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Política & Economia NA REAL n° 103

terça-feira, 1 de junho de 2010

Atualizado às 07:57


Alvíssaras, que alívio !

Desde a última sexta-feira, deixamos de trabalhar para o governo, para pagar os impostos Federais, estaduais e municipais e passamos a trabalhar para nós mesmos e o país. Mas é bom não espalhar porque eles estão atentos e a qualquer momento podem pedir um pouco mais do nosso suor. Já não era sem tempo. Para se ter uma ideia dos níveis de espoliação a que o Brasil está submetido, vai aqui uma tabela, elaborada pelo economista Amyr Kahir para FIESP com o peso dos impostos sobre a renda dos brasileiros, por classe de renda :

- Ganhos até 2 salários mínimos : 48,89 da renda familiar são consumidos por impostos e tributos.
- Mais de 2 até 5 SM : 35,9%
- Mais de 5 até 10 SM : 31,8%
- Mais de 10 até 15 SM : 30,5%
- Mais de 15 até 20 SM : 28,5%
- Mais de 20 até 30 SM : 28,7%
- Mais de 30 SM : 26,3%.

A dura realidade. Vai mudar ?

Na nossa peculiar justiça social às avessas, paga mais quem pode menos. Outra amostra de nossas distorções tributárias : enquanto o peso dos impostos no preço final dos remédios de uso humano chega a 31%, sobre os remédios veterinários é de 13% somente. Com grande desenvoltura os candidatos à presidência andam prometendo mais a torto que a direito. José Serra e Dilma falam como se fossem fazer isto num átimo. Apenas Marina Silva tem advertido que mudar é um extraordinário desafio.

Palocci, o apaziguador

Curiosa - e esclarecedora - a estreia de Palocci como colunista do jornal Folha de S.Paulo no domingo. Palocci é o principal homem de economia na coordenação da campanha de Dilma e com todas as credenciais para virar o primeiro e único. Os outros concorrentes dele para função estão perdendo espaço : José Eduardo Dutra, presidente do partido, não tem a mesma dimensão e o mesmo desembaraço do ex-ministro da Fazenda ; Fernando Pimentel confundiu-se demais em MG e acabou se desgastando com parte do partido e com o aliado PMDB.

Os outros papéis

Está reservado a Palocci o papel que coube a ele mesmo em 2002 (a interlocução com os empresários), além de parte do que coube a José Dirceu : a interlocução política. É dele também a função que estava reservada para Henrique Meirelles quando do presidente do BC se cogitou a vice-presidência : acalmar o mercado financeiro, interno e externo, sobre possíveis arroubos mais "desenvolvimentistas" da ex-chefe da Casa Civil. Pois bem. Palocci estreou no colunismo falando de contas públicas e apregoando a responsabilidade fiscal. Exatamente o ponto em que Dilma desperta mais desconfiança. E sob o qual o próprio governo Lula está sob escrutínio.

Em tempo

Como, do ângulo de boa parte do petismo, a eleição presidencial já está decidida pró-Dilma, Palocci já desperta ciúmes e já é alvo de alguns petardos bélicos, até agora de festim apenas.

Enquanto isso

Os últimos dados não deixam mais nenhuma dúvida : o crescimento do país está acima daquele que pode ser construído sem inflação. A atividade econômica pode ser contida de duas formas, as quais podem ser combinadas : aumento da taxa de juros e/ou contenção fiscal. Como a segunda opção é muito difícil - e, portanto, improvável - de ser exercida, o aumento do juro básico é inevitável. O mercado pode estar subestimando a probabilidade de uma "puxada' na taxa básica acima dos patamares registrados no mercado futuro de juros.

Investimentos

Não há espaço fiscal nas contas do governo federal e em grande parte dos governos estaduais para incrementar os investimentos em infra-estrutura. O investimento privado neste segmento tem sido pequeno frente às necessidades. Assim sendo, o redemoinho "atividade em alta versus alta dos juros" persistirá até uma reforma fiscal séria.

Inflação

Também estão sendo negligenciados pelo mercado e pela sociedade a perspectiva de uma inflação bem mais alta que a esperada pelos agentes. Setores do comércio já falam em demanda muito aquecida e os preços, pouco a pouco, estão subindo.

Radar NA REAL

Mantemos a nossa visão negativa em relação ao andamento do mercado financeiro internacional e nacional. A crise europeia em meio à frágil recuperação da economia norte-americana é significativa barreira para a redução da volatilidade e sustentação dos preços dos ativos de renda fixa e variável. Ademais, o desempenho da economia brasileira proporciona redobrada atenção : o combate à inflação exige alta de juros e atividade econômica deve cair "na margem", sobretudo no ano que vem. Os lucros projetados das empresas de capital aberto podem estar superestimados. Por fim, há o cenário eleitoral, fonte de incertezas para os investidores.

