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Disruptivo

quarta-feira, 6 de março de 2019

Atualizado às 07:10


Texto de autoria de José Francisco C. Manssur

Há termos, geralmente frutos do nosso proverbial anglicismo, que invadem nosso vocabulário cotidiano sem mais nem porque e, de repente, estamos todos ouvindo, falando e lendo determinada expressão que, dias atrás, sequer passava pela nossa cabeça.

A coisa se encaixa com tal naturalidade que ficamos constrangidos de perguntar ao interlocutor o que tal expressão significa. Ficamos ali, tentando na conversa pegar pelo sentido, ansiosos para estarmos logo diante do Google, para pesquisar o significado da palavra da moda da vez.

Comigo aconteceu com a palavra "disruptivo". De uma hora para outra, disruptivo invadiu a minha vida e em todo lugar era repetida, sem que, por ignorância minha, conseguisse encaixar real sentido ao termo.

Antes que me julgue, eu procurei o significado do termo e descobri que está na moda desde o começo de 2017, pelo menos. Eu é que não sabia. A palavra vem do inglês sim, tendo surgido e passado a ser utilizada na forma de elogio, nos meandros das inovações tecnológicas. Veio para nossa língua cotidiana a partir daquela outra língua que se fala nos cowrkings, nos cubos, nas incubadoras das startups. Sinais dos tempos.

No âmbito comportamental, uma atuação disruptiva é aquela que vem interromper a ordem natural das coisas. O aluno que tem comportamento disruptivo é aquele que se porta de modo a atrapalhar o andamento normal das aulas. É algo a ser repreendido.

Já no campo da inovação, o disruptivo é elogio. Uma invenção disruptiva é inovadora, moderna, radical. Algo que rompe com a estrutura existente e cria uma nova. Uma inovação disruptiva é, nesse campo, meritória, mesmo que venha a ocasionar o fim do contexto anterior. As plataformas que nos permitem ouvir músicas a partir de aplicativos baixados em nossos celulares pode ser caracterizada como disruptiva em relação aos discos/cd's que todos tínhamos e poucos ainda têm.

O futebol brasileiro nunca precisou tanto de uma inovação disruptiva.

Precisa de uma mudança de rumo, de uma ruptura radical com o velho e a adoção do novo. Mesmo que isso signifique que muitos valores e ativos da estrutura atual venham a desaparecer.

O disruptivo no futebol, primordialmente, é o abandono da gestão feita pelos nossos clubes-associação, a forma amadora de administração calcada nos processos políticos pelos quais amadores "bons de voto" que são eleitos por uma coletividade que representa algo como "0,0 alguma coisa" do contingente de torcedores dos clubes.

É a separação dos clubes sociais, recreativos das atividades de gestão do futebol profissional, para que estas últimas sejam tocadas por empresas, que visam o lucro e, para tanto, estejam obrigadas a adotar as melhores práticas de governança a fim de oferecerem ao seu torcedor-cliente um produto atraente e que gere recursos para sua manutenção e melhoria, sempre.

Não se nega que para o protagonista do modelo atual de administração dos nossos clubes, essa proposta pode ser vista como o disruptivo comportamental, aquele que provoca desordem, que atrapalha o andamento das coisas "como sempre foram".

Mas o que "sempre foi" não serve mais. E quem observa a situação atual do futebol brasileiro não pode, honestamente, entender diferente.

E, nesse ponto, é bom mencionar que a disrupção proposta não nega os valores e as virtudes de tudo que foi feito até aqui. Quem ouve suas canções prediletas no aplicativo Spotfy, não nega que já se emocionou muito ouvindo música no disco de vinil.

A disrupção de que o futebol brasileiro tanto necessita é a adoção de um regime legal que preveja a Sociedade Anônima do Futebol como forma societária indicada para a gestão dos nossos clubes de futebol profissional. Essa é a inovação que pode nos tirar do passado e levar ao futuro.

Por agora e até que surja outro, esse é o nome do jogo.