição. A volatilidade cai, mas o movimento também. Um tempo sem graça e sem tendência definida. O acúmulo de riscos de médio prazo não é pequeno no Brasil, sobretudo do ponto de vista fiscal. Mas quem há de lembrar isto quando ninguém nem sequer está disposto a conversar sobre o assunto ? Os tempos são de calma. Como no deserto. Melhor ficar parado, por enquanto.

6/8/10  

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável alta
- Pós-Fixados NA estável alta
Câmbio ²
- EURO 1,3240 estável estável
- REAL 1,7533 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 68.094,76 estável/baixa estável/baixa
- S&P 500 1.121,49 baixa baixa
- NASDAQ 2.288,47 baixa baixa

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Desmilinguindo

Do modo como as coisas estão andando no cabriolé eleitoral, o DEM caminha celeremente para passar a integrar o bloco dos partidos intermediários. Sua sorte mais do que nunca está atrelada ao desempenho presidencial de Serra.

Trabalho árduo

Não será das mais fáceis a missão dos organizadores da campanha de Serra para encontrar o tom certo para ele combater o discurso da dupla Dilma/Lula e encontrar um ou mais motes para empolgar um eleitor até agora frio, distante. É uma situação que beneficia Dilma - a inércia, pela força de Lula e a imagem de seu governo. O primeiro debate entre eles não trouxe nada inovador.

Sono tranquilo

Se os outros encontros entre os presidenciáveis - teremos mais quatro até 3/10 - seguirem a toada do de quinta-feira passada na Bandeirantes, vão encalhar os estoques de medicamentos para dormir nas farmácias brasileiras. Meros 10 minutos em frente ao vídeo dos debates bastam para fazer adormecer o mais recalcitrante dos insones. O efeito mais importante do ponto de vista da comunicação será dado no curto prazo pelas entrevistas dos candidatos na TV Globo, nos principais telejornais. São os dez minutos de fama dos candidatos.

Em ebulição

A espanhola Telefônica sozinha na Vivo. A Mexicana Embratel - grupo Carlos Slim - comprando a parcela dos acionistas minoritários na Net e tornando-se o maior acionista da empresa enquanto espera melhores dias para ficar oficialmente com o controle da maior operadora de tevê por assinatura no país. A Portugal Telecom virando a maior acionista individual da supertele brasileira Oi, talvez até como controladora, o que o tempo dirá. A inglesa Vodafone lançando seus tentáculos sobre a Tim no Brasil. A francesa Vivendi controlando a GVT. Nada de estranho num mundo globalizado, multinacional. Mas diante de tudo isso soa muito falso o discurso nacionalista do presidente Lula. Vem por aí muita discussão sobre questões regulatórias e de concentração nesta área. E talvez o governo tenha de patrocinar novas mudanças nas leis brasileiras - como no caso BrOi - para acomodar todo este novo quadro.