28/5/10  

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,2409 baixa baixa
- REAL 1,8505 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 60.259,33 baixa estável/baixa
- S&P 500 1.087,69 baixa/estável alta
- NASDAQ 2.229,04 baixa/estável alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Minas : traição no ar

Dia 6/6, domingo, termina o prazo estabelecido pelas direções nacionais do PT e do PMDB para a formação da chapa governista - oposicionista em MG - para disputar a Palácio da Liberdade. O acordo da cúpula reza que o PT entregue o comando a Hélio Costa e fique com a vice e a principal vaga do Senado. Esqueceram de combinar, porém, com os eleitores petistas. E a semana começou com um ambiente pouco favorável ao acordo nas Alterosas. Tanto os peemedebistas quanto os próprios petistas temem traições, de parte a parte.

Ao balanço das pesquisas

Enquanto Serra aparecia ainda como líder na corrida presidencial em algumas pesquisas, o PP andou bem assanhadinho para entrar na aliança oposicionista, dando as costas para o PT de Dilma e o PMDB de Michel Temer. A direção da biruta de aeroporto do partido de Paulo Maluf deu uma reviravolta desde que a preferida de Lula empatou com Serra em todos os levantamentos confiáveis. Agora as chances do PP abraçar Serra são bem menores, a não ser que a vaga de vice que Aécio está recusando vá para o primo dele, o senador Francisco Dornelles, do RJ. Mas desde que Dornelles pôs no projeto dos "fichas-sujas" uma correção polêmica, deixando mais difícil barrar as candidaturas de quem tem contas na Justiça, o entusiasmo tucano com ele diminuiu.

O jogo de gato e do rato

Não dá para distinguir bem quem é o caçado e quem é o caçador nesta corrida do PMDB e do PT nesses minutos que ainda faltam para a convenção dos dois partidos, marcados para 12 e 13/6, quando ambos definirão a aliança em torno da candidatura governista. O PMDB espalha que o PT está dominado e vai ceder mais do que deseja nos Estados. O PT rebate, contando, à boca pequena, que o PMDB já foi devidamente engabelado. Os dois estão fadados - ou condenados - a se associarem. O PT tem como trunfo : o crescimento de Dilma e a sua força política. O PMDB tem, por seu lado, seis minutos no rádio e na televisão e uma infinita capacidade de causar problemas para o governo no Congresso e mesmo nos palanques estaduais. Quem conhece o ondular da política brasileira aposta que as ondas estão mais para os surfistas do PMDB. E que o PT terá de ceder, a ferro e fogo, em MG e no MA, hoje dois maiores empecilhos à paz nacional. Sem ao menos o direito de chiar.

O que dá prá rir dá prá chorar

O título é tirado de um samba do Paulinho da Viola. Mas se encaixa perfeitamente no programa de governo que o PMDB vai apresentar quando oficializar a candidatura de Temer a vice-presidente da República na chapa oficial e oferecerá ao PT e à candidata Dilma. Tudo para consolidar o que Temer define como uma aliança "político-eleitoral programática". Logo, a segunda mais voraz legenda eleitoral brasileira (só perdeu a primazia para o PT no governo Lula), o PMDB, sugere, entre outras coisas, o fim do aparelhamento do governo. O PMDB também quer o fortalecimento da independência das agências reguladoras, envolvido ao mesmo tempo numa disputa ferrenha com o parceiro PT por um amontoado de vagas desocupadas nesses órgãos e outras que ficarão livres até o fim do ano. Os peemedebistas proporão ainda limitar o aumento dos gastos do governo, fora investimentos e programas sociais, em um teto 2% abaixo do crescimento do PIB.

Pode ser sério ?

Sinceridade é isto

Ninguém precisa se esforçar para responder. O ex-senador - suplente de Hélio Costa - Wellington Salgado, aquele de cabelos longos e ideias, o faz com candura e surpreendente sinceridade : "Em política é assim : surgiu uma vaga todo mundo corre para ver se pega. Igual a Cosme e Damião. Onde estão dando um saquinho de bala, todos correm para pegar. Querem pegar os nossos saquinhos." (alusão as brigas com o PT pelos 'princípios' da aliança programática)

A pressa da Petrobras

Homem de fé o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza. Ele acredita que poderá levar deputados a Brasília nos dias 15 e 16 próximos para votar definitivamente o novo marco regulatório do petróleo, com as regras para exploração do pré-sal. Vai ter de rezar a santos e orixás com muita devoção. Com o feriado desta semana e a conhecida má vontade da oposição, vai ser um parto doloroso aprovar as propostas no Senado, mesmo que se deixe para depois o polêmico projeto dos royalties.

Brasil na copa

Dia 15/6 é o dia da estreia do Brasil na Copa e os abnegados parlamentares fazem questão de vibrar pela seleção de Dunga com seus eleitores. Tanto que o próprio Vaccarezza chegou a propor o recesso parlamentar deste ano para que deputados e senadores pudessem cumprir este dever cívico sem se sentirem constrangidos e ir a Brasília. Como líder do governo, Vaccarezza está apenas vocalizando os desejos da Petrobras e do governo. Está marcada para o dia 22/6 a assembleia da Petrobras para definir as regras da nova capitalização da empresa. A Petrobras quer dinheiro urgente para tocar seu ambicioso programa de investimento. Na semana passada, anunciou-se na China que ela vai pegar mais de US$ 10 bilhões emprestados, como os R$ 10 bilhões tomados no ano passado. Em tempo : os apressados que atentem para o - mau - exemplo da British Petroleum no Golfo do México.