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Natal: benquerença e solidariedade entre os homens

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Atualizado às 07:05

Fato que sempre me surpreendeu em relação ao Natal foi a ausência de uma reflexão sobre o seu significado. Com exceção de algumas religiões que por meio de suas entidades e respectivas igrejas e templos cultuam a data, a sociedade, de um modo geral, influenciada e instigada pela propaganda, vai às compras, enfeita as casas e a cidade, realiza as ceias e troca abraços. Pouco ou nada reflete sobre a essência natalina. Predomina o viés argentário e festivo do Natal.    

Eu não me refiro à uma reflexão exclusiva sobre o nascimento de Cristo, embora o sentimento natalino parta desse fato, mas não se esgota nele. Há mais, muito mais para ser meditado e assimilado sobre esse fato de grande relevância para a humanidade. Na verdade, a essência do Natal reside num comportamento que deveria ser fielmente adotado, pelos que creem, pelos agnósticos e ateus, por aqueles que abraçam essa ou aquela ideologia, enfim, trata-se de um comando para o comportamento de todos, voltado para a concórdia e para o amor entre os homens.

A data celebra há dois mil anos o nascimento Dele. Celebra o seu aniversário. Interessante que somos presenteados por Ele, por meio de um seu representante, Papai Noel. E tem início uma fase do comando natalino: a troca de presentes entre amigos e parentes tem um eloquente sentido: o da confraternização e da comunhão. Claro que esses sentimentos são devidamente explorados pelos apelos comerciais. No entanto, a sua essência permanece íntegra: o gesto de presentear é gesto de amor.

Uma vez ao ano o desprendimento, a entrega, a generosidade parecem substituir o egoísmo e a ganância. Abraça-se com afeto o semelhante, que nesse momento é mesmo um semelhante. Esse significado deveria estar entranhado na mente de todos. Não é o presentear que importa, é o ato de amor nele contido.

O Natal desperta a criança que eu ainda carrego. Adoro abrir presentes, dá-los também muito me agrada. As luzes da árvore, as bolas, o presépio me fascinam. A ceia me aguça o pecado da gula. E peco sem arrependimento.

Quero confessar: o que mais me emociona no Natal é a passagem do dia 24 para o dia 25. O ponto alto são os abraços. Já disse, adoro abraçar e ser abraçado. Abraços e beijos, beijos de mulheres e de homens. Terminou o bobo preconceito de que homem não beija homem.

Quando soa a meia noite em casa nós rezamos. O fazemos de mãos dadas e com os nossos pensamentos voltados para Ele, o Aniversariante.

Eu exaltei os presentes, a ceia, os abraços, as orações, restou mencionar um outro elevado aspecto do Natal: as crianças. A alegria, o riso, a emoção das crianças. O êxtase que delas se apodera quando ouvem seus nomes para receberem os presentes. O fascínio ao abri-los e ao descobrir o conteúdo. Eu não só me emociono, como me identifico com cada uma delas. Viro criança.

Ao eventual e paciente leitor eu faço um apelo: recebam esse escrito como uma manifestação de um homem de setenta e oito anos que crê nos valores inerentes ao Natal, especialmente na singeleza e na pureza de seus atos exteriores, como formas de benquerença e solidariedade entre os homens.