O melhor e o pior da festa
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
Atualizado às 08:19
Minha mãe dizia que o melhor da festa é esperar por ela. Não tenho dúvidas. A expectativa de momentos de felicidade, confraternização, abraços, emoção, palavras carinhosas e desejos de um porvir melhor nos proporcionam um grande bem estar. A ansiedade dessa espera é confortante, traz otimismo e entusiasmo. Há vezes até que a expectativa supera a própria festa. Mas isso não importa. Importa sim que façamos o possível para que a festa corresponda à espera.
Aguardar um acontecimento, no entanto, pode nos criar sensações desagradáveis. Como a perspectiva da alegria nos causa boas emoções o contrário nos aflige e incomoda. Com efeito, esperar maus momentos provoca inquietação, medo, insegurança e uma sensação desagradável de um futuro de consequências imprevisíveis. Mas, como na boa espera por vezes o acontecimento não é tão agradável quanto se desejava, também a má expectativa pode não corresponder ao fato sobrevindo, e esse ser melhor.
Eu agora transporto a festa acima referida para as eleições e o bom e o mau acontecimento para o seu resultado.
Considero o voto, como já disse alhures, um instrumento exemplar de igualdade. Ele iguala a todos, independente de raça, cor, sexo, religião. É talvez o único traço de união entre os membros da sociedade em um momento determinado. Todos, podendo, votam.
O sentimento generalizado quando da votação, para os democratas, é o de júbilo por estarem exercendo na prática um direito primordial que é o da escolha. É da natureza humana querer fazer as suas opções pelos caminhos que deseje trilhar. Trata-se de exercer a liberdade. E a escolha daqueles que irão governar assume uma dimensão extraordinária para cada eleitor. Ele rigorosamente está declarando quais são as suas esperanças quanto ao encaminhamento das questões de interesse nacional. Está, nessa hora, determinando quais são as suas opções ideológicas e programáticas.
Pois bem, nova festa eleitoral se aproxima. Claro, como em todas as eleições, as expectativas que eram diversas no primeiro turno foram reduzidas para duas possibilidades. Parte da sociedade terá os seus anseios satisfeitos e a outra parte frustrados. Vale dizer, que a sociedade está esperando pelo melhor da festa que é a vitória do seu candidato e, igualmente, pelo pior que é a derrota. Isso significa, ansiedade, dúvida, expectativa do melhor e do pior, sentimentos que trazem desconforto. Esses sentimentos se projetam para o futuro na forma de insegurança, incerteza, otimismo e pessimismo.
Como o homem não tem o domínio sobre o seu futuro, a sociedade, igualmente, não possui as rédeas do seu porvir e nem possui o controle dos destinos da Nação. No caso das eleições, após a escolha em quem votar, o cidadão adquire a certeza de que os dias, meses e anos vindouros serão alvissareiros se o vitorioso for o seu candidato. Com a derrota ao contrário as perspectivas serão sombrias. Trata-se do melhor e do pior da festa.
Eu não me sentiria confortável se nesse momento deixasse de manifestar a minha opção eleitoral. Na verdade, reiterá-la pois já foi exposta. Quando o foi recebi críticas contundentes, por vezes ferozes de pessoas que se espantaram com a minha opção. E disseram a mim e a outros do seu inconformismo com a minha escolha. Como era possível que eu estivesse apoiando o candidato da oposição ao atual presidente. Ora, fiquei abismado, não com a posição contrária desses questionadores, mas sim com o questionamento que denota absoluta ausência de formação democrática. Aliás, bem coerente com a opção eleitoral que fizeram. O seu candidato jamais escondeu suas preferencias autoritárias e a sua nostalgia pelo período ditatorial.
Mas, voltando ao inconformismo para com a minha escolha. A pergunta que se impõe: qual a razão da minha preferência causar espanto e a deles não. Escolhi um candidato e eles outro. Assim é na democracia. Eu sim fiquei espantado, abismado com o espanto deles. Mostraram que não são democratas. Repito, foram coerentes.
Quero realçar que aceito a sua escolha, como democrata que sou. Mas quero declarar que, em relação à minha escolha, eles se esquecem que o meu candidato já governou o país. Não implantou o comunismo, como apregoam que fará; não invadiu casas; não comeu criancinhas; não estatizou a economia; não avançou nas nossas contas bancárias, como fez ex-presidente que apoia o atual. Fez escolhas corretas para o seu corpo de auxiliares, sem conotação ideológica como exemplo temos Henrique Meireles. Naquela época a festa correspondeu às expectativas.
Permito-me afirmar que a opção que fizeram parece-me injustificável pois carrega uma enorme quantidade de dúvidas, especulações, inseguranças de caráter institucional e social. A paz, a segurança e a harmonia correm riscos concretos.
O presente artigo tem como foco o antes e o depois da grande festa eleitoral. Antes, venturosas expectativas de vitória do candidato da oposição. E, mais, de um porvir que atenda às expectativas dos que buscam viver em uma sociedade menos desigual, pacífica e democrática